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segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Franceses protestam contra o bárbaro assassinato do professor Samuel Paty. Liberdade de expressão acima de tudo...

Manifestação na Place de la République., Paris Foto: Reprodução TV France 2

Os franceses foram às ruas homenagear Samuel Paty. O professor foi degolado por um fanático religioso. O motivo do ato bárbaro: durante uma aula em que falava sobre liberdade de expressão, ele exibiu caricaturas de Maomé. Era uma referência ao mesmo motivo pelos quais terroristas islâmicos, incentivados por líderes religiosos radicais, assassinaram dezenas de pessoas na redação do jornal Charlie Hebdo e em atentados em vários locais de Paris. 

O Brasil parece distante dessa problemática. Mas nem tanto, guardada, por enquanto, as proporções, o alvo, a liberdade de expressão, é o mesmo. Por motivos religiosos, terroristas atacaram a bomba a sede da produtora Porta dos Fundos. Por fanatismo, evangélicos intolerantes ameaçam e depredam com frequência terreiros de candomblé e umbanda. Por não tolerar a liberdade de expressão, uma associação católica processa o mesmo grupo de humoristas e pede uma grana preta na Justiça, alegando que ironizaram a bíblia. E pastores da igreja Universal deflagram centenas de processos contra o escritor J.P. Cuenca. 

O professor francês foi assassinado por levar aos seus alunos um pilar constitucional da França: a liberdade de expressão, o mesmo direito que está gravado na Constituição brasileira. Direito que ora juízes, ora radicais e ora terroristas assumidos tentam torpedear na frágil democracia brasileira. Aqui, a maré da intolerância sobe sem obstáculos. Na França, o povo protesta contra o assassinato de Paty e o governo anuncia providências: a expulsão do país de religiosos radicais que incitam seguidores a usarem o livro "sagrado", sem dispensar facas, fuzis e bombas. O presidente Emmanuel Macron, que pretende expandir uma frente de combate ao terrorismo, recebeu a família do professor e lideranças islâmicas que se opõem aos radicais. 

Parodiando a frase do poeta inglês John Donne imortalizada por Ernest Hemingway no livro "Por quem os sinos dobram": não pergunte por quem os franceses protestam. Eles protestam por ti.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

O martelo da intolerância: Evangélica bota pra quebrar e arrebenta imagem de Nossa Senhora Aparecida


Deu na Fórum: "Uma mulher apontada como pastora evangélica aparece em um vídeo destruindo uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. O caso aconteceu em Botucatu (SP) e gerou indignação ao ser postado na internet na terça-feira (10). Posteriormente, a gravação feita por membros da igreja foi retirada do ar, mas acabou salva e compartilhada por meio do aplicativo WhatsApp e das redes sociais. “Oh, senhor, meu Deus pai. Quebra toda a obra contrária. Oh, glória. Seu nome seja glorificado, senhor. Essa obra que foi feita pelas mãos do inimigo agora está sendo quebrada em nome de Jesus”, diz um dos obreiros enquanto a mulher destrói a santa católica com um martelo e o grupo entoa várias orações".

LEIA A MATÉRIA COMPLETA E VEJA O VÍDEO NA FÓRUM, CLIQUE AQUI

terça-feira, 3 de maio de 2016

A intolerância religiosa fica a um passo do terrorismo religioso. Às vezes, nem isso... Família do pequeno fã de Messi foge do Afeganistão para não morrer


O Mashable publica hoje uma matéria sobre o drama do pequeno Murtaza Ahmadi, o garoto, 5 anos, que foi fotografado usando uma "camisa" de plástico que imitava a já lendária número 10, de Messi, do Barcelona.

A foto correu o mundo e Murtaza recebeu do craque uma camisa autêntica autografada.

O irmão mais velho de Murtaza fez a foto acima
que foi postada no Facebook e viralizou na web.
A Federação de Futebol do Afeganistão e a UNICEF, da qual Messi é Embaixador, pretendiam promover um encontro entre o menino e seu ídolo.

O encontro ainda pode acontecer, mas não poderá ser mais no Afeganistão.

Ameaçado de sequestro e até de morte por fundamentalistas que condenam reverência a "ídolos", o que contrariaria o Alcorão. Murtaza foi obrigado a deixar o país. Com a família, ele fugiu para o Paquistão. Segundo o pai do garoto, Mohammad Arif Ahmadi, desde que a foto da tosca "camisa" de plástico viralizou na rede, a vida da família foi afetada. Quando Murtaza recebeu a camisa de Messi, as ameaças tornaram-se mais sérias, ainda mais porque a família Ahmadi pertence à minoria xiita em um país que sofre o terror dos talibãs, que são sunitas.

