sexta-feira, 6 de dezembro de 2019
Fenômeno: CNN Brasil ganha prêmio de "veículo do ano" quatro meses antes de entrar no ar... As redes sociais se divertem com a proeza mediúnica
A CNN Brasil tem estréia prevista para março de 2020 e ainda não transmitiu imagens ou fez qualquer reportagem. Ou seja, ainda não é um veículo. Isso não impediu que o futuro canal, como anunciou orgulhosamente no twitter, ganhasse o Prêmio Veículos de Comunicação 2019 da revista Propaganda. A premiação antecipada e "mediúnica", como um internauta classificou, virou piada nas redes sociais.
IZA na capa da Glamour de dezembro, hoje nas bancas, com ensaio de Gui Paganini...
Estreando na capa da Glamour, IZA foi entrevistada pela repórter Luanda Vieira. Ela fala sobre a carreira, racismo e fama. Trechos da matéria estão no site da Glamour.
quinta-feira, 5 de dezembro de 2019
Aeróbica sexual: Câmara dos Deputados deu quórum para um "Canguru Perneta"
por O.V.Pochê
A Câmara dos Deputados vive dias de suspense. E não é por causa de nenhuma medida provisória bombástica.
O Brasil começa a esperar com ansiedade o curioso desfecho de um debate que ganha espaço nos corredores do Legislativo.
Antes, uma adendo: repórteres experientes que cobriram o Congresso durante anos não têm dúvidas de que o prédio de Niemeyer na Praça dos Três Poderes escreve uma novela por dia. Se fosse ao ar seria imbatível em audiência.
O deputado Alexandre Frota lança há dias nas redes sociais um sinopse explosiva. Diz ele que flagrou uma deputada "conservadora e casada" praticando o chamado "canguru perneta" no escurinho de uma discreta salinha de uma das comissões da Câmara.
"Canguru perneta" foi uma expressão usada no seriado "Sai de Baixo" que, com o tempo, virou apelido de uma posição sexual que não está no tutorial do Kama Sutra. A modalidade é própria para os apressados, aqueles que por circunstâncias têm que dar uma "rapidinha". Mas atenção: o CP não é pra qualquer um. Exige elasticidade e precauções; para evitar acidente, a mulher, que estará equilibrada em uma perna só e a outra sobre o ombro do felizardo, deve ficar encostada em uma parede; o homem deve ser cavalheiro e não abusar do ritmo, sempre lembrando que a parceira estará temporariamente manca.
Existe uma variação: o "canguru perneta invertido", quando a mulher fica de costas para o parceiro. É coisa para atletas, convém não arriscar.
Frota não revela o nome da deputada e também não identifica o deputado que praticava essa coalizão nada partidária no breve intervalo do debate das grandes questões nacionais. O que se diz é que, na Câmara, até o mais carola da mais religiosa bancada sabe quem é a dupla aeróbica que competiu na categoria "canguru perneta" em 1 minuto e dez segundos sem barreiras.
A Câmara dos Deputados vive dias de suspense. E não é por causa de nenhuma medida provisória bombástica.
O Brasil começa a esperar com ansiedade o curioso desfecho de um debate que ganha espaço nos corredores do Legislativo.
Antes, uma adendo: repórteres experientes que cobriram o Congresso durante anos não têm dúvidas de que o prédio de Niemeyer na Praça dos Três Poderes escreve uma novela por dia. Se fosse ao ar seria imbatível em audiência.
O deputado Alexandre Frota lança há dias nas redes sociais um sinopse explosiva. Diz ele que flagrou uma deputada "conservadora e casada" praticando o chamado "canguru perneta" no escurinho de uma discreta salinha de uma das comissões da Câmara.
"Canguru perneta" foi uma expressão usada no seriado "Sai de Baixo" que, com o tempo, virou apelido de uma posição sexual que não está no tutorial do Kama Sutra. A modalidade é própria para os apressados, aqueles que por circunstâncias têm que dar uma "rapidinha". Mas atenção: o CP não é pra qualquer um. Exige elasticidade e precauções; para evitar acidente, a mulher, que estará equilibrada em uma perna só e a outra sobre o ombro do felizardo, deve ficar encostada em uma parede; o homem deve ser cavalheiro e não abusar do ritmo, sempre lembrando que a parceira estará temporariamente manca.
Existe uma variação: o "canguru perneta invertido", quando a mulher fica de costas para o parceiro. É coisa para atletas, convém não arriscar.
Frota não revela o nome da deputada e também não identifica o deputado que praticava essa coalizão nada partidária no breve intervalo do debate das grandes questões nacionais. O que se diz é que, na Câmara, até o mais carola da mais religiosa bancada sabe quem é a dupla aeróbica que competiu na categoria "canguru perneta" em 1 minuto e dez segundos sem barreiras.
Ódio na rede: Kate Beckinsale é criticada por posar de biquíni. Veja a resposta da atriz
por Clara S. Britto
A atriz Kate Beckinsale, 46 anos, publicou no Instagram uma foto em biquíni.
Foi o que bastou para ser xingada de "muito velha" para mostrar o corpo.
Embora em ótima forma, ela foi criticada por mulheres e homens. "Velha procurando chamar atenção", comentou uma seguidora. "Quando a calcinha da vovó voltou em grande estilo ??", ironizou um leitor
A grande maioria dos seguidores elogiou a foto.
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Kate Beckinsale/Instagram/Reprodução |
E Kate Beckinsale não se abalou: como resposta aos preconceituosos ela publicou no Insta mais cinco fotos em biquíni.
Na Time: os melhores filmes do ano...
por Ed Sá
Tão certo quanto os envelopínhos de carteiros, funcionários das empresas de gás, eletricidade, água, entregadores de jornal etc são as listas de fim de ano que a mídia se dedica a fazer. É um tal de os melhores livros, as melhores músicas, as melhores pessoas...
A Time listou os melhores filmes de 2019 na visão dos seus editores.
1 - “Dor e Glória“, dirigido por Pedro Almodóvar.
2 - “O Irlandês”, de Martin Scorsese.
3- “Era Uma Vez em… Hollywood”, de Quentin Tarantino.
4 - “História de um Casamento”, dirigido por Noah Baumbach.
5 - “Adoráveis Mulheres”, de Greta Gerwig.
6 - “Parasita”, de Bong Joon-ho.
7- “Entre Facas e Segredos”, de Rian Johnson.
8- “Meu Nome é Dolemite”, de Craig Brewer.
9 - "Um Lindo Dia na Vizinhança”, de Marielle Heller.
10 - “As Golpistas”, de Lorene Scafaria.
Tão certo quanto os envelopínhos de carteiros, funcionários das empresas de gás, eletricidade, água, entregadores de jornal etc são as listas de fim de ano que a mídia se dedica a fazer. É um tal de os melhores livros, as melhores músicas, as melhores pessoas...
A Time listou os melhores filmes de 2019 na visão dos seus editores.
1 - “Dor e Glória“, dirigido por Pedro Almodóvar.
2 - “O Irlandês”, de Martin Scorsese.
3- “Era Uma Vez em… Hollywood”, de Quentin Tarantino.
4 - “História de um Casamento”, dirigido por Noah Baumbach.
5 - “Adoráveis Mulheres”, de Greta Gerwig.
6 - “Parasita”, de Bong Joon-ho.
7- “Entre Facas e Segredos”, de Rian Johnson.
8- “Meu Nome é Dolemite”, de Craig Brewer.
9 - "Um Lindo Dia na Vizinhança”, de Marielle Heller.
10 - “As Golpistas”, de Lorene Scafaria.
quarta-feira, 4 de dezembro de 2019
Uma declaração de amor à língua portuguesa • Por Roberto Muggiati
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Monica Villela lança o livro "A Língua Portuguesa como Ativo Político". Foto: Divulgação |
Vida que segue, Manchete deu no que deu e – quando eu ainda me encontrava no retiro que o Alberto (de Carvalho) apelidou de Santa Genoveva – Monica partiu para o mundo. Atuou como redatora e apresentadora da Deutsche Welle, em Colônia, Alemanha. De 1999 a 2005 foi redatora, apresentadora, gerente de projetos e encarregada de comunicação interna do Serviço Brasileiro da BBC, em Londres. A partir de 2006, passou a chefiar a redação da ONU News em língua portuguesa, em Nova York. Entre 2015 e 2016, foi diretora do Centro de Informação das Nações Unidas no México, com atuação em Cuba e na República Dominicana. Em 2018, foi indicada porta-voz de María Fernanda Espinosa, a primeira mulher da América Latina e Caribe a presidir a Assembleia Geral das Nações Unidas, e a quarta do mundo. Em meio a esse trabalho todo, achou tempo para se formar Doutora em Ciências Políticas pela Universidade Aberta de Portugal e Mestre em Linguística e Ciências Políticas pela Universidade Duisburg-Essen, na Alemanha.
Nesse exílio voluntário de mais de vinte anos, Monica Villela Grayley não se afastou da língua-mãe; ao contrário, aprofundou o conhecimento e a relação afetiva com o português, voltando-se para o grande universo da lusofonia. Fruto dessa paixão, escreveu o livro A Língua Portuguesa como Ativo Político, que vai lançar no Rio de Janeiro na segunda-feira, dia 9, às 17 horas, no Centro Cultural do Poder Judiciário.
