por Flávio Sépia
A publicidade nos meios de comunicação tradicionais era vista pelos leitores, ouvintes e telespectadores como algo dissociado da opinião, dos fatos e das matérias em geral veiculadas. Se Nelson Rodrigues escrevia, por exemplo, que "nem todas as mulheres gostam de apanhar, só as normais", o mundo não vinha abaixo, nem anunciantes cancelavam suas inserções no Globo, Última Hora, Manchete Esportiva e Fatos & Fotos, onde ele foi colunista durante anos.
Atraídas por páginas com milhões de seguidores, as verbas publicitárias migraram para as redes sociais. Em blogs, twitter, instagram, you tube e facebook tudo é festa para os influencers até que um vacilo qualquer pode fazer a casa cair.
Demonstrações de racismo, de intolerância, de ostentação, de desprezo pelos pobres, de preconceito, de falta de noção, de ausência de civilidade ou pura ignorância por parte dos chamados influencers pode acabar em cancelamentos e em debandada de patrocinadores.
Há poucos dias, a blogueira Gabriela Pugliesi, que já contraiu coronavírus, decidiu ignorar o isolamento social e promoveu uma festinha de arromba. Ela postou fotos da badalação e os seguidores detonaram a irresponsabilidade. Em poucas horas, Pugliesi perdeu quase 200 mil seguidores. Não deve ter se preocupado muito. Só caiu na real quando marcas parceiras das suas páginas tiraram os times de campo.
A razão é que ao anunciar em redes sociais pessoais, as marcas avalizam, de certa forma e do ponto de vista dos seguidores, o pacote completo. Não há mais o distanciamento que ocorria entre as mensagem publicitárias e o conteúdo jornalistico ou opinativo em jornais, revistas, rádio e TV. A audiência não confundia um e outros. Nas redes sociais, a relação é mais intima e pessoal. Falar que "ama o sapato" da marca tal ou "adora o biquíni" da grife soa igual a "vender" expressões racistas ou de preconceito. Tudo é influência. Tanto o elogio e a recomendação quanto a intolerância ou o comportamento antissocial do (a) blogueiro (a) respingam diretamente na marca que apoia o sujeito (a).
Daí que, depois de tanto levar bordoada na internet, algumas marcas passaram a incluir nos contratos com os (as) influenciadores (as) uma cláusula que lhes dá o direito de cair fora, sem pagar multa, se o distinto dono das páginas fizer alguma merda que contamine o prestígio do anunciante.
Gabriela Pugliesi, só para citar o caso mais recente entre tantos, recebeu uma dura lição: cerca de dez anunciantes deram bye bye às suas páginas em respeito à forte reação dos internautas registrada em milhares de comentários que viralizaram na web.
Tem influenciador que vai acabar fazendo propaganda de fralda descartável tanto é o medo que sentem ao postar textos, fotos e vídeos. A vida não está fácil pra ninguém.
Jornalismo, mídia social, TV, streaming, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVI. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
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terça-feira, 28 de abril de 2020
terça-feira, 3 de julho de 2018
Empresas que apoiaram "influenciador" que publicou post racista fazem mea culpa
Nos últimos anos, "influenciadores" das redes sociais e seus milhões de seguidores passaram a disputar com outros meios anunciantes de peso. Não foram poucas as marcas que trocaram revistas impressas por youtubers, blogueiras, celebridades em geral capazes de atrair enormes audiências. Uma sucessão de incidentes racistas, homofóbicos, de preconceito social, religioso, ideológico, etário, contra pessoas com deficiência, imigrantes, entre outras demonstrações de agressiva rejeição à diversidade, mostra que, muitas vezes, a maioria dessas empresas não tem a menor ideia de onde sua marca vai parar. Casos recentes demonstram que pode ser em depósito de lixo moral. Comparando: é como se o anunciante não se preocupasse com o entorno e colocasse o outdoor que vende seu produto bem no meio de um esgoto ou no alto de uma montanha de aterro sanitário.
O youtuber Júlio Cocielo fez um comentário racista sobre o jogador francês e um dos destaques da Copa do Mundo Kylian Mbappé. Após repercussão na web, várias marcas, entre aquelas que veicularam campanhas no veículo das ofensas (Coca Cola, Adidas, Submarino, Itaú, McDonald's, Gilette) anunciaram cancelamentos de patrocínio. Antes tarde...
Mas é surpreendente que nenhuma dessas marcas - até que o caso Mbappé chocou as redes sociais - tenha se preocupados em verificar, com alguns cliques, os conteúdos do Cocielo. Não se pode acusá-lo de disfarçar. As demonstrações de racismo estão lá, claras e contundentes. Só não viu o anunciante que não quis ou, pior, gostou. Mesmo com seu histórico, o youtuber virou queridinho e foi convidado para atuar no "Pânico na Band", em teatro e em filmes como "Os Penetras 2", produzido pela Conspiração e Globo Filmes, onde interpretou a ele mesmo.
Segundo a Carta Capital, depois da polêmica Mbappé, o autor do post racista correu para apagar quase 50 mil outras mensagens semelhantes.
Na maioria das vezes racistas ficam impunes, a condenação só vem quando instituições, empresas e anunciantes despertam para a consciência social e de cidadania - e, claro, temem as consequências da repercussão nas redes sociais, como eventuais riscos de boicotes a produtos e marcas - e param de beneficiar canais de ódio.
Mas é surpreendente que nenhuma dessas marcas - até que o caso Mbappé chocou as redes sociais - tenha se preocupados em verificar, com alguns cliques, os conteúdos do Cocielo. Não se pode acusá-lo de disfarçar. As demonstrações de racismo estão lá, claras e contundentes. Só não viu o anunciante que não quis ou, pior, gostou. Mesmo com seu histórico, o youtuber virou queridinho e foi convidado para atuar no "Pânico na Band", em teatro e em filmes como "Os Penetras 2", produzido pela Conspiração e Globo Filmes, onde interpretou a ele mesmo.
Segundo a Carta Capital, depois da polêmica Mbappé, o autor do post racista correu para apagar quase 50 mil outras mensagens semelhantes.
Na maioria das vezes racistas ficam impunes, a condenação só vem quando instituições, empresas e anunciantes despertam para a consciência social e de cidadania - e, claro, temem as consequências da repercussão nas redes sociais, como eventuais riscos de boicotes a produtos e marcas - e param de beneficiar canais de ódio.
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