segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Rio inaugura ciclovia cartão-postal




Fotos Tomaz Silva/Agência Brasil

São 3,9 quilômetros do Leblon a São Conrado. A paisagem da Av. Niemeyer acompanha a rota da Ciclovia Tim Maia inaugurada ontem pelo prefeito Eduardo Paes. Com 435km de pistas, o Rio já é a cidade com a maior malha cicloviária da América Latina. Berlim, com 750km, lidera o ranking. Amsterdã tem 400km mas é a cidade onde é mais intenso o uso de bicicletas: 40% dos deslocamentos nas cidade são feitos em ciclovias.
Em junho, como complemento da preparação da cidade para a Rio 2016, será inaugurada a continuação do percurso que ligará São Conrado à Barra.

Acervo da antiga MTV está abandonado. Jornais e revistas já não guardam todas as fotos que fazem. Memória digital tem futuro?

por José Esmeraldo Gonçalves
Um debate pontua conversas de pesquisadores: o meio digital ajudará a guardar ou tornará mais frágil a preservação da memória visual para as futuras gerações? Há controvérsias. Ao mesmo tempo em que a tecnologia digital amplia extraordinariamente a divulgação em todas as plataformas, persiste uma certa fragilidade na guarda dos arquivos a longo prazo. Os meios de comunicação são dotados de maior estrutura para guardar grandes arquivos, embora procedimentos administrativos em algumas organizações jornalísticas impliquem, em nome da economia, na destruição diária de milhares de imagens (falarei sobre isso logo abaixo). Já a manutenção de arquivos pessoais digitalizados é mais complexa. Nem todo mundo tem condições de guardar centenas ou milhares de imagens. Há coleções inteiras de fotografias nos principais museus do mundo que vieram de álbuns de famílias, de herdeiros ou de amadores que tinham a fotografia como hobby. A tendência é que isso se torne mais dífícil.
Atualmente, cidadãos comuns fazem fotos ou filmes em celulares, como flagrantes em grandes cidades, guerras, desastres naturais ou simplesmente mostram cenas de vida que poderão se tornar valiosos documentos futuramente. Mas chegarão lá?
A cada dia são produzidas bilhões de imagens em todo o mundo. Enormes servidores guardam tais arquivos, a capacidade da "nuvem" parece inesgotável, mas não a confiabilidade, tanto que os técnicos em bancos de dados sempre recomendam a redundância de arquivos. Ou seja, alertam para a guarda de informações, filmes, documentos, textos ou fotos em mais de um dispositivo. Sem falar nas mídias que vão sendo superadas por novas tecnologias, como foi o caso do velho disquete, tornando mais complicada para muita gente a recuperação de imagens antigas.
Memória digital custa dinheiro. Daí, há jornais e revistas brasileiros que arquivam cerca de 15% a 20% por cento do material fotográfico que produzem. O resto é apagado. Em certa época, a redação de uma revista que guardava em CD, como back up, tanto as fotos escolhidas quanto as não publicadas, recebeu ordens expressas para quebrar os discos rumo ao lixo, sob a alegação de falta de espaço para guardá-los.
Segundo algumas normas internas vigentes, de cada matéria são lançados nos bancos de imagem as fotos publicadas e mais algumas algumas poucas consideradas representativas. Exemplificando: se fosse feita hoje, a famosa foto de Che Guevara por Korda poderia ser destruída pelo jornal cubano que a rejeitou inicialmente. Quando o material foi revelado e copiado em um contato, o editor não utilizou a imagem de Che naquele ângulo e naquela expressão que a tornaria célebre. Selecionou outra e mandou para o arquivo os demais negativos do filme de Korda. Só posteriormente, a foto de Che ilustrou outra matéria, ganhou visibilidade e virou cult. Hoje, teria sido vítima da tecla "delete". Pelo mesmo raciocínio centenas de fotos de Roberta Capa teriam se perdido. A maioria das suas imagens da Segunda Guerra, da Guerra da Indochina, além de cenas cotidianas da Europa, não foram publicadas como registros de atualidades mas ficaram guardada entre as "sobras". Hoje, seriam digitalmente guilhotinadas.
O Portal Imprensa publicou ontem uma matéria sobre o acervo da extinta MTV, que estaria apodrecendo, sem manutenção, no antigo prédio do canal, em São Paulo. Fitas antigas e imagens digitalizadas vão, aos poucos, se perdendo. Segundo a colunista Keila Jimenez, do portal R7, vez ou outra alguém consegue acesso ao material e resgata trabalhos, como foi o caso da dupla de humoristas Hermes e Renato, que salvou programas antigos e os lançou na internet. A Editora Abril, que foi dona da MTV, vendeu o canal e tentou negociar o acervo com a Viacom, nova proprietária. Questões contratuais, valores e direitos autorais vencidos, em alguns casos, teriam inviabilizado a negociação. Enquanto isso...