Monica descreve o seu método de pesquisa: “Observei e estudei casos de falantes nativos, pessoas que usam o português como língua de herança, como língua estrangeira, como língua segunda. Analisei a situação do português nas diásporas e como alguns pais, no exterior, se esforçam para que os filhos falem e escrevam na norma culta. Conheci também casos de formadores que desistem do esforço por falta de apoio pedagógico onde vivem”. E ela sintetiza: “Falar português é pertencer a uma pátria virtual e universal. A Língua Portuguesa oferece um mundo a ser navegado com curiosidade, propriedade e estratégia”.
Os Brasileiros do Ano: tem mas acabou
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Foto: Reprodução vercapas.com |
Na Istoé dessa semana, os Brasileiros do Ano.
Segundo a escolha da revista, são Luan Santana, Rodrigo Maia, Marina Ruy Barbosa, João Dória, Deltan Dallagnol, Jô Soares e Paola Oliveira. No miolo, há outros eleitos que não estão em destaque na face principal da capa dupla, como José Luís Datena.
Dificilmente essas figuras se juntariam para tomar um cafezinho quanto mais para uma capa. É uma montagem, naturalmente. Estranha montagem. Repare que alguns homenageados flutuam. A faixa dourada, aparentemente um toque imperial, é a breguice em forma de design. Alguns estão fora de linha, espichados ou achatados. Mas todos são solidários no desastre visual. A maior "vítima" da capa foi Marina Ruy Barbosa. As redes sociais não perdoaram e compararam a atriz com a ruiva Jean Grey, dos X-Men, que é capaz de voar.
Um internauta mais crítico fez um apelo à direção da Istoé:
terça-feira, 3 de dezembro de 2019
Brasil leva ferro: Tio Trump faz bullying com Bolsonaro
por O.V.Pochê
Alguém denuncie a atual relação Brasil X Estados Unidos ao Estatuto da Criança e do Adolescente.
Trata-se de um caso típico de assédio moral e de bullying por parte de Donald Trump contra Bolsonaro. Tão grave que o presidente brasileiro já pode pedir ajuda ao movimento "Me Too".
Para usar um tipo de metáfora que o Planalto gosta, o presidente brasileiro foi seduzido e abandonado. É o otário nas mãos do malandro. É a vítima indefesa diante do abusador.
Depois de adiar a entrada do Brasil na OCDE, de manter o embargo à carne e limitar compra de açúcar brasileiro, de exigir que o Brasil importe mais trigo americano e de boicotar a OMC - a única organização que ainda controla esses abusos -, Trump anuncia taxação para as exportações brasileiras de aço e alumínio.
Bolsonaro, que, além disso tudo, acabou com a exigência sem contrapartida de visto para americanos que vêm ao Brasil, diz apenas que tem "canal aberto" com o presidente dos Estados Unidos e que vai ligar para ele.
Ainda não ligou. Um telefonema de Bolsonaro para Trump é um evento que leva tempo e mobiliza várias pessoas. Nem o americano fala português nem o brasileiro entende xongas de inglês.
Sintam o drama. Primeiro, o Planalto liga para o linha direta de Trump, o "canal aberto". Ao ver o nome "Bolzonaro" na tela do celular, o americano diz que está entrando em um túnel e faz um barulho de chiadeira.
A ligação cai.
O Planalto pede ajuda à embaixada do Brasil em Washington. O embaixador disca para o telefone da Casa Branca e ouve instruções: "Se vai pedir empréstimo consignado tecle 1"; "se quiser ajuda da CIA para reprimir manifestações tecle 2"; "se quiser ouvir salmo do dia tecle 3"; "se vai pedir para extraditar Lula tecle 4"; "se quiser saber onde está Queiroz tecle 5"; "se vai vender mamadeira de piroca tecle 6"; se quiser falar com a faxineira diarista tecle 6".
A tentativa seguinte é pedir para Eduardo Bolsonaro, o quase-embaixador, ligar para o Salão Oval. A secretária tenta mas não consegue entender o inglês do rapaz. Acha que é um afegão xingando Trump e a ligação é transferida para a CIA.
A solução é montar uma força-tarefa no Planalto e outra na Casa Branca para viabilizar a ligação. E encontrar tempo na agenda de Trump. Uma ligação dessas entre dois monoglotas leva horas, mesmo que seja apenas para dizer "oi, tudo beleza". Além disso, a Casa Branca precisará de dois tradutores: um para entender o português do Bolsonaro e outro para passar a conversa para o inglês de vendedor de loteamento clandestino falado por Trump.
Embora os poucos telefonemas de Bolsonaro para Trump tenham sido desimportantes, uma fonte da Casa Branca revela que o expediente é praticamente encerrado na firma para o complicado diálogo dos dois presidentes.
Por isso, os assessores já declararam que Trump só tem espaço na agenda para atender ao celular do brasileiro a partir do dia 25 de setembro de 2021.
Alguém denuncie a atual relação Brasil X Estados Unidos ao Estatuto da Criança e do Adolescente.
Trata-se de um caso típico de assédio moral e de bullying por parte de Donald Trump contra Bolsonaro. Tão grave que o presidente brasileiro já pode pedir ajuda ao movimento "Me Too".
Para usar um tipo de metáfora que o Planalto gosta, o presidente brasileiro foi seduzido e abandonado. É o otário nas mãos do malandro. É a vítima indefesa diante do abusador.
Depois de adiar a entrada do Brasil na OCDE, de manter o embargo à carne e limitar compra de açúcar brasileiro, de exigir que o Brasil importe mais trigo americano e de boicotar a OMC - a única organização que ainda controla esses abusos -, Trump anuncia taxação para as exportações brasileiras de aço e alumínio.
Bolsonaro, que, além disso tudo, acabou com a exigência sem contrapartida de visto para americanos que vêm ao Brasil, diz apenas que tem "canal aberto" com o presidente dos Estados Unidos e que vai ligar para ele.
Ainda não ligou. Um telefonema de Bolsonaro para Trump é um evento que leva tempo e mobiliza várias pessoas. Nem o americano fala português nem o brasileiro entende xongas de inglês.
Sintam o drama. Primeiro, o Planalto liga para o linha direta de Trump, o "canal aberto". Ao ver o nome "Bolzonaro" na tela do celular, o americano diz que está entrando em um túnel e faz um barulho de chiadeira.
A ligação cai.
O Planalto pede ajuda à embaixada do Brasil em Washington. O embaixador disca para o telefone da Casa Branca e ouve instruções: "Se vai pedir empréstimo consignado tecle 1"; "se quiser ajuda da CIA para reprimir manifestações tecle 2"; "se quiser ouvir salmo do dia tecle 3"; "se vai pedir para extraditar Lula tecle 4"; "se quiser saber onde está Queiroz tecle 5"; "se vai vender mamadeira de piroca tecle 6"; se quiser falar com a faxineira diarista tecle 6".
A tentativa seguinte é pedir para Eduardo Bolsonaro, o quase-embaixador, ligar para o Salão Oval. A secretária tenta mas não consegue entender o inglês do rapaz. Acha que é um afegão xingando Trump e a ligação é transferida para a CIA.
A solução é montar uma força-tarefa no Planalto e outra na Casa Branca para viabilizar a ligação. E encontrar tempo na agenda de Trump. Uma ligação dessas entre dois monoglotas leva horas, mesmo que seja apenas para dizer "oi, tudo beleza". Além disso, a Casa Branca precisará de dois tradutores: um para entender o português do Bolsonaro e outro para passar a conversa para o inglês de vendedor de loteamento clandestino falado por Trump.
Embora os poucos telefonemas de Bolsonaro para Trump tenham sido desimportantes, uma fonte da Casa Branca revela que o expediente é praticamente encerrado na firma para o complicado diálogo dos dois presidentes.
Por isso, os assessores já declararam que Trump só tem espaço na agenda para atender ao celular do brasileiro a partir do dia 25 de setembro de 2021.
segunda-feira, 2 de dezembro de 2019
Mídia: ira federal contra a Folha de São Paulo
Bolsonaro ataca a Folha desde a campanha eleitoral. O jornal paulistano não é o único alvo, junta-se a outros veículos e jornalistas frequentemente agredidos, mas é agora o foco principal da ira federal. O capitão inativo proibiu o governo de assinar a Folha e declarou boicote às empresas que anunciam no jornal. Significa pouco para o jornal que tem mais de 300 mil assinantes e mais de cinco mil anunciantes. O arroubo autoritário e o incômodo com matéria sobre Marielle Franco, o caso Queiroz, as rachadinhas, o desvio de recursos do partido, o PSL, pelo qual foi eleito, o levam, contudo, a ferir princípios democráticos.
Leia o Editorial da Folha de São Paulo (30-11-2019)
"FANTASIA DE IMPERADOR"
"Jair Bolsonaro não entende nem nunca entenderá os limites que a República impõe ao exercício da Presidência. Trata-se de uma personalidade que combina leviandade e autoritarismo.
