domingo, 24 de setembro de 2017

Relógio do Apocalipse: encontro marcado com a Bomba H


Bombardeiro B1-B e caça F-15 sobrevoam litoral da Coréia do Norte. Foto U.S. Air Force


Cena do filme Dr.Strangelove. B-72 sobrevoa "União Soviética". Foto Divulgação

A foto no alto é de ontem. Acima, cena do filme "Dr. Fantástico" (Dr. Strangelove or : How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb"), lançado em 1964, no auge da Guerra Fria. Um general americano supôs que espiões soviéticos envenenaram a águas das grandes cidades dos Estados Unidos e  despachou os B-72 para bombardear a URSS. A ficção de Stanley Kubrick começa a competir com a realidade do embate entre Donald Trump e Kim Jong-un. Se os dois "generais" vão superá-la, veremos nos próximos meses.

O certo é que o Relógio do Apocalipse, da Universidade de Chicago, também conhecido com Doomsday Clock, foi adiantado em 30 segundos. Também conhecido como "Relógio do Fim do Mundo", o dispositivo simbólico foi criado por cientistas em 1947 com o ponteiro marcando 2 minutos e meio para a meia-noite, que seria o ponto zero do fim da humanidade.

A novidade é que para mexer no ponteiros, os cientistas agora levam em conta as mudanças climáticas, além da bomba. E o governo Trump tem contribuído para as duas ameaças. O empresário renega acordos ambientais assinados pelos Estados Unidos e dança com Kim Jong-un um perigoso balé nuclear.

Abaixo, o gráfico mostra as oscilações do Relógio do Apocalipse, que foi criado há 70 anos. Boa sorte para o Planeta Terra.

Reprodução Wikipedia



Beludo ataca novamente...


por Ed Sá

A apresentadora Bárbara Coelho, do programa Gol, do SporTV, caiu ao vivo em uma pegadinha já manjada. Ao ler o comentário de um internauta via twitter ela citou o popular "Cuca Beludo".
O mesmo "cidadão" já "compareceu uma vez ao programa de Maria Beltrão, no Globo News.
O vídeo está no You Tube. Clique AQUI 

Cadê os X-9 que estavam aqui?

por O.V.Pochê

O Brasil vive a era dourada dos caguetas. Tem até fila para delação premiada. Segundo O Globo de hoje, Sérgio Cabral e seus parceiros já estão se desentendendo no presídio à medida em que antigos participantes do "trenzinho" na noite parisiense se penduram na delação como única forma de diminuir os prejuízos. Tem cagueta disposto a não poupar nem a cara-metade, muito menos a mãe.

Ao ver que alguns delatores viraram celebridades e preservaram parte dos ganhos, além de se livrar da cadeia fechada propriamente dita, tudo mundo que entrar nessa boquinha. Por enquanto, o doleiro Alberto Youssef é uma espécie de guru da modalidade. Ele já foi delator no processo do Banestado - foi "acordo de colaboração", já que não existia no Brasil a figura jurídica da "delação premiada" - , deu-se bem, reincidiu no crime, repetiu a dose premiada na Lava Jato e já está em seu apê paulista e com direito a percentual em parte da grana que for localizada graças à sua delação.

Antonio Palloci sonha em ser X-9, mas ainda não sabe se sua delação será aceita. Ele já tentou várias vezes, ensaiando vários conteúdos. Insinuou que tinha muito a dizer sobre o sistema financeiro e sobre as grandes corporações da mídia. Não colou, "dona Justa" não achou que fosse por aí. Avançou um pouco junto a suas excelências ao centrar fogo em Lula. Palloci parece precisar de mais tempo para encontrar o tom certo da sua delação.

Pouca gente lembra, mas o Brasil já ajudou a criar um delator famoso e não falo do Calabar. Em 1984, foi preso o mafioso Tomaso Buscetta, que a pronúncia do Jornal Nacional chamou de "Busketa", para evitar que a família brasileira entrasse em pânico ao ouvir Cid Moreira dizer via satélite "Boa Noooite! Juiz pede condução coercitiva para Bucetta". O italiano foi preso pela PF e deportado para a Itália. Lá, entregou a Cosa Nostra, teve punição aliviada, ganhou um salário e proteção policial até morrer na cama, de câncer, em 2000.

Há dúvida na História para se identificar o ancestral dos atuais delatores. O ministério público  bíblico ainda não sabe exatamente quem dedurou Adão por ter comido a maçã depois que Eva deu uma dentada no "fruto proibido. A cobra? Estudiosos não sabem, na verdade se a fruta era maçã ou jabuticaba do "conhecimento". De qualquer forma, o crime do primeiro casal - não confundir com Sérgio e Adriana - já prescreveu. Até prova em contrário, o título de primeiro X-9 premiado passa então para o conhecido Judas.

A charge de Schröder, acima, foi publicada pela Mídia Ninja, no Twitter.

