sábado, 5 de janeiro de 2013

Memórias da redação: Aconteceu no...


Previsões: apenas uma maneira de fazer leitores ficarem otimistas
por Eli Halfoun
Acredita em previsões quem quer e geralmente crê porque é uma maneira de abastecer-se de otimismo e esperança em relação ao futuro e até ao presente. Nunca acreditei em previsões astrológicas, numerologia e outras crendices que ajudam a vender jornais e revistas e fazem muitos “adivinhões” rechearem as carteiras com “consultas” pagas a peso de ouro. Minha descrença não é apenas porque sou mais um dos muitos céticos que se espalham pelo mundo: não acredito porque sei como previsões de jornais e revistas são feitas. Durante muitos anos fui o “astrólogo” substituto do jornal Última Hora quando editava o segundo caderno e o astrólogo oficial não enviava as previsões.  Como o espaço precisava ser preenchido, lá ia eu preparar o horóscopo do dia seguinte sempre com a preocupação de copiar o estilo do astrólogo titular e de não carregar de pessimismo nas previsões dos signos dos amigos e colegas de redação. Nosso astrólogo oficial era o falecido professor Raji, um realmente estudioso (professor de verdade) da astrologia, mas que mesmo assim não tinha condições de prever o destino de milhares de leitores. Na revista Amiga, repeti a dose de adivinhações criando as previsões feitas por pais de santo (depois os jornais populares copiaram) sempre com a preocupação de não deixá-los falar demais prevendo situações desagradáveis. Fazíamos também previsões gerais tipo “vai morrer uma pessoa famosa” (sempre morre), “as chuvas castigarão alguns estados no verão (sempre castigam) e outras tantas previsões que na verdade são apenas repetições do cotidiano. Embora revistas especializadas em astrologia e previsões apareçam aos montes todo final de ano, quem se der ao trabalho de consultar o que disseram as revistas antigas perceberá que é sempre e tudo a mesma coisa. Talvez por isso mesmo a televisão esteja abrindo mão de fazer previsões em seus programas jornalísticos ou de variedades. Ninguém que não sejam os políticos que continuar enganando o povo. 
Sem crença mas com bom humor
Quem não acredita (não são poucos) precisa respeitar os que acreditam e levar tudo com bom humor. Foi o que fiz quando um amigo também jornalista insistiu em levar-me a um pai-de-santo que leria o meu destino nos búzios. Fui lá e quando entrei na sala em que as consultas eram realizadas, o pai-de-santo colocou a mão na testa (dele é claro) jogou os búzios e mandou essa:
“Não vejo você com nenhum problema”.
 Não resisti e mandei a minha:
“Não vê porque é cego. Eu entrei puxando a perna”
(sequela de um AVC que tive aos 26 anos e que carrego até hoje). (Eli Halfoun)

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