sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Ao receber o Prêmio Camões de Literatura, escritor Raduan Nassar critica o golpe e as ações repressivas do governo Temer: "Vivemos tempos sombrios, muito sombrios".

Leia o discurso de Raduan Nassar feito hoje de manhã, no Museu Lasar Segall, em São Paulo, diante de autoridades do Brasil e de Portugal. 

Segundo a Folha de São Paulo, o ministro da Cultura do governo ilegítimo, Roberto Freire, foi vaiado quando subiu ao palco para responder ao escritor. 

A Folha ainda afirma que Raduan deveria falar por último mas, prevendo ou tendo sido informado de que o discurso do agraciado seria político, Freire mandou inverter a ordem dos pronunciamentos para fazer um improviso agressivo final em resposta ao autor de "Lavoura Arcaica". 

O clima foi de constrangimento, palavrões e algumas demonstrações de descontrole oficial. 

Raduan falou o que 62% dos brasileiros (número dos que reprovam Temer, segundo recente pesquisa CNT/MDA) gostariam de dizer ao staff do PMDB no poder.

"Excelentíssimo Senhor Embaixador de Portugal, Dr. Jorge Cabral.

Senhor Dr. Roberto Freire, Ministro da Cultura do governo em exercício.

Senhora Helena Severo, Presidente da Fundação Biblioteca Nacional.

Professor Jorge Schwartz, Diretor do Museu Lasar Segall.

Saudações a todos os convidados.

Tive dificuldade para entender o Prêmio Camões, ainda que concedido pelo voto unânime do júri. De todo modo, uma honraria a um brasileiro ter sido contemplado no berço de nossa língua.  

Estive em Portugal em 1976, fascinado pelo país, resplandecente desde a Revolução dos Cravos no ano anterior. Além de amigos portugueses, fui sempre carinhosamente acolhido pela imprensa, escritores e meios acadêmicos lusitanos.

Portanto, Sr.Embaixador, muito obrigado a Portugal.

Infelizmente, nada é tão azul no nosso Brasil.

Vivemos tempos sombrios, muito sombrios: invasão na sede do Partido dos Trabalhadores em São Paulo; invasão na Escola Nacional Florestan Fernandes; invasão nas escolas de ensino médio em muitos estados; a prisão de Guilherme Boulos, membro da Coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto; violência contra a oposição democrática ao manifestar-se na rua. Episódios todos perpetrados por Alexandre de Moraes.

Com curriculum mais amplo de truculência, Moraes propiciou também, por omissão, as tragédias nos presídios de Manaus e Roraima. Prima inclusive por uma incontinência verbal assustadora, de um partidarismo exacerbado, há vídeo, atestando a virulência da sua fala. E é esta figura exótica a indicada agora para o Supremo Tribunal Federal.

Os fatos mencionados configuram por extensão todo um governo repressor: contra o trabalhador, contra aposentadorias criteriosas, contra universidades federais de ensino gratuito, contra a diplomacia ativa e altiva de Celso Amorim. Governo atrelado por sinal ao neoliberalismo com sua escandalosa concentração da riqueza, o que vem desgraçando os pobres do mundo inteiro.

Mesmo de exceção, o governo que está aí foi posto, e continua amparado pelo Ministério Público e, de resto, pelo Supremo Tribunal Federal.

Prova da sustentação do governo em exercício aconteceu há três dias, quando o ministro Celso de Mello, com suas intervenções enfadonhas, acolheu o pleito de Moreira Franco. Citado 34 vezes numa única delação, o ministro Celso de Mello garantiu, com foro privilegiado, a blindagem ao alcunhado “Angorá”. E acrescentou um elogio superlativo a um de seus pares, o ministro Gilmar Mendes, por ter barrado Lula para a Casa Civil, no governo Dilma. Dois pesos e duas medidas

É esse o Supremo que temos, ressalvadas poucas exceções. Coerente com seu passado à época do regime militar, o mesmo Supremo propiciou a reversão da nossa democracia: não impediu que Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados e réu na Corte, instaurasse o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Íntegra, eleita pelo voto popular, Dilma foi afastada definitivamente no Senado.

 O golpe estava consumado!

 Não há como ficar calado.

 Obrigado"

13 comentários:

J.A.Barros disse...

Não sei, estou com muitas dúvidas. A esquerda brasileira, que esteve no poder, nesse governo lulopetista não trouxe nada de novo, não melhorou em nada a política indústrial e econômica deste pobre país. Distribuir dinheiro é um meio muito fácil de governar.

J.A.Barros disse...

