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quinta-feira, 5 de maio de 2016

Orlando Abrunhosa (1941-2016) : uma vida em busca da perfeição

por ROBERTO MUGGIATI

Orlando Abrunhosa. 
Conheci Orlando Abrunhosa — eu repórter, ele fotógrafo da revista Manchete, ainda na redação da Frei Caneca — no final de 1965, quando os Beatles lançaram Rubber Soul, comentávamos cada faixa. Nas inundações de 1966, fizemos uma reportagem maravilhosa que foi direto para a gaveta (ou cesta de lixo) do editor: um ensaio felliniano sobre um palhaço que ficou sozinho num circo mambembe naufragado na Baixada Fluminense.
Orgulho-me de ter sido o primeiro editor a publicar (na capa da Fatos&Fotos) a foto icônica que Orlando fez no primeiro jogo do Brasil na Copa do México de 1970: Pelé alçando vôo e socando o ar para comemorar seu gol, ladeado por Tostão e Jairzinho. Na redação, batizamos a foto de “Os Três Mosqueteiros”. Na semana seguinte, a foto saiu colorizada na capa da Paris-Match. E depois virou selo, pôster e continua rodando o mundo como uma das imagens mais significativas da nossa época.
Em tempo, um comentário técnico, que vai interessar principalmente aos fotógrafos: era uma foto horizontal, cortei radicalmente as laterais para que se transformasse numa foto vertical, um hino visual com Pelé simbolicamente subindo para o céu. (Uma subleitura: as telas verticais de El Greco com os píncaros escarpados de Toledo.)
Orlando Abrunhosa fez tudo o que podia fazer na fotografia, foi um caçador-de-imagens campeão. Mas soube também perseguir seu sonho de compor e cantar, de dar vazão à música que sempre morou no seu coração. Ouvi com imensa felicidade seu CD, com um título que diz tudo: "Agora é minha vez". Vocalista afinado e envolvente, autor de canções afetivas e atuais, Orlando traz uma nova dimensão ao samba. Sempre fiel a sua fórmula mágica de aliar, com perfeição, técnica e sensibilidade.

EM 1997, A EDIÇÃO ESPECIAL MANCHETE 45 ANOS CONTOU A HISTÓRIA DE UMA SÉRIE DE FOTOS QUE ORLANDO ABRUNHOSA FEZ DE EMERSON FITTIPALDI, NO AUTÓDROMO DE INTERLAGOS.

PARA OBTER A IMAGEM QUE CONSIDERAVA IDEAL, ELE DEITOU-SE SOBRE O CAPÔ DO CARRO. FITTIPALDI ACELEROU MAIS DO QUE O FOTÓGRAFO ESPERAVA E, NUMA CURVA, A CÂMARA ESCORREGOU E FOI LITERALMENTE ATROPELADA. 

ORLANDINHO, COMO ERA CHAMADO PELOS AMIGOS, NÃO  PERDEU O FOCO: PEGOU A CÂMERA RESERVA E, ANTES DA LINHA DE CHEGADA, CONSEGUIU AS FOTOS QUE PLANEJOU E EMPLACOU SEIS PÁGINAS NA EDIÇÃO DA MANCHETE DAQUELA SEMANA.