sábado, 6 de maio de 2017

Cultura sob controle: as ferramentas do fascismo

A França decide hoje nas urnas muito mais do que a sucessão de um presidente. Embora as pesquisas indiquem a vitória do centrista Emamanuel Macron, dois fatores ainda preocupam: o índice de abstenção e a posição de Marine Le Pen votação no interior do país, mesmo fora dos redutos da direita radical.

Os franceses tiveram, na última semana, um ideia bem mais clara do que os espera - caso a Frente Nacional chegue ao poder agora ou se transforme em força política expressiva nas eleições parlamentares de junho próximo -, com a divulgação de pontos do programa cultural de Le Pen.

Controlar a Cultura é a linha-mestra das normas que a FN pretende impor à França. Essa política, aliás, ganhou visibilidade na corrida presidencial, mas não é uma novidade: nas cidades que o partido de Le Pen administra atos oficiais excluem determinados livros das bibliotecas públicas, são negados apoios ou financiamento a instituições ou projetos culturais julgados liberais ou de esquerda, obras de arte contemporâneas ou politizadas são vandalizadas, organizações não-governamentais que ajudam imigrantes foram excluídas de qualquer subvenção ou parceria com o poder público. Jornalistas ou veículos identificados com a FN têm acesso facilitado e já foram registradas expulsões de profissionais indesejados de coletivas ou eventos do partido.

O Brasil - que terá eleições presidenciais em 2018 ou 2020, como agora os articuladores do golpe planejam - já exibe sinais de um monitoramento cultural típico do fascismo. O "Escola Sem Partido", por exemplo, que, sob esse nome genérico e impreciso, elimina o pensamento crítico na formação dos jovens brasileiros e dificulta a transmissão de conhecimentos científicos que não estejam de acordo com um código moral preconceituoso e de inspiração fascista. Políticos identificados com a direita já empreendem, como aconteceu em São Paulo, incursões intimidatórias em escolas. É típica do fascismo, igualmente, a coligação com setores religiosos fundamentalistas, como aconteceu na Espanha de Franco, em Portugal sob Salazar. Aqui, facções do neo pentecostalismo são o braço messiânico da ascensão da direita. Insere-se nesse plano, a aprovação de novos benefícios, incentivos do poder público e renúncia fiscal que favorecem a força econômica das agremiações e lhes permitem ampliar o proselitismo. A desvalorização de instituições culturais ligadas a índios, a afro-brasileiros, especialmente os quilombolas, também se inclui nessa política cultural com carimbo reacionário. Perseguição a imigrantes, idem.
A França está a quase 9 mil quilômetros de distância do Brasil. Mas as nossas "madames Le Pen" já podem ser vistas logo ali na esquina.

Um comentário:

Wedner disse...

A França entendeu o momento e os eleitores rejaitaram a direita radical. Aqui no Brsil está sendo incentivada e até ex-presidente lança nomes ligado à direita. Claro que a mídia aqui não terá o papel que teve da da França e nas eleições presidenciais do ano que vem apoiara até Bolsonaro caso se compromete com suas teses e enfrente alguém que o mercado financeiro e a mídia interprete como progressista ou que ameace os carteis que deram o recente golpe