Será preciso então que as regras do Estado democrático de Direito lhe sejam impingidas de fora para dentro, como os limites que se dão a uma criança. Porque ele não se contém, terá de ser contido —pelas instituições da República, pelo sistema de freios e contrapesos que, até agora, tem funcionado na jovem democracia brasileira.
O Palácio do Planalto não é uma extensão da casa na Barra da Tijuca que o presidente mantém no Rio de Janeiro. Nem os seus vizinhos na praça dos Três Poderes são os daquele condomínio.
A sua caneta não pode tudo. Ela não impede que seus filhos sejam investigados por deslavada confusão entre o que é público e o que é privado. Não transforma o filho, arauto da ditadura, em embaixador nos Estados Unidos.
Sua caneta não tem o dom de transmitir aos cidadãos os caprichos da sua vontade e de seus desejos primitivos. O império dos sentidos não preside a vida republicana.
Quando a Constituição afirma que a legalidade, a impessoalidade e a moralidade governam a administração pública, não se trata de palavras lançadas ao vento numa “live” de rede social.
A Carta equivale a uma ordem do general à sua tropa. Quem não cumpre deve ser punido. Descumpri-la é, por exemplo, afastar o fiscal que lhe aplicou uma multa. Retaliar a imprensa crítica por meio de medidas provisórias.
Ou consignar em ato de ofício da Presidência a discriminação a um meio de comunicação, como na licitação que tirou a Folha das compras de serviços do governo federal publicada na última quinta (28).
Igualmente, incitar um boicote contra anunciantes deste jornal, como sugeriu Bolsonaro nesta sexta-feira (29), escancara abuso de poder político.
A questão não é pecuniária, mas de princípios. O governo planeja cancelar dezenas de assinaturas de uma publicação com 327.959 delas, segundo os últimos dados auditados. Anunciam na Folha cerca de 5.000 empresas, e o jornal terá terminado o ano de 2019 com quase todos os setores da economia representados em suas plataformas.
Prestes a completar cem anos, este jornal tem de lidar, mais uma vez, com um presidente fantasiado de imperador. Encara a tarefa com um misto de lamento e otimismo.
Lamento pelo amesquinhamento dos valores da República que esse ocupante circunstancial da Presidência patrocina. Otimismo pela convicção de que o futuro do Brasil é maior do que a figura que neste momento o governa."
Leia o Editorial da Folha de São Paulo (30-11-2019)
"FANTASIA DE IMPERADOR"
"Jair Bolsonaro não entende nem nunca entenderá os limites que a República impõe ao exercício da Presidência. Trata-se de uma personalidade que combina leviandade e autoritarismo.
Será preciso então que as regras do Estado democrático de Direito lhe sejam impingidas de fora para dentro, como os limites que se dão a uma criança. Porque ele não se contém, terá de ser contido —pelas instituições da República, pelo sistema de freios e contrapesos que, até agora, tem funcionado na jovem democracia brasileira.
O Palácio do Planalto não é uma extensão da casa na Barra da Tijuca que o presidente mantém no Rio de Janeiro. Nem os seus vizinhos na praça dos Três Poderes são os daquele condomínio.
A sua caneta não pode tudo. Ela não impede que seus filhos sejam investigados por deslavada confusão entre o que é público e o que é privado. Não transforma o filho, arauto da ditadura, em embaixador nos Estados Unidos.
Sua caneta não tem o dom de transmitir aos cidadãos os caprichos da sua vontade e de seus desejos primitivos. O império dos sentidos não preside a vida republicana.
Quando a Constituição afirma que a legalidade, a impessoalidade e a moralidade governam a administração pública, não se trata de palavras lançadas ao vento numa “live” de rede social.
A Carta equivale a uma ordem do general à sua tropa. Quem não cumpre deve ser punido. Descumpri-la é, por exemplo, afastar o fiscal que lhe aplicou uma multa. Retaliar a imprensa crítica por meio de medidas provisórias.
Ou consignar em ato de ofício da Presidência a discriminação a um meio de comunicação, como na licitação que tirou a Folha das compras de serviços do governo federal publicada na última quinta (28).
Igualmente, incitar um boicote contra anunciantes deste jornal, como sugeriu Bolsonaro nesta sexta-feira (29), escancara abuso de poder político.
A questão não é pecuniária, mas de princípios. O governo planeja cancelar dezenas de assinaturas de uma publicação com 327.959 delas, segundo os últimos dados auditados. Anunciam na Folha cerca de 5.000 empresas, e o jornal terá terminado o ano de 2019 com quase todos os setores da economia representados em suas plataformas.
Prestes a completar cem anos, este jornal tem de lidar, mais uma vez, com um presidente fantasiado de imperador. Encara a tarefa com um misto de lamento e otimismo.
Lamento pelo amesquinhamento dos valores da República que esse ocupante circunstancial da Presidência patrocina. Otimismo pela convicção de que o futuro do Brasil é maior do que a figura que neste momento o governa."
Deu no Portal Imprensa: recuperação judicial da Abril prejudica jornalistas
A Lei da Recuperação Judicial foi criada em 2005, como projeto do Congresso que o governo Lula sancionou. O objetivo era permitir a empresas em dificuldades sair de crises financeiras. Quase 20 anos depois, houve aumento no número de corporações em situação falimentar e redução no índice de pagamentos aos credores.
Na maioria dos casos, os trabalhadores foram os maiores prejudicados.
A Abril em recuperação judicial é um desses exemplos: verbas rescisórias acima de R$ 250 mil só serão pagas com deságio. Um ex-funcionário mais antigo que tenha indenização que ultrapasse R$ 350 mil será ressarcido em 8% e a prestações. Isso sem falar no atraso que envolve os pagamentos.
Segundo matéria do Portal Imprensa, a recuperação judicial também protege a Abril em casos de processos contra jornalistas motivados por reportagens. Caso de André Rizek, que foi obrigado a pagar R$ 310 mil a personagem de uma matéria sobre cocaína no futebol publicada na Placar em 2001. Na época, informa o Portal Imprensa, "Rizek teria se oposto à publicação dos nomes e das fotos dos jogadores, que eram menores de idade. Mas a chefia o teria contrariado e a reportagem acabou publicada com seu nome".
LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO PORTAL IMPRENSA, AQUI
Reginaldo Leme: domingo no sofá...
Reprodução |
A postagem acima viralizou nas redes sociais. Reginaldo Leme assiste ao GP de Abu Dhabi, a última prova de F1 da temporada. Durante mais de 40 anos, o comentarista estave longe do sofá nesses momentos. Ou fazia a cobertura ao vivo no circuito ou participava das transmissão no estúdio, quando a Rede Globo optava por não enviar equipe ao exterior.
O passaralho gigante que ataca todas as empresas do grupo tem vitimado profissionais mais experientes e, em consequência, a qualidade jornalística. Os mais novos levarão um tempo natural para construir referências em embasar análises. A verdade é que a Globo detém os direitos da F1, mas parece não conferir a mesma importância ao evento. Com a ausência de pilotos brasileiros no circuito, a audiência se limita aos aficionados. O público que costumava seguir Senna e Piquet ou Barrichello e Massa há muito saiu da frente da TV. Um sinal desse desinteresse é dado pela própria Globo ao longo da temporada ao abrir mão de alguns GPs cedendo a transmissão ao SporTV ou, mesmo quando transmite ao vivo, ao cortar o sinal antes da tradicional cerimônia do pódio e assim adiantando a entrada de outra atração, aparentemente para evitar queda de audiência. Muitos dos profissionais demitidos pela Globo estão se vinculando à CNN Brasil, canal que estreará no ano que vem. Reginaldo Leme ainda não falou sobre o futuro, se irá para canal no You Tube ou se aceitará propostas de emissoras abertas ou por assinatura. Dificilmente ficará no pit stop do sofá por muito muito tempo.
domingo, 1 de dezembro de 2019
sábado, 30 de novembro de 2019
Sacha Baron Cohen que se cuide. O Bozonaro pode ganhar o papel do "General Alardeen" do filme "O Ditador"
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Hollywood se agita: Sacha Baron Cohen pode perder papel para Bozonaro. |
por O.V. Pochê
Segundo o portal UOL, Leonardo DiCaprio acaba de divulgar nota negando ter financiado as ONGs acusadas, segundo obscura investigação, de suposto envolvimento em queimadas na Amazônia.
Bozonaro declarou que o ator paga organizações para botar fogo na floresta. Claro que a "denúncia" foi recebida no mundo como mais uma diarreia mental do capitão inativo. Mesmo assim, DiCaprio se deu ao trabalho de negar ter dado dinheiro às ONGs dos brigadistas de Alter do Chão, alvo da investigação. "Apesar de merecerem apoio, nós não financiamos as organizações", disse DiCaprio. O ator elogiou o povo brasileiro "que trabalha para salvar sua herança cultural e natural". Disse ainda que tem orgulho de estar ao lado de grupos que as protegem.
Com o Brasil repercutindo em Hollywood aumentam as chances do Bozonaro ser convidado para atuar na sequência do filme "O Ditador" em substituição a Sacha Baron Cohen no papel do General Alardeen, o déspota da República de Wadiya.
