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sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Fotomemória da redação: paparazzo de uma reunião de pauta...

Reunião de pauta na redação da Manchete. Foto; Acervo bqvMANCHETE
A redação da Manchete em 1972-73. Até 1980, só existia o prédio 804, da Rua do Russell. A sala que aparece ao fundo (ala leste) era do Adolpho; à direita, junto da janela, dá pra ver o Murilo Mello Filho, quase um reflexo, batucando o livro "Milagre Brasileiro"...  Acima da cabeça do contínuo Sammy Davis Junior, se não me engano, no canto direito da foto, ao fundo. Na ala oeste, que não aparece, ficava a sala do Arnaldo Niskier e do Jaquito.)
Pela ordem, a partir da esquerda, diante da mesa L: Alberto Carvalho, secretário de redação, o crítico de cinema Miguel Ângelo Alves (se não me engano); de pé, Maurício Gomes Leite (chefe de redação, seu apelido era Maurício Gomes Leiaute); Claus Meyer, Cícero Sandroni, Narceu de Almeida; junto ao telefone, Wilson Cunha. Dentro da mesa L: eu, Irineu Guimarães e Justino. Roberto Muggiati recorda outros fatos que orbitavam a famosa mesa "L" da Manchete.
"Em 1972 o Justino me guindou da redação do EleEla (onde eu era chefe de redação do Cony) para ser o "segundo" dele na Manchete. Quando Justino viajava em maio e se tornava o Cidadão Cannes eu editava a revista; assim foi em 1972, 1973, 1974 e 1975. Adolpho sentiu então que podia contar comigo na edição da Manchete e despachou o "Índio" com uma megafeijoada em 1975. O grande sonho dele sempre foi tirar o Justino da direção da "melhor da galáxia". Essa foto foi feita há 45 anos, que coisa! O mundo gira e a Lusitana roda!"

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A Santa Ceia, au grand complet, versão 77

 
Foto: Arquivo Pessoal RM

Por ROBERTO MUGGIATI

Esta foto posada da redação da Manchete, feita em 1977, reproduz, por uma feliz coincidência, o leiaute do afresco famoso de Da Vinci, com uma pequena variação: sentados, não, mas eretos, como cabia àquela brava equipe.

Vamos recordar, a partir da esquerda: o impagável secretário de redação, Alberto de Carvalho, alma secreta da revista; o redator Ivan Alves, o Pato Rouco, que nos anos de chumbo foi protegido na Sucursal de Paris; Wilson Cunha, chefe de redação e cinéfilo, que saiu depois para a Rede Manchete e as TV Globos da vida; o crítico de arte Flávio de Aquino; este que vos escreve, que carregava uma cruz por semana; Heloneida Studard, escritora e líder feminista; R. Magalhães Jr., redator e imortal, um baixinho duro de lidar; Wilson Passos, o grande chefe de paginação da Manchete, que desenhou a revista dos anos 50 até o final (com um período sabático durante a “ditadura italiana” de Vincenzo e Massimo, em meados dos anos 90); Argemiro Ferreira, redator e líder sindical; Pedro Guimarães, diagramador, o primeiro a nos deixar: partiu dias antes da edição de Carnaval de 1980; Ney Bianchi (de Almeida), que cobria Copas e Olimpíadas e depois encontrou o filão místico: desvendou os mistérios do Dr. Fritz e tornou-se interlocutor exclusivo de Dona Neila Alkmin; Carlos Heitor Cony, romancista, escritor escalado para as grandes coberturas de Manchete, como a visita do Papa (veio com o Sumo no mesmo avião), casamento da Princesa Diana e, last but not least, ghost writer do grande vidente Allan Richard Way – vidente que foi literalmente cegado por Cony; e o redator Irineu Guimarães, que foi seminarista em Marselha e trabalhou no prestigioso Le Monde.

