quinta-feira, 20 de junho de 2013

Memória: O Palácio Tiradentes foi ocupado por estudantes em 1968. Mas, há 45 anos, o objetivo era velar corpo de um estudante morto em protesto contra a ditadura civil-militar




por José Esmeraldo Gonçalves
Foi há 45 anos. O mesmo palco, objetivos e climas diferentes. Em abril de 1968, a revista Fatos & Fotos chegava às bancas com um capa dramática: o enterro do adolescente Edson Luis de Lima Souto. O estudante, de 18 anos, havia sido assassinado, dias antes (28 de março), no restaurante Calabouço, que fornecia refeições a universitários e secundaristas e era ponto de encontro dos jovens. O Rio parou, em "transe emocional", como conta a reportagem da F&F. Na última segunda-feira, vendo na TV as cenas do ataque à Assembléia do Rio de Janeiro, lembrei-me de 1968. Baleado, Edson Luis foi levado pelos colegas até a Santa Casa, nas imediações. Estava morto, a bala varou o coração do menino. Ele foi carregado, em seguida, para a Assembléia. Os estudantes - o grupo ficava cada vez mais numeroso - subiram as escadarias e invadiram o plenário. Em gesto que ficou gravado em fotos,  um rapaz exibia, como uma trágica bandeira, a camisa ensanguentada do colega morto. Assim que começou a correr a notícia do assassinato, todos os diretórios acadêmicos do Rio decretaram greve geral, lojas do Centro foram fechadas, teatros cancelaram espetáculos. O clima era de forte comoção. Apesar das pressões do governo - que queria que o corpo fosse levado para o IML - o paraense Edson Luis só sairia da Assembleia para o cemitério São João Batista, conduzido por uma multidão de cariocas.
Certamente, os jovens que tentaram depredar e incendiar o velho prédio, na última segunda-feira, não sabem a história e a emoção que aquelas mesmas escadarias e salões guardam.
São outros tempos, outras reivindicações, outros modos de ação.
Mas a História registra que, naqueles dias, o Palácio Tiradentes foi ocupado em nome de um pequeno heroi.
Se há dura ironia no contraste entre as imagens da Assembleia que este blog publicou, abaixo, e nas fotos reproduzidas da revista Fatos & Fotos, são também tragicamente irônicos os capítulos que se seguiram ao sacrifício de Edson Luis: a ditadura não foi abaixo, como pediam os cartazes de então.
Militares, políticos e empresários que sustentaram os anos de chumbo seguiriam torturando e matando brasileiros nas décadas de 1970 e 1980.
Observação: as fotos que ilustram este texto foram reproduzidas da edição 375 da Fatos & Fotos. São imagens históricas que fazem parte do Arquivo Fotográfico que pertencia à Manchete. O acervo foi leiloado e encontra-se virtualmente desaparecido. O Sindicato do Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos-Rio entraram com medida judicial para localizar a valiosa e histórica coleção de imagens e obter informações sobre seu estado de conservação. Em vão. Instituições públicas destinadas a cuidar a memória do país parecem não ter qualquer preocupação com o destino de um acervo de mais de 10 milhões de imagens do século passado.   

5 comentários:

debarros disse...

Mas é o pequeno heróisque forja e alimenta a nação com o sangue de seu sacrifício. Ele não pode ser esquecido e lembrado sempre que os momentos de insensatez e corrupção ameaçam o avanço e o progresso de seu pais porque foi por defender esses ideiais que o pequeno herói dando a sua vida se torna o gigantesco herói de uma nação que ainda busca encontrar o leito de sua existência que o levará ao grande oceano da fertilidade, da grandeza e da opulência a que seu povo é merecedor. O Palácio Tiradentes será sempre o altar do pequeno herói. Que sua memória viva para sempre.

Teodoro B. Medeiros disse...

Desejo que os jovens que estão nas ruas hoje tenham a compreensão exata do que é lutar em favor do povo, sem individualismo. Que nasça com eles um novo socialismo. E que levem seus anseios para as urnas não votando em políticos profissionais, seja lá de quais partidos forem. E, lembrem-se, jovens, a corrupção tem duas vias, o corrupto do poder público e o corruptor da iniciativa privada. Monopólios, concentração da mídia, poder excessivo do sistema financeiro, falta de fiscalização dos agentes públicos nas concessões de serviços públicos. Lutem. Apois dos homens de bem não lhes faltará.

debarros disse...

Caro Teodoro, é isso que o povo precisa ler. Os nossos jovens que arriscam as suas vidas nas passeatas precisam do apoio dos sábios e mais velhos dessa grande tribo brasileira. Que nasça um novo contrato social nesse momento histórico que estamos assistindo e passando. Brasília foi um erro de concepção e de realização histórica. A capital de um país não pode ficar isolada no meio de um deserto.

Teodoro B. Medeiros disse...

É isso, meu caro deBarros, qualquuer manifestação pública precisa de organização, objetivo, rumo. Infelizmente, não foi o que vi onterm e me decepcionei profundamente. Saques, depredações. Os roubos podem ter sido cometidos por bandidos comuns, mas as depredações foram obra da massa de manifestantes. Não concordo com a forma de atuação de partidos políticos no Brasil mas demonizá-los só deixará o povo sem uma canal de atuação efetiva. Ao contrário, os jovens devem acorrer aos partidos e mudá-los. Há muitas lições a tirar desses dias para governo, imprensa, oposição e cidadãos.

debarros disse...

Os partidos políticos brasileiros faliram na sua expressão mais simples. Invadido por sindicalistas sem escrúpulos, gananciosos e despreparados intelectualmente e funcionalmente, porque são semi-alfabetizados, transformaram o governo em uma máquina corrupta e corruptora. O que se pode esperar desse presidente do senado? e do presidente da Câmara? Por essas razões que as passeatas, apesar dos atos de vandalismo, devem continuar desafiando o governo até provocar um novo contrato social. Alguma coisa tem que mudar e senão tudo tem que ser realizado sob uma nova ótica e um novo pensamento de governo. Por que não tarifa zero? Por que não saúde gratuita para todo mundo? Por que não educação, gratuita para todo brasileiro? Por que não acabar com o analfabetismo no país? Isso não é impossível porque muitos paises –curiosamente países considerados capitalistas – dão aos seus povos essas benfeitoras.