quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O neo-humor neo-liberal

por Gonça
Dizem que a década de 80, a dos "yuppies", marcou a afirmação do individualismo, que se exacerbou nos 90 e nos 00. Cada um por si, sucesso acima de tudo, ascensão profissional a qualquer preço. Existem até livros de "auto-ajuda" que materializam esse propósito. Claro, é a regra, mas há exceções. Convivo e convivi com centenas de colegas que se afirmam pela qualidade do trabalho e não por atropelar sem ética nem métrica quem está ao lado. Mas vivemos a ideologia do individualismo, competição em alta, o "outro" é sempre o adversário a superar, a humilhar, a jogar na lona, cada um a mostrar que é mais esperto, inteligente, tem mais "sacadas". Se fosse necessária uma alegoria para exemplificar tudo isso, um espelho dessa ideologia neo-liberal, diria que são os programas de neo-humor como o Pânico, o CQC (este, com a justificativa de fustigar políticos, o que nos diverte, e aparentemente nos lava a alma, é a nossa "vingança" mas o teor agressivo é o mesmo), o Casseta (de forma não tão intensa mas que, frequentemente, impelido pela concorrência tem resvalado para esse tendência de ridicularizar) e outros do gênero. Há anos, o Chacrinha, hoje reverenciado, era criticado por desprezar calouros, oferecendo abacaxis aos perdedores e expulsando-os do palco a toque de buzinas. O que era motivo de crítica, multiplicou-se e virou piada corrente. Recentemente, o ator José Wilker recusou-se a ser uma dessas "vítimas" e comentou que para ele não tem sentido, aos 45 anos de carreira, submeter-se às agressões verbais dessa turma. Caricaturar figuras públicas, políticos ou não, é humor, uma arma histórica contra os poderosos. Mas o que esses programas têm é um certo tom infantil (próprio e ótimo mas para a idade certa) de "sacanear", de agredir sob o pretexto da piada. São uma espécie de "bullying" para adultos em rede nacional. E, ainda, com um dado agravante: os andares de cima das respectivas emissoras imporiam aos produtores uma lista, dizem que robusta, de pessoas, políticos, empresários, diretores, alguns atores e atrizes, que não devem ser alvo de "brincadeiras". Ou seja: amigo do patrão está a salvo dos programas de neo-humor. Controle remoto neles.    

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