É possível, segundo um pergaminho cifrado encontrado mas não enviado na caixa postal de Herodes, que os ladrões tenham se livrado da cruz ao denunciar à força-tarefa romana que Jesus pretendia ressuscitar. E que Maria Madalena estava envolvida no acontecimento. De fato, os romanos passaram a perseguir a seguidora de Cristo,testemunha da ressurreição, que fugiu para a Gália, a atual França. Se non è vero, è ben trovato.

sábado, 23 de setembro de 2017

Fotomemórias das redações: eles se 'teletransportavam' entre o JB e a Bloch...


Os diagramadores Oswaldo, Nélio e Laerte, que trabalharam na Bloch e no JB posam
na sacada da antiga sede do JB, na Av. Rio Branco. A foto é dos anos 60, pertence ao acervo
de Laerte e foi publicada originalmente no blog Álbum Jotabeniano. 

No detalhe de uma foto do acervo de Nélio Horta, Ezio Speranza e Laerte Gomes
na redação da Fatos & Fotos na rua Frei Caneca, nos anos 60.

Oswaldo e o repórter e redator Sérgio Riff no JB, sede da Av. Brasil. Foto publicada
originalmente no blog Álbum Jotabeniano.

Até as décadas de 1970 e 1980, a imprensa carioca oferecia mais diversidade como opção de trabalho para jornalistas. Quer dizer, havia mais patrões à disposição. Sem enumerar todos os veículos, eram cerca de oito jornais diários e quatro editoras de revistas pertencentes a dez empresas. Era comum a rotatividade de profissionais nessas redações. Talvez fosse raro encontrar um jornalista que não tivesse passado ou viesse a passar por quatro a cinco desses grupos ou veículos.

Na extinta Bloch, por exemplo, eram muitos os coleguinhas que de lá saíram para o Jornal do Brasil ou que fizeram o percurso inverso.

Mas havia uma classe, a dos diagramadores, que até acumulou os quatro endereços: a Bloch, na Frei Caneca e, depois, no Russell, e o JB na Rio Branco e, em seguida, na Av. Brasil. Fácil de explicar: o horário de trabalho nas revistas era normalmente das nove às seis, com raros "pescoções" nos fechamentos; para os diagramadores, especialmente aqueles que desenhavam os cadernos de Cidade, Política, primeira página etc do JB, a demanda começava às seis, sete horas.

Era uma correria, mas, segundo eles, era possível conciliar os dois times.

Jornalistas que trabalharam no lendário JB criaram em 2010 um blog de memórias. Desde 2013 não é atualizado, mas tem fotos memoráveis e pode ser acessado no endereço http://albumfotojotabeniano.blogspot.com.br/

 há fotos de várias colegas que acumulando ou em épocas diferentes tiveram a  Bloch e o JB nas suas trajetórias profissionais, como os  diagramadores Nélio Horta, Oswaldo Carneiro, Laerte Gomes e Ezio Speranza e o repórter e redator Sergio Riff, que depois de passar pelo JB trabalhou na Fatos & Fotos, Fatos e EleEla. 

Este Panis já contou o "causo" de um fotógrafo da Manchete que recebeu duas ordens de serviço para o mesmo dia e horário, uma em Niterói e outra na Barra da Tijuca, e, indignado, reclamou com o chefe de reportagem: “Cara, olha só, eu não sou onipotente, não!”.

No caso, os acima citados diagramadores JB-Bloch conseguiam ser onipresentes. Com igual competência e arte.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

New York Times publica foto de Donald Trump Jr na mesa de trabalho e as redes sociais descobrem detalhes intrigantes...

Reprodução instagram

por Ed Sá

A foto acima está no New York Times ilustrando matéria sobre uma investigação em torno de Donald Trump Jr.

Mas para a redes sociais o melhor está no detalhes da imagem que viraliza na web. Os internautas levantam os seguintes "mistérios":

- Por que ele virou ao contrário os porta-retratos? Casou de olhar pra família?

- Quem bota na própria mesa o próprio retrato? Sendo que a foto é a maior de todas: Egocentrismo?

- Por que à frente a foto da filha (a primeira à esquerda) há nada menos do que uma caveira?!

- Por que não há fotos do pai, mas apenas um boneco de pescoço quebrado que o representa?

- E o que faz uma imensa tesoura ou um alicate de dentista no parapeito da janela?

- À esquerda, ainda na janela, há um ET, é isso mesmo?

- Alguém identificou uma garrafa na estante. É pra tomar a saideira ao fim do expediente?

- E alguém avise ao Trumpinho que a posição do monitor vai contra todas as recomendações da ergometria e assim ele vai acabar com uma lesão por esforço repetitivo no pescoço.

Ex-jogador Adriano avisa que vai processar o jornal Meia Hora

Reprodução da capa do Meia Hora publicada em 22/9/2017

por Niko Bolontrin

O motivo é a capa acima. Adriano Imperador aparece ao lado do traficante Rogério 157, que o Meia Hora chama de "Imperador da Rocinha". O ex-jogador respondeu através do Instagram.
Ele prometeu processar o jornal e afirmou que “tira foto com quem quiser”.
VEJA O VÍDEO AQUI

Passou no Teste de Cooper


Alice Cooper no Rock in Rio. Foto de Gabriel Monteiro/Riotur

Foto de Gabriel Monteiro/Riotur

por Roberto Muggiati 

Estou falando de Alice Cooper, que fez 69 em 4 de fevereiro. Fã de rock aposentado desde a morte de John Lennon, liguei por acaso a TV e lá estava Tia Alice velha de guerra a mil, dando seu show de terror Z ao som de clássicos como Brutal Planet e No More Mr. Nice Guy.

