Jornalismo, mídia social, TV, streaming, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVI. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
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domingo, 31 de julho de 2016
Ipanema: a "ONU" da areia
No marketing informal da Praia de Ipanema, ao lado das tradicionais bandeiras de clubes, a ordem é embandeirar as barracas com as cores das diversas nacionalidades olímpicas. Ontem, no calçadão, ambulantes e turistas se entendiam em dezenas de idiomas. Uma "ONU" carioca onde todos acabavam se comunicando. Com a palavra "caipirinha" nos trend topics da areia. Foto: BQVManchete
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
Istambul: turistas no alvo do terrorismo religioso
Mesquita Azul, uma das atrações de Istambul mais visitada pelos turistas na região onde ocorreu o atentado.. |
Obelisco Egípcio no Hipódromo Bizantino próximo à Mesquita Azul |
Turistas no Topkapi, no Serralho. |
VLT na rua Yerebatan, região de Sultanahmet. |
Grande Bazar, no Beyazit. Fotos de J.E.Gonçalves |
por José Esmeraldo Gonçalves
O bairro de Sultanahmet reúne algumas das mais visitadas atrações
turísticas de Istambul. A Mesquita Azul, o Hipódromo de Bizâncio, a Santa Sofia,
além de centros de artesanato, dos museus de Tapetes Vakiflar, de Mosaicos, de
Artes Turcas e Islâmicas, os Banhos de Roxana, entre outros monumentos e instalações, se espalham no
lado oriental da antiga capital dos impérios Romano, Bizantino e Otomano . Os
turistas - cerca de dez mil, por dia - costumam percorrer a pé esse extraordinário circuito. Foi essa a região escolhida pelo terrorista para acionar sua bomba.
Nos últimos anos, Istambul entrou de vez no roteiro dos
brasileiros e era comum ouvir ecoar o português nas vielas de casas otomanas. A
Turquia não demonstrava grandes tensões e isso ficava claro nas ruas, onde as pessoas
eram em geral receptivas e prestativas. O país aproximava-se do ocidente e
vivia a expectativa de entrar para a União Europeia.
Mas algumas nuvens
políticas começavam a escurecer o horizonte.
Quando lançou as bases da
república turca, no começo da década de 1920, o líder Mustafá Kemal, que passou
a ser conhecido como Atatürk, o pai dos turcos, incluiu entre os fundamentos do
novo Estado o laicismo. Apesar de o islamismo ser a religião dominante para
cerca de 90% da população, Ataürk anteviu que um Estado secular seria o pilar
que neutralizaria o autoritarismo religioso. Em quase um século, a Turquia
sofreu intervenções militares (principalmente após se tornar membro da Otan, em
1952, e virar peça importante da Guerra Fria) e atravessou períodos de grave instabilidade
econômica. Envolveu-se em conflitos com os curdos, foi à guerra em Chipre, mas preservou
os princípios republicanos.
Em 2002, a população insatisfeita com a situação econômica
e uma inflação de 100% deu ao Partido Justiça e Desenvolvimento, de orientação
religiosa, uma maioria de dois terços no Parlamento. O então primeiro-ministro Recep
Erdogan promoveu uma série de reformas e em dois anos levou a inflação para um
dígito. Fortalecido politicamente desde então, Erdogan, que hoje é presidente,
foi, gradualmente, aumentando a influência islâmica no Estado. Surgiram leis
restritivas de inspiração religiosa, censura à imprensa e oposicionistas
passaram a sofrer perseguição. Os recentes atentados em Ancara, a capital do país e, agora, em Istambul,
são o retrato desse novo tempo. O processo de islamização do Estado – em curso,
apesar de grande reação interna – não vai facilitar um futuro com protagonistas como o Estado islâmico, o agravamento das relações com os curdos, a crise dos imigrantes e os reflexos das disputas entre sunitas e xiitas.
Provavelmente, o
turismo será a vítima mais imediata desses imbróglios cumulativos. O que será uma pena. São poucas as cidades
que oferecem ao visitante tantas e tão preciosas atrações. Istambul,
principalmente, uma metrópole onde o novo e o antigo convivem em cada esquina, transforma
a visita em prazer, com direito a memoráveis aulas de história. Resta torcer
para que a agitação mundana do Beyoglu, no setor europeu da cidade, onde ficam
a praça Taksin e a cosmopolita rua Istiklal, não se torne vítima do sequestro
da convivência democrática pelo fanatismo religioso. E que mezes e raki da rua Nevizade, um
point boêmio de Istambul, tenham vida longa.
Os turistas vítimas do atentado em Sultanahmet estavam desfrutando desses momentos que, de
resto, fazem parte de uma sensação que os terroristas pretendem explodir: o
prazer de viver.
Por isso, Paris foi alvo. Por isso, os turistas de Istambul
entraram na mira do terrorismo religioso.
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