As redes sociais reagiram ao Bozonaro com um titanic de memes. Algumas mostram que Leonardo DiCaprio usou como lança-chamas para incendiar a floresta nada menos do que uma mamadeira de piroca, outra das invenções do elemento atualmente no poder.
Fotomemória da redação: Nova Bloch em tarde de comemoração...
Há poucos dias, Juliana Battestin, que era recepcionista da NB, postou no Facebook a foto acima que registra uma comemoração da redação.
São lembranças de bons momentos como esse que ficaram após o fim da Bloch Editores.
Infelizmente, a memória também guarda desgostos. Ano que vem, a Massa Falida completa inacreditáveis 20 anos. Na expectativa de receber com maior rapidez suas indenizações, muitos ex-funcionários fizeram acordos, a partir de 2004, concordando em reduzir suas pretensões. De fato, a maioria recebeu o valor principal da indenização. O mesmo não aconteceu com a correção monetária devida. Foram pagas algumas parcelas e pelo menos há quatro anos a Massa Falida da Bloch cessou os pagamentos. Sob a liderança de José Carlos de Jesus, presidente da Comissão dos Ex-Empregados da Bloch Editores (CEEB), os colegas da empresa falida intensificam a mobilização para reivindicar justiça.
A lei determina que o pagamento das indenizações trabalhistas deve ser a prioridade das Massas Falidas.
Imaginem se não fosse.
quarta-feira, 27 de novembro de 2019
Revista Veja é condenada em segunda instância por publicar reportagem falsa
A Veja perdeu mais uma causa na Justiça. Dessa vez, por plantar notícia falsa. A decisão em segunda instância é do Tribunal de Justiça de São Paulo, que condenou a revista a indenizar o ex-ministro da Saúde Alexandre Padrilha e sua mulher, Thássia Alves.
A matéria do jornalista da ultra direita Felipe Moura Brasil, foi publicada em 2015 sob o título "Farsa: Padilha turbina SUS para parto da filha! Petista dispensou plantonistas e chamou médicos de sua confiança”
Foi constatado que a reportagem era inteiramente mentirosa, fruto de invenção do repórter da Veja.
A notícia completa está na Rede Brasil Atual.
A matéria do jornalista da ultra direita Felipe Moura Brasil, foi publicada em 2015 sob o título "Farsa: Padilha turbina SUS para parto da filha! Petista dispensou plantonistas e chamou médicos de sua confiança”
Foi constatado que a reportagem era inteiramente mentirosa, fruto de invenção do repórter da Veja.
A notícia completa está na Rede Brasil Atual.
terça-feira, 26 de novembro de 2019
Fatos: o Brasil rebobinado...
por José Esmeraldo Gonçalves (*)
Dê uma olhada nessa edição da Fatos. Você provavelmente vai achar que lembra o filme Feitiço do Tempo, quando o dia da marmota se repete como farsa.
Na capa, o general Newton Cruz era apresentado como "o guru da nova direita". A ditadura acabara de ser enterrada, a viuvada não queria largar o osso e tentava influir na política. Conseguiram, de certa forma. Mas levaram exatos 34 anos. O guru não foi o Cruz de ontem e atende pelo nome do Bolsonaro de hoje. A matéria de Luiz Carlos Sarmento e Carlos Eduardo Beherensdorf vinha com um título premonitório; "Direita: por dentro do ovo da serpente". Um "manifesto" lançado por aquela ultra direita, reproduzido pela revista, poderia ser divulgado pelo Planalto hoje. Veja o trecho sobre a ameaça do "dragão do comunismo": "Liberais oportunistas, populistas embusteiros, assessores da desordem, minorias vociferantes, idealistas do ódio, vingativo vorazes e aliciadores das massam tentam encetar uma campanha de desmoralização das Forças Armadas".
Um assassinato também assombrava o governo. Apesar das tentativas de arquivar a investigação, o delegado Ivan Vasques insistia em ouvir agentes do SNI supostamente envolvidos no caso Alexandre von Baumgarten, ex-colaborador da ditadura. A suspeita era que sua morte tinha carimbo oficial: queima de arquivo.
De Brasília, vinha uma matéria sobre a desintegração dos partidos políticos. Não, o PSL de Bolsonaro ainda não existia. As siglas em crise eram PMDB, PFL, PDS.
Em entrevista às repórteres Lenira Alcure e Maria Luíza Silveira, Jair Menegueli, presidente da CUT, profetizava: "Trocamos a ditadura militar pela ditadura econômica". E o neoliberalismo nem era a palavra da moda.
A editoria de Cultura da Fatos publicava a crítica da peça "A Filha do Presidente", assinada por Marli Berg. Patricia Pillar fazia Paula, a filha, e Ari Leite encarnava o presidente Bermudez, descrito como "rico em palavrões e grosserias estereotipadas". Não, o autor Hersch Basbaum nem sonhava com o atual clã que manda no país.
O repórter Rodolfo de Bonis visitou prisões do Rio de Janeiro. a matéria é dramática. Superlotação, falta de assistência jurídica, violência etc. E abordava um tema que os diretores dos presídios evitavam admitir: a separação de presos. Falange Vermelha de um lado Falange Jacaré de outro e celas para protestantes, gays, "faxinas" e "alienígenas", como a direção classificava os estrangeiros. Um preso também deu uma declaração premonitória ao se referir a um tipo de criminoso que, segundo ele, deveria estar na cadeia e não está: "São os bacanas das contas na Suíça".
Na editoria de Economia, o destaque era uma matéria de Rosângela Fernandes sobre as "moedas" que os abonados usavam para escapar da inflação enquanto o populacho sofria com o cruzeiro debilitado e corroendo salários. Eram "moedas" que não faziam parte do dia a dia das pessoas, mas compravam apartamentos, carros, terrenos e passagens para Miami. ORTN (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional), UPC ( Unidade Padrão de Capital) só frequentavam bolsos de fino trato. O dólar no câmbio paralelo também era o seguro contra a inflação adotado da classe média alta pra cima e longe do alcance da geral do Maracanã. Esta tinha que se virar com o cruzeiro desvalorizado diariamente. Um dos entrevistados para a matéria foi Paulo Guedes. Ele mesmo, o atual ministro da Economia, então vice-presidente do Ibmec (Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais). Ontem, Paulo Guedes impulsou a alta do dólar - extremamente lucrativa para os especuladores - ao sonhar com o AI-5 e declarar que não se preocupa com o câmbio que, não por acaso, está fazendo Brasil queimar reservas. Quem sabe, além do ato institucional ditadura, Guedes queira o Brasil, mais adiante, de volta ao controle do FMI.
A última página da Fatos era da seção Hip Hop, de Cláudio Paiva, que fazia uma bem-humorada crítica dos acontecimentos. O Congresso estava polarizado, então, em torno da discussão sobre a adoção ou não do segundo turno para as eleições. Entre as fotocharges, uma era sobre o clima de briga no plenário; a outra sobre a entrada a la Patton do general Newton Cruz na política. Era piada. Mas o dia das armas como argumentos estava para chegar.
Não parece que é hoje?
(*) Fui editor-executivo da Fatos e atesto que todas as referências acima foram colhidas de uma mesma edição da revista, a de número 12, que foi para as bancas em 10 de junho de 1995.
Dê uma olhada nessa edição da Fatos. Você provavelmente vai achar que lembra o filme Feitiço do Tempo, quando o dia da marmota se repete como farsa.
Na capa, o general Newton Cruz era apresentado como "o guru da nova direita". A ditadura acabara de ser enterrada, a viuvada não queria largar o osso e tentava influir na política. Conseguiram, de certa forma. Mas levaram exatos 34 anos. O guru não foi o Cruz de ontem e atende pelo nome do Bolsonaro de hoje. A matéria de Luiz Carlos Sarmento e Carlos Eduardo Beherensdorf vinha com um título premonitório; "Direita: por dentro do ovo da serpente". Um "manifesto" lançado por aquela ultra direita, reproduzido pela revista, poderia ser divulgado pelo Planalto hoje. Veja o trecho sobre a ameaça do "dragão do comunismo": "Liberais oportunistas, populistas embusteiros, assessores da desordem, minorias vociferantes, idealistas do ódio, vingativo vorazes e aliciadores das massam tentam encetar uma campanha de desmoralização das Forças Armadas".
Um assassinato também assombrava o governo. Apesar das tentativas de arquivar a investigação, o delegado Ivan Vasques insistia em ouvir agentes do SNI supostamente envolvidos no caso Alexandre von Baumgarten, ex-colaborador da ditadura. A suspeita era que sua morte tinha carimbo oficial: queima de arquivo.
De Brasília, vinha uma matéria sobre a desintegração dos partidos políticos. Não, o PSL de Bolsonaro ainda não existia. As siglas em crise eram PMDB, PFL, PDS.
Em entrevista às repórteres Lenira Alcure e Maria Luíza Silveira, Jair Menegueli, presidente da CUT, profetizava: "Trocamos a ditadura militar pela ditadura econômica". E o neoliberalismo nem era a palavra da moda.
A editoria de Cultura da Fatos publicava a crítica da peça "A Filha do Presidente", assinada por Marli Berg. Patricia Pillar fazia Paula, a filha, e Ari Leite encarnava o presidente Bermudez, descrito como "rico em palavrões e grosserias estereotipadas". Não, o autor Hersch Basbaum nem sonhava com o atual clã que manda no país.