Queria lembrar aqui o que escrevi num livrinho chamado Rock: Da utopia à incerteza (1968-1984), que a Brasiliense publicou em 1985, ano do primeiro Rock in Rio:

“Embora catalogado às vezes como heavy metal, Alice Cooper ajudou a desencadear o rock andrógino, conhecido como glitter rock nos EUA e glam rock na Grã-Bretanha; respectivamente brilho (glitter) e glamour (glam).

Em outras palavras, algo como um rock de plumas e paetês em que os músicos apareciam fortemente maquiados ou até travestidos. Em Alice Cooper, o apelo sexual era mais um recurso para agredir o público, pois Alice (nascido Vincent Damon Furnier, filho de pastor) era uma ‘cria’ de Frank Zappa, o pai espiritual dos freaks de todo o mundo e um discípulo direto do Teatro do Absurdo, aperfeiçoando um rock grand guignol com cadafalsos, guilhotinas e cadeiras-elétricas no palco, decapitando bonecas como um samurai maluco ou se enrolando numa jiboia de estimação.”

Em boa forma, exibindo os trejeitos de sempre e brandindo um bastão do poder, Alice Cooper, com 54 anos de carreira, mostrou que ainda tem alguns anos de estrada pela frente. Depois do espetáculo, comentou satisfeito no camarim: “Muitos desses meninos nunca viram um show de rock ‘n’ roll.”

Alice Cooper, o shock rock e a memória dos dinos...


por José Esmeraldo Gonçalves

Alice Cooper estava no auge e visitava no Brasil. Em 1974, só isso já seria um notícia. ´

Naquela época, astros no rock não davam as caras por aqui.

Fora do rock, até aparecia um Johnny Mathis, mas esse vinha com tanta frequência que era atração até na Churrascaria Tem-Tudo, em Madureira.

O Brasil estava sob a ditadura e a música pesada e as performances violentas de Alice Cooper, com guilhotinas, cobra no palco e sangue, eram quase uma caricatura da época.

Na sua primeira turnê na América do Sul, apresentou-se em São Paulo, no Anhembi, no dia 30 de março, e veio para dois shows no Rio: Canecão (5/4) e Maracanãzinho (6/4). Não sei quais as exigências que fez ao Rock in Rio, onde se apresentou ontem. Em 1974, seu contrato assinado com o empresário Marcos Lázaro incluía oito seguranças, dois carros, um ônibus, duas camionetes, caixas de Budwiser e Ginger Ale etc. Hotel, comida e roupa lavada para 25 pessoas, além de oito toneladas de equipamento.

Cobri a coletiva no Canecão para o extinto O Jornal. Foi quando conheci o Tarlis Batista, da Manchete, cuja primeira pergunta ao cantor foi um direto na veia ou no pulmão: "Você fuma muita maconha?". Os demais coleguinhas se entreolharam, a maioria fazia perguntas "leves" no começo para descontrair a fera. Alguém reclamou: "pô, ele vai embora". Um assessor preocupado falou qualquer coisa ao ouvido do roqueiro, que enrolou e emendou com um resumo do que iria mostrar no show. A coletiva seguiu em frente, sem turbulências.

No Maracanãzinho lotado, no dia seguinte, chamava a atenção o equipamento de som e o tamanho das caixas, algo desconhecido na época, no Brasil. Alice Cooper foi "eletrocutado", decapitou bonecas e surpreendeu ao gritar "pra frente Brasil". Embora o refrão estivesse na moda ainda no rescaldo da Copa de 70, era coisa identificada com a propaganda da ditadura.

Os jornalistas foram colocados na primeira fila da plateia. Ótimo lugar. Mal sabíamos que as enormes caixas de som laterais em altíssimo volume e ainda reverberando na cúpula do ginásio provocariam surdez momentânea ao final do show em quem estava tão perto daqueles geradores de decibéis. O que não invalidou a experiência. O Furnier, nome verdadeiro do roqueiro performático, mandou muito bem. Dizem os críticos que aquela turnê de Alice Cooper deixou influência no show business brasileiro. Não apenas pela grandiosidade do aparato como pela performance criativa. Os Secos & Molhados teriam assimilado algumas lições de dramaturgia radical do cantor, então com 25 anos.

Ontem, vendo o show pela TV, não pude deixar de revisitar essas memórias de dinos.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Instituto Moreira Salles: São Paulo tem um novo centro cultural

O novo centro cultural na Avenida Pauista. Foto Reprodução site IMS-SP

Na inauguração, ontem. Foto Fernanda Carvalho/Fotos Públicas

Um dos espaços para exposições. Foto Gilberto Marques/A2IMG

São Paulo acaba de ganhar um centro cultural onde a fotografia e o fotojornalismo são protagonistas. O Instituto Moreira Salles inaugurou ontem, na Av. Paulista, o IMS-SP. São sete andares destinados a exposições, mostras de filmes, eventos musicais, seminários, salas de aula, livraria, restaurante e uma Biblioteca de Fotografia. Esta, especialmente, é um espaço nobre do Instituto. São 30 mil itens, entre livros, catálogos, fotolivros, zines e revistas nacionais e estrangeiras.

