Previsões: apenas uma maneira de fazer leitores ficarem otimistas
por Eli Halfoun
Acredita em previsões quem quer e
geralmente crê porque é uma maneira de abastecer-se de otimismo e esperança em
relação ao futuro e até ao presente. Nunca acreditei em previsões astrológicas,
numerologia e outras crendices que ajudam a vender jornais e revistas e fazem
muitos “adivinhões” rechearem as carteiras com “consultas” pagas a peso de
ouro. Minha descrença não é apenas porque sou mais um dos muitos céticos que se
espalham pelo mundo: não acredito porque sei como previsões de jornais e revistas
são feitas. Durante muitos anos fui o “astrólogo” substituto do jornal Última
Hora quando editava o segundo caderno e o astrólogo oficial não enviava as
previsões. Como o espaço precisava ser preenchido, lá ia eu preparar o horóscopo
do dia seguinte sempre com a preocupação de copiar o estilo do astrólogo
titular e de não carregar de pessimismo nas previsões dos signos dos amigos e colegas
de redação. Nosso astrólogo oficial era o falecido professor Raji, um realmente
estudioso (professor de verdade) da astrologia, mas que mesmo assim não tinha
condições de prever o destino de milhares de leitores. Na revista Amiga, repeti
a dose de adivinhações criando as previsões feitas por pais de santo (depois os
jornais populares copiaram) sempre com a preocupação de não deixá-los falar
demais prevendo situações desagradáveis. Fazíamos também previsões gerais tipo
“vai morrer uma pessoa famosa” (sempre morre), “as chuvas castigarão alguns
estados no verão (sempre castigam) e outras tantas previsões que na verdade
são apenas repetições do cotidiano. Embora revistas especializadas em astrologia
e previsões apareçam aos montes todo final de ano, quem se der ao trabalho de consultar
o que disseram as revistas antigas perceberá que é sempre e tudo a mesma coisa.
Talvez por isso mesmo a televisão esteja abrindo mão de fazer previsões em seus
programas jornalísticos ou de variedades. Ninguém que não sejam os políticos
que continuar enganando o povo.
Sem crença mas com bom humor
Quem não acredita (não são poucos)
precisa respeitar os que acreditam e levar tudo com bom humor. Foi o que fiz
quando um amigo também jornalista insistiu em levar-me a um pai-de-santo que leria
o meu destino nos búzios. Fui lá e quando entrei na sala em que as consultas
eram realizadas, o pai-de-santo colocou a mão na testa (dele é claro) jogou os búzios
e mandou essa:
“Não vejo você com nenhum problema”.
Não resisti e mandei a minha:
“Não vê porque é cego. Eu entrei
puxando a perna”
(sequela de um AVC que tive aos 26
anos e que carrego até hoje). (Eli Halfoun)
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