Artista plástica recebe aplausos e críticas ao reproduzir close de quadro célebre no Museu D'Orsay

Reprodução

Reprodução
por Jean-Paul Lagarride
O tempo é de bombas que matam mas símbolos da vida continuam a chocar. Na semana passada, a
artista plástica luxemburguense Deborah de Robertis caminhava pelos salões do Museu D'Orsay, em Paris, quando se aproximou do quadro "L'Origine du Monde" de Gustave Courbet, sentou-se no chão, de costas para a obra, levantou o vestido dourado e exibiu a mais autêntica fonte de inspiração de Courbet. Apropriadamente, denominou sua performance de "O espelho da origem".
Reprodução Facebook Perseus
Deborah executou sua ação artística ao som da Ave Maria, de Schubert, interpretada por Maria Callas. Não há como negar: todos os elementos envolvidos são de muitíssimo bom gosto. O que não impediu, entretanto, a reação dos guardas do museu. Deborah recitava um poema ("Eu sou a origem/Sou todas as mulheres./Tu não me viste./Quero que me reconheças./Virgem como a água criadora do esperma".) quando foi detida.
O processo foi arquivado e a justiça advertiu a artista plástica
VEJA O VÍDEO (PARA MAIORES) COM A CENA COMPLETA E REAÇÕES DO PÚBLICO, CLIQUE AQUI


sábado, 16 de janeiro de 2016

Vai ter Olimpíada! Rio inaugura a Arena Carioca. Quanto ao Centro de Tênis, prefeito acusa empreiteira de "chantagem" e "pressãozinha de quinta categoria" e cancela contrato. Obra está parada e caso vai à Justiça...

Foto Tânia Rego/Ag.Brasil

Foto Tânia Rego/AG Brasil

Foto Tania Rego/AG Brasil

A seleção feminina de basquete inaugurou mais um equipamento esportivo do Parque Olímpico (Foto Ricardo Cassiano/ Prefeitura do Rio). A maioria das obras segue o cronograma, mas isso não significa que não há problemas. O prefeito Eduardo Paes suspendeu o contrato com o consórcio de empresas responsável pela construção do Centro Olímpico de Tênis, ao apontar não cumprimento de prazos e cláusulas contratuais..  A construção já sofreu diversos atrasos e o custo inicial de 175,4 milhões recebeu aditivos que já elevariam o preço para 210 milhões de reais. Diante de mais exigências por parte dos construtores, o prefeito reagiu. Segundo Paes, a empresa está "fazendo pressãozinha de quinta categoria" e usando demissões de funcionários para fazer "chantagem" contra a prefeitura. A confusão deve parar na justiça. Mas aparentemente há a consciência de que os Jogos são mais importantes do que as táticas empresariais e a queda de braço com o podrr público. Ontem a justiça negou liminar impetrada pelo consórcio que queria reassumir a obra.
Centro de Tênis: obra parada por atrasos e por falta de cumprimento de cláusulas
contratuais por parte do consórcio privado, segundo alegações da Prefeitura do Rio.
Caso está na justiça. Foto de J.P Engelbrecht


Viu isso? Homem exibe revólver para a câmera e repórter de TV que falava ao vivo não se abala...

A repórter Tamara Bojic vê o revólver,...
...mas supera o susto e...

...continua a narrar sua matéria sem se deixar abalar pela interferência. Fotos: Reproduções You Tube
por Clara S. Britto
A repórter Tamara Bojic fala sobre a previsão do tempo em uma externa da TV de Vojvodina, em Novi Sad, na Sérvia. De repente, um homem interfere na imagem exibindo um revólver. A cena impressiona pela frieza da repórter, que continua passando as informações, não desvia o olhar da câmera e não vacila na voz, no máximo, faz um gesto de surpresa. Ela até inclina ligeiramente o rosto para não perder o ângulo da câmera. O homem desaparece, em seguida, e a polícia ainda tenta identificá-lo. Há cerca de seis meses, a repórter Alison Parker e câmera Adam Ward, do canal WDBJ, da Virginia, nos EUA, foram assassinados em um episódio semelhante.
VEJA O VÍDEO, CLIQUE AQUI

Fifa, que condena exibicionismo religioso em campo para evitar provocação a torcedores das mais variadas crenças e seitas, apaga faixa-exaltação de Neymar

Neymar no vídeo da Fifa. A faixa, que o bom senso considera inconveniente em estádios para evitar reações de torcedores de outras religiões, ficou em branco. 
por Flávio Sépia
O povo diz que se deve evitar discussões sobre futebol, política e religião. Jamais acabam bem. Imagine você juntar futebol e religião. A Fifa, que tem mais países afiliados do que a ONU, é obrigada a tratar o tema religião com cautela. Simples, só para citar algumas correntes: há torcedores católicos, protestantes, neopentecostais, muçulmanos, israelitas, espíritas, umbandistas, adeptos do vudu, do candomblé, messiânicos, wahhabistas, rastafari, politeístas e ateus. Todos respeitáveis nas suas linhas. Se durante um jogo em um país muçulmano, por exemplo, um jogador exibir faixas exaltando Jesus boa parte da torcida poderá ver o gesto como provocação. Países fortemente católicos no Leste europeu já registraram conflitos entre torcedores por reação ao exibicionismo de símbolos religiosos em estádios. E, nessas situações, não há fair play que resista. Vira briga de torcida. Em vídeo oficial com os melhores do mundo em 2015, a Fifa usou uma cena de Neymar celebrando a conquista recente da Liga dos Campeões onde o jogador exibia a faixa "100% Jesus". Na versão do vídeo que corre o mundo, a Fifa apagou os dizeres da tal faixa. Na ocasião da comemoração de Neymar naquele título consta que a Fifa e a Uefa fizeram chegar ao Barcelona um alerta sobre as normas das entidades que proíbem a exibição de mensagens políticas, religiosas, raciais e pessoais em qualquer idioma. O bom senso, no caso, deve-se a que o futebol alcança pessoas das mais diferentes raças, ideologias e crenças e não convém que seja usado para cenas de sectarismo político e religioso e até fanatismo desembestado. Se religiões devem ser praticadas na casa de cada um ou nos seus respectivos templos, igrejas e espaços privados, é mais conveniente ainda que não sejam sejam usadas como exibicionismo ou provocação desagregadores em espaços públicos e plurais. A Fifa está certa e a violência religiosa que se propaga no mundo - com o Brasil já registrando lamentáveis episódios de agressões e vandalismo fanáticos - lhe dá razão. Aliás, tenho um amigo que diz que depois que vários jogadores brasileiros passaram a fazer pregação religiosa em campo através de frases, camisetas e gestos, o Brasil não ganhou mais nada. Pelo jeito, nem Jesus aprova carolice no futebol. Uma prova disso? Os 7x1 da Alemanha que por prece alguma deixaria de pôr o Brasil na roda.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Fotomemória da redação: em 1967, Manchete produziu duas fotos históricas da MPB... nunca, jamais, se viu tanta gente assim...