Treze diante da mesa. Um reparo: entre meu ombro direito e a cabeça do Flávio de Aquino aparece o contínuo Sammy Davis Jr. Só numa empresa como a Bloch, o contínuo tinha acesso direto ao dono da empresa. Sammy falava sempre com o Adolpho que iria conseguir para ele a casa que ficava ao lado do 766 da Rua do Russell, (que já estava em construção e seria aberto em 1980). Esta foto foi feita ainda no primeiro prédio, o 804. E o contínuo de codinome Sammy conseguiu finalmente convencer a senhorinha a vender sua casa. Ali, em 1986, Adolpho construiu a terceira fatia da fachada do Niemeyer, para abrigar parte da Rede Manchete. Que fim levou o Sammy Davis eu não sei. Não sei sequer se recebeu alguma comissão por ter conseguido o terreno para o Adolpho. Aliás, estes apelidos eram da lavra do Alberto. Outro contínuo, de cabelão afro avantajado como o do Tim Maia, foi apelidado de Tim. Acabou se tornando o grande repórter Tim Lopes.

Desta Santa Ceia 77, somos quatro sobreviventes: Wilson Cunha, eu, Argemiro e Cony. Ainda bem que sobrou alguém para contar a história. . . 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

David Bowie, Justino Martins e o rock



David Bowie fotografado pelo seu amigo Jimmy King. Provavelmente a última imagem do "Camaleão", durante o lançamento do seu 28° álbum. (Reprodução do site oficial de DB. 
Por ROBERTO MUGGIATI
David Bowie me fez lembrar duas ocasiões profissionais importantes na Manchete. Justino Martins tinha voltado a dirigir a revista, depois de mais de cinco anos de desterro – de 1975 a 1980 – quando ocupei o seu cargo. Em 1980, aliás,  codirigimos a Manchete, uma coisa maluca que só podia acontecer mesmo na Bloch. Foi um ano de bonança, graças à visita do Papa João Paulo II: não só esgotamos edições com centenas de milhares de exemplares, como vendemos às pencas uma medalhinha milagrosa supostamente abençoada pelo Sumo, que nem deve ter chegado a saber da tramoia. Frank Sinatra também veio ao Brasil e ajudou a esgotar edições. Em 1981, propus ao Justino que assumisse sozinho a edição – afinal, eu compartilhava a tese dele de que dirigir uma revista é como dirigir um filme: estava criado o “jornalismo de autor”. Continuei na redação como “segundo” do diretor numa boa.
Lairton Cabral, Antonio Rudge, eu, Justino Martins e Wilson Cunha
 (ao fundo, Murilinho e uma das suas gravatas):
tempos de champanhe e flütes de cristal na comemoração do
meu aniversário em 1978. Foto: Acervo RM
Adolpho nunca engoliu o Justino, que chamava de “Índio”, talvez porque fosse o único jornalista da Bloch a encará-lo com altivez. Quando sentiu que eu podia substitui-lo, botou Justino “na geladeira”, Ou melhor, no maior calor, numa redação pequena e entulhada, com o ar condicionado desligado, a de Fatos& Fotos, um andar abaixo da redação de Manchete, no glorioso oitavo. Adolpho criou um ritual de comemorar nossos aniversários com champanhe: os de Justino, com espumante gaúcho barato e morno; os meus, com Moët Chandon francês, resfriado em baldes de prata e servidos em flûtes de cristal maciço, como podem reparar na foto. Apesar da rivalidade estimulada pelo capo da Bloch para aumentar a produtividade (uma tese discutível), em nossos 18 anos de convivência eu e o Justino sempre nos demos bem.
Naqueles tempos de censura eu, que estreara a carreira paralela de escritor com um incendiário Mao e a China – publicado uma semana antes do AI5 – me dei conta de que, como não se podia mais falar abertamente de política, a nova forma de fazer política era através da cultura; mais precisamente, da chamada contracultura. Passei a escrever então sobre rock. Em 1973, publiquei Rock/O grito e o mito, que fez a cabeça de muito jovem e foi adotado em várias faculdades de comunicação do país. Sugeri, ou foi o próprio Justino quem sugeriu, uma série na Manchete intitulada “Os Jovens Que Balançaram o Coreto”. A série começou com Bob Dylan e incluiu uma dezena de perfis, entre os quais o de David Bowie, com o título “Um extraterreno no planeta pop”. Eram perfis dinâmicos e começavam com o “olho” da abertura em página dupla da Manchete:
“Rei do glitter – o rock de plumas e paetês que estourou no início dos anos 70 – David Bowie, mais do que um superstar, é um sobrevivente. Ele nasceu no pós-guerra num bairro pobre de Londres, quase ficou cego, quase foi emasculado, quebrou pernas, mãos e dedos, internou o irmão num asilo de loucos, mas partiu para a luta, com voz, corpo e garra, conquistando o poder e a glória e um lugar privilegiado no Olimpo do rock.”
Depois, transformei aqueles perfis num livro, Rock: do Sonho ao Pesadelo, publicado em 1984 pela L&PM. Fiz até a capa, em parceria com minha mulher Lena, fotógrafa de Manchete. Naquela época sem recursos de computador, foi um trabalho braçal mesmo. Lena fez a foto em cor de uma guitarra e depois a ampliou em papel. Peguei doze retratos de roqueiros em P&B, também em papel, que recortei à mão para dar um efeito rasgado. Espalhei os retratos sobre a foto de fundo da guitarra. Depois cobri tudo por uma placa de vidro e, com um martelo, estilhacei o vidro todo. O Ivan Pinheiro Machado, da L&PM – ele mesmo artista gráfico e capista da maioria dos seus livros – adorou.
