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GP Brasil 2017 em Interlagos. Foto de Steven Tee/LAT (Fotos Públicas) |
por Niko Bolontrin
A Fórmula 1 está passando por mudanças, novos donos pretendem valorizar as provas como espetáculos, incluindo shows, bandas, atrações para o público nos intervalos de treinos e antes das provas, pilotos estimulados a se aproximarem da torcida e maior abertura para a cobertura de TV, principalmente. Antes do GP Brasil, por exemplo, a repórter Mariana Becker, da Globo, conseguiu algo antes impensável: mostrar como funciona por dentro o restrito centro de controle da prova, onde ficam os temíveis fiscais que punem ou absolvem pilotos envolvidos em choques, fechadas desleais etc.
Em 2018, mais mudanças virão, mas o que já foi feito em 2017 ganha elogios e críticas. Especialistas avaliam que as corridas têm que atrair novas gerações, enquanto o ex-todo-poderoso chefão da Fórmula 1, Bernie Eclestone, rebateu, em São Paulo, que a categoria "já foi um restaurante estrelado e virou um fast-food", numa crítica à visão pop do novo controlador, o americano Chase Carey, da Liberty Midia.
Para o Brasil, 2018 na F1 também trará novos enfoques. O principal: pela primeira vez, desde 1969, não haverá piloto brasileiro na principal prova do automobilismo.
Interlagos tem contrato para sediar a prova até 2020. E a Globo detém os direitos de transmissão até o mesmo ano, mas dois outros fatores pairam sobre sobre o futuro do GP Brasil. A maior emissora do pais deixou de exibir prova ao vivo, neste 2017, em algumas ocasiões para mostrar apenas os "melhores momentos". Está perdendo o interesse? Fãs de automobilismo foram levados a buscar no canal por assinatura SporTv a cobertura integral. E o prefeito João Dória pretende privatizar a toque de caixa o autódromo paulista, o que cria uma enorme incógnita sobre o futuro da prova.
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Fittipaldi e Pelé |
Para falar da
Manchete, onipresente neste blog de variedades, recorde-se que a F1 foi um fenômeno de vendas de revistas desde a primeira prova que Emerson Fittipaldi disputou em 1969. A revista ajudou a reforçar a imagem de "celebridade" do próprio Fittipaldi, além Nelson Piquet e Ayrton Senna, e teve respostas espetaculares de várias gerações de leitores. Manchete, por suas características, ia além da cobertura esportiva e aproximava os ídolos da F1 das estrelas nacionais como Pelé e José Wilker, como se vê nas reproduções das capas neste post. Além de glamourizar a vida sentimental de Senna, de forte apelo. Mostrar a "intimidade" dos pilotos, fora do cockpit, era uma atração a mais para os leitores e leittoras.
A TV exibia os heróis do volante em alta velocidade e Manchete desvendava seus perfis e vidas pessoais. A revista, como já contou aqui seu diretor, Roberto Muggiati, chegou a alugar jatinhos na Europa para levar a Paris, de onde a Varig trazia ao Rio, rolos de filmes com a cobertura de fim de semana das vitórias brasileiras na F1.
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Piquet e José Wilker |
Com a era digital ainda na ficção, nos anos 1970 e começo dos 1980, o jatinho em conexão com um voo da companhia aérea brasileira possibilitava colocar material de qualidade na mesa do editor a tempo de fechamento. Sem isso, as opções eram deixar para publicar na semana seguinte, o que fragilizava a notícia e esfriava o interesse de patrocinadores, ou usar sofríveis fotos transmitidas.
E chegar às bancas com velocidade era vital para as vendas de
Manchete e
Fatos & Fotos.
Com a morte de Senna, em 1994, teve início um esvaziamento das corridas como pauta de revistas. O cancelamento da edição semanal da Manchete, seis anos depois, levou o tema de vez para o pit stop.
Rubens Barrichello e Felipe Massa ainda seguraram a onda, mas sem a dimensão de Piquet, tricampeão, Senna idem e Fittipaldi bicampeão.
A grande dúvida é saber como reagirá a audiência diante da falta de um brasileiro nas provas da mais tradicional categoria do automobilismo. É previsível que a mídia reduza sua cobertura, com impacto em captação de patrocinadores.
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O casal Adriane Galisteu
e Senna |
Quanto a Interlagos, não vou nem entrar em detalhe no fator segurança. O assalto à equipe da Mercedes e a tentativa de bandidos em abordar um carro da FIA (Federação Internacional do Automobilismo), um da Williams e outro da Sauber repercutiram em todo o mundo. Vai deixar marcas e São Paulo pode pagar caro pela imprevidência e a injustificável falta de reforço no policiamento do entorno do autódromo, que é cercado por favelas, durante um evento de importância mundial.
Aparentemente, não há brasileiros virando a curva para se colocar no grid de largada dos próximos anos.
O último candidato, o promissor Felipe Nars, mostrou potencial mas esbarrou em falta de patrocínio.
Depois de Abu Dhabi, dia 26 de novembro, última prova deste ano, quando Massa recolher ao boxe o seu Williams, o Brasil na F1 também vai parar para manutenção, sem data pra voltar. É simbólico. Também no esporte, a marcha é ré.