Esta foto da Manchete, que reúne nomes com Edu Lobo, Tom Jobim, Torquato Neto, Caetano Veloso, Capinam, Chico Buarque, Vinicius e outros, é mais conhecida, foi publicada em inúmeras edições da revista, reproduzida mais de uma vez  neste blog e em diversos livros sobre MPB. O autor da foto é Paulo Scheuenstuhl.
Já a foto acima é menos famosa, embora igualmente representativa. Foi feita também em 1967. A Manchete, então a semanal mais importante e com maior circulação do Brasil, conseguiu reunir um time de estrelas da MPB em um estúdio próprio montado no Teatro Paramount, onde era realizado o 3° Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record.  Estão aí: Nara Leão,  O Momento-4, Caetano Veloso,os grupos Beat Boys e MPB-4, Sidney Miller, Gilberto Gil, Rita Lee, os Mutantes, Marília Medalha, Edu Lobo, Chico Buarque, Nana Caymmi, Geraldo Vandré, Roberto Carlos e Sérgio Ricardo. A foto foi publicada apenas com o crédito de Manchete Press, sem o nome do fotógrafo, infelizmente. Vale dizer: se alguém souber o nome do autor, creditaremos aqui.


100 drones "dançam" a 5ª Sinfonia de Beethoven...



O espetáculo teve como cenário o aeroporto de Hamburgo. A performance entrou para o Livro dos Recorde. Os 100 drones piscam e voam ao som dos acordes  dramáticos da 5ª Sinfonia. Uma curiosidade: no meio do jogo de luzes aparecem por duas vezes linhas que rementem à bandeira do Brasil. Haveria um brasileiro entre os funcionários da Intel que programaram os aparelhos? A Intel tem um centro de recrutamento de talentos atuante em São Paulo. Mais um importante detalhe: a orquestrá é a Ars Electronica Futurelab, da Áustria.
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Sean Penn fala pela primeira vez sobre a sua polêmica entrevista com o traficante El Chapo

Reprodução
por Niko Bolontrin
Sean Penn falou pela primeira vez sobre a sua controvertida entrevista com o megatraficante mexicano El Chapo. O ator, em declarações à CBS que irão ao ar neste domingo, defendeu sua matéria exclusiva mas admitiu que falhou no seu objetivo de provocar uma ampla discussão sobre a chamada guerra contra as drogas que claramente não tem alcançados seus objetivos. Como a entrevista acabou levantando apenas um debate pueril sobre a "ética no jornalismo", Penn avalia que o artigo não funcionou. O ator também desfaz o que chama de "mito": "Especulou-se que a visita que fizemos foi essencial para a captura de El Chapo. Nós o encontramos no dia 2 de outubro, muitas semanas antes da sua prisão e em um lugar muito diferente e distante do local onde ele foi capturado". O maior arrependimento, segundo ele, não tem nada a ver com a prisão de el Chapo. "Toda a discussão que o artigo provocou ignorou seu objetivo que era tentar contribuir para um debate sobre o fracasso da política internacional na guerra contra as drogas. Meu artigo falhou". disse Penn.

Favelas cariocas inspiram trabalho de arquiteto premiado


Algumas das soluções propostas por Alejandro Aravena. Fotos: Reprodução Internet
por Flávio Sépia
O arquiteto chileno Alejandro Aravena se inspirou em favela cariocas para criar soluções de habitação para a metrópoles. Segundo ele, em 2030, 5 bilhões de pessoas estarão se aglomerando em éreas urbanas, dessas, projetando-se o avanço do capitalismo selvagem, a depredação financeira de países por quadrilhas de especuladores e a destruição do meio ambiente, 2 bilhões viverão abaixo da linha da pobreza. Será preciso, então, planejar moradias sustentáveis, coletivas e de custo acessível para implementação por programas sociais. Muitos sociólogos já afirmaram que favelas não deveriam ser problemas já que são, na verdade, soluções arquitetônicas e sociais. Deveria ser urbanizadas, dotadas de serviços e aperfeiçoadas. Com esse trabalho, que reúne blocos de moradias de vários tamanhos, Aravena ganhou o Pritzker Architecture Prize 2016.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

