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O ator Glen Ford como garoto-propaganda |
Comecei a fumar entre os 10 e 11 anos. Nessa idade, nas tardes de domingo, com os centavos que sobravam da semana ia ao “poeira”, o cinema do bairro em que morava, no Largo do Moura. A sessão das duas da tarde era um verdadeiro inferno. Até o apagar da luzes e começar a rodar o filme não se podia nem conversar tamanha era a gritaria dentro daquele salão imenso e as brigas entre os meninos e as “gangs” que vinham de outros bairros tomavam conta do ambiente. Os “lanterninhas”, os empregados fardados que de lanterna em punho fiscalizavam o salão, corriam para apartar as brigas e expulsar os mais violentos. Nessa corrida para manter a ordem dentro do cinema ou os “lanterninhas saiam com algum ferimento ou os meninos ficavam machucados, mas nada tão grave que os impedissem de conseguir voltar ao salão e assistir ao filme. De um jeito ou de outro eles voltavam. Até hoje nunca entendi como conseguiam reentrar no cinema sem que os “lanterninhas” percebessem. Naquela época, os nossos heróis do cinema eram dos filmes de “cowboys” estrelados por Hoppalong Cassidy, Tom Mix, O Mascarado com seu cavalo Sylver e o índio Tonto, o seriado “Império Submarino” com Buster Crable e o Zorro sempre sendo perseguido pelo sargento Garcia, que nunca conseguia prendê-lo. Mas esses heróis não fumavam e os bandidos é que fumavam cigarrilhas ou os cigarros enrolados pelas suas mãos em pequenos pedaços de papel. O cigarro, na época desses heróis, era do mal.
O herói era perfeito. Sempre dentro da lei, perseguindo os bandidos, não cometia erros e muitos menos bebia ou fumava. Perseguia e prendia os foras-da-lei. Essa era a imagem que procuravam passar para os espectadores e muito mais para os meninos e as meninas que iriam passar, no mínimo 2 horas, dentro do salão do cinema assistindo as suas peripécias na luta contra os bandidos. Esses sim é que fumavam e bebiam durante todo o desenrolar da história daqueles filmes. Mas, como os maus exemplos permanecem, muitos de nós, por imitação, inclusive eu, achávamos bacana fumar, era elegante levar, à boca, o cigarro entre os dedos com estilo e personalidade. Esses gestos nos emprestava um ar de poder e de machão além de impressionar as meninas do bairro e da escola. E vieram depois os filmes com os Gary Cooper, Carole Lombar, Gary Grant, John Waine trazendo nos dedos o cigarro, já como produto industrial na imagem que permanece até hoje. Naquela época os cigarros eram por sua natureza mais duros e mais fortes. O fumo era quase puro e as primeiras tragadas faziam o pulmão doer. O cigarro com filtro não tinha sido inventado Mas mesmo assim continuávamos a insistir a fumar até aprender a tragar e nos tornarmos viciados.
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Rita Hayworth em cena do filme "Gilda". Foto:Divulgação |
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Ronald Reagan , então ator, anuciando Chesterfield |
O HERÓI QUE TINHA O ÍNDIO TONTO COMO O SEU COMPANHEIRO E SEU CAVALO SYLVER, ERA O ZORRO. ESMERALDO ME LEMBROU NUM COMENTÁRIO QUE FEZ SOBRE O TEXTO DO NÉLIO HORTA.
ResponderExcluirPenso que com o anúncio de cigarros na TV e nas revistas de quase todo mundo está proibido (até a Fórmula 1 não tem Marlboro, John Player, que patrocinava a Lotus, o cinema está, como você diz, ganhando mais do que nunca milhões com a propaganda subliminar. Tem filme que chega a ser artificial a velocidade com que o ator acende um cigarro atrás do outro.
ResponderExcluirA LUDMILA ENTENDEU O RECADO. É UMA PROPAGANDA ARRAZADORA E DEVASTADORA.
ResponderExcluirO ADMINISTRADOR DO BLOG ENRIQUECEU ESSE TEXTO COM AS ILUSTRAÇÕES DE CARTAZES COM ARTISTAS DE CINEMA FAZENDO PROPAGANDA DE CIGARRO. A PUBLICIDADE DOS CIGARROS NÃO FICOU LIMITADA ÀS TELONAS DOS CINEMAS SE EXPANDIU E APARECEU EM CARTAZES COLADOS EM PAREDES E EM PÁGINAS DE REVSITAS.AS INDÚSTRIAS TABAGISTAS TEM UM PODER IMENSO. O PODER DE QUEM TEM MUITO DINHEIRO.
ResponderExcluirO cara morre atropelado, morre de tiro, morre de câncer sem nunca ter fumado. Seguinte: quero fun gar fumaça até o fim dos meus dias. É um direito individual. Acende mais um aí!
ResponderExcluirÉ ISSO AÍ CADU, VOCÊ TEM TODO O DIREITO DE ESCOHER ESSE PRAZER, QUE CONFESSO QUANDO FUMAVA ACHAVA MARAVILHOSO. UM CIGARRO ENTRE OS DEDOS E FUMÁ-LO.
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