Os mais novos não vão lembrar, mas é preciso não esquecer. Em uma galáxia distante, uma figura chamada Ipojuca Pontes foi secretário Nacional da Cultura de Collor de Mello, governo que atropelou como um Fiat Elba em alta velocidade - e fugiu sem socorrer a vítima - órgãos como Funarte, Pró-Memória, Fundacen, Pró-Leitura, Embrafilme etc.
Como a poupança então sequestrada, a Cultura foi jogada, na época, em um escuro cativeiro. O cinema brasileiro, por exemplo, levou anos para ser resgatado como indústria e arte.
Ipojuca era jornalista. Em uma ponte para o passado, outro jornalista foi parar no ministério da Cultura. Não é nada, não é nada, é só uma coincidência de mau gosto a manchar a categoria
Não que seja uma surpresa, mas com o simples fato de aceitar integrar a briosa equipe de Michel Temer, Sérgio Sá Leitão já disse a que veio. OK, dá pra entender, o desemprego está alto no Brasil e todo mundo precisa de uma fonte honesta de renda. Leitão agarrou com entusiasmo a oportunidade de atuar em um governo conservador, obscurantista e que tem o melhor apoio do pior que o Congresso brasileiro oferece.
No rastro das polêmicas de censura a exposições e do avanço das práticas neonazistas - com "brigadas" da direita radical agredindo, filmando e intimidando espectadores de mostras, performances e peças teatrais e vetando livros em bibliotecas públicas - o ministro se manifestou. Para defender a liberdade de expressão? Não. Para incluir na lei federal que incentiva a literatura, o teatro, cinema, shows, exposições, a música, o folclore, a dança, a Cultura em geral, um artigo do Código Penal que veta propostas que "vilipendiem a fé religiosa, promovam a sexualização precoce de crianças e adolescentes ou façam apologia a crimes ou atividades criminosas". Obviamente, sob o foco de visões fundamentalistas e intolerantes, tudo poderá se enquadrar na "sharia" do Leitão. Um musical sobre candomblé certamente pode ofender certos corações e mentes que depredam terreiros; o lobo e chapeuzinho vermelho poderão ser vistos sob a ótica da pedofilia ou do bestialismo; fazer um filme sobre roubo de banco sem que o vilão seja punido no final será "apologia a crime".
Vão chover "interpretações". Libidos problemáticas, por exemplo, enxergam sexo até no obelisco da Rio Branco.
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2 comentários:
Informaçóes sobre eventos,exposições etc, tudo isso pode ser feito, o que não pode é botar o código penal para proibir tudo. Classificação de idade, se quiserem e liberdade para os pais decidirem o que os filhos podem e devem ver, sem interferência do Estado e, pior, de fanáticos religiosos ouvidos pelos políticos em troca de votos
O código penal é uma coisa. Ao importar artigo para a Lei Rouanet, vai funcionar como censura prévia. Isso é o óbvio autoritário, cara pálida
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