Àquela altura, o Justino já tinha partido, em agosto de 1983, consumido por um câncer fulminante em menos de um mês. Foi uma morte simbólica, ocorrida dois meses depois da entrada no ar da Rede Manchete de Televisão. Com a TV, as revistas foram abandonadas e entraram em lenta agonia até a falência de agosto de 2000. (Ironicamente, foi o aval da editora a um empréstimo para a TV que acabou levando à concordata e à falência...)
Mas quero lembrar um estranho momento de rock com o Justino, ainda em 1983. O heavy metal surgira com força total para detonar o rock-de-elevador da New Wave consumido pelos yuppies.
O Kiss na Manchete: uma das últimas edições
paginadas por Justino Martins.
E uma das bandas mais carismáticas do hard rock veio tocar no Brasil, o Kiss. Fui cobrir o show de sábado à noite no Maracanã com minha mulher, Lena, que fotografaria o evento. O carro da Manchete nos pegou em Botafogo e foi depois apanhar o Justino e sua filha adolescente (Maria) Valéria na Joatinga. Era a única filha do Justino, que perdera o Carlito num trágico acidente de carro num Carnaval do início dos 1970. Valéria, com seus 17 ou 18 anos, era a razão de todo esse rock na vida do Justino. Quando o pegamos em sua bela casa na Joatinga, projeto de Zanine, ele estava terrivelmente chocado. Um grave acidente ocorrera naquela manhã: dois pintores que iam trabalhar na casa do Justino foram brutalmente atacados pelos cães da casa, uns rotweillers, se não me engano. O estrago foi grande e os homens tiveram de ser hospitalizados. Justino se sentia, de certa forma, culpado pelo episódio. O motorista, para chegar mais rápido ao Maracanã, fez um percurso insólito: pegou o Túnel Santa Teresa-Rio Comprido. (Fui checar agora no Google: é o primeiro túnel viário construído no Rio de Janeiro, e o único da época imperial, 1887. De soslaio, vi que ali por perto existe uma Rua Marcel Proust – vocês sabiam dessa?) A manobra deu certo e chegamos rapidamente ao Maracanã.
Instalados no curral VIP no gramado do então “maior do mundo”, corri à fila do gargarejo para fazer companhia a Lena, que fotografava diante do palco. Gargarejo é pouco. O líder da banda, Gene Simmons (O Demônio), com sua maquiagem grotesca, vomitava golfadas de uma geleca verde sobre a plateia e... sobrou para mim também. Mais um parêntese – desculpem o cacoete – mas é tanta coisa interessante. Esse Demônio do Kiss era apenas a persona cênica de um pacato cidadão. Cito das folhas roqueiras; “Gene Simmons, nome artístico de Chaim Weitz, nascido num kibutz de Israel, naturalizado norte-americano, ex-professor primário, contrariamente a muitas personalidades do rock afirma ‘nunca ter consumido drogas, nunca ter fumado nem nunca ter bebido álcool demais em toda a vida’.” No mundo louco do rock, tudo é possível. . .
David Bowie, no Metropolitan, em 1997.  Foto: Arquivo Pessoal
A certa altura do show, cansado de toda aquela chuva de gosma verde e do som pauleira, afastei-me do palco e saí à procura do Justino. Fui encontra-lo cochilando de pé, encostado à grade nos fundos do cercado que separava os VIPs da plebe rude. Atribui seu cansaço ao trauma da agressão dos cães, mas depois eu saberia que já era o prenúncio da doença, o câncer minando aquela fabulosa figura humana. Fiquei pensando: o Justino, leitor de André Gide e André Malraux, o Cidadão Cannes – apelido que ganhou por suas visitas anuais ao famoso festival – apreciador da nouvelle vague e do Cinema Novo, logo ele encarando aquele circo de horrores da cultura de massa...
* * * *
Um flash-forward: estamos agora em 1996 e agravou-se aquele eterno conflito em torno da direção da Manchete e das vendas da revista (Alberto me apelidou de Muggi das Crises). Hélio Carneiro ocupou a direção por seis meses, entre fins de 83 e começo de 84. Voltei à berlinda, ou pau-de-sebo. Adolpho morreu em novembro de 1995. Jaquito me chamava às vezes e dizia: “Muggiati, precisamos fazer alguma coisa, pense no futuro dos nossos filhos...” Osias chegava de sorrelfa e sussurrava: “Muggiati, dá um jeito na coisa, senão um belo dia vem aí um executivo paulista de pastinha na mão e assume o teu lugar...” Mas “a coisa” não era nada fácil. Dirigir Manchete era como dirigir a seleção brasileira. Todo mundo – do contínuo ao patrão – se achava capaz de resolver a parada; o técnico é burro, troca o técnico. Enfim, me trocaram em 1996 e, pela primeira vez em trinta anos de Bloch, me vi literalmente alçado ao nirvana. Explico melhor: o prédio original da Manchete, no terreno escavado da rocha a dinamite, na Rua do Russell, 