quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Imagens do jornalismo brasileiro: projeto preservará acervo dos Diários Associados. Enquanto isso, o arquivo da Manchete continua sumido, provavelmente deteriorando-se...

por BQVManchete
 O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) destinará recursos ao projeto "Imagens do jornalismo brasileiro: preservação e difusão do acervo dos Diários Associados". Uma verba de R$ 790,9 mil, proveniente do Fundo Cultural do Banco, custeará o tratamento do arquivo fotográfico e a conservação de documentos daquele que foi o maior grupo jornalístico do Brasil. São mais de 800 mil itens entre fotos (em torno de 40 mil imagens), textos de reportagens publicadas, recortes e manuscritos dos jornais "O Diário da Noite" e "Diário de São Paulo". A publicação de um catálogo ilustrado, lançamento de e-books, a realização de um exposição e a disponibilização do acervo na Internet fazem parte do projeto. 
Desde que começou a se formar em 1924 (ano em que Assis Chateaubriand adquiriu "O Jornal"), os Diários Associados acumularam fotos, documentos e reportagens que contam a história do Brasil no século passado. Sabe-se que o acervo fotográfico que pertenceu à revista "O Cruzeiro" está vivo e protegido nos arquivos do jornal "Estado de Minas", detentor de 650 mil imagens produzidas pelos grandes repórteres-fotográficos que atuaram em "O Cruzeiro". Em 2012, o Instituto Moreira Salles lançou "As Origens do Fotojornalismo no Brasil - Um Olhar sobre O Cruzeiro - 1940/1960", organizado por Helouise Costa e Sergio Burgi. Um livro fundamental na biblioteca de quem pretende entender, visualmente, o Brasil do período. Estão lá a arte e o senso jornalístico de gênios como Jean Manzon, José Medeiros, Luciano Carneiro, Henri Ballot, Flávio Damm, Indalécio Wanderley, Ed Keffel, Luiz Carlos Barreto, entre muitos profissionais que atuaram na revista. Na apresentação do livro, Flávio Pinheiro, superintendente executivo do Instituto Moreira Salles, agradece a colaboração do jornal "Estado de Minas", que permitiu o acesso à produção da maioria dos fotógrafos. Ao lançamento do livro, na época, seguiu-se um exposição de 400 fotos marcantes do "Cruzeiro" O que leva a um triste paralelo com o que ocorreu com o até aqui desaparecido acervo fotográfico que pertenceu à revista Manchete e às demais publicações da extinta Bloch Editores. Embora tenha sido legalmente arrematado em leilão promovido pela Massa Falida da Bloch Editores, o arquivo sumiu. De resto, não há muita lógica no fato de uma pessoa adquirir um arquivo tão grande para simplesmente guardá-lo no baú da vovó. A questão é que vários fotógrafos que trabalharam na Manchete, alguns deles ganhadores de prêmios Esso, estão impossibilitados de finalizarem livros com suas obras por não saber onde e em que condição estão os negativos e cromos dos quais são legítimos detentores dos direitos autorais. Não se sabe se as fotos estão guardadas em ambiente climatizado ou se ainda existem. Já circulou até uma informação não confirmada de que um grande grupo de comunicação teria adquirido o acervo, com cláusula de segredo, para supostamente  evitar o assédio de muitos dos autores das imagens. Verdade ou "teoria da conspiração" vá saber...
A esperança que resta é que, em algum momento, alguma instituição entre em contato - e em acordo - com o arrematante proprietário dos direitos patrimoniais do arquivo e que daí resulte algo semelhante ao projeto apoiado pelo BNDES e tema deste post. 
O livro lançado há dois anos pelo Instituto Moreira Salles


Cartaz da exposição de fotos do acervo da revista "O Cruzeiro", em 2012.  

3 comentários:

Farias disse...

Já li sobre o desaparecimento desse arquivo no Globo e nem uma revista de fotografia. É lamentável para a história do Brasil. Sou de um geração que ainda leu Manchete, meus pais compravam sempre que chegava em Goiânia. Fotos maravilhosas que me levaram a fazer vários cursos e me tornar um fotógrafo embora não trabalhe na profissão.

J.A.Barros disse...

Quem está de posse desse arquivo – se ele ainda existe – e não o demonstra ou não declara a sua posse só pode ser idiota ou realmente o arquivo se perdeu nas suas mãos num incêndio ou se deteriorou com o tempo, principalmente as foos em cors como os Kodakromes e Ektacromes, que são fotos em películas muito sensíveis ao calor e se degradam com tempo se não estiverem muito bem arquivadas e protegidas por aparelhos refrigerados mantendo-as em determinados graus de frio.
As fotos em P&B amarelam se não estiverem também bem protegidas contra o calor.
Na minha opinião esse arquivo já se perdeu.

J.A.Barros disse...

Na falência do O Cruzeiro o jornal – dos Diários Associados – o Estado de Minas, na verdade comprou esse arquivo poque ele assumiu a dívida trabalhista da revista e todos os empregados da revista foram devidamente indenizados.
Na época esse jornal de Minas era um dos veículos que mais vendia em bancas de jornais mineiras e muito bem administrado dava lucro aos Diários Associados.