quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Memórias de um sargento de malícias... • Por Roberto Muggiati

 

Redação da Manchete, 1978, agosto. Foto; Arquivo Pessoal

Nascemos no mesmo ano de 1937, eu em 6 de outubro, ele em 28 de outubro. Deixei passar em nuvens não tão brancas como reza o clichê os 85 anos que teria completado poucos dias atrás. Alberto Carvalho nos deixou em 2014 e, se chega a ser um consolo, posso garantir a ele que não está perdendo grande coisa... 

Éramos almas irmãs, o carcamano curitibano e o carioca da gema do Catumbi, apesar das origens tão diferentes. O que conta no caráter de um homem não é o local onde nasce, mas o espaço que constrói para si mesmo, onde quer que esteja. 

Alberto e eu resistíamos à opressão do trabalho usando como arma o humor, aquele humor irônico e imaginativo que só a raça das redações é capaz de criar, de improvisar a cada momento. 

Esta foto foi feita no Russell em agosto de 1978, eu editor da Manchete, Alberto meu factótum, ambos com uns quinze anos de Bloch já nos costados. O mundo estava pegando fogo: no Vaticano João Paulo I morria misteriosamente com apenas um mês de papado; o fanático Jim Jones levava a um suicídio em massa 918 seguidores de sua seita; os aiatolás preparavam a queda do Xá do Irã e a instauração de uma ditadura religiosa que dura até hoje; na Itália, o ex-Primeiro Ministro Aldo Moro era assassinado pelos guerrilheiros das Brigadas Vermelhas. Tudo isso passava pelas páginas da Manchete, mas nada daquela instabilidade se reflete em nossos rostos. Alberto e eu parecemos longe, muito longe deste insensato mundo, degustando a última abobrinha dos corredores blochianos.

A seguir, duas matérias publicadas no Panis que dão uma dimensão do humor e da grandeza humana de Alberto de Carvalho: seu talento genial para dar apelidos e as memórias que alinhavou sob o título autobiográfico de Eu, Tura.


https://paniscumovum.blogspot.com/2017/09/a-melhor-da-galaxia-era-uma-fabrica-de.html



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