terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Do cigarro ao cinema


O ator Glen Ford como garoto-propaganda
por JABarros
Comecei a fumar entre os 10 e 11 anos.  Nessa idade, nas tardes de domingo, com os centavos que sobravam da semana ia ao “poeira”, o cinema do bairro em que morava, no Largo do Moura. A sessão das duas da tarde era um verdadeiro inferno. Até o apagar da luzes e começar a rodar o filme não se podia nem conversar tamanha era a gritaria dentro daquele salão imenso e as brigas entre os meninos e as “gangs” que vinham de outros bairros tomavam conta do ambiente. Os “lanterninhas”, os empregados fardados que de lanterna em punho fiscalizavam o salão, corriam para apartar as brigas e expulsar os mais violentos. Nessa corrida para manter a ordem dentro do cinema ou os “lanterninhas saiam com algum ferimento ou os meninos ficavam machucados, mas nada tão grave que os impedissem de conseguir voltar ao salão e assistir ao filme. De um jeito ou de outro eles voltavam. Até hoje nunca entendi como conseguiam reentrar no cinema sem que os “lanterninhas” percebessem. Naquela época, os nossos heróis do cinema eram dos filmes de “cowboys”  estrelados por Hoppalong Cassidy, Tom Mix, O Mascarado com seu cavalo Sylver e o índio Tonto, o seriado “Império Submarino” com Buster Crable e o Zorro sempre sendo perseguido pelo sargento Garcia, que nunca conseguia prendê-lo. Mas esses heróis não fumavam e os bandidos é que fumavam cigarrilhas ou os cigarros enrolados pelas suas mãos em pequenos pedaços de papel. O cigarro, na época desses heróis, era do mal.
O herói era perfeito. Sempre dentro da lei, perseguindo os bandidos, não cometia erros e muitos menos bebia ou fumava. Perseguia e prendia os foras-da-lei. Essa era a imagem que procuravam passar para os espectadores e muito mais para os meninos e as meninas que iriam passar, no mínimo 2 horas, dentro do salão do cinema assistindo as suas peripécias na luta contra os bandidos. Esses sim é que fumavam e bebiam durante todo o desenrolar da história daqueles filmes. Mas, como os maus exemplos permanecem, muitos de nós, por imitação, inclusive eu, achávamos bacana fumar, era elegante levar, à boca, o cigarro entre os dedos com estilo e personalidade. Esses gestos nos emprestava um ar de poder e de machão além de impressionar as meninas do bairro e da escola. E vieram depois os filmes com os Gary Cooper, Carole Lombar, Gary Grant, John Waine trazendo nos dedos o cigarro, já como produto industrial na imagem que permanece até hoje. Naquela época os cigarros eram por sua natureza mais duros e mais fortes. O fumo era quase puro e as primeiras tragadas faziam o pulmão doer. O cigarro com filtro não tinha sido inventado Mas mesmo assim continuávamos a insistir a fumar até aprender a tragar e nos tornarmos viciados.
Rita Hayworth em cena do filme "Gilda". Foto:Divulgação
Tornei-me um viciado no cigarro por imitação. Anos mais tarde viria a enfartar por fumar três carteiras de cigarro por dia. Esse foi o preço cobrado pelo vício. A indústria do fumo cresceu vertiginosamente e precisava aumentar o seu consumo e foi encontrar no cinema o seu grande veículo de publicidade. O cinema, a grande máquina de ganhar dinheiro, precisava de um financiador e na Indústria tabagista encontrou o seu grande investidor. Como se diz: juntaram-se a fome e a vontade comer. A indústria cinematográfica cresceu verticalmente e a indústria do fumo se agigantou ainda mais aumentando em números inimagináveis a quantidade de viciados espalhados pelo mundo inteiro. Hoje, a propaganda do cigarro não está limitada às salas de projeção de cinema está nas salas de nossas casas nas telas da TV. Da poltrona da minha sala, na semana passada, assisti a um filme chamado, “Casino”, estrelado pelo grande ator Robert de Niro em que ele passa, durante todo o filme, com mais de duas horas de projeção, com um cigarro entre os dedos, fumando alucinadamente, mesmo no fim quando entra no carro, que explode, para fugir dos “mafiosos” que o querem morto, é queimado e ferido de morte,mas com o cigarro entre os dedos. Essa publicidade, dizem os entendidos, é uma das mais eficientes publicidades criadas pelo homem.  Subliminarmente ela vai pondo na cabeça do espectador que fumar faz dele um homem mais homem, mais moderno, mais atual e com mais charme diante das mulheres.
Ronald Reagan , então ator, anuciando Chesterfield
Qual será a campanha contra o fumo que conseguirá vencer a sociedade de duas indústrias unidas visceralmente para se enriquecerem às custas uma da saúde do homem e a outra às custas do bolso dele apesar de ter como motivo levar o prazer do entretenimento e algumas horas de bom humor e alegre distração a essa mesma criatura que se tornou vítima da ganância industrial?

6 comentários:

  1. O HERÓI QUE TINHA O ÍNDIO TONTO COMO O SEU COMPANHEIRO E SEU CAVALO SYLVER, ERA O ZORRO. ESMERALDO ME LEMBROU NUM COMENTÁRIO QUE FEZ SOBRE O TEXTO DO NÉLIO HORTA.

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  2. Penso que com o anúncio de cigarros na TV e nas revistas de quase todo mundo está proibido (até a Fórmula 1 não tem Marlboro, John Player, que patrocinava a Lotus, o cinema está, como você diz, ganhando mais do que nunca milhões com a propaganda subliminar. Tem filme que chega a ser artificial a velocidade com que o ator acende um cigarro atrás do outro.

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  3. A LUDMILA ENTENDEU O RECADO. É UMA PROPAGANDA ARRAZADORA E DEVASTADORA.

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  4. O ADMINISTRADOR DO BLOG ENRIQUECEU ESSE TEXTO COM AS ILUSTRAÇÕES DE CARTAZES COM ARTISTAS DE CINEMA FAZENDO PROPAGANDA DE CIGARRO. A PUBLICIDADE DOS CIGARROS NÃO FICOU LIMITADA ÀS TELONAS DOS CINEMAS SE EXPANDIU E APARECEU EM CARTAZES COLADOS EM PAREDES E EM PÁGINAS DE REVSITAS.AS INDÚSTRIAS TABAGISTAS TEM UM PODER IMENSO. O PODER DE QUEM TEM MUITO DINHEIRO.

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  5. O cara morre atropelado, morre de tiro, morre de câncer sem nunca ter fumado. Seguinte: quero fun gar fumaça até o fim dos meus dias. É um direito individual. Acende mais um aí!

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  6. É ISSO AÍ CADU, VOCÊ TEM TODO O DIREITO DE ESCOHER ESSE PRAZER, QUE CONFESSO QUANDO FUMAVA ACHAVA MARAVILHOSO. UM CIGARRO ENTRE OS DEDOS E FUMÁ-LO.

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