quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Alvaro Costa e Silva, o Marechal, ex-repórter da EleEla e da Manchete, lança o livro "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro"

Alvaro Costa e Silva, o Marechal, jornalista que atualmente escreve na Folha de São Paulo, é um profundo conhecedor de um certo estado de espírito, um jeito de viver, de um ser popularmente conhecido como carioca. Daí, Marechal, que trabalhou na EleEla e Manchete, lança neste sábado, dia 7, às 13h, na Livraria Folha Seca, "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro" (Editora Casarão do Verbo). O livro mostra em verbetes os personagens, o comportamento e as curiosidades do Rio. Uma excelente pedida. Você vai descobrir se o meio ambiente formou o carioca, se o carioca moldou o seu meio ambiente ou se o Rio e o seu ilustre morador são nascidos e criados juntos.
Não por acaso leia, abaixo, um verbete bem típico do Rio: B de balcão...


B de balcão

Hemingway escrevia de pé e nu. Guillermo Cabrera Infante, apenas nu. O carioca muitas vezes come de pé, embora vestido. Em especial na hora do almoço e na correria e no formigueiro do Centro da cidade. E não come, necessariamente, mal. Em certos botecos, a arte de roçar cotovelos no balcão, enquanto se mastiga um sanduíche de pernil com molho de cebola — sem sujar a camisa — é um prazer. 
O melhor pernil está no Opus, pequeno bar na sassaricante Rua Gonçalves Dias, depois da Colombo e à esquerda de quem vai ao Mercado das Flores. Um bar estreito e comprido, com tamboretes que, ao freguês tomar assento, deixa a metade da bunda de fora. Daí a preferência pela parte da frente, quase se misturando ao movimento da rua. Cuidado: no teto, abacaxis e laranjas pendurados. 
Peça o sanduíche de pernil “molhado” no pão canoa. O segredo, dizem, é o molho, cuja receita é segredo. É, sem favor, um dos melhores do Rio. Há as opções com queijo ou abacaxi. A iguaria será preparada — modo de dizer, cortado o pão, fatiada a carne — a sua frente. Essa é uma das vantagens do balcão, total transparência. Para beber, sucos de frutas; o chope, claro ou escuro, é honesto. Evite o xixi por ali: o banheiro fica no sótão, ao qual se chega por uma escada mui íngreme, mais adequada a um submarino. 
O cachorro-quente de linguiça no pão francês com molho — uns 600 são vendidos por dia — é a especialidade do Café Gaúcho, desde 1935 na Rua São José, com vista para o Buraco do Lume (que a prefeitura insiste em chamar de Praça Mário Lago). De bobeira no Rio de Janeiro, o escritor Reinaldo Moraes (que é o mais paulista dos seres humanos) gostou tanto do sanduíche e das imediações, que resolveu conhecer todos os buracos da cidade. “Com lume ou sem lume”, decretou ele. 
Outra pedida no Café Gaúcho é o bolinho de carne (que fica melhor com pimenta) servido pelo mais popular atendente da casa, o Sorriso. É um dos poucos locais no Centro que ainda mantém a tradição do cafezinho na xícara de louça e pires de alumínio. Tudo no balcão, naturalmente. 
O cartunista Jaguar, um campeão dos balcões cariocas, dono de calos no cotovelo de tanto debruçar-se em legítimos mármores dos mais memoráveis botequins, ensina as vantagens do exercício de beber e comer em pé: você é servido mais depressa, fica mais fácil driblar os chatos, pode-se escolher o tira-gosto de melhor aparência, filar uma lasquinha da porção de presunto de perna e fiscalizar, num espichão de pescoço, se o cara está tirando direito o chope. E, não por último, conservar a silhueta sem barriga.
(O texto em destaque está no livro "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro")

2 comentários:

Beirada disse...

Gostei da pedida do cachorro quente

Nelio Horta disse...

Com a assinatura do competente “Marechal”, e ilustrado pelo Aliedo, este livro deve ser hilário, cheio de bossa e de muito “molho”, como tudo que ele escreve. Ao ler o verbete, dá vontade de saborear um sanduíche de pernil “molhado” no pão canoa, mesmo sentado na estreita banqueta que deixa metade da bunda de fora...Não importa. Este livro vai ser um sucesso garantido, tenho certeza. Pena que as seqüelas da idade não me permitam fazer estas “extravagâncias”. Deus te abençoe “Marechal”. Foi muito bom saber de você!