EM VÍDEO, O CURADOR MIGUEL DEL CASTILLO MOSTRA A BIBLIOTECA DE FOTOGRAFIA DO IMS-SP. CLIQUE AQUI







Ex-diretor de jornalismo da TV Gazeta revela a reportagem de Marcelo Rezende que abalou o Fantástico


(do Cada Minuto/Blog de Célio Gomes)

A trajetória de Marcelo Rezende no jornalismo percorreu mais de quatro décadas, em diferentes veículos de comunicação. Mas foi na TV Globo que ele se tornou um nome nacionalmente conhecido, a partir do fim dos anos 80. Os pontos altos da carreira do repórter foram lembrados em várias reportagens, depois de sua morte, no último sábado 17.

Na emissora carioca, o Jornal Nacional destacou o trabalho em que Rezende denunciou a ação criminosa da Polícia Militar de São Paulo, no caso que ficou conhecido como Favela Naval. O lugar fica no município de Diadema. PMs foram flagrados torturando e matando moradores da região. O ano era 1997. A denúncia teve repercussão internacional.

Mas outra reportagem do jornalista, exibida no Fantástico em novembro de 1998, entrou para a história da Globo e da imprensa brasileira. E não foi por bons motivos. Rezende fez uma entrevista exclusiva com o motoboy Francisco de Assis Pereira, o homem que ficara conhecido como o Maníaco do Parque. Era acusado de matar pelo menos onze mulheres na capital paulista.

A matéria especial pretendia inaugurar uma vertente mais arrojada de jornalismo para TV. Foi o que a Rede Globo avisou a suas afiliadas, que deveriam ficar atentas ao novo formato. Sei disso porque eu era o diretor de jornalismo da TV Gazeta. O resultado foi um desastre absoluto, com duração de incríveis 40 minutos naquela edição do Fantástico, o “show da vida”. A Globo entrou em crise.

Para começar, a produção tinha no comando o departamento de dramaturgia, e não a Central de Jornalismo. Um consagrado diretor de novelas, Roberto Talma, assinava a obra jornalística. A edição abusou de trilha sonora de suspense e efeitos especiais à altura do pior sensacionalismo. Para decifrar a mente do assassino, as fontes ouvidas foram um astrólogo e duas videntes.

Difícil saber o que era mais bizarro naquilo tudo. Houve simulação dos ataques às mulheres, que mais pareciam cenas de filme de terror de última categoria. Cuidadosamente planejada, a iluminação sobre o rosto do maníaco tentava elevar o clima de tensão e medo. Rezende se empenhou na missão. Cada frase de seu texto tinha como objetivo principal dramatizar ao máximo aquele enredo. (...)

LEIA A MATÉRIA COMPLETA, CLIQUE AQUI

Pais & Filhos: 50 anos em 2018

A Pais & Filhos,
da Editora Manchete
Jornalistas & Cia noticia que Luiz Pimentel, ex-diretor de Conteúdo do R7, assumiu cargo equivalente na Pais & Filhos, revista que pertence à Editora Manchete, de Marcos Dvoskin, que adquiriu em leilão, em 2003, títulos que pertenciam à Bloch Editores.

A Pais & Filhos completa 50 anos em 2018 e permanece como uma publicação de prestígio e influência, com atuação em plataformas, digitais e redes sociais.

Ao J&C, Luiz Pimentel adiantou que unificará revista, site, redes sociais, TV Pais & Filhos, anuário da marca e ações de branded content.

Edição de 1987, quando a Pais & Filhos
ainda pertencia à Bloch. 
As próximas edições já farão referência ao cinquentenário da marca.

A Pais&Filhos é também atuante no segmento de eventos, principalmente na realização de seminários.

Dos 50 anos da P&F - uma das mais tradicionais e bem-sucedidas revistas brasileiras, pioneira  e líder no seu segmento -, 32 foram sob o selo da Bloch Editores.

Lançada em 1968, a Pais & Filhos foi editada no Russell até 2000. 

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Terremoto no México na capa da Fatos em 1985. O mundo era outro? Nem tanto, mestre, nem tanto...




Em setembro de 1985, a capa e a matéria principal da revista Fatos traziam uma catástrofe. O México sofrera no dia 19 o pior terremoto da sua história. Oficialmente, 10 mil pessoas perderam a vida. Mas as equipes de resgate estimaram o número de mortes em cerca de 40 mil. Milhares de corpos jamais foram encontrados.

Na Cidade do México, que tinha então 18 milhões de habitantes, ruíram 420 edifícios de oito a 18 andares, outros 3 mil e 200 foram parcialmente destruídos.