David Bowie, Justino Martins e o rock



David Bowie fotografado pelo seu amigo Jimmy King. Provavelmente a última imagem do "Camaleão", durante o lançamento do seu 28° álbum. (Reprodução do site oficial de DB. 
Por ROBERTO MUGGIATI
David Bowie me fez lembrar duas ocasiões profissionais importantes na Manchete. Justino Martins tinha voltado a dirigir a revista, depois de mais de cinco anos de desterro – de 1975 a 1980 – quando ocupei o seu cargo. Em 1980, aliás,  codirigimos a Manchete, uma coisa maluca que só podia acontecer mesmo na Bloch. Foi um ano de bonança, graças à visita do Papa João Paulo II: não só esgotamos edições com centenas de milhares de exemplares, como vendemos às pencas uma medalhinha milagrosa supostamente abençoada pelo Sumo, que nem deve ter chegado a saber da tramoia. Frank Sinatra também veio ao Brasil e ajudou a esgotar edições. Em 1981, propus ao Justino que assumisse sozinho a edição – afinal, eu compartilhava a tese dele de que dirigir uma revista é como dirigir um filme: estava criado o “jornalismo de autor”. Continuei na redação como “segundo” do diretor numa boa.
Lairton Cabral, Antonio Rudge, eu, Justino Martins e Wilson Cunha
 (ao fundo, Murilinho e uma das suas gravatas):
tempos de champanhe e flütes de cristal na comemoração do
meu aniversário em 1978. Foto: Acervo RM
Adolpho nunca engoliu o Justino, que chamava de “Índio”, talvez porque fosse o único jornalista da Bloch a encará-lo com altivez. Quando sentiu que eu podia substitui-lo, botou Justino “na geladeira”, Ou melhor, no maior calor, numa redação pequena e entulhada, com o ar condicionado desligado, a de Fatos& Fotos, um andar abaixo da redação de Manchete, no glorioso oitavo. Adolpho criou um ritual de comemorar nossos aniversários com champanhe: os de Justino, com espumante gaúcho barato e morno; os meus, com Moët Chandon francês, resfriado em baldes de prata e servidos em flûtes de cristal maciço, como podem reparar na foto. Apesar da rivalidade estimulada pelo capo da Bloch para aumentar a produtividade (uma tese discutível), em nossos 18 anos de convivência eu e o Justino sempre nos demos bem.
Naqueles tempos de censura eu, que estreara a carreira paralela de escritor com um incendiário Mao e a China – publicado uma semana antes do AI5 – me dei conta de que, como não se podia mais falar abertamente de política, a nova forma de fazer política era através da cultura; mais precisamente, da chamada contracultura. Passei a escrever então sobre rock. Em 1973, publiquei Rock/O grito e o mito, que fez a cabeça de muito jovem e foi adotado em várias faculdades de comunicação do país. Sugeri, ou foi o próprio Justino quem sugeriu, uma série na Manchete intitulada “Os Jovens Que Balançaram o Coreto”. A série começou com Bob Dylan e incluiu uma dezena de perfis, entre os quais o de David Bowie, com o título “Um extraterreno no planeta pop”. Eram perfis dinâmicos e começavam com o “olho” da abertura em página dupla da Manchete:
“Rei do glitter – o rock de plumas e paetês que estourou no início dos anos 70 – David Bowie, mais do que um superstar, é um sobrevivente. Ele nasceu no pós-guerra num bairro pobre de Londres, quase ficou cego, quase foi emasculado, quebrou pernas, mãos e dedos, internou o irmão num asilo de loucos, mas partiu para a luta, com voz, corpo e garra, conquistando o poder e a glória e um lugar privilegiado no Olimpo do rock.”
Depois, transformei aqueles perfis num livro, Rock: do Sonho ao Pesadelo, publicado em 1984 pela L&PM. Fiz até a capa, em parceria com minha mulher Lena, fotógrafa de Manchete. Naquela época sem recursos de computador, foi um trabalho braçal mesmo. Lena fez a foto em cor de uma guitarra e depois a ampliou em papel. Peguei doze retratos de roqueiros em P&B, também em papel, que recortei à mão para dar um efeito rasgado. Espalhei os retratos sobre a foto de fundo da guitarra. Depois cobri tudo por uma placa de vidro e, com um martelo, estilhacei o vidro todo. O Ivan Pinheiro Machado, da L&PM – ele mesmo artista gráfico e capista da maioria dos seus livros – adorou.
Àquela altura, o Justino já tinha partido, em agosto de 1983, consumido por um câncer fulminante em menos de um mês. Foi uma morte simbólica, ocorrida dois meses depois da entrada no ar da Rede Manchete de Televisão. Com a TV, as revistas foram abandonadas e entraram em lenta agonia até a falência de agosto de 2000. (Ironicamente, foi o aval da editora a um empréstimo para a TV que acabou levando à concordata e à falência...)
Mas quero lembrar um estranho momento de rock com o Justino, ainda em 1983. O heavy metal surgira com força total para detonar o rock-de-elevador da New Wave consumido pelos yuppies.
O Kiss na Manchete: uma das últimas edições
paginadas por Justino Martins.
E uma das bandas mais carismáticas do hard rock veio tocar no Brasil, o Kiss. Fui cobrir o show de sábado à noite no Maracanã com minha mulher, Lena, que fotografaria o evento. O carro da Manchete nos pegou em Botafogo e foi depois apanhar o Justino e sua filha adolescente (Maria) Valéria na Joatinga. Era a única filha do Justino, que perdera o Carlito num trágico acidente de carro num Carnaval do início dos 1970. Valéria, com seus 17 ou 18 anos, era a razão de todo esse rock na vida do Justino. Quando o pegamos em sua bela casa na Joatinga, projeto de Zanine, ele estava terrivelmente chocado. Um grave acidente ocorrera naquela manhã: dois pintores que iam trabalhar na casa do Justino foram brutalmente atacados pelos cães da casa, uns rotweillers, se não me engano. O estrago foi grande e os homens tiveram de ser hospitalizados. Justino se sentia, de certa forma, culpado pelo episódio. O motorista, para chegar mais rápido ao Maracanã, fez um percurso insólito: pegou o Túnel Santa Teresa-Rio Comprido. (Fui checar agora no Google: é o primeiro túnel viário construído no Rio de Janeiro, e o único da época imperial, 1887. De soslaio, vi que ali por perto existe uma Rua Marcel Proust – vocês sabiam dessa?) A manobra deu certo e chegamos rapidamente ao Maracanã.
Instalados no curral VIP no gramado do então “maior do mundo”, corri à fila do gargarejo para fazer companhia a Lena, que fotografava diante do palco. Gargarejo é pouco. O líder da banda, Gene Simmons (O Demônio), com sua maquiagem grotesca, vomitava golfadas de uma geleca verde sobre a plateia e... sobrou para mim também. Mais um parêntese – desculpem o cacoete – mas é tanta coisa interessante. Esse Demônio do Kiss era apenas a persona cênica de um pacato cidadão. Cito das folhas roqueiras; “Gene Simmons, nome artístico de Chaim Weitz, nascido num kibutz de Israel, naturalizado norte-americano, ex-professor primário, contrariamente a muitas personalidades do rock afirma ‘nunca ter consumido drogas, nunca ter fumado nem nunca ter bebido álcool demais em toda a vida’.” No mundo louco do rock, tudo é possível. . .
David Bowie, no Metropolitan, em 1997.  Foto: Arquivo Pessoal
A certa altura do show, cansado de toda aquela chuva de gosma verde e do som pauleira, afastei-me do palco e saí à procura do Justino. Fui encontra-lo cochilando de pé, encostado à grade nos fundos do cercado que separava os VIPs da plebe rude. Atribui seu cansaço ao trauma da agressão dos cães, mas depois eu saberia que já era o prenúncio da doença, o câncer minando aquela fabulosa figura humana. Fiquei pensando: o Justino, leitor de André Gide e André Malraux, o Cidadão Cannes – apelido que ganhou por suas visitas anuais ao famoso festival – apreciador da nouvelle vague e do Cinema Novo, logo ele encarando aquele circo de horrores da cultura de massa...
* * * *
Um flash-forward: estamos agora em 1996 e agravou-se aquele eterno conflito em torno da direção da Manchete e das vendas da revista (Alberto me apelidou de Muggi das Crises). Hélio Carneiro ocupou a direção por seis meses, entre fins de 83 e começo de 84. Voltei à berlinda, ou pau-de-sebo. Adolpho morreu em novembro de 1995. Jaquito me chamava às vezes e dizia: “Muggiati, precisamos fazer alguma coisa, pense no futuro dos nossos filhos...” Osias chegava de sorrelfa e sussurrava: “Muggiati, dá um jeito na coisa, senão um belo dia vem aí um executivo paulista de pastinha na mão e assume o teu lugar...” Mas “a coisa” não era nada fácil. Dirigir Manchete era como dirigir a seleção brasileira. Todo mundo – do contínuo ao patrão – se achava capaz de resolver a parada; o técnico é burro, troca o técnico. Enfim, me trocaram em 1996 e, pela primeira vez em trinta anos de Bloch, me vi literalmente alçado ao nirvana. Explico melhor: o prédio original da Manchete, no terreno escavado da rocha a dinamite, na Rua do Russell, 804, foi inaugurado no final de 1968. O segundo prédio, maior em extensão, foi construído no terreno contíguo, onde havia o castelo do advogado José Soares Maciel Filho, o redator da carta-testamento de Getúlio Vargas. As instalações principais da editora mudaram-se para o novo endereço, Rua do Russell, 766, a partir de 1980 – inclusive, e principalmente, a redação da Manchete e o restaurante que, do terceiro andar aberto à beira da piscina, se tornou um  espaço mais seletivo, para editores e executivos, no 12º andar, com ar refrigerado. Ao lado, em direção do Hotel Glória, havia ainda uma casa disponível. Um contínuo apelidado Sammy Davis Jr prometeu ao “Seu” Adolpho que convenceria a proprietária, uma idosa que vivia sozinha, a vender o terreno. Dito e feito. Cinco anos depois, os assédios diários do Sammy Davis vingaram e Adolpho comprou a casa. Ali passou a funcionar em 1986 a terceira extensão da fachada de Niemeyer – bem menor que as outras duas, mas um espaço privilegiado de qualquer forma.
Na "Santa Genovena", uma espécie de 'sala do exílio', na Bloch, vivi uma
 temporada profícua.  Foto: Acervo RM
Quando um editor importado da Pauliceia – como anunciara o Osias – veio finalmente ocupar o meu lugar, eu ganhei um novo cargo, uma espécie de promoção, como Editor de Projetos Especiais, e fui ocupar a cobertura do terceiro prédio, um salão imenso com piso de tábua corrida, unidade autônoma de ar condicionado, com uma escultura do Krajcberg atrás da minha mesa e uma varanda que dava para o cartão postal do Aterro, da entrada da baía e do Pão de Açúcar. Era um local meio destacado do resto da Bloch, acessado por uma escada em forma de caracol, que a velha guarda de bengalas ou com problemas de menisco não se atrevia a escalar; e muita gente nunca achava tempo para ir até lá, de modo que fui poupado de um batalhão de chatos. . . O Alberto, com sua verve infalível, apelidou o lugar de “Santa Genoveva” (aludindo a uma clínica de repouso carioca em que se descobriram casos de maus tratos aos velhinhos.) Para quem fazia uma Manchete por semana, a temporada na “Santa Genoveva” foi profícua. Reeditei uma série de fascículos lançada em 1972, História do Brasil, atualizando-a até o Governo FHC e o Plano Real. Foram 52 fascículos encartados semanalmente na própria Manchete com a intenção de – como diziam os marqueteiros – “alavancar” as vendas. Editei o número especial de 45 anos da revista Manchete, um sucesso editorial, de vendas e publicitário, com 350 páginas. Na área pessoal, lancei pela Ediouro A revolução dos Beatles, que tinha a ver com a data-fetiche de 11 de setembro de 1962 – quando os rapazes de Liverpool gravaram seu primeiro disco em Abbey Road (Love me Do/PS I Love You) e eu iniciava minha temporada de três anos em Londres trabalhando na BBC. O livro foi lançado em 1997, comemorando os 35 anos da data, mas, antes disso eu já havia publicado várias matérias na Manchete comemorando aniversários anteriores.
Pena que a doce vida na “Santa Genoveva” não durou muito. Poucos meses depois da minha ascensão, Jaquito já me fazia voltar ao inferno da redação para editar o número de Carnaval da Manchete: “Estes paulistas não entendem nada de Carnaval...” Não era um bom sinal. Em 31 de agosto de 1997, desci de Itaipava para fechar em poucas horas a edição extra de Fatos&Fotos sobre a morte da Princesa Diana.
Duas coisas boas sobre a mudança: a reforma gráfica do designer milanês Carlo Rizzi, primorosa, que deu uma cara nova à Manchete. E outra, que explica por que qualquer pessoa de fora nunca daria certo na Manchete: o estilo de gestão de Adolpho Bloch, que fugia à padronização dos “quadros”, um estilo posso chamar até de humanista. Cada funcionário era um indivíduo único, com suas virtudes e seus defeitos, do qual Adolpho tentava extrair o melhor que pudesse oferecer para o trabalho comum.
Em 31 de outubro, Dia das Bruxas, uma sexta-feira, o editor paulista pediu as contas e se mandou. Jaquito me ligou comunicando que eu estava de volta à direção da Manchete e que o fechamento da revista na segunda-feira seria por minha conta. É aí que entra David Bowie pela segunda vez nessa história. Eu tinha um camarote no Metropolitan para assistir ao seu show da turnê do álbum Earthling no domingo, 2 de novembro, Dia de Finados. Anteriormente, véspera de fechamento para mim era sagrada e a noite de domingo era de abstinência total. Tinha de estar cem por cento em forma para encarar o desafio da segunda-feira, que se estendia às vezes até a noite de terça. Desta vez, no entanto, eu repensei tudo aquilo e, “existencialista, com toda razão” mandei tudo praquele lugar. Fui ao Metropolitan com meu filho, Roberto, e meu sobrinho, Fernandinho. Tomei todas e curti adoidado o rock do Camaleão Bowie, aquele que catorze anos antes, nas páginas da Manchete, eu batizara de “um extraterreno no planeta pop.”

Caras: aproximando pessoas... graças ao photoshop

Reprodução Blue Bus
A montagem foi devidamente detonada pelos internautas no Facebook. Clique na imagem para ampliar.

Reprodução Blue Bus
 Sean Penn provavelmente vai achar que estava bêbado na noite do Globo de Ouro ou estava muito ligado no El Chapo, a quem entrevistou para a Rolling Stone. Ao acordar no dia seguinte, o ator foi comprar a Caras na banca da esquina, ansioso que estava, e deparou-se com a capa na qual aparece ao lado de um casal de brasileiros: a apresentadora Ticiana Villas Boas e o empresário Joesley Batista. Ao fundo, lamentando não ter sido chamado para se juntar ao alegre grupo, o ator Leonardo Di Caprio parece desconsolado. E Bruce Willys achou que essa selfie é dura de matar.  Penn está até hoje tentando entender quem são aqueles "amigos de infância". "Brazil, who, what"? - disse ele, antes de falar com o jornaleiro: "Preciso parar de me encontrar com el Chapo".  
Um "Globo de Ouro" para o photoshop pela arte de juntar pessoas na categoria "melhor efeito especial".
LEIA A MATÉRIA DO BLUE BUS, CLIQUE AQUI

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Eu, hein? Viram isso? Todo mundo à direita e o c* no meio...

Deu no Portal Forum: 'fogo amigo' entre "cardeais" da direita brasileira. 


Reproduções do Portal Forum

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Homens se queixam de comercial de mulheres empoderadas

Cenas do comercial "Linda Ex". Reproduções
por Clara S. Britto
Os homens resolveram reagir. Enquanto as feministas protestam contra anúncios que exploram gratuitamente a sensualidade das mulheres, transformando-as em "objetos", segundo as ofendidas, os rapazes deram de ficar ligados no "machismo" feminino. Não faz muito tempo, protestaram contra comercial da Bombril, estrelado por Ivete Sangalo, Monica Iozzi e Dani Calabresa que "debochava da figura masculina". Agora, o Conar (Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária) recebeu quaixas contra uma campanha de O Boticário. O filme ensina a mulheres em processo de divórcio a se tornarem mais confiantes, sensuais e empoderadas a ponto de deixarem arrependidos os maridos que pularam fora do casamento. Melhor ver o filme, "Linda Ex", que é muito bem feito, a propósito, e tirar sua própria opinião.
VEJA O FILME, CLIQUE AQUI

A body activist Ashley Graham contestou os padrões de beleza e engordou a conta bancária

Ashley Graham e uma das peças da coleção Addtion Elle.