Aqui no Estado do Rio de Janeiro se vive realmente "tempos sombrios, muito sombrios" criado por, hoje um ex-governadpor, então político do PMDB, que se encontra preso em Bangui, que arrasou com a economia deste Estado ao ponto de não pagar aos seus servidores há dois ou três meses, acabar com o comércio de lojas enfim, uma tragédia econômica de tal ordem que está sendo muito difícil consertar toda essa bandalhada cometida por esse es-govenrador e a sua gang e o que me deixa intrigado e perplexo é que ninguém comenta, não fala e nem grita na mídia e só povo o único atingido diretamente por crimes é que ainda consegue ir às ruas se manifestando contra a situação, Tem famílias passando fome e a "inteligentzia" brasileira e mais a "esquerda progressista" pouco esão se importando com essa situação de caos no Estado do Rio de Janeiro. A preocupação deles é com o tal governo ilegítimo que governa atualmente o país, como se fosse o único governo ilegítimo se esquecendo do governo – este por demais ilegítimo – do José Sarney.

J.A.Barros disse...

Que poucas excessões seriam essas?

J.A.Barros disse...

Desculpe-me o erro gráfico: a palavra certa é com c cedilha – exceções

Hoffman disse...

O governador alegado aí é do partido que está no poder depois do golpe com inúmeras pessoas que tem mais folha corrida do que curriculo

Norões disse...

Alguns políticos não suportam encarar a dignidade de um cidadão como Raduan. Eles perdem a linha.

J.A.Barros disse...

Mas sempre tive o Roberto Freire como um homem e político digno, apesar de ser presidente do Partido comunista. Nunca vi o nome deste comunista político envolvido em fraudes e trapaças. É um homem de coragem por que como membro do governo "ilegítimo "se achou no direito de defender a "ilegitimidade " do governo de que faz parte, sabendo que iria enfrentar uma platéia hostil e reacionária. Parabéns pela coragem comunista Roberto Freire.

J.A.Barros disse...

Nosso Brasil, caro senhor, foi destruído ano após ano por um partido político que se locupletou em propinas, fraudes e corrupção generalizada, com mensalões, petrolões, agora explode a corrupção na usina de Belo Monte, na área de energia que essa incompetente e falsa engenheira destruiu alem de querer baixar juros por decretos presidenciais. Esse é o Nosso Brasil, meu caro senhor, destruído economicamente com mais de 12,5 milhões de desempregados e com alguns estados como o do Rio de Janeiro falido sem pagar há mais de 2 ou 3 meses os seus servidores públicos. Não sei se esse governo é "legítimo ou ilegítimo "o que sei é que alguém tem de pegar essa batata quente e tentar esfria-la o melhor que puder. Não consigo entender que um partido tenha ficado no poder durante 13 anos, com apoio de todo o congresso, não ter conseguido ou mesmo não queria fazer as reformas de base de que tanto esse "Nosso Brasil" necessita. Meu caro senhor, essa é a realidade que vivemos e tantos, por demais tantos, fazem campanhas para destruir o governo atual, batizando-o de "ilegítimo ". E os verdadeiros causadores de tamanha tragédia se refestelam nas suas mansões e palacetes.

Quevedo disse...

Só para avisar ao jabarros, Roberto Freire está citado em lista da Odebrecht.

J.A.Barros disse...

Não sabia desse detalhe, achava que todo comunista seria incapaz de cometer fraudes e atos de corrupção. Afinal, José Dirceu, quando chefe da casa civil, dizia que o seu governo não rouba nem deixa roubar.

Rob5821 disse...

Esse acontecimento deu um retrato deu um retrato do Brasil atual. A integridade de um lado e o pântano do outro. O Brasil não tem um governo tem é um arrastão dominando instituições. Os hipócritas e safado s que derrubaram a democracia estão calados e com rabos entre pernas são cúmplices.

J.A.Barros disse...

Imagina, até comunista de hoje são corruptos. Sinal dos tempos ou da esculhambação geral que vive este país? Um governador que acabou com a economia e a estrutura industrial e comercial do seu estado deveria não só estar preso mas condenado à morte por enforcamento. Porque é muito dinheiro que ele desviou ou se apropriou indevidamente levando o Estado Rio de Janeiro à falência. O estado deixou de pagar os salários há 2 ou 3 meses aos seus servidores públicos. Pode-se imaginar como estão vivendo esses servidores públicos? Há uma pergunta que não encontro resposta e me intriga muito: – estarão o governador e o seu vice recebendo em dia os seus proventos? Quando estourou a falência do Rio de Janeiro esse governador alardeou que iria cortar 30 % do seu salário e dos funcionários privilegiados. Mas, logo depois declarou que não iria mais sangrar os 30 % nos seus salários. E dos outros também não? Esse país precisa ser passado a limpo e governadores como esses dois últimos deste estado um já está na cadeia e o outro precisa ser enjaulado o mais rápido porque ele continua a dar isenções fiscais a amigos e empresas e tudo leva leva a crer que essa isenções implicam em liberar propinas.

Quevedo disse...

Ao jabarros, falei que Roberto Freire foi citado em uma delação. Não é acusado. Só a justiça dirá isso ou não. Vamos deixar isso claro em um tempo em que pessoas estão sendo condenadas sem provas consistentes apenas com a apelação autoritária para domínio do fato