Exatos trinta e dois anos depois, os mexicanos enfrentam mais um terremoto. Não tão devastador - até agora, o número de mortos está em torno de 200 - mas igualmente trágico.

Ao folhear aquela edição da Fatos, fica a impressão de que o Brasil e o mundo se repetem e dão razão a Nietzsche. O filósofo prussiano ensinou que o eterno retorno é uma das afirmações da vida que, em ciclos, sempre liga o fim ao começo.



Na janela de capa da Fatos, está Sarney, então presidente e tão inexpressivo quanto o atual. Como Temer, ontem, Sarney estava na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, que tal qual hoje dividia com o México as primeiras páginas dos jornais. Como o atual e ilegítimo, Sarney não foi levado a sério, falou algo sobre a dívida externa, tema em evidência, e garantiu que faria um ajuste fiscal e um superávit para pagar 50 bilhões de dólares de juros nos anos seguintes. No mais, abriu o discurso citando um poeta do Maranhão, Bandeira Tribuzzi - na plateia os delegados devem ter feito "hã?", "who" - e mandou goela abaixo um discurso genérico, pleno de literatices, com pérolas como essa: ""O Brasil acaba de sair de uma longa noite. Não tem olhos vermelhos de pesadelo. Traz nos lábios um gesto aberto de confiança e de um canto de amor à liberdade". Puro "marimbondos de fogo".


Kim Jong-un tinha pouco mais de dois anos de idade, a Coreia do Norte nem sonhava com a bomba e Donald Trump nem imaginava que um dia faria um discurso ameaçador na ONU, mas a Assembleia Geral também mostrava preocupação com ameaças à paz. A Fatos narrava o encontro entre o ministro do Exterior soviético Eduard Chervardnadze e o secretário de Estado americano George Schultz para discutir uma tema que preocupava o mundo: o programa militar "Guerra nas Estrelas" com o qual o presidente republicano da vez, Ronald Reagan, ameaçava militarizar o espaço e acelerar a corrida armamentista.

Artur da Távola, um dos colunistas da Fatos, escrevia sobre o Brasil "dividido", outro tema recorrente. "Vai-se fazer necessária um hábil costura política para remover resistências de ambos os lados".  E defendia um "pacto social": "Pacto, porém, que não seja feito à custa de quem mais tem pago, tanto os preços do desenvolvimento quanto os resultados desastrosos da incompetência e da corrupção".







Corrupção? Para quem pensa que o ataque de políticos e empresários aos cofres públicos é novidade, a Fatos dedicava ao assunto três matérias. Uma sobre um esquema de fraude nas compras da Cobal. Além de superfaturamento em aquisições de feijão, os acusados estavam com dificuldade de explicar a compra de 100 mil calcinhas que, teoricamente, não eram produtos revendidos pela Companhia Brasileira de Alimentos. Outra reportagem abordava o caso de um tal réchaud de prata que virou polêmica e por causa disso o Congresso discutia um projeto que previa punição para autoridade que recebesse presentes caros. Outra notícia era a prisão de um banqueiro libanês que tinha muito a delatar sobre um caso de venda de vistos e passaportes brasileiros que envolvia o ex-ministro da Justiça ainda no governo do general João Figueredo, Ibrahim Abi-Ackel.


Uma notícia da semana era o terrorismo. Não se falava em Estado Islâmico nem em "lobo solitário' mas, segundo a Fatos, o terrorismo internacional tinha uma nova sigla: ORMS (Organização Revolucionária dos Muçulmanos Socialistas. Naquela semana, o alvo mais uma vez  foi Roma, que já sofrera cinco atentados em poucos meses. Um solitário palestino de apenas 16 anos, ainda sem a alcunha de "lobo", entrou em uma agência da British Airways acionou uma granada e saiu (terroristas suicidas ainda não estavam em moda). A bomba feriu 15 pessoas.

No mais, a Fatos falava de um arremedo de reforma política que não vingou, tema que o nosso Congresso discute hoje. A proposta de uma Constituinte ganhava força. O Banco Central colocava em circulação a nota de maior valor na época - Cr$100 mil - com a efígie Juscelino Kubitschek. Geddel seria grato ao BC se uma nota desse valor existisse hoje em reais:  ele ia precisar de menos malas para guardar seus 51 milhões. E a guerra em cartaz era a do Irã-Iraque, que fazia aniversário de seis anos. Exatamente, a duração da guerra atual: a da Síria.

Como os dias e as estações, os fatos parecem se repetir. Às vezes como jornalismo, às vezes como farsa.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Neymar? Jesus? Philippe Coutinho? Que nada... Temer e Aécio são os craques invictos da temporada

por O.V.Pochê 

Problema para Tite. O treinador da seleção brasileira já deve ter na cabeça seu time titular para a Copa de 2018. Vai ter que repensar.

Temer e Aécio, dois craques que batem um bolão em matéria de drible da vaca, chapéus, caneta e elástico, não poderão ficar de fora. Tite deve observá-los, talvez pedir um DVD das suas atuações.

Apesar da pressão dos adversários, ambos permanecem invictos no Campeonato da Lava Jato, que garante vaga para os respectivos prestígios e poderes e ainda para o G4 das eleições do ano que vem.