O repórter Rodolfo de Bonis visitou prisões do Rio de Janeiro. a matéria é dramática. Superlotação, falta de assistência jurídica, violência etc. E abordava um tema que os diretores dos presídios evitavam admitir: a separação de presos. Falange Vermelha de um lado Falange Jacaré de outro e celas para protestantes, gays, "faxinas" e "alienígenas", como a direção classificava os estrangeiros. Um preso também deu uma declaração premonitória ao se referir a um tipo de criminoso que, segundo ele, deveria estar na cadeia e não está: "São os bacanas das contas na Suíça".
Na editoria de Economia, o destaque era uma matéria de Rosângela Fernandes sobre as "moedas" que os abonados usavam para escapar da inflação enquanto o populacho sofria com o cruzeiro debilitado e corroendo salários. Eram "moedas" que não faziam parte do dia a dia das pessoas, mas compravam apartamentos, carros, terrenos e passagens para Miami. ORTN (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional), UPC ( Unidade Padrão de Capital) só frequentavam bolsos de fino trato. O dólar no câmbio paralelo também era o seguro contra a inflação adotado da classe média alta pra cima e longe do alcance da geral do Maracanã. Esta tinha que se virar com o cruzeiro desvalorizado diariamente. Um dos entrevistados para a matéria foi Paulo Guedes. Ele mesmo, o atual ministro da Economia, então vice-presidente do Ibmec (Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais). Ontem, Paulo Guedes impulsou a alta do dólar - extremamente lucrativa para os especuladores - ao sonhar com o AI-5 e declarar que não se preocupa com o câmbio que, não por acaso, está fazendo Brasil queimar reservas. Quem sabe, além do ato institucional ditadura, Guedes queira o Brasil, mais adiante, de volta ao controle do FMI.
A última página da Fatos era da seção Hip Hop, de Cláudio Paiva, que fazia uma bem-humorada crítica dos acontecimentos. O Congresso estava polarizado, então, em torno da discussão sobre a adoção ou não do segundo turno para as eleições. Entre as fotocharges, uma era sobre o clima de briga no plenário; a outra sobre a entrada a la Patton do general Newton Cruz na política. Era piada. Mas o dia das armas como argumentos estava para chegar.
Não parece que é hoje?
(*) Fui editor-executivo da Fatos e atesto que todas as referências acima foram colhidas de uma mesma edição da revista, a de número 12, que foi para as bancas em 10 de junho de 1995.
segunda-feira, 25 de novembro de 2019
Abril despedaçada. Revista Exame vai a leilão
Empresa em recuperação judicial, a Abril realizará no dia 5 de dezembro o leilão da marca Exame.
O lance mínimo é de R$ 72,374 milhões. A Exame foi fundada em 1967, como encarte experimental em publicações da Abril e, em 1971, ganhou o status de revista. Em um mercado que se esfacelou, mantém a edição impressa, além do site de economia e negócios mais acessado do país, segundo a comScore.
O lance mínimo é de R$ 72,374 milhões. A Exame foi fundada em 1967, como encarte experimental em publicações da Abril e, em 1971, ganhou o status de revista. Em um mercado que se esfacelou, mantém a edição impressa, além do site de economia e negócios mais acessado do país, segundo a comScore.
Por boas causas, calendários analógicos resistem à era digital
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Australianas alunas de veterinária da Universidade de Sidney posam para calendário beneficente 2020. O objetivos é ajudar animais vítimas de maus tratos. Fotos: Black Dog Institute |
O mundo é digital, mas os calendários analógicos resistem. Pelo menos enquanto houver borracharia. Antes, as modelos eram a atração. Agora, pessoas comuns tiram as roupas por boas causas. Defesa dos animais, ajuda a clubes de futebol, preservação do meio ambiente e ações de ajuda a portadores de doenças incapacitantes estão entre os motivos para ilustrar folhinhas sensuais. O jornal Extra, hoje, publica uma matéria sobre calendários para 2020, com destaque para aposentados britânicos que posaram pelados para ajudar instituição que cuida de idosos.
No Brasil conservador a onda não pegou, embora alguns pioneiros, como um grupo de atletas, tenham ousado fazer esse tipo de calendário há alguns anos. Boas causas não faltam.
domingo, 24 de novembro de 2019
Dinheiro sujo: música sertaneja lava mais branco?
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Nota reproduzida do Globo, 24-11-2019 |
O pessoal que lava dinheiro é criativo.
Traficantes, sonegadores, milicianos, corruptos em geral, contrabandistas de armas, agiotas, o crime organizado, a turma de políticos da rachadinha etc, todos exploram as mais diversas maneiras de "legalizar" fortunas. Houve um tempo em que a máfia italiana dava preferência a lavar dinheiro montando redes de restaurantes. Hoje são mais sofisticados: investem em construtoras e empresas de coleta de lixo.
O Brasil já registrou alguns flagrantes em algumas dessas modalidades. Mas o chamado leque de opções é vasto. Já houve igreja evangélica denunciada como lavanderia, facilitada pelo fato de dízimo não pagar imposto e a contabilidade nessa área ser ficção. Abrir e fechar lojas também serve para maquiar grana suspeita. Os mais sofisticados usam paraísos fiscais, contas secretas no exterior e empresas de fachada. Adquirir obras de arte é prática adotada no mundo da lavagem mais branca. Comprar do sorteado, por um valor mais alto do que o prêmio, bilhetes de loteria ou talões da megassena e assim "legalizar" dinheiro sujo é jeitinho que já foi aplicado no Brasil.
Novidade é o que está na coluna de Lauro Jardim, no Globo, hoje. A nova estratégia do crime é "investir" em duplas sertanejas.
A música pode não ser grande coisa, mas a máquina de lavar não tem nada de caipira.
Passaralho: jornais demitem jornalistas experientes. Assinantes e leitores deveriam reclamar no Procon... .
O megapassaralho que atacou no Globo e no Extra abalou os jornalistas cariocas. Nas redes sociais, foram muitas as mensagens em solidariedade aos profissionais atingidos por mais uma "reformulação" corporativa idealizada por tecnocratas e que têm um ponto em comum: abrem mão principalmente dos mais competentes e experientes.
Os cortes foram tão amplos que nesse ritmo os dois jornais em breve terão matérias do estagiário tal "supervisionada" pelo estagiário tal.
Os assinantes deviam protestar no Procon. Trata-se de um caso típico de perda de qualidade e de dano ao consumidor.
Os cortes foram tão amplos que nesse ritmo os dois jornais em breve terão matérias do estagiário tal "supervisionada" pelo estagiário tal.
Os assinantes deviam protestar no Procon. Trata-se de um caso típico de perda de qualidade e de dano ao consumidor.
Mídia: livro "Eu Sou Boechat" revela histórias de bastidores da carreira do jornalista
A Panda Books lança em São Paulo, no dia 9 de dezembro, na Livraria da Vila, e no Rio, no dia 11, na Livraria da Travessa, no Shopping Leblon, "Eu Sou Ricardo Boechat". Escrito por Eduardo Barão e Pablo Fernandez, o livro reúne 100 histórias inéditas do jornalista, que morreu em um desastre de helicóptero em fevereiro passado. Os dois autores trabalharam com Boechat e testemunharam muitos desses "causos".
"Eu Sou Ricardo Boechat" é o segundo livro sobre Boechat. Em sua longa carreira ele passou pelo Diário de Notícias, O Globo, Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo , O Dia, redes Globo, SBT e Band e conviveu com centenas de profissionais, incluindo o colunista Ibrahim Sued, de que foi assistente por 14 anos, em vários veículos.
Em junho último, a editora Máquina de Livros lançou "Toca o barco", coletânea com depoimentos de 32 jornalistas que trabalharam com Boechat e também contam histórias de bastidores. A maioria bem-humoradas, típicas de redações e da irreverência do saudoso jornalista.
sábado, 23 de novembro de 2019
Henry Sobel (1944-2019): o rabino que desafiou a ditadura
O rabino Henry Sobel no culto ecumênico para Vladimir Herzog, ao lado do reverendo James Wright e de D. Paulo Evaristo Arns. Foto de Vic Parisi/Reprodução Manchete |
A cerimônia reuniu milhares de pessoas na Sé Catedral de São Paulo. Foto; Vic Parisi |
por José Esmeraldo Gonçalves
O rabino Henry Sobel era um líder religioso que não negava sua voz às questões seculares.
Talvez por isso os jornalistas o procurassem tanto, desde os anos 1970, para opinar sobre temas que iam do divórcio à pena de morte - tópicos discutidos no Brasil daquela época -, e do ecumenismo aos direitos humanos, da violência urbana à educação e a busca pela paz mundial. Com extraordinária cordialidade, atendia a todos os veículos.
