A mensagem acima foi enviada hoje ao endereço do blog, mas remete a um outro tempo, rua e número (Anos 70, Rua do Russell 804). No email, João Resende, jornalista que trabalhou na Manchete, avisa da morte de Gastão René Friedman, tradutor de alemão (na época, a Manchete tinha os direitos da semanal Der Spiegel), que viveu os dias ora leves, ora tumultuados, sempre imprevisíveis, na redação da revista carro-chefe da Bloch. A Der Spiegel publicava verdadeiros calhamaços, os textos de capa às vezes chegavam a 50 laudas. Para editar as matérias, os redatores precisavam contar com a colaboração de tradutores de alemão. Cesarion Praxedes, então repórter, indicou um tradutor para trabalhar, fixo, na redação e assim resolver de vez o problema. Só que o novo funcionário chegou, sentou-se à mesa que lhe apontaram, em um discreto canto da sala, sem que o Cesarion lembrasse de apresentá-lo à equipe. O misterioso-suposto-novo-funcionário foi lá ficando, não era de falar muito, lia jornais, revistas, às vezes um livro, meio absorto, não chamava atenção. Até porque a redação não tinha a menor ideia do que ele fazia ali. Talvez o pessoal achasse que era alguém convocado por Adolpho Bloch. Passaram-se algumas semanas e ele lá, firme. Até que um dia, Flavio Costa, chefe de reportagem, não aguentou mais a curiosidade e indagou:
- "O que é que esse UFO está fazendo aqui"?
UFO, em foto dos anos 70, em frente ao antigo prédio da Manchete. |
- "Este é o UFO, nosso tradutor de alemão", dizia, já incorporando o apelido.
UFO respondia:
- "Prazer, Gastão Friedman", em vão, o pessoal já havia gravado e sacramentado o UFO.
Aquele Friedman passou anos na Bloch e talvez a maioria dos colegas jamais tenha desconfiado de que se chamava, na verdade, Gastão, René e, ainda mais, Friedman. UFO tornou-se o nome dele. Quando Cesarion Praxedes foi convidado para trabalhar na assessoria de imprensa da Nuclebrás não demorou a levar o UFO. O Brasil havia assinado o acordo nuclear com a Alemanha para a construção de Angra 1 e o tradutor da Der Spiegel passou a fazer a dublagem para português da papelada alemã. Dizem - pode ser lenda - que UFO traduziu os manuais da usina. O pessoal da Manchete, ao saber disso - ou criar a versão, sempre melhor do que o fato - brincava: - "Vai dar merda". UFO, que de desligado só tinha o jeitão, era atento e organizadíssimo, como lembra João Resende, se divertia com a história e dizia para a turma não se preocupar porque as máquinas não estavam funcionando... - "Ainda", completava e, como bom UFO, deixava um mistério quanto ao futuro da usina segundo suas traduzidas instruções..
Bom, Angra 1 está aí até hoje, vai que o manual do UFO, o único apelido que deve ser escrito obrigatoriamente em maiúsculas, estava certo. Que ele tenha decolado em paz.
Um comentário:
É o tempo vai passando e um a um esses ex-colegas vão partindo e nos deixando sozinhos com as nossas lembranças dos tempos que vivemos lado a lado nos dias de trabalho. UFO, eu conheci-o, era alto, louros de olhos azues e sempre alegre.
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