terça-feira, 3 de outubro de 2017

Um referendo para retalhar o Brasil...



por Flávio Sépia

Em 2006, a revista Superinteressante publicou uma matéria bem-humorada sobre a possível divisão do Brasil em várias nações.

O referendo da Catalunha e dois plebiscitos previstos na Itália - Veneto e Lombardia - reacendem a pensata. Tanto na Espanha quanto na Itália há regiões que se consideram vítimas das políticas  neoliberais de ajuste fiscal e se queixam de que mandam muito mais dinheiro do que recebem dos governos centrais. No Brasil, tratando-se de questão fiscal, não é muito diferente, a máquina federal também é centralizadora e gulosa.

Como o tema está em pauta global, veja como ficaria o Brasil, segundo a Superinteressante, se fizesse uma reforma territorial.

(da Superinteressante, matéria de 2006) 

Um país em retalhos

O território que hoje é o Brasil poderia se dividir em 10 nações independentes

Amazônia Ocidental (sob tutela da ONU)

CAPITAL: Manaus

O Amazonas assumiria seu papel de reserva florestal da humanidade, e a tutela da ONU (e seu contingente de “capacetes azuis”) seria imprescindível para proteger a mata de madeireiros ilegais, ecopiratas, grupos militares e paramilitares, além de criminosos comuns. A elite cabocla amazonense tomaria o poder e, aproveitando a preocupação global com ecologia, se beneficiaria de alianças com o primeiro mundo.

República do Baixo Amazonas

CAPITAL: São Luís

Apesar de estar na região amazônica, a porção norte do Pará e do Maranhão se separaria do Amazonas por ter uma característica muito própria: a floresta pluvial aliada à mineração forte. Apesar de ser menor que Belém, a cidade de São Luís seria o maior pólo econômico da região, já que abriga o porto por onde escoa o minério que chega por trem de Carajás.

Estados Unidos do Cariri

CAPITAL: Fortaleza

As praias na curva norte do litoral brasileiro se tornariam um rico pólo turístico, freqüentado sobretudo por visitantes europeus, que ocupariam os diversos resorts costeiros. Já o interior… A região sertaneja tenderia a ser relativamente despovoada e com atividade econômica pouco relevante.

República Socialista de Pernambuco

CAPITAL: Recife

Eis a Cuba brasileira, com território comprido, capital litorânea e tendência ao socialismo. Palco de revoltas como a Revolução Pernambucana (1817), ela poderia se isolar e virar uma república socialista. Temendo o surgimento de um dublê de Fidel Castro na América do Sul, a Otan ficaria de olho nela.

República do Cerrado

CAPITAL: Brasília

É o império do agronegócio. A região foi ocupada por migrantes dispostos a desbravar e cultivar terrenos gigantescos. Ali fica um bolsão que abriga um mar de soja, além de algodão e muito gado. Resultado: um novo país com economia forte em uma geografia parecida com a da Austrália (com pouca população e grande extensão territorial).

Estados Unidos do Sudoeste

CAPITAL: São Paulo

São Paulo e Mato Grosso do Sul se uniriam por terem uma forte ligação agropecuária. Pólo industrial consolidado, esse país poderia ser comparado, em termos de importância para o continente, à África do Sul. Concentraria, ainda, o poderio bélico sul-americano – bastaria adaptar parte do parque industrial já instalado.

República Quilombola da Bahia

CAPITAL: Salvador

Raízes históricas e semelhanças culturais e econômicas fariam desse pedaço da Bahia uma espécie de Nigéria americana. Foi dessa região da África que veio a maioria dos escravos – e graças à sua presença, os baianos incorporaram palavras do idioma ioruba (“acarajé”, por exemplo) e o candomblé, além da música e da dança. Assim como na Nigéria, a economia seria baseada em petróleo e cacau. Por conta disso tudo, o novo país se ligaria à OUA (Organização da Unidade Africana) e ficaria de costas para a América.

República Farroupilha

CAPITAL: Porto Alegre

O forte sentimento regionalista dos sulistas tornaria natural e indolor a separação de Rio Grande do Sul e Santa Catarina dos territórios do norte. A República Farroupilha seria um país de economia forte e população relativamente pequena. A indústria vinícola se aperfeiçoaria para garantir as exportações para o exigente público de Rio e São Paulo.

República do Rio de Janeiro

CAPITAL: Rio de Janeiro

Ex-capital do Brasil, o Rio tem um sentimento de autonomia em relação ao resto do país que o faria optar por ficar sozinho com seu petróleo – extraído da Bacia de Campos, a maior reserva do Brasil – e seu turismo. Estaria para a América do Sul como Cingapura está para a Ásia, pois contaria com um dos portos mais movimentados do mundo, com turistas de todas as partes e uma elite cosmopolita.

República dos Inconfidentes

CAPITAL: Belo Horizonte

Um país formado por Minas Gerais e Espírito Santo configuraria um “acordo ganha-ganha”. Econômica e politicamente forte, Minas enfim teria a sua saída para o mar. O Espírito Santo, por sua vez, vestiria a carapuça de praia dos mineiros – mas, para isso, barganharia bastante e ganharia poder na negociação dos interesses regionais. Católica até a medula e dona de um importante patrimônio histórico, a República dos Inconfidentes se assemelharia bastante à Espanha.


A Superinteressante ainda aponta alguns focos de possíveis conflitos 
em meio à reforma territorial. Veja os pontos críticos.

1. Acre

A Bolívia poderia pedir o Acre de volta. Mas, como a fronteira é meio vazia e os fazendeiros da região são brasileiros, seria mais fácil os acreanos tomarem mais um pedacinho da Bolívia.

2. Noroeste da Amazônia

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia já ocupam essa parte da floresta e continuariam ali. A população local, alguns índios ianomâmis, não teria a vida afetada pelas Farc.

3. Roraima

Um racha no Brasil poderia ser um prato cheio para a Venezuela tentar avançar em Roraima. Acuada, a população local procuraria asilo na Guiana.

4. Amapá

A divisa da Guiana Francesa com o Amapá é a maior fronteira terrestre da França, que tentaria aumentar sua extensão global. Atraídos pela qualidade de vida européia e pelos euros, os brasileirosda região poderiam abraçar a idéia.

5. Alagoas e Sergipe

São dois “estados-tampão”, criados para não deixar a foz do rio São Francisco nem com a Bahia nem com Pernambuco. No fim da disputa, é provável que um armistício entregasse Alagoas a Pernambuco e Sergipe à Bahia.

6. Paraná

Também racharia. O norte do estado, parecido com o interior paulista, ficaria com os Estados Unidos do Sudoeste. Já o sul, identificado com a cultura gaúcha, integraria a República Farroupilha.



3 comentários:

Hermano disse...

Tá brincando? Tem muita vantagem nisso. São Paulo ficaria com Temer,Diria, Alkmin pra ele. Minas com Serra. O Nordeste com Lula, o Paraná com Beto Rocha e Youssef,o Rio com Crivella e Bolsonaro,pelo menos diluída os elementos, ficava mais fácil aturar a palhaçada

Corrêa disse...

O Sul faz plebiscito para se separar de vem em quando. Acho que fizeram agora depois a crise da Catalunha. Não sou contra. O pessoal de Pelotas pode fazer seu estado. Mas tem que indenizar o governo federal (na verdade, os outros estados), que fez Itaipu, estradas, pagou linha de energia, obras em cidades, estádios, paga aposentados federais, construiu portos, ou seja tem muito dinheiro a devolver.

Kadu disse...

O Rio Grande do Sul gasta 80% do que arrecada com pagamento de funcionários. Separem-se e façam bom proveito.