Pedro Guimarães e Bolsonaro: amigos, irmãos, camaradas. Reprodução |
Alguém botou velocidade 5 no ritmo dos fatos. Uma série de escândalos revela o estômago voraz das equipes de Bolsonaro - como no caso da roubalheira dos pastores infiltrados no governo em busca do bezerro de ouro das verbas públicas - e expõe os intestinos da administração que já não consegue processar tantas denúncias.
Do ponto de vista da mídia, que atualmente se divide entre veículos que investem menos em reportagens exclusivas e jogam todas as fichas em um time de comentaristas e outros que ainda têm como prioridade buscar a notícia original, a investigação jornalística raiz, é interessante comparar estilos editoriais.
O site Metrópoles recebeu muitas e justas críticas nos últimos dias por publicar detalhes de um drama pessoal da atriz Klara Castanho, tão doloroso que estava protegido pela Justiça. Na caça aos cliques, o Metrópoles errou feio.
Enquanto esse caso rumoroso repercutia, assim como os pedidos de desculpas do site, o repórter Rodrigo Rangel, do mesmo Metrópoles, trabalhava havia semanas em um míssil que cai no núcleo íntimo de Bolsonaro: as acusações de assédio sexual massivo cometido pelo presidente da Caixa Econômica Federal.
Pedro Guimarães é o nome do indivíduo assediador que deve ter entendido mal o slogan "patria amada". É bolsonarista ultra radical - se a redundância é possível. Está com Bolsonaro para o que der e vier. É figurante nas lives sórdidas que o presidente impõe à mídia, obrigada a cobrir bobagens e grosserias mentiras ali veiculadas.
Jornais, sites e canais de TV obrigatoriamente estão hoje pautados pela matéria investigativa de Rodrigo Rangel. E correm atrás quaisquer "aspas" para não perder o bonde. Não demora muito vão ouvir o Mourão, o comentador geral do país - geralmente fala irrelevâncias - acionado pelos veículos em nove entre cada dez assuntos.
A Globo News, o canal de noticias por assinatura de maior audiencia, não tem mais a investigação jornalística ou a exclusiva como prioridade, opta na maior parte da grade por comentaristas próprios, analistas convidados e tedioso jornalismo declaratório.
Os concorrentes da Globo News, como CBN Brasil, Band News, Record Notícias e JP News também não investem em reportagens relevantes exclusivas. As últimas matérias de grande repercussão nesses canais tiveram origem no Estadão e Folha de São Paulo, nestes com maior frequência; no Globo, no Intercept e no próprio Metrópoles. Aos canais de notícias coube colher declarações. A Rede Globo mantém o foco na notícia e o Fantástico tradicionalmente investe em exclusivas.
Se essa estratégia de alguns veículos de não gastar sapato e dinheiro no jornalismo investigativo, mas pegar carona na repercussão e na análise repetida do fato é jornalísticamente correta, só os canais podem avaliar.
Vai ver estão certos, embora "furos" como o do Metrópoles aparentemente mostrem que não.
Atualização às 11 horas - O general Mourão, a figura preferida da mídia para a Editoria Óbvio Ululante acaba de declarar à CNN do B que o assédio sexual massivo de Pedro Guimarães é "assunto delicado".
Um comentário:
Na verdade não há interesse. Quando dos governos de Lula e Dilma, a Lava Jato, como soubemos graças ao Intercept, pautava o falso "jornalismo investigativo" da grande mídia e distribua matérias para vários veículos. A maioria dos repórteres tão atuante naquela época perdeu subitamente a vontade? Felizmente em sites alternativos de jornalismo profissional, alguns repórteres que não desistem levam a Folha, o Estadão, o portal Metrópoles, Intercept, e outros da resistência jornalistica a lançarem apurações que o Brasil precisa saber.
Postar um comentário