E olha que eles são apenas dois contra o time de onze do STF. A dupla de atacantes também não se intimida quando muda de campo e joga nos alçapões da Câmara dos Deputados e no Senado. E olha que, nesse, caso, o plantel inimigo é maior, permite mais substituições e tem sempre jogadores descansados à disposição.

Gol de placa: treinador alega que tem que viajar pra festança e
consegue adiar julgamento do seu jogador. Nota reproduzida do Globo

Em campo, Aécio é mais um meia armador. Vem de trás, tem bom domínio de bola, conhece a movimentação e saber envolver o adversário. Jogando no estádio do STF Futebol Clube tem mostrado uma habilidade digna de Iniesta.

Jogada de craque. camisa 9 pode anular cartão vermelho. Informação da Folha de São Paulo

Temer é um camisa 9 mais impetuoso, catimbeiro. Um Mário Balotelli do Tietê. Dá cotoveladas, chuta canelas, faz pênalti dentro da área sempre esperando que o juiz não veja e simula faltas. Quando nada disso resolve, ele oferece parte do próprio bicho, a mala do seu prêmio por vitória, ao adversário. Essa última tática ele reserva para os jogos contra o Congresso Futebol e Regatas.

Dizem os comentarista esportivos que o STF FC, apesar de ter jogadores experientes, não tem fôlego para jogar uma partida inteira no mesmo ritmo. Vão bem no primeiro tempo, perdem gás no segundo. O que é compreensível, são todos veteranos, com um ou dois reforços mais jovens promovidos das  divisões de base. Alguns integrantes do time são criticados por demonstrarem uma certa torcida pela equipe adversária, onde têm amigos de longa data. Discutem muito em campo também, têm pouco entrosamento.

Entrosamento é o que não falta aos jogadores do Congresso Nacional Futebol e Regatas. Eles se movimentam bem, quando alguém oferece uma bola, logo aparece outro para receber. O que enfraquece o time do CNFR é o pouco compromisso que seus jogadores têm com a camisa. Como a janela de transferência de passes fica aberta o ano todo, diante de qualquer proposta financeira melhor eles ameaçam mudar de time. Estão sempre exigindo mais benefícios.

Nessa disputa e com estilos diferentes, os craques Aécio e Temer predominam, fazem "uma melhor leitura das partidas", como dizem os comentaristas esportivos. Aparentemente, não têm adversários à altura.

Além das qualidades dentro de campo, a dupla demonstra força também fora das quatro linhas. Temer tem bastante desenvoltura juntos aos carlotas dos outros poderes, sejam do STFFC ou no CNFR. Aécio tem boa penetração na grande mídia, o que favorece sua imagem, geralmente seus deslizes em campo são omitidos, tem cartão amarelo mas nunca leva o vermelho, as editorias minimizam eventuais indisciplinas do Iniesta de BH e evitam chamar atenção dos juízes e bandeirinhas.

Os dois já foram até flagrados pelo árbitro de vídeo e mesmo assim conseguiram anular ou adiar qualquer punição.

Jornalistas especializados já admitem que tanto o STF Futebol Clube quanto o Congresso Nacional Futebol e Regatas correm o sério risco de cair para a segundona.

Editora Abril procura nova casa. Velho prédio ficou grande demais para os novos tempos


O Grupo Abril vai deixar o prédio da Previ que ocupava na Marginal Pinheiros, em São Paulo.

Com a mudança de modelos na indústria de comunicação, a cirurgia bariátrica que levou ao emagrecimento da empresa com vendas de subsidiárias como Elemidia, Abril Educação e de títulos de revistas, centenas de demissões de jornalistas e o cancelamento das algumas edições impressas, a atual Abril ficou sobrando no edifício de 26 andares.

A editora, que já ocupou todo o edifício, já havia liberado 11 andares para o locador. Agora, procura nova casa, embora alguns setores devam ir para o velho prédio da Abril na Marginal Tietê.

Na mudança, levará a "árvore" que enfeitou o topo do NEA durante mais de 15 anos.

Curiosamente, empresas jornalístícas que fecham as portas, se reformulam e se adaptam aos novos tempos vão deixando referências imobiliárias dos seus passados. No Rio, é possível fazer um roteiro turístico por alguns desses "monumentos". As suntuosas sedes das revistas O Cruzeiro, na Rua do Livramento, e Manchete, no Russell, ambas projetadas por Oscar Niemeyer, foram vendidas e transformadas em prédios para escritórios.

O prédio do velho JB, na Av. Brasil foi abandonado e virou esqueleto antes de abrigar um hospital. O Última Hora, perto da Rodoviária Novo Rio, a Tribuna da Imprensa, na Rua do Lavradio, a antiga TV Tupi, na Urca, a Vecchi na Rua do Riachuelo permanecem aí, uns em ruínas outros reocupados. A antiga sede do jornal A Noite e, depois, da Rádio Nacional é o único prédio histórico ainda semi-arruinado na nova Praça Mauá.