Mas os jornalistas também não esquecerão Sobel pela coragem com que se manifestou, em palavras e atitudes, quando a ditadura militar torturou e assassinou Vladimir Herzog, em outubro de 1975, em São Paulo. Ao lado de D. Paulo Evaristo Arns, ele desafiou não apenas o regime autoritário, mas setores da sua própria comunidade. Em versão tosca e construída, os militares alegavam que Herzog havia se suicidado na prisão. Diante disso, e de acordo com os preceitos judaicos, o jornalista deveria ser sepultado em ala separada, na parte externa do cemitério. Henry Sobel recusou-se a assim proceder e venceu as pressões. Herzog repousa na parte interna do Cemitério Israelita do Butantã. A recusa do rabino simbolizou o veemente protesto que denunciou o assassinato do jornalista. Dias depois, ao lado de Paulo Evaristo Arns e do reverendo James Wright, Sobel participou de uma histórica cerimônia ecumênica que reuniu milhares de pessoas na Sé Catedral de São Paulo. Um ato religioso para Herzog, um ato político pela liberdade no Brasil.
A dura luta pela verdade prosseguiu nos anos seguintes. Em 1977, Manchete cobriu mais uma cerimônia ecumênica que lembrava os dois anos do crime e pedia justiça. Mais cedo ou tarde, as verdadeiras circunstâncias da morte de Herzog seriam reveladas, dizia-se no púlpito. O que acabou acontecendo.
A propósito de Henry Sobel, que morreu ontem, aos 75 anos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso postou no twitter uma declaração que retrata bem a participação do rabino na história que ajudou a escrever.
"Foi um bravo na hora difícil", definiu FHC.
sexta-feira, 22 de novembro de 2019
Fotografia: a capa do Gugu... e outros cliques • Por Roberto Muggiati
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Gugu na capa da Manchete e... |
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...um ano depois na Amiga. Fotos de Lena Muggiati |
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Augusto Ruschi e o beijo do beija-flor. Foto de Ricardo Azoury |
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Gabeira na árvore. Foto de Gil Pìnheiro |
O editor de uma revista
ilustrada compete sempre com seus fotógrafos, talvez por sofrer do complexo de
não saber fotografar. Mas nunca faltaram aos editores da Manchete ideias para fotos, algumas até mirabolantes. Quando
Ricardo Azoury foi retratar Augusto Ruschi na sua reserva ecológica do Espírito
Santo, exigi que fizesse uma página dupla com o ambientalista beijando... um
beija-flor. Sorte que o repórter era o Marcelo Auler, mais tirânico que o
editor, e exigiu que Ruschi sustentasse entre os lábios um dedal com água
açucarada até que surgisse um colibri disposto a entrar na brincadeira. A foto
fez o maior sucesso, reproduzida até em pôsteres, outdoors e campanhas
publicitárias.
Gil Pinheiro foi
incumbido de fazer a primeira foto de Fernando Gabeira na sua transição
ideológica do vermelho para o verde. Como de praxe, procurou-me na redação para
saber que tipo de foto eu queria. “O cara não é líder dos verdes? Bota ele em
cima de uma árvore!” Gil era um cumpridor de ordens exemplar. Com surdez
avançada, não conseguia controlar o volume da voz e soltou o berro para cima do
Gabeira: “Companheiro, sobe nessa árvore aí.” O retratado obedeceu prontamente
e Gil voltou para a redação com uma foto maravilhosa do líder ambientalista de
camisa e calça vermelhas contra o fundo verdejante de uma exuberante figueira.
O furor criativo do
editor muitas vezes contagiava o fotógrafo. Foi o caso de Lena Muggiati,
escalada em 1995 para fazer em São Paulo uma matéria com Gugu Liberato, que
pleiteava um canal de TV. Lena - na época sofrendo agudamente da doença do pânico - aventurou-se a atravessar o Viaduto do
Chá até a Praça do Patriarca, o local da megalópole com mais transeuntes por
metro quadrado. Sabia o que queria e encontrou no camelódromo da praça: um
apontador de lápis no formato de um aparelho de TV. O simpático apresentador,
líder absoluto do Ibope na época, mostrou-se muito acessível e se dispôs a
posar com o brinquedinho. A foto deu capa. Um ano depois outro clique da série
foi capa da Amiga, onde o Rei do
Domingo estreava uma coluna. Carregava ainda um comentário irônico sobre a
audácia do jovem de 36 anos que brigava por um canal próprio de TV, para competir
com magnatas como Roberto Marinho e Silvio Santos.
Descanse em paz, Gugu.
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Fotomemória: Alcione, a boneca Marrom. Por Guina Araújo Ramos
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Filha de maestro, Alcione é cantora e instrumentista. Acima, performance no trompete, em 1978. Foto de Guina Araújo Ramos. |
por Guina Araújo Ramos
De repente, fico sabendo que hoje (ontem), 21/11, é dia do aniversário, 72 anos, de Alcione, a Marrom, cantora e compositora de muito sucesso, em todo o Brasil, há décadas.
Bom motivo para trazê-la aos Bonecos da História!
Tive apenas duas oportunidades de fotografar a Marrom.
A primeira, em 23/10/1979, em show bastante elaborado que suponho ter acontecido no Canecão, e o fiz para a Bloch Editores, quase certamente (porque em preto e branco) para a revista Amiga.
Por algum motivo estranho (porque não era comum) restaram nos meus arquivos vários negativos do show, praticamente a cobertura completa, com Alcione usando vários vestidos e em várias performances, incluindo o momento em que toca trompete, o que nunca vi alguma outra cantora brasileira fazer.
Alcione na Mangueira do Futuro - Rio, 1992 - Foto Guina Araújo Ramos |
Volto a encontrá-la somente em 1992 e em condições muito distintas. À época, eu trabalhava para Notícias Shell, veículo corporativo da multinacional, que patrocinava um projeto esportivo na Vila Olímpica da Mangueira, justamente a escola de samba do coração de Alcione. Do evento, em que apoiava a causa e também era homenageada, me restaram dois slides sem muita expressão (e coloco aqui o melhor deles).
MAIS FOTOS NO BLOG BONECOS DA HISTÓRIA, CLIQUE AQUI
quinta-feira, 21 de novembro de 2019
O Kiss no Rio e o triste fim de Justino Martins • Por Roberto Muggiati
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Na mesa de edição da Manchete, sentido horário; Célio Lyra, Roberto Muggiati, Justino Martins e Alberto Carvalho |
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Kiss: noite de hard rock no Rio |
O Kiss vem aí de novo, desta vez para se despedir. A escabrosa banda de hard rock já iniciou sua turnê End of the Road/Fim da Estrada e se apresenta no Brasil em maio de 2020, em Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Ribeirão Preto, Uberlândia e Brasília. O Rio de Janeiro ficou de fora, talvez até para não misturar o momento melancólico do adeus com a lembrança do principal triunfo do grupo, que juntou o maior público da sua carreira no memorável show no Maracanã em 1983. Eu estava lá e guardo uma lembrança aguda da ocasião: foi quando vi o começo da morte de Justino Martins, o homem que criou a revista Manchete no seu formato histórico.
Iniciada em 1952, a semanal ilustrada ficou famosa pela impressão impecável em cores, mas levou anos para encontrar um diretor de redação à altura do seu potencial gráfico. Henrique Pongetti, o primeiro editor, era um cronista, sem nenhum cacoete de “revisteiro”. Veio então Hélio Fernandes, que deu um toque jornalístico à Manchete, mas proibiu a entrada na redação dos irmãos Bloch: Arnaldo, Boris e Adolpho. Acabou demitido. Otto Lara Resende – cronista sem vivência de jornal – ficou um ano na direção, em conflito diário com o que chamou “os Irmãos Karamabloch” (nascidos na Ucrânia, sua alma era mais russa do que judaica). Certa vez, um dos irmãos comprou a bom preço uma batelada de máquinas de escrever. Os outros dois, desconfiados do negócio, se puseram a destroçar as Remingtons no chão da redação.
Arnaldo e Boris morreram em 1957 e 1959 e Adolpho ficou livre para reinar supremo sobre a Manchete. Mas a revista continuava à deriva sem um timoneiro, editada por um triunvirato, fórmula que só diluía as responsabilidades. Adolpho convocou então, para dirigir a Manchete o brilhante correspondente em Paris, o gaúcho Justino Martins. O casamento deu certo, mas a relação seria marcada por amor e ódio – e muita inveja.
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Justino Martins |
Mas tirar o “Índio” da direção da Manchete era uma obsessão do Adolpho e ele voltou à carga em 1975. Dispensou o Justino, disse que precisava dele para criar uma revista de decoração (que nunca saiu), e o homenageou com uma grande feijoada para centenas de pessoas no restaurante da Rua do Russell. Involuntariamente, servi de instrumento para esta jogada maquiavélica do Adolpho. Desde 1972 eu editava a revista em maio, quando Justino tirava férias e ia ao Festival de Cannes. Seguro de que eu poderia assumir o posto, Adolpho me empurrou para a direção da revista, onde fiquei até 1980, quando uma crise de saudosismo levou o Justino de volta à Manchete e eu fiquei como seu vice.
