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quinta-feira, 9 de junho de 2022

Há cerca de 30 anos a Amazônia foi ameaçada por guerrilheiros colombianos. Manchete foi lá. Agora a região está sob o cerco do crime organizado

 


por José Esmeraldo Gonçalves 

Em 1991, uma dupla da Manchete - o jornalista e escritor Edilson Martins e o fotógrafo Ricardo Beliel - percorreu uma conturbada região da tríplice fronteira amazônica. É área explosiva desde sempre. Na época, as ameaças vinham através da invasão de guerrilheiros colombianos. Manchete acompanhou uma operação militar na selva em busca de invasores que mataram soldados brasileiros. Pouco mais de 30 anos depois, a área, dessa vez no Vale do Javari, está novamente na mídia. O desaparecimento do indigenista Bruno Araújo e do jornalista inglês Dom Phillips repercute no mundo inteiro. Os dois foram ameaçados pelo crime organizado que domina a região, mata ambientalistas e permanece impune: uma mistura de pescadores ilegais, garimpeiros idem, madeireiros criminosos, invasores de terras indígenas e o narcogarimpo, uma perigosa e lucrativa fusão de exploradores de ouro e contrabandistas de drogas e armas. Naquela época, a tropa defendia o território e a soberania do Brasil na região. Hoje, essa soberania parece em risco: o país está perdendo a região para o crime. A política do governo Bolsonaro para a Amazônia incentiva o garimpo ilegal, o desmatamento, estimula o avanço não apenas da destruição como das organizações criminosas que atuam na região, e agrava a impunidade. O desestímulo à fiscalização e o afastamento de indigenistas como o próprio Bruno, que denunciou criminosos, são, na ponta, um indutor da ocupação predatória do narcogarimpo. 

A reprodução dessa matéria circula nas redes sociais. A propósito, Edilson Martins, que fez grandes e memoráveis reportagens para a Manchetepostou o texto que se segue. 

TRÍPLICE FRONTEIRA - BARRIL DE PÓLVORA 
"Sonhos são a noite de gala. A realidade é o luto do mundo."

Este meu texto abria uma reportagem de 8 páginas na revista Manchete. Corria o ano de 1991 e tropas do Exército brasileiro foram atacadas por 45 guerrilheiros das FARCS na região da tríplice fronteira onde agora desapareceram o jornalista inglês Dom Plillips e o indigenista Bruno Pereira da Funai. Três militares foram assassinados e 17 ficaram feridos, nas margens do rio Traíra, na fronteira com a Colômbia, parte da bacia do Solimões.  Foi o único episódio, durante todo o século 20 em que o Exército brasileiro teve seus soldados abatidos por tropas de outro país. Fazia-me acompanhar do fotógrafo Ricardo Beliel, cujas fotos foram premiadas. A região é um barril de pólvora, onde os ingredientes explosivos são ouro, cocaína, cobiça de terras indígenas, madeireiros, e disputas internacionais da geopolítica da região. É uma região conflagrada, envolvendo amaldiçoadas disputas e cobiças internacionais. Vivemos dias de terror.

quinta-feira, 8 de julho de 2021

FOTOS ABANDONADAS NOS ANTIGOS ESTÚDIOS DA REDE MANCHETE. VIDEOMAKER LANÇA DOC SOBRE O COMPLEXO FANTASMA DE ÁGUA GRANDE

Cromos largados nos estúdios abandonados de Rede Manchete - Reprodução Vouglar

Abandonados: o que resta dos antigos estúdios da Rede Manchete em Água Grande.
Reprodução Vlougar

Nota reproduzida do Jornalistas & Cia


Jornalistas & Cia publicou há poucos dias uma nota sobre a estreia no You Tube, Canal Vlougar, de um documentários sobre os estúdios abandonados da Rede Manchete em Água Grande, no Rio de Janeiro. Vinte e dois anos depois do fim da TV dos Bloch, o enorme complexo ainda guarda restos de roteiros e de cenários, rolos de gravações e até um cofre. 
Rafael Ramos
Uma das descobertas do autor do documentário, o videomaker Rafael Ramos, é uma pequena mostra de cromos que pertenciam ao Arquivo Fotográfico da Bloch Editores, provavelmente parte do material de divulgação das novelas e demais programas da Rede Manchete. O narrador cita fotos de Ricardo Beliel, Cristiana Isidoro e Sergio Zalis, fotógrafos que trabalharam na revista Manchete

VOCÊ PODE VER O DOC "OS ESTÚDIOS DA REDE MANCHETE" 
NO CANAL VLOUGAR AQUI

sábado, 25 de janeiro de 2020

Fotomemória da redação: Manchete dançou lambada. Foi há 30 anos...



Em 1990, a lambada se espalhava pelo mundo. A dança era capa de revistas internacionais, como a Observateur. A repórter Marina Nery e o fotógrafo Ricardo Beliel foram ao Pará desvendar para a Manchete as raízes da lambada.

Naquele momento, há 30 anos, o ritmo ditava a imagem do Brasil que, no exterior, ainda não era confundido com neonazismo ou neofascismo, desprezo pelo meio ambiente, neuras fundamentalistas, milicias, os Queirozes da vida etc.

O clima de que o Brasil pós-Constituinte tomaria jeito durou pouco. Eleito presidente, Collor de Mello logo confiscou poupanças e adotou uma política de neoliberalismo trêfego e implantou seguidos planos econômicos fracassados. Em pouco tempo, a inflação disparou e a fantasia collorida sucumbiu em meio a um mega escândalo de corrupção.

A lambada "chorando se foi", como cantava o grupo Kaoma que, ao lado de Beto Barbosa (o cantor do "dançando lambada, dançando lambada"...) dominava as paradas musicais.