A antiga sede do Correio da Manhã passou décadas fechada e abandonada, na Rua Gomes Carneiro, até que foi reformado para outros fins. Mas antes do retrofit, Carlos Heitor Cony, que foi um dos redatores e cronistas do jornal, onde manteve uma seção cujo título era "da Arte de Falar Mal", visitou as ruínas e escreveu uma crônica sobre o reencontro com sua antiga mesa. As salas empoeiradas e paredes - contou -  ainda exibiam ordens de serviço, lembretes e avisos colados em murais embolorados.

domingo, 17 de setembro de 2017

Fotomemória da redação: há 25 anos, champanhe na Manchete para brindar a queda de Collor de Mello



Em 27 de setembro de 1992, a Manchete lançou uma edição especial comemorativa dos 40 anos da revista. Naquela noite, houve uma solenidade no Teatro Adolpho Bloch e jantar de gala nos salões do Russell.

Sobraram caixas de champanhe da festança.

No dia seguinte, 28, uma segunda-feira, a Câmara dos Deputados votou pela admissão do processo de impeachment de Collor de Mello, o caso começou a tramitar no Senado e o "caçador de marajás" foi afastado da Presidência (ele renunciaria no dia 29 de dezembro, prevendo que perderia definitivamente o  mandato, o que aconteceu menos de 24 horas depois com o fim do processo político).

Mas o fato de ter sido chutado do Planalto já era um bom motivo de comemoração. Ainda mais se naquela primavera calorenta havia champanhe à vontade na geladeira.

Já era noite quando equipes em Brasília e a redação carioca fecharam a edição normal da semana, que trazia o principal fato político daqueles dias. Adolpho Bloch, cuja sala era ao lado da Manchete, convidou alguns diretores e funcionários que ainda estavam no prédio para um brinde de sabor e borbulhas anti-colloridas. Àquela altura, a defenestração de Collor era uma unanimidade nacional.

Vinte e cinco anos depois, o Brasil está novamente às voltas com um quadrilhão. Mas, ao contrário de Collor, que perdeu apoio no Congresso, Temer não está nem aí. Acusado de ser o chefe da organização criminosa, ele mantém todos os podres poderes no Senado e na Câmara.

Não há champanhe à vista nem na geladeira para comemorar o fim do Nosferatu do Tietê.

Memórias da redação: homem que lançou O Hobbit

Retrato do artista quando “foca”,
1958. Foto: Acervo R.M
Por Roberto Muggiati

Nestes meus 63 anos de reportagem, encontrei muita gente interessante. Algumas vezes, só vim a conhecer de fato o entrevistado muito tempo depois. É o caso de Sir Stanley Unwin (1884-1968), com quem conversei em 1958 na Cultura Inglesa de Curitiba. Fundador da editora Allen & Unwin, era pacifista e foi um dos primeiros a publicar Bertrand Russell e Mahatma Gandhi.

Mas sua contribuição maior para a cultura da nossa época foi ter iniciado a onda da literatura fantástica ao lançar O Hobbit, de J. R. R. Tolkien.

O mais curioso em tudo isso foi como ele decidiu lançar o livro sem o ter lido. Tolkien sempre relutara em publicar estes escritos fantásticos.

Em 1936, estimulado por amigos, submeteu The Hobbit a Unwin. O editor então pagou um xelim ao filho de dez anos, Rayner, para fazer um relatório sobre o manuscrito.

O relatório foi favorável, o livro se tornou um sucesso e Unwin pediu uma sequência a Tolkien, surgindo daí O Senhor dos Anéis. Rayner, que também seguiria a carreira do pai, disse tempos depois: “Não foi uma peça brilhante de crítica literária, mas naqueles dias felizes não era preciso uma segunda opinião: se eu recomendasse um livro, ele era publicado na hora.”

Hoje, oitenta anos depois, os milhões de fãs de Harry Potter não sabem o que devem para Unwin, pai e filho. . .

sábado, 16 de setembro de 2017

ONU pede fim da austeridade fiscal e ousadia para reequilibrar economia global

(da ONU/Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) 

Novo relatório da UNCTAD descreve uma rota política alternativa para a construção de economias globais mais inclusivas e solidárias. O documento pede um novo pacto em que as pessoas tenham prioridade frente aos lucros. Pontos cruciais de tal transformação seriam o fim da austeridade fiscal, a contenção do “rentismo” das empresas e o direcionamento das finanças para a criação de empregos, bem como para o investimento em infraestrutura.

A economia global parece travada em seu caminho para a recuperação. Um novo relatório da UNCTAD, “Trade and Development Report, 2017: Beyond Austerity — Towards a Global New Deal” (Relatório de Comércio e Desenvolvimento 2017: para além da austeridade – rumo a um novo pacto global), descreve uma rota política alternativa e ambiciosa para a construção de economias mais inclusivas e solidárias.

No lançamento do relatório, o secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), Mukhisa Kituyi, disse: “uma combinação de endividamento excessivo e demanda global demasiadamente baixa tem entravado a expansão sustentada da economia mundial”.