804, foi inaugurado no final de 1968. O segundo prédio, maior em extensão, foi construído no terreno contíguo, onde havia o castelo do advogado José Soares Maciel Filho, o redator da carta-testamento de Getúlio Vargas. As instalações principais da editora mudaram-se para o novo endereço, Rua do Russell, 766, a partir de 1980 – inclusive, e principalmente, a redação da Manchete e o restaurante que, do terceiro andar aberto à beira da piscina, se tornou um  espaço mais seletivo, para editores e executivos, no 12º andar, com ar refrigerado. Ao lado, em direção do Hotel Glória, havia ainda uma casa disponível. Um contínuo apelidado Sammy Davis Jr prometeu ao “Seu” Adolpho que convenceria a proprietária, uma idosa que vivia sozinha, a vender o terreno. Dito e feito. Cinco anos depois, os assédios diários do Sammy Davis vingaram e Adolpho comprou a casa. Ali passou a funcionar em 1986 a terceira extensão da fachada de Niemeyer – bem menor que as outras duas, mas um espaço privilegiado de qualquer forma.
Na "Santa Genovena", uma espécie de 'sala do exílio', na Bloch, vivi uma
 temporada profícua.  Foto: Acervo RM
Quando um editor importado da Pauliceia – como anunciara o Osias – veio finalmente ocupar o meu lugar, eu ganhei um novo cargo, uma espécie de promoção, como Editor de Projetos Especiais, e fui ocupar a cobertura do terceiro prédio, um salão imenso com piso de tábua corrida, unidade autônoma de ar condicionado, com uma escultura do Krajcberg atrás da minha mesa e uma varanda que dava para o cartão postal do Aterro, da entrada da baía e do Pão de Açúcar. Era um local meio destacado do resto da Bloch, acessado por uma escada em forma de caracol, que a velha guarda de bengalas ou com problemas de menisco não se atrevia a escalar; e muita gente nunca achava tempo para ir até lá, de modo que fui poupado de um batalhão de chatos. . . O Alberto, com sua verve infalível, apelidou o lugar de “Santa Genoveva” (aludindo a uma clínica de repouso carioca em que se descobriram casos de maus tratos aos velhinhos.) Para quem fazia uma Manchete por semana, a temporada na “Santa Genoveva” foi profícua. Reeditei uma série de fascículos lançada em 1972, História do Brasil, atualizando-a até o Governo FHC e o Plano Real. Foram 52 fascículos encartados semanalmente na própria Manchete com a intenção de – como diziam os marqueteiros – “alavancar” as vendas. Editei o número especial de 45 anos da revista Manchete, um sucesso editorial, de vendas e publicitário, com 350 páginas. Na área pessoal, lancei pela Ediouro A revolução dos Beatles, que tinha a ver com a data-fetiche de 11 de setembro de 1962 – quando os rapazes de Liverpool gravaram seu primeiro disco em Abbey Road (Love me Do/PS I Love You) e eu iniciava minha temporada de três anos em Londres trabalhando na BBC. O livro foi lançado em 1997, comemorando os 35 anos da data, mas, antes disso eu já havia publicado várias matérias na Manchete comemorando aniversários anteriores.
Pena que a doce vida na “Santa Genoveva” não durou muito. Poucos meses depois da minha ascensão, Jaquito já me fazia voltar ao inferno da redação para editar o número de Carnaval da Manchete: “Estes paulistas não entendem nada de Carnaval...” Não era um bom sinal. Em 31 de agosto de 1997, desci de Itaipava para fechar em poucas horas a edição extra de Fatos&Fotos sobre a morte da Princesa Diana.
Duas coisas boas sobre a mudança: a reforma gráfica do designer milanês Carlo Rizzi, primorosa, que deu uma cara nova à Manchete. E outra, que explica por que qualquer pessoa de fora nunca daria certo na Manchete: o estilo de gestão de Adolpho Bloch, que fugia à padronização dos “quadros”, um estilo posso chamar até de humanista. Cada funcionário era um indivíduo único, com suas virtudes e seus defeitos, do qual Adolpho tentava extrair o melhor que pudesse oferecer para o trabalho comum.
Em 31 de outubro, Dia das Bruxas, uma sexta-feira, o editor paulista pediu as contas e se mandou. Jaquito me ligou comunicando que eu estava de volta à direção da Manchete e que o fechamento da revista na segunda-feira seria por minha conta. É aí que entra David Bowie pela segunda vez nessa história. Eu tinha um camarote no Metropolitan para assistir ao seu show da turnê do álbum Earthling no domingo, 2 de novembro, Dia de Finados. Anteriormente, véspera de fechamento para mim era sagrada e a noite de domingo era de abstinência total. Tinha de estar cem por cento em forma para encarar o desafio da segunda-feira, que se estendia às vezes até a noite de terça. Desta vez, no entanto, eu repensei tudo aquilo e, “existencialista, com toda razão” mandei tudo praquele lugar. Fui ao Metropolitan com meu filho, Roberto, e meu sobrinho, Fernandinho. Tomei todas e curti adoidado o rock do Camaleão Bowie, aquele que catorze anos antes, nas páginas da Manchete, eu batizara de “um extraterreno no planeta pop.”

terça-feira, 21 de junho de 2011

Memória da redação: Aconteceu na...

Parada de Lucas
A foto é do começo dos anos 80. Era comum. naquela época, uma espécie de visita guiada dos jornalistas das redações da Rua do Russell a Parada de Lucas, subúrbio onde ficava o Parque Gráfico da Bloch. Geralmente, o próprio Adolpho Bloch era o guia. O pretexto, quase sempre, era a chegada de uma máquina nova ou, simplesmnete, ver a Cerutti, então o que havia de mais moderno, rodar milhares de páginas. Naquele dia, um dia qualquer da "década perdida", os tais anos 80, editores de várias revistas, diretores e redatores da Manchete participaram do tour a Lucas. A foto é do baú do Lincoln Martins que, no último fim de semana, encontrou a raridade e quis compartilhá-la com este blog.


Primeira fila, no alto, da esq. para a dir.: Jiri Biller, da Gráfica, Lincoln Martins, diretor da EleEla e Geográfica, Tereza Jorge, da Pais & Filhos, Alda, da Circulação, e Wilson Cunha, da Manchete. Segunda fila; Justino Martins, diretor da Manchete, Maríla Campos, da Carinho, e Roberto Muggiati, da Manchete. Terceira fila; Adolpho Bloch, Edson Pinto, diretor da Amiga, José Guilherme, redator da Manchete, Carlos Heitor Cony e Murilo Melo Filho; Sentados, à frente, Flávio de Aquino, redator e crítico de Arte da Manchete, e Oscar Bloch.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Do baú do paniscumovum: a edição de Manchete que virou livro

A edição da MANCHET, de 29 de dezembro de 1979, há 30 anos...
... se transformou em um livro "fora do comércio", de tiragem restrita e hoje exemplar raro.

Logo mais, às 15h, no Fórum, centro do Rio, acontecerá o leilão do Arquivo Fotográfico da Manchete. A expectativa, como este paniscumovum já adiantou, é que apareçam interessados já nessa primeira chamada, que uma eventual disputa eleve o valor inicial do acervo e que os recursos arrecadados acelerem o pagamento das indenizações a cerca de 3 mil trabalhadores da extinta editora. Já falamos aqui da importância histórica e cultural deste arquivo, especialmente para o Rio de Janeiro. A torcida geral é para que ele não saia do Rio. Mas o propósito deste post é falar dos Anos 70. Há quase 30 anos, mais precisamente no dia 29 de dezembro de 1979, chegava às bancas a revista Manchete, o número da primeira semana dos Anos 80. Anunciava o lançamento de uma série especial: Para Entender os Anos 70. O curioso - e não sei se isso já aconteceu com outra revista - é que o série fez tanto sucesso que a Bloch resolveu transformá-la em um livro. Foi uma edição especial, fora do comércio, para anunciantes e agências de publicidade. Estão aí reproduzidas as capas da revista e do livro. No prefácio, Zevi Ghivelder, então diretor-executivo da Manchete, ao lado de Roberto Muggiati (Justino Martins era o diretor-editor), escreveu um texto preciso sobre a revista ilustrada, este segmento especial de jornalismo que produziu o fabuloso arquivo fotográfico que a Manchete e as demais publicações da Bloch legaram à memória e à cultura nacionais. Vale a transcrição: "Anos atrás a revista Time publicou a correspondência de um leitor que reclamava a propósito da publicação de uma reportagem de um professor universitório. Dizia mais ou menos o seguinte: 'vocês não deviam dedicar-lhe atenção. Fui seu aluno e ele sempre repetia em aula que nos Estados Unidos só há duas revistas. Uma para as pessoas que não sabem pensar, outra para quem não sabe ler'. O dito mestre naturalmente se referia a Time e Life. Este é apenas um pequeno exemplo da mística que envolve as revistas ilustradas no mundo inteiro. Alguém inventou aquele bela frase segundo a qual 'mais vale uma foto do que mil palavras' - e muita gente boa tomou isso ao pé da letra. Na verdade, não há regra fixa no que toca à forma de edição das revistas ilustradas, mas uma relação de interdependência entre o texto e a foto, ou mesmo a prevalência de um sobre o outro, conforme a oportunidade. Nos áureos tempos de Paris Match, um de seus maiores atrativos eram os artigos de Raymond Cartier que prescindiam de ilustrações. Eles se somavam à embalagem total da publicação, profusa em fotografias, como uma parte que lhe era integrante e inalienável. Assim como na França, em muitos países as revistas ilustradas também se impuseram junto ao público pela qualidade de seus textos. Creio que nós, na Manchete, seguimos igual curso em vinte e oito anos de trabalho. Ao lado de algumas das mais expressivas fotografias da imprensa brasileira, também publicamos alguns dos melhores e mais imporantes textos, entre os quais se insere a nossa análise da década de 70. Decidimos reproduzi-la neste livro rigorosamente fora do comércio, destinado a agências de publicidade de todo o país e aos anunciantes de Bloch Editores. Conservamos a sequência com que foram publicadas as respectivas matérias em quatro edições sucessivas da revista, no final de 1979, tarefa realizada por Roberto Muggiati (concepção visual) e Wilson Cunha (edição de texto). Essa coletânea em livro assim se torna um valioso documento e testemunha dos dias que vivemos."
Paniscumovum promete reproduzir parte dessa edição de Manchete na primeira semana de 2010, na marca dos 30 anos exatos. É um legítimo retrato do que o Brasil e o mundo pensavam, consumiam, liam e viam naqueles dias. A propósito, entre os autores da coletânea e da série, estão Carlos Heitor Cony, Fritz Utzeri, Arthur C. Clarke, Lincoln Martins, Flávio de Aquino, Artur da Távola, Roberto Muggiati, Zevi Ghivelder, Wilson Cunha, Irineu Guimaráes, Ney Bianchi, Roberto Barreira, Josué Montello, Murilo Mello Filho, Edmar Pereira, Ethevaldo Siqueira, Roberto Campos e Eduardo Celestino Rodrigues, cada um jogando no seu campo e falando de política, gente, medicina, ecologia, artes plásticas, cinema, literatura, música, televisão, esporte, religião etc. Um documento especialíssimo.