Fotos Addition Elle
por Clara S. Britto
O ativismo social é superpositivo. Muitas conquistas nascem da participação de cada um. Nesse campo, ganha espaço uma nova categoria: body activist. Isso mesmo, reúne as mulheres (por enquanto, a ala mais visível do movimento, mas elas dizem que aguardam o engajamento dos homens), digamos, acima do peso estabelecido pela estética opressora da sociedade, do mercado e dos fascistas formadores de opinião sobre padrões de beleza. A modelo e designer americana Ashley Graham conseguiu furar esse bloqueio e firmou-se com body activist. O conceito do movimento pode ser resumido na ideia de que o importante é a saúde e esta não deve ser comprometida pela busca ensandecida de um corpo padronizado. Aos 29 anos, ela tornou suas curvas um bom investimento e acaba de lançar pela Addition Elle uma coleção de lingerie para mulheres que passam longe da anorexia. Ashley tem 1.75, pesa 90 quilos, tem confortáveis 115cm de quadril e conta bancária acima de oito dígitos. Cariocas de gerações mais vividas contam que, nos anos dourados, lá pela década de 1950, corpão como o de Ashley Graham faria sucesso na praia de Copacabana.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Conheça Lily, a câmera-drone treinada para seguir você como um cão segue o dono...

Foto Lily Robotics



Um drone que é câmera selfie. A revista Forbes revela que a Lily, que tem lançamento nos Estados Unidos previsto para junho ou julho, já tem reservas para 60 mil unidades. A smart camera é bem prática - basta lançá-la no ar que ela começa a voar automaticamente, grava em Full HD e tira fotos de até 12 megapixels. E o mais incrível, não precisa de um dispositivo remoto controlador complexo: a Lily segue o dono como um cachorrinho, desde que mantida uma distância em torno de 30 metros, guiada por um simples rastreador guardado no bolso do alvo. O rastreador tem botão liga-desliga, apenas. Ela pode voar entre 1,5 metro e 30 metros de altura, é do tamanho de um livro volumoso, mas não tem detector de obstáculos. Se você notar que a Lily vai se esborrachar contra uma árvore, só lhe resta desligá-la. A câmera voadora deve chegar ao mercado com um preço salgado: entre 800 e mil dólares.
VEJA UM VÍDEO DA CÂMERA VOADORA EM AÇÃO, CLIQUE AQUI

Istambul: turistas no alvo do terrorismo religioso

Mesquita Azul, uma das atrações de Istambul mais visitada pelos turistas na região onde ocorreu o atentado.. 

Obelisco Egípcio no Hipódromo Bizantino próximo à Mesquita Azul

Turistas no Topkapi, no Serralho.

VLT na rua Yerebatan, região de Sultanahmet. 

Grande Bazar, no Beyazit. Fotos de J.E.Gonçalves
por José Esmeraldo Gonçalves
O bairro de Sultanahmet reúne algumas das mais visitadas atrações turísticas de Istambul. A Mesquita Azul, o Hipódromo de Bizâncio, a Santa Sofia, além de centros de artesanato, dos museus de Tapetes Vakiflar, de Mosaicos, de Artes Turcas e Islâmicas, os Banhos de Roxana, entre outros monumentos e instalações, se espalham no lado oriental da antiga capital dos impérios Romano, Bizantino e Otomano . Os turistas - cerca de dez mil, por dia -  costumam percorrer a pé esse extraordinário circuito. Foi essa a região escolhida pelo terrorista para acionar sua bomba.
Nos últimos anos, Istambul entrou de vez no roteiro dos brasileiros e era comum ouvir ecoar o português nas vielas de casas otomanas. A Turquia não demonstrava grandes tensões e isso ficava claro nas ruas, onde as pessoas eram em geral receptivas e prestativas. O país aproximava-se do ocidente e vivia a expectativa de entrar para a União Europeia. 
Mas algumas nuvens políticas começavam a escurecer o horizonte. 
Quando lançou as bases da república turca, no começo da década de 1920, o líder Mustafá Kemal, que passou a ser conhecido como Atatürk, o pai dos turcos, incluiu entre os fundamentos do novo Estado o laicismo. Apesar de o islamismo ser a religião dominante para cerca de 90% da população, Ataürk anteviu que um Estado secular seria o pilar que neutralizaria o autoritarismo religioso. Em quase um século, a Turquia sofreu intervenções militares (principalmente após se tornar membro da Otan, em 1952, e virar peça importante da Guerra Fria) e atravessou períodos de grave instabilidade econômica. Envolveu-se em conflitos com os curdos, foi à guerra em Chipre, mas preservou os princípios republicanos. 
Em 2002, a população insatisfeita com a situação econômica e uma inflação de 100% deu ao Partido Justiça e Desenvolvimento, de orientação religiosa, uma maioria de dois terços no Parlamento. O então primeiro-ministro Recep Erdogan promoveu uma série de reformas e em dois anos levou a inflação para um dígito. Fortalecido politicamente desde então, Erdogan, que hoje é presidente, foi, gradualmente, aumentando a influência islâmica no Estado. Surgiram leis restritivas de inspiração religiosa, censura à imprensa e oposicionistas passaram a sofrer perseguição. Os recentes atentados em Ancara, a capital do país e, agora, em Istambul, são o retrato desse novo tempo. O processo de islamização do Estado – em curso, apesar de grande reação interna – não vai facilitar um futuro com protagonistas como o Estado islâmico, o agravamento das relações com os curdos, a crise dos imigrantes e os reflexos das disputas entre sunitas e xiitas. 
Provavelmente, o turismo será a vítima mais imediata desses imbróglios cumulativos. O que será uma pena. São poucas as cidades que oferecem ao visitante tantas e tão preciosas atrações. Istambul, principalmente, uma metrópole onde o novo e o antigo convivem em cada esquina, transforma a visita em prazer, com direito a memoráveis aulas de história. Resta torcer para que a agitação mundana do Beyoglu, no setor europeu da cidade, onde ficam a praça Taksin e a cosmopolita rua Istiklal, não se torne vítima do sequestro da convivência democrática pelo fanatismo religioso. E que mezes e raki da rua Nevizade, um point boêmio de Istambul, tenham vida longa.  
Os turistas vítimas do atentado em Sultanahmet  estavam desfrutando desses momentos que, de resto, fazem parte de uma sensação que os terroristas pretendem explodir: o prazer de viver.
Por isso, Paris foi alvo. Por isso, os turistas de Istambul entraram na mira do terrorismo religioso.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Sean Penn sob ataque: entrevista do ator com El Chapo vira polêmica