Ahmadi contou que vendeu tudo o que possuía e deixou o país para salvar as vidas do garoto e da família.

Segundo ele, Murtaza ainda sonha em conhecer Messi.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Istambul: turistas no alvo do terrorismo religioso

Mesquita Azul, uma das atrações de Istambul mais visitada pelos turistas na região onde ocorreu o atentado.. 

Obelisco Egípcio no Hipódromo Bizantino próximo à Mesquita Azul

Turistas no Topkapi, no Serralho.

VLT na rua Yerebatan, região de Sultanahmet. 

Grande Bazar, no Beyazit. Fotos de J.E.Gonçalves
por José Esmeraldo Gonçalves
O bairro de Sultanahmet reúne algumas das mais visitadas atrações turísticas de Istambul. A Mesquita Azul, o Hipódromo de Bizâncio, a Santa Sofia, além de centros de artesanato, dos museus de Tapetes Vakiflar, de Mosaicos, de Artes Turcas e Islâmicas, os Banhos de Roxana, entre outros monumentos e instalações, se espalham no lado oriental da antiga capital dos impérios Romano, Bizantino e Otomano . Os turistas - cerca de dez mil, por dia -  costumam percorrer a pé esse extraordinário circuito. Foi essa a região escolhida pelo terrorista para acionar sua bomba.
Nos últimos anos, Istambul entrou de vez no roteiro dos brasileiros e era comum ouvir ecoar o português nas vielas de casas otomanas. A Turquia não demonstrava grandes tensões e isso ficava claro nas ruas, onde as pessoas eram em geral receptivas e prestativas. O país aproximava-se do ocidente e vivia a expectativa de entrar para a União Europeia. 
Mas algumas nuvens políticas começavam a escurecer o horizonte. 
Quando lançou as bases da república turca, no começo da década de 1920, o líder Mustafá Kemal, que passou a ser conhecido como Atatürk, o pai dos turcos, incluiu entre os fundamentos do novo Estado o laicismo. Apesar de o islamismo ser a religião dominante para cerca de 90% da população, Ataürk anteviu que um Estado secular seria o pilar que neutralizaria o autoritarismo religioso. Em quase um século, a Turquia sofreu intervenções militares (principalmente após se tornar membro da Otan, em 1952, e virar peça importante da Guerra Fria) e atravessou períodos de grave instabilidade econômica. Envolveu-se em conflitos com os curdos, foi à guerra em Chipre, mas preservou os princípios republicanos. 
Em 2002, a população insatisfeita com a situação econômica e uma inflação de 100% deu ao Partido Justiça e Desenvolvimento, de orientação religiosa, uma maioria de dois terços no Parlamento. O então primeiro-ministro Recep Erdogan promoveu uma série de reformas e em dois anos levou a inflação para um dígito. Fortalecido politicamente desde então, Erdogan, que hoje é presidente, foi, gradualmente, aumentando a influência islâmica no Estado. Surgiram leis restritivas de inspiração religiosa, censura à imprensa e oposicionistas passaram a sofrer perseguição. Os recentes atentados em Ancara, a capital do país e, agora, em Istambul, são o retrato desse novo tempo. O processo de islamização do Estado – em curso, apesar de grande reação interna – não vai facilitar um futuro com protagonistas como o Estado islâmico, o agravamento das relações com os curdos, a crise dos imigrantes e os reflexos das disputas entre sunitas e xiitas. 
Provavelmente, o turismo será a vítima mais imediata desses imbróglios cumulativos. O que será uma pena. São poucas as cidades que oferecem ao visitante tantas e tão preciosas atrações. Istambul, principalmente, uma metrópole onde o novo e o antigo convivem em cada esquina, transforma a visita em prazer, com direito a memoráveis aulas de história. Resta torcer para que a agitação mundana do Beyoglu, no setor europeu da cidade, onde ficam a praça Taksin e a cosmopolita rua Istiklal, não se torne vítima do sequestro da convivência democrática pelo fanatismo religioso. E que mezes e raki da rua Nevizade, um point boêmio de Istambul, tenham vida longa.  
Os turistas vítimas do atentado em Sultanahmet  estavam desfrutando desses momentos que, de resto, fazem parte de uma sensação que os terroristas pretendem explodir: o prazer de viver.
Por isso, Paris foi alvo. Por isso, os turistas de Istambul entraram na mira do terrorismo religioso.