Em junho de 1983, ia ao ar a Rede Manchete de Televisão. Sabiamente, Justino profetizou que a TV viera para sepultar a editora. Uma morte ao mesmo tempo real e simbólica marcou essa transição. Em 10 de agosto de 1983, dois meses depois da estreia da TV, Justino Martins chegou à redação uma terça-feira, lá pelas dez da manhã, era o dia mais calmo, depois do fechamento na segunda e antes da saída da revista nas bancas na quarta. Com sua clássica sacola da Air France a tiracolo, falou comigo, que era o seu “segundo”: “Toma conta das coisas, tchê, que vou fazer um exame no Hospital dos Servidores.” O Servidores era uma referência, o Presidente Figueiredo internou-se lá quando teve sua crise cardíaca, e o diretor, Raymundo Carneiro, era um grande amigo do Adolpho. As notícias não foram nada boas. Justino tinha um câncer de pâncreas fulminante. Duas semanas depois, foi transferido para a Clínica Sorocaba, em Botafogo,
Visitei-o uma vez no Servidores e outra num triste sábado na Clínica Sorocaba. A um punhado de amigos que cercava seu leito, Justino confidenciou: “Estou me sentindo como um soldado diante de um pelotão de fuzilamento.” Morreu no dia seguinte, domingo 28 de agosto. Passados 36 anos, sua fama só fez crescer. Como definiu o livro A Revista no Brasil (Editora Abril, 2000): “Foi o editor que desenvolveu definitivamente a fórmula do que chamou de ‘beleza estética na informação.’” Uma beleza flagrantemente ausente nas revistas de hoje. Mesmo tendo sido o jornalista que mais tempo durou na direção da Manchete, eu sempre julguei e admiti que Justino Martins foi a verdadeira alma da revista.
Senti que o Justino estava morrendo na noite de 18 de junho de 1983, quando fomos assistir ao megashow da banda Kiss no Maracanã, diante do maior público na história do grupo. O espetáculo fazia parte da turnê Creatures of the Night, que promovia o disco do mesmo nome, iniciada seis meses antes nos Estados Unidos e encerrada no Brasil, com shows no Rio, em Belo Horizonte (Mineirão) e em São Paulo (Morumbi).
O carro da Bloch nos apanhou no Leblon (Lena faria as fotos para a cobertura da Manchete) e dali pegamos o Justino e sua filha Valéria, de dezesseis anos, motivo principal da ida ao Maracanã. Valéria era filha do segundo casamento de Justino, com Martha de Garcia, a primeira Miss Brasília. Ironicamente, Adolpho Bloch também casou com uma Miss, a gaúcha Lucy Mendes, Miss Rio Grande.
No portão de sua bela casa da Joatinga, encontrei um Justino soturno e ainda visivelmente abalado com a quase tragédia ocorrida naquela tarde de sábado. Dois pintores que trabalhavam ali quase foram estraçalhados pelos cães de guarda que Justinho mantinha para a segurança da casa. Uma ambulância levou os homens ao hospital Miguel Couto, onde se confirmou a gravidade dos ferimentos. Seguimos praticamente calados no trânsito engarrafado até o Maracanã.
Adentramos o gramado do maior do mundo, onde tínhamos ingressos VIP. Lena postou-se bem à frente do palco, armado no lado do campo conhecido como “a trave do Barbosa”, alusão à derrota para o Uruguai na final da Copa de 50. Fiquei do seu lado para protegê-la da turba ensandecida. O vocalista Gene Simmons, com sua maquiagem grotesca, vomitava uma geleca verde de aparência asquerosa sobre a plateia, fomos contemplados com alguns chuviscos também. Valéria assistia de perto com um grupo de amigas.
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Logo após a morte de Justina Martins, esta placa que foi colocada na redação da Manchete em homenagem ao diretor que criou a revista no seu formato histórico. Uma semana depois, foi retirada. |
Depois de algum tempo, procurei o Justino. Custei a encontra-lo, no seu elegante blazer que nada tinha a ver com tudo aquilo. Recostado junto às grades que cercavam o gramado, pasmem – o Justino dormia. De pé. Um cansaço descomunal parecia ter tomado conta do seu corpo, já àquela altura minado pelo câncer, que o levaria dois meses depois.
terça-feira, 19 de novembro de 2019
O primeiro Zumbi a gente nunca esquece • Por Roberto Muggiati
Manchete em peso compareceu ao enterro de Adolpho Bloch no Cemitério Israelita de Vila Rosali, em São João de Meriti.
Internado num hospital de São Paulo, Adolpho morreu nas primeiras horas do domingo, 19 de novembro de 1995, Dia da Bandeira. “O Rei morreu”, era o pensamento na cabeça dos jornalistas que foram aguardar o corpo para o velório no saguão de entrada do prédio da Bloch no 804 da Rua do Russell. O clichê imemorial não foi completado com o “Viva o Rei!” Adolpho não deixava herdeiro à sua altura. O mais afoito candidato, Oscar Bloch Sigelmann, morrera na véspera do Carnaval daquele ano. Num ano ruim para os Bloch, em agosto, foi a vez da irmã de Adolpho, dona Bela, mãe do Jaquito.
Naquele domingo, fui convocado para dar depoimentos à TV sobre Adolpho, principalmente na Rede Manchete. Ainda ficamos um tempo na redação, esboçando o fechamento da revista naquela segunda-feira – seria quase uma edição especial sobre Adolpho.
Chovia torrencialmente. Fizemos a longa viagem de trinta quilômetros até Vila Rosali – Lena e eu – no carro do casal Norma e Murilo Melo Filho, com direito a motorista particular. A presença de Xuxa (que ganhara fama e acesso à TV Globo graças à Manchete), Angélica, Cristiana Oliveira da novela Pantanal e outras celebridades atraiu a tietagem local, mesmo debaixo do aguaceiro. Para conseguir uma visão melhor, havia gente sentada até no muro do cemitério. Uma pequena multidão de fieis se acotovelava junto ao túmulo de Adolpho Bloch na hora do enterro.
Procurando um ângulo melhor, o fotógrafo Nilton Ricardo subiu num túmulo vizinho e Jeová o fulminou no ato pelo sacrilégio com um tombo quase fatal – Nilton se safou agarrando-se a uma lápide, que cedeu, levando consigo na queda uma meia dúzia de outros fotógrafos.
Do meu lado, Arnaldo Bloch, sobrinho-neto de Adolpho, me explicava o simbolismo da linha férrea que margeia o cemitério. Quando um corpo acaba de ser enterrado passa sempre um trem. Não deu outra: mal os despojos de Adolpho Bloch eram cobertos pela tampa da sepultura, um trem se deslocou lentamente no horizonte como uma longa cobra.
Voltamos de carona com o Mauro Costa, chefe de reportagem da televisão. Ainda chovia forte.
Às dezenove horas começamos o fechamento da revista, que varou a noite. Na capa, um belo retrato de Sérgio Zalis do homem que havia criado a Manchete havia 43 anos.
Os cariocas mais afortunados gozavam as últimas horas de lazer que lhes foram conferidas, pela primeira vez, por Zumbi dos Palmares.
FOTOMEMÓRIA DA REDAÇÃO
Internado num hospital de São Paulo, Adolpho morreu nas primeiras horas do domingo, 19 de novembro de 1995, Dia da Bandeira. “O Rei morreu”, era o pensamento na cabeça dos jornalistas que foram aguardar o corpo para o velório no saguão de entrada do prédio da Bloch no 804 da Rua do Russell. O clichê imemorial não foi completado com o “Viva o Rei!” Adolpho não deixava herdeiro à sua altura. O mais afoito candidato, Oscar Bloch Sigelmann, morrera na véspera do Carnaval daquele ano. Num ano ruim para os Bloch, em agosto, foi a vez da irmã de Adolpho, dona Bela, mãe do Jaquito.
Naquele domingo, fui convocado para dar depoimentos à TV sobre Adolpho, principalmente na Rede Manchete. Ainda ficamos um tempo na redação, esboçando o fechamento da revista naquela segunda-feira – seria quase uma edição especial sobre Adolpho.
Chovia torrencialmente. Fizemos a longa viagem de trinta quilômetros até Vila Rosali – Lena e eu – no carro do casal Norma e Murilo Melo Filho, com direito a motorista particular. A presença de Xuxa (que ganhara fama e acesso à TV Globo graças à Manchete), Angélica, Cristiana Oliveira da novela Pantanal e outras celebridades atraiu a tietagem local, mesmo debaixo do aguaceiro. Para conseguir uma visão melhor, havia gente sentada até no muro do cemitério. Uma pequena multidão de fieis se acotovelava junto ao túmulo de Adolpho Bloch na hora do enterro.
Procurando um ângulo melhor, o fotógrafo Nilton Ricardo subiu num túmulo vizinho e Jeová o fulminou no ato pelo sacrilégio com um tombo quase fatal – Nilton se safou agarrando-se a uma lápide, que cedeu, levando consigo na queda uma meia dúzia de outros fotógrafos.
Do meu lado, Arnaldo Bloch, sobrinho-neto de Adolpho, me explicava o simbolismo da linha férrea que margeia o cemitério. Quando um corpo acaba de ser enterrado passa sempre um trem. Não deu outra: mal os despojos de Adolpho Bloch eram cobertos pela tampa da sepultura, um trem se deslocou lentamente no horizonte como uma longa cobra.
Voltamos de carona com o Mauro Costa, chefe de reportagem da televisão. Ainda chovia forte.