O documento pede que o século 21 traga um novo pacto, em que as pessoas tenham prioridade frente aos lucros. Pontos cruciais de tal transformação seriam o fim da austeridade fiscal, a contenção do “rentismo” (rent-seeking) das empresas e o direcionamento das finanças para a criação de empregos, bem como para o investimento em infraestrutura.

Retomada econômica ainda fraca

A UNCTAD observa que a economia global está melhorando em 2017, embora sem decolar. O crescimento deve atingir 2,6%, pouco acima do ano anterior, mas bem abaixo do patamar médio pré-crise financeira, de 3,2%. A maior parte das regiões deve registrar pequenos ganhos. A América Latina, saindo da recessão, exibe a maior variação entre os dois anos, embora deva crescer apenas 1,2%. A zona do euro deve ter a maior taxa de crescimento desde 2010 (1,8%), permanecendo atrás dos Estados Unidos.

O principal obstáculo a uma recuperação robusta das economias avançadas é a austeridade fiscal, que é ainda a opção macroeconômica padrão. De acordo com dados da UNCTAD, 13 das 14 principais economias do mundo adotaram políticas de austeridade entre 2011 e 2015.

Com uma demanda global insuficiente, o comércio permanece retraído. Espera-se uma pequena melhora neste ano, por conta da recuperação do comércio Sul-Sul liderado pela China. No entanto, há muita incerteza, especialmente em relação ao comércio de commodities, no qual uma leve recuperação dos preços esmoreceu.

Na ausência de uma expansão coordenada sob a liderança das economias avançadas, a sustentação do limitado crescimento econômico global depende de melhoras duradouras nas economias emergentes. Embora as maiores economias emergentes tenham evitado a austeridade entre 2011 e 2015 (com China e Índia mantendo taxas robustas de crescimento), elas enfrentam agora riscos significativos.

Os níveis de endividamento continuam a se elevar, sem que haja sinais reais de crescimento econômico robusto; há preocupações com instabilidade política, preços de commodities em queda, taxas de juros mais altas nos Estados Unidos e dólar mais forte. Os fluxos de capital para os países em desenvolvimento permanecem negativos, ainda que menos do que nos anos recentes.

Desigualdade, endividamento e instabilidade

Nas palavras do principal autor do relatório, Richard Kozul-Wright, “duas das principais tendências socioeconômicas das últimas décadas foram a explosão do endividamento e a ascensão das ‘superelites’ — grosso modo, o 1% no topo da pirâmide”. Estas tendências, segundo o relatório, estão ligadas à desregulação dos mercados financeiros, à ampliação das desigualdades na propriedade de ativos financeiros e ao foco nos retornos de curto prazo.

Desigualdade e instabilidade estão conectadas à hiperglobalização. Decorre disso um mundo com níveis insuficientes de investimento produtivo, empregos precários e enfraquecimento da proteção social. Em um círculo vicioso, os rendimentos no topo decolam durante as trajetórias que culminam nas crises; na esteira dessas, sobrevêm a austeridade e a estagnação dos rendimentos na base.

Passada uma década da crise global que absorveu trilhões de dólares dos contribuintes em operações de salvamento, o domínio do setor financeiro, por ela responsável, praticamente não mudou. De fato, os níveis de endividamento estão mais altos do que nunca.

O relatório também examina outras fontes de ansiedade, ligadas à robotização e à discriminação de gênero, que afetam as perspectivas do emprego nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento. Embora a automação e a crescente participação das mulheres devam ser consideradas bem-vindas, a coincidência com um mundo de austeridade e competição excessiva — que levam a uma corrida para o abismo nos mercados de trabalho — faz com que pareçam ameaçadoras.

Resulta uma reação popular contra um sistema que parece ter passado a privilegiar, de forma injusta, um punhado de grandes corporações, instituições financeiras e indivíduos ricos. A incapacidade de corrigir os excessos da hiperglobalização, adverte o relatório, prejudicará a coesão social; mais que isso, diminuirá a confiança tanto nos mercados como nos políticos.

Procura-se alternativa ao fundamentalismo do mercado

O relatório questiona o exagero na responsabilização do comércio e da tecnologia pelos problemas de um mundo hiperglobalizado. Cabe, em lugar disso, uma análise séria acerca do poder de mercado, do comportamento “rentista” e das regras do jogo em que vencedores levam (quase) tudo, como responsáveis por resultados excludentes.

A crescente concentração dos mercados — com consequências potencialmente corrosivas para o sistema político — é uma das questões centrais do relatório.

Enquanto os governantes continuarem a brandir a bandeira da austeridade e a avaliar o sucesso das políticas pelo preço dos ativos e pelos níveis de lucro, com setores vitais sob o domínio do grande negócio, as já significativas desigualdades poderão se agravar.

Invocando o espírito de 1947

Para passar da hiperglobalização para a construção de economias inclusivas, não basta aprimorar a operação dos mercados. É necessário um programa mais rigoroso e abrangente, que enfrente as assimetrias nacionais e internacionais em termos de conhecimento tecnológico, poder de mercado e influência política.

Com os Estados Unidos deixando de desempenhar o papel de consumidor em última instância, a reciclagem dos superávits em transações correntes torna-se um elