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sábado, 16 de julho de 2016

Nice e Istambul: terror e crise em nome do fundamentalismo religioso

Promenade des Anglais: de símbolo da arte de viver a palco de tragédia. Foto Nice Tourisme

Cidade cosmopolita, Istambul recebe turistas do mundo inteiro. O fundamentalismo religioso pode poluir o cartão-postal. Foto: Arquivo Panis

por Jean-Paul Lagarride 
Religiões proselitistas quando se impõem a um país e corrompem suas leis são fatores de desagregação. Minam relações pessoais, subjugam comunidades e dinamitam democracias.
O fanatismo e o fundamentalismo, nem se fala.
Essa semana dois trágicos exemplos fizeram jorrar sangue como consequência. O ato terrorista em Nice, França, e os conflitos na Turquia. O primeiro visa destruir um estilo de vida, uma cultura; o segundo é um embate entre a secularização e a islamização da Turquia.
Ambos fazem de vítima a liberdade.
Nice é um porto de lazer e prazer desde o século 18. Atraiu aristocratas, escritores e artistas e hoje é destino para milhões de turistas.
A cosmopolita Istambul, plantada em dois continentes, tinha, já na segunda metade do século 19, trens diários que a ligavam às principais capitais da Europa, e não apenas o luxuoso e lendário Expresso do Oriente que levava ricaços de Paris.
Nos últimos anos, Istambul tornou-se um dos principais destinos turísticos do mundo. A maioria da população é muçulmana. Há estudos que apontam em 66% o índice de praticantes, aqueles que vão às mesquitas pelo menos às sexta-feiras e rezam todos os dias. E há igrejas cristãs e sinagogas no país, que não tem religião oficial inscrita na Constituição. Desde a proclamação da República, em 1923, com o fim do sultanato, a Turquia é um Estado laico. E assim se manteve até o começo dos anos 2000, quando começou a ascensão de um partido islâmico, o AKP. A partir de então, antes como primeiro-ministro e agora como presidente, Recep Tayyip Erdoğan introduziu leis que começam a comprometer o Estado laico. Em pouco mais de 15 anos, as forças fundamentalistas conseguiram dividir a Turquia. O atual conflito armado, com a tentativa de uma parcela do exército para derrubar Erdogan, é parte de jogo.
Aparentemente, a investida do pequeno grupo de militares foi violentamente contida, mas as divergências estarão apenas reprimidas ou recolhidas. Há censura no país, perseguição a jornalistas, presos políticos, além de fortes denúncias de corrupção. Para cada civil que foi ontem às ruas impedir a quartelada, havia milhares em casa que, se não apoiaram a tentativa de golpe, veem com  preocupação a democracia se esfacelar a partir do autoritarismo do atual presidente e temem a implantação de leis religiosas. O Exército já foi tido como uma espécie de guardião dos princípios laicos da República. aparentemente, não o é mais. Ao mesmo tempo, o AKP cresce eleitoralmente. As águas não estão calmas no Bósforo e não há previsão de tempo bom na Turquia. O país participa de organizações ocidentais, como a Otan. Tinha pretensões de entrar para a União Europeia. A configuração política e as perspectivas internas tornam esse objetivo mais distante.


terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Istambul: turistas no alvo do terrorismo religioso

Mesquita Azul, uma das atrações de Istambul mais visitada pelos turistas na região onde ocorreu o atentado.. 

Obelisco Egípcio no Hipódromo Bizantino próximo à Mesquita Azul

Turistas no Topkapi, no Serralho.

VLT na rua Yerebatan, região de Sultanahmet. 

Grande Bazar, no Beyazit. Fotos de J.E.Gonçalves
por José Esmeraldo Gonçalves
O bairro de Sultanahmet reúne algumas das mais visitadas atrações turísticas de Istambul. A Mesquita Azul, o Hipódromo de Bizâncio, a Santa Sofia, além de centros de artesanato, dos museus de Tapetes Vakiflar, de Mosaicos, de Artes Turcas e Islâmicas, os Banhos de Roxana, entre outros monumentos e instalações, se espalham no lado oriental da antiga capital dos impérios Romano, Bizantino e Otomano . Os turistas - cerca de dez mil, por dia -  costumam percorrer a pé esse extraordinário circuito. Foi essa a região escolhida pelo terrorista para acionar sua bomba.
Nos últimos anos, Istambul entrou de vez no roteiro dos brasileiros e era comum ouvir ecoar o português nas vielas de casas otomanas. A Turquia não demonstrava grandes tensões e isso ficava claro nas ruas, onde as pessoas eram em geral receptivas e prestativas. O país aproximava-se do ocidente e vivia a expectativa de entrar para a União Europeia. 
Mas algumas nuvens políticas começavam a escurecer o horizonte. 
Quando lançou as bases da república turca, no começo da década de 1920, o líder Mustafá Kemal, que passou a ser conhecido como Atatürk, o pai dos turcos, incluiu entre os fundamentos do novo Estado o laicismo. Apesar de o islamismo ser a religião dominante para cerca de 90% da população, Ataürk anteviu que um Estado secular seria o pilar que neutralizaria o autoritarismo religioso. Em quase um século, a Turquia sofreu intervenções militares (principalmente após se tornar membro da Otan, em 1952, e virar peça importante da Guerra Fria) e atravessou períodos de grave instabilidade econômica. Envolveu-se em conflitos com os curdos, foi à guerra em Chipre, mas preservou os princípios republicanos. 
Em 2002, a população insatisfeita com a situação econômica e uma inflação de 100% deu ao Partido Justiça e Desenvolvimento, de orientação religiosa, uma maioria de dois terços no Parlamento. O então primeiro-ministro Recep Erdogan promoveu uma série de reformas e em dois anos levou a inflação para um dígito. Fortalecido politicamente desde então, Erdogan, que hoje é presidente, foi, gradualmente, aumentando a influência islâmica no Estado. Surgiram leis restritivas de inspiração religiosa, censura à imprensa e oposicionistas passaram a sofrer perseguição. Os recentes atentados em Ancara, a capital do país e, agora, em Istambul, são o retrato desse novo tempo. O processo de islamização do Estado – em curso, apesar de grande reação interna – não vai facilitar um futuro com protagonistas como o Estado islâmico, o agravamento das relações com os curdos, a crise dos imigrantes e os reflexos das disputas entre sunitas e xiitas. 
Provavelmente, o turismo será a vítima mais imediata desses imbróglios cumulativos. O que será uma pena. São poucas as cidades que oferecem ao visitante tantas e tão preciosas atrações. Istambul, principalmente, uma metrópole onde o novo e o antigo convivem em cada esquina, transforma a visita em prazer, com direito a memoráveis aulas de história. Resta torcer para que a agitação mundana do Beyoglu, no setor europeu da cidade, onde ficam a praça Taksin e a cosmopolita rua Istiklal, não se torne vítima do sequestro da convivência democrática pelo fanatismo religioso. E que mezes e raki da rua Nevizade, um point boêmio de Istambul, tenham vida longa.  
Os turistas vítimas do atentado em Sultanahmet  estavam desfrutando desses momentos que, de resto, fazem parte de uma sensação que os terroristas pretendem explodir: o prazer de viver.
Por isso, Paris foi alvo. Por isso, os turistas de Istambul entraram na mira do terrorismo religioso.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

De um pendrive de viagem: Istambul, duas ruas...

A famosa Istiklâl é a rua principal do distrito de Beyoglu e centro da badalação noturna. Fica na parte moderna de Istambul, área que reúne edificios de apartamentos do século 19, antigas sedes de embaixadas ocidentais, livrarias que foram frequentadas por Ernest Hermingway e Agatha Christie, lojas de joias e griffes famosas. A Istiklâl é fechada para carros. Os pedestres abrem espaço apenas para o bondinho que circula desde 1875 em linha circular no bairro. Em uma transversal da Istiklâl fica o Pera Palas Hotel inaugurado em 1892 para receber os passageiros do lendário Orient Express
Já a rua Ordu, na parte antiga da cidade, leva à Mesquita Azul, Santa Sofia, Palácio Topkapi, ao Grande Bazar. É servida por um moderno sistema de bondes.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

De um pendrive de viagem: cena comum em Roma, Pompéia ou Istambul...

Arqueólogos trabalhando. Há muito a descobrir... Em Pompéia, por exemplo, toda a parte leste da cidade ainda está soterrada. Em Istambul, ao lado da Av. Kennedy (caminho do aeroporto), foi aberto recentemente um sítio arqueológico do tamanho de um quarteirão.