Às dezenove horas começamos o fechamento da revista, que varou a noite. Na capa, um belo retrato de Sérgio Zalis do homem que havia criado a Manchete havia 43 anos.
Os cariocas mais afortunados gozavam as últimas horas de lazer que lhes foram conferidas, pela primeira vez, por Zumbi dos Palmares.
FOTOMEMÓRIA DA REDAÇÃO
Hall do prédio do Russell, manhã de 20 de novembro de 1995. Já com a missão de fechar o número especial da Manchete em homenagem ao seu fundador, parte da redação fez uma pausa para receber o corpo de Adolpho Bloch, transladado de São Paulo. Na foto, João Silva, Regina, Orlandinho, Alberto, José Carlos, Muggiati, Cesar, Ney Bianchi, Esmeraldo, Paulinho e Pinto.
Leitura Dinâmica:: prisão na primeira instância, privatização black friday, os "desalentados", censura e príncipe papa-anjo
* Solução final - Relatório da ONU denuncia: mais de 100 mil crianças estão detidas em campos de concentração de imigrantes instalados pelo Donald Trump. O presidente dos Estados Unidos inaugura a prisão em primeira instância: a do maternal.
* Privatização gostosa: O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, vende por 1 real empresa de energia que Aécio Neves comprou para o estado por R$ 360 milhões. Zema antecipou a black friday. A informação está no Viomundo.
* Vivendo de bico - Segundo o IBGE, a queda milimétrica do desemprego no Brasil, no terceiro trimestre foi puxada pelos "informais", os trabalhadores que pegam um serviço aqui e outro ali e não têm qualquer registro. O IBGE não revela como contata esses brasileiros que se viram para sobreviver. Vai ver perguntam para os porteiros: "Sabe quem conserta geladeira?". Os pesquisadores também não contam como identificam e entrevistam os "desalentados" de que tanto falam os jornalistas de mercado. Qual a pergunta dos pesquisadores? "Você tá desanimado amigo, desistiu de procurar emprego...?".
* Que fase ! - Por falar em desalento, em entrevista à TPM a apresentadora Sabrina Sato abre o jogo do 0 x 0. "Quem faz sexo depois de ser mãe? Não dá vontade nem de bater uma punheta para o marido. É difícil, a vontade não vem. Quando você vira mãe, tudo muda. Atualmente, eu amo o Duda como se fosse meu irmão". O marido, o ator Duda Nagle, não comentou a abstinência.
* Sexit - A atual campanha eleitoral britânica ganhou um tema que vem ofuscando o Brexit. Os jornais agora se ocupam do escândalo sexual que envolve o príncipe Andrew. O filho de Elizabeth é acusado de participar das festinhas promovidas pelo milionário Jeffrey Epstein, que cometeu suicídio quando estava preso e aguardando julgamento por tráfico sexual de menores e pedofilia. morto em agosto. Andrew teria dado uma de lobo e capturado uma adolescente. sua defesa foi considerada débil. Em entrevista ao programa Newsnight, da BBC, o príncipe respondeu à acusação de Virginie Giufre, que era a menor na tal badalação, com um vago "não me lembro de ter conhecido essa senhora, nenhuma lembrança". Isso apesar dos, segundo a acusadora,três encontros que teve com a então ninfeta, em Londrfe, Nova York e em uma ilha do Caribe.
* Censura - Depois da exibição de "Marighella", em Lisboa, no último domingo, Wagner Moura falou à Folha de São Paulo sobre o veto à estréia, no Brasil, disfarçado de entrave burocrático. “Não estava preparado para o filme não estrear no Brasil, quando nós já tínhamos uma data de estreia, tudo combinado (…) A censura no Brasil hoje é um fato”.
* Privatização gostosa: O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, vende por 1 real empresa de energia que Aécio Neves comprou para o estado por R$ 360 milhões. Zema antecipou a black friday. A informação está no Viomundo.
* Vivendo de bico - Segundo o IBGE, a queda milimétrica do desemprego no Brasil, no terceiro trimestre foi puxada pelos "informais", os trabalhadores que pegam um serviço aqui e outro ali e não têm qualquer registro. O IBGE não revela como contata esses brasileiros que se viram para sobreviver. Vai ver perguntam para os porteiros: "Sabe quem conserta geladeira?". Os pesquisadores também não contam como identificam e entrevistam os "desalentados" de que tanto falam os jornalistas de mercado. Qual a pergunta dos pesquisadores? "Você tá desanimado amigo, desistiu de procurar emprego...?".
* Que fase ! - Por falar em desalento, em entrevista à TPM a apresentadora Sabrina Sato abre o jogo do 0 x 0. "Quem faz sexo depois de ser mãe? Não dá vontade nem de bater uma punheta para o marido. É difícil, a vontade não vem. Quando você vira mãe, tudo muda. Atualmente, eu amo o Duda como se fosse meu irmão". O marido, o ator Duda Nagle, não comentou a abstinência.
* Sexit - A atual campanha eleitoral britânica ganhou um tema que vem ofuscando o Brexit. Os jornais agora se ocupam do escândalo sexual que envolve o príncipe Andrew. O filho de Elizabeth é acusado de participar das festinhas promovidas pelo milionário Jeffrey Epstein, que cometeu suicídio quando estava preso e aguardando julgamento por tráfico sexual de menores e pedofilia. morto em agosto. Andrew teria dado uma de lobo e capturado uma adolescente. sua defesa foi considerada débil. Em entrevista ao programa Newsnight, da BBC, o príncipe respondeu à acusação de Virginie Giufre, que era a menor na tal badalação, com um vago "não me lembro de ter conhecido essa senhora, nenhuma lembrança". Isso apesar dos, segundo a acusadora,três encontros que teve com a então ninfeta, em Londrfe, Nova York e em uma ilha do Caribe.
* Censura - Depois da exibição de "Marighella", em Lisboa, no último domingo, Wagner Moura falou à Folha de São Paulo sobre o veto à estréia, no Brasil, disfarçado de entrave burocrático. “Não estava preparado para o filme não estrear no Brasil, quando nós já tínhamos uma data de estreia, tudo combinado (…) A censura no Brasil hoje é um fato”.
domingo, 17 de novembro de 2019
Gol 1000, 50 anos: Pelé segundo Fernando Sabino para a Manchete
Fernando Sabino e Pelé, em Santos, dois dias depois do Gol 1000. Reprodução Manchete |
Dois dias depois do gol, Manchete escalou para entrevistar Pelé ninguém menos do que Fernando Sabino. A revista juntou dois craques. O escritor registrou: "Quando Manchete me pediu que fosse a Santos para uma matéria sobre Pelé, pensei comigo: 'ôba, vou dar uma de Norman Mailer e esgotar o assunto'. Mas nem eu sou o Norman Mailer, nem Pelé é assunto que se esgote ainda mais em poucas horas. Na verdade, o trabalho me foi encomendado em termos de tamanha urgência que me fez lembrar aquela do entrevistador de televisão para o poeta Murilo Mendes: 'Que que o senhor pensa a respeito da crise do mundo moderno e dos problemas que afligem a humanidade em nossos dias?' Tem um minuto para responder.
Mon Laferte: peito aberto contra a repressão no Chile
O Grammy "Latino" é uma bobagem criada por gravadoras para fazer média com o mercado hispânico dos Estados Unidos. Como extensão foi até instituída uma "categoria" exclusiva para o Brasil levantar alguns prêmios.
Além disso, o termo "América Latina" é considerado por muitos como racista. De fato, é impreciso para definir uma região com tanta diversidade. A Guatemala, por exemplo, seria "latina" apesar de mais da metade de população descender dos maias? Ou seja: o conceito não é cultural nem geográfico, é tão somente racista.
A mídia global dá pouca ou nenhuma importância ao Grammy "Latino". A mídia americana não-hispânica, idem. Mas esse ano, em Las Vegas, pelo menos um detalhe da premiação rodou o mundo e viralizou na internet: o protesto da cantora chilena Mon Laferte. Disposta a denunciar a situação atual no Chile e sabendo da relativa repercussão do evento, ela mostrou os seios contra a brutal repressão policial do governo Sebastián Piñera. "No Chile, eles torturam, estupram e matam". Aí sim, o Grammy "Latino" virou notícia no mundo inteiro. E por uma causa justa.
Além disso, o termo "América Latina" é considerado por muitos como racista. De fato, é impreciso para definir uma região com tanta diversidade. A Guatemala, por exemplo, seria "latina" apesar de mais da metade de população descender dos maias? Ou seja: o conceito não é cultural nem geográfico, é tão somente racista.
A mídia global dá pouca ou nenhuma importância ao Grammy "Latino". A mídia americana não-hispânica, idem. Mas esse ano, em Las Vegas, pelo menos um detalhe da premiação rodou o mundo e viralizou na internet: o protesto da cantora chilena Mon Laferte. Disposta a denunciar a situação atual no Chile e sabendo da relativa repercussão do evento, ela mostrou os seios contra a brutal repressão policial do governo Sebastián Piñera. "No Chile, eles torturam, estupram e matam". Aí sim, o Grammy "Latino" virou notícia no mundo inteiro. E por uma causa justa.
sexta-feira, 15 de novembro de 2019
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