por Niko Bolontrin
Era previsível a repercussão da entrevista do drug lord Joaquín "El Chapo" Guzman feita pelo ator Sean Penn. O impacto do material jornalístico é reconhecido, em geral, mas sobram críticas à "ética' da abordagem ao fugitivo e ao estilo do texto, com trechos considerados verborrágicos, e à qualidade de algumas perguntas. Fico com o teor jornalístico da entrevista e, especialmente, das informações contidas na longa abertura de Penn, que traça um perfil do traficante, contextualiza e descreve os encontros. O resto é besteira, um debate idiota com boa dose de corporativismo e falso moralismo. Um bom jornalista, um bom escritor, teria feito melhor? Sim.  Mas o bom jornalista e o bom escritor não chegaram lá. A ABC News informou ontem que Sean Penn está sob investigação por parte das autoridades mexicanas. Outra bobagem. As mesmas autoridades divulgaram que a movimentação da equipe para a realização da entrevista possibilitou às forças policiais o "estouro" do esconderijo do traficante, agora preso. Deduz que elas não estavam inteiramente ausentes.
Sabe o que pode haver de reprovável no procedimento da Rolling Stone? A informação não confirmada de que El Chapo teria condicionado a entrevista à sua leitura do texto final, embora não tenha feito qualquer alteração. Se for verdade, esta questão de "aprovação" é um comportamento condenado pelo jornalismo, embora aconteça com alguma frequência (e quando interessa politica, comercial ou ideologicamente).
A polícia mexicana quer saber porque Sean Penn não comunicou às autoridades que ficou em contato com El Chapo por vários meses. Deve ser piada ou o delegado que diz isso é um clone do Cantinflas ou do Chaves. Os primeiros contatos foram via internet: Penn enviou perguntas e recebeu respostas em vídeo. Mais tarde, aconteceram os encontros pessoais. O ator trabalhou na condição de jornalista, tem fontes protegidas, assim como Bob Woodward e Carl Bernstein, no Caso Watergate, se negaram a revelar o nome do informante Deep Throat e foram garantidos pela lei.
Na mídia americana, Sean Penn está sob ataque, assim com a Rolling Stone. O Boston Globe diz que um não passa de um Mr. Madonna e a outra é "fanzine' e não "magazine". O New York Post chama Penn de El Jerko (de "jerk", algo como "pobre rapaz", "tolo") e destaca que ele foi parceiro de um traficante em fuga.
Credite-se à reação da mídia americana um certo viés direitista: Sean Penn é considerado lá um esquerdista radical. Para entender a coreografia: hoje, o site da Veja repete tais refrões e diz que a entrevista prova que a esquerda está ligada ao crime em todo o mundo.
Resumindo: a Rolling Stone deu uma bola dentro. O resto é choro, vela e frustração de quem gostaria de ter publicado a entrevista ou de fazer, quem sabe, um selfie íntima ao lado do El Chapo, o criminoso mais procurado do mundo. Ainda: pelo menos três jornalistas, um deles o inglês Robert Fisk, entrevistaram Bin Laden em encontros "secretos". Fizeram boas matérias e não provocaram espasmos de falsa ética como no caso chefão mexicano.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Cony, marafonas, vaga na garagem e o Gênesis...

J. A. Barros, a lenda viva da diagramação na Manchete, Fatos&Fotos, Fatos e no O Cruzeiro, enviou ao blog uma reprodução da crônica de Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo. "Que beleza de crônica, no seu contexto e na sua ironia", sublinha Barros.

Memórias da redação: Mensalão de Mendigo

Jardim em frente ao prédio onde funcionou a Manchete era a "casa" do mendigo Pernambuco
por Jileno Dias (do livro Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou")
Vida de pedinte sempre foi difícil mesmo quando sobreviver nas ruas parecia menos complicado do que hoje. Um mendigo foi certamente grato à excentricidade de Adolpho Bloch. Pernambuco, como era conhecido, "morava" no jardim em frente ao prédio do Russell. Dormia em um velho colchão, encarava chuva, mas fome não passava. Por ordem de Adolpho, Pernambuco era "cliente" do almoço e do jantar da Bloch. Com acesso ao menu variado e de qualidade, o mendigo muitas vezes provava da mesma comida que fora servida a ministros e governadores em visita ao Russell. E a mordomia não ficava aí. Sempre que avistava Pernambuco, Adolpho perguntava: "Como está a vida". "Joinha", respondia Pernambuco, já com a mão estendida para angariar alguns trocados. Ao morrer, anos depois, o mendigo teve as despesas do enterro no cemitério São João Batista custeadas pela Bloch.

Taís Araújo e Lázaro Ramos na capa da Rolling Stone Brasil fotografados por Maurício Nahas


por Clara S. Britto 
Na Rolling Stone Brasil, edição deste mês, uma capa linda do casal Taís Araújo e Lázaro Ramos, fotografados por Maurício Nahas. Taís, que estreou em 1996, na novela Xica da Silva, da extinta Rede Manchete, comemora 20 anos de carreira. Ela e Lázaro, que emplacaram agora o sucesso da minissérie Mr. Brau, da Globo, são chamados pela revista de o "casal número um da TV".