Mas a dança parece ter sido uma breve "janela" de alegria como Manchete bem registrou naquele difícil começo da década de 1990.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Fotomemória: Boca de Anjo no palco do povo...

por Guina Araújo Ramos (do blog Bonecos da História

A série "Bonecos da [minha] História [no Fotojornalismo]" recupera uma figura que foi bastante conhecida, em especial dos fotógrafos, nas praças e nas feiras mais populares no Rio de Janeiro na década de 1970, um pouco menos, um pouco mais.

Foi o povão que lhe deu o nome artístico: Boca de Anjo.

Boca de Anjo - Rio, 1976 - Foto Guina Araújo Ramos

A espetaculosa figura me reapareceu há poucos dias no Facebook, numa postagem do perfil de Ricardo Beliel, colega que conheço desde os tempos em que me iniciei como fotojornalista nas revistas da Bloch Editores, em 1977, quando nos classificamos para o Curso Bloch de Fotografia, um dos caminhos mais valorizados, na época, para entrar na profissão (neste ano, por exemplo, foram mais de 800 candidatos para 30 vagas).

Na postagem, Ricardo Beliel, com uma foto de 1973 (uma entre tantas de alta qualidade que compõem o seu acervo), identifica o artista de rua como Boca de Anjo, apelido que é confirmado por outros colegas. Eu até já me esquecera disso, mas relembrei ter ouvido o nome à época. Agora, no entanto, gastei bastante tempo na Internet, mas não consegui qualquer outra referência a ele, e muito menos cheguei à sua verdadeira identidade.

Eu o fotografei em 1976, ele e os seus malabares de (quase sempre) fogo, numa roda de encantados espectadores, num domingo qualquer de sol, nas proximidades da antiga feira nordestina do Campo de São Cristóvão, junto à obra de um acesso à Linha Vermelha (as barras de aço ao fundo), em frente ao Colégio Pedro II, numa área geralmente vazia da grande praça do Campo, perto do início da Rua São Luiz Gonzaga, aquela que sai dali e bem que vai para Benfica...

Na época, fui algumas vezes à feira, como exercício fotográfico para os seguidos cursos que fiz no Senac da Rua Mal. Floriano, mas também por iniciativa própria (e com amigos), que era a grande, única do tipo, feira popular do Rio de Janeiro. A feira de São Cristóvão, a original, era montada, nos domingos de manhã, em torno do elegante pavilhão de exposições, desde a época da sua construção, no final dos anos 1950. Depois de várias ameaças de proibição, acabou oficializada nos anos 1990 e transferida, na década seguinte, devidamente “reciclada”, para o interior do pavilhão.

Não apenas nós dois fotografamos Boca de Anjo... Imediatamente, colegas da época (como Januário Garcia, Marco Antonio Cavalcanti, Rogério Marques, Custódio Coimbra) se manifestaram, pois o conheciam, tanto dali quanto do Largo da Carioca. E sempre fazendo a mesma performance, vestido com um “roupão” típico de palhaços, controlando os malabares de fogo e, ao mesmo tempo, se balançando sobre uma pequena tábua enlouquecida sobre um rolete de madeira. Nisso, comparado a tantos outros artistas de rua, e apesar da dificuldade da arte, talvez até nem se destacasse tanto...
O que realmente atraía o público era uma mistura de muito bom humor nas falas, enquanto se mantinha no limite do equilíbrio, e a exorbitância de exageradas caretas, que fazia destacando os olhos e os dentes (ou a falta de muitos deles), o seu principal recurso cênico. É certamente em relação a este ponto, e de muita ironia (popular também), que lhe adveio o apelido...

Pois, agora, mais de 40 anos passados, me vem à mente uma preocupação (ou melhor, uma "pós-ocupação"...): como terá sido o final da vida (que suponho já tenha ocorrido) do Boca de Anjo?

Aliás, quem realmente era Boca de Anjo? De onde viera? Do que ele vivia? Apenas dos espetáculos improvisados (mas bem treinados) na rua ou de algum outro trabalho? Tinha uma profissão, digamos, “normal”? e conseguiu se aposentar? Teve uma velhice minimamente confortável? Quantos anos teria na época dessa foto, quantos anos viveu?

E não consigo deixar de extrapolar para os tempos atuais... E as tantas pessoas, cada vez mais, que vivem, que continuam vivendo, no Brasil, como artistas de rua? Como elas conseguem viver? E, afinal, qual será o futuro delas?

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Mostra "Retratos Inversos" reúne fotos de Ricardo Beliel, ex-Manchete, e poesias de Luciana Nabuco...


Foto de Ricardo Beliel/Divulgação

Fotografia + Poesia. Uma rima que tem tudo a ver. É o que mostra "Retratos Inversos" em cartaz do Centro Cultural da Justiça Federal.

A exposição combina inspirações: as imagens feitas por Ricardo Beliel, fotógrafo que trabalhou na Manchete, e o texto poético de Luciana Nabuco em projeção audiovisual.

A curadoria é de Nadja Pelegrino e Marcos Bonisson. Edição de vídeo e sonoplastia de Alessandra Vitoria. "Retratos Inversos" pode ser vista até 12 de novembro, de terça a domingo - 12h às 19h na Galeria do térreo do Centro Cultural da Justiça Federal, na Av. Rio Branco, 241 – Centro, Rio de Janeiro – RJ.

domingo, 1 de novembro de 2009

Um olhar sobre o mundo - 2

O fotógrafo Ricardo Beliel, que fez grandes matérias para a Manchete, reuniu em um site sua importante e diversificada obra. Vale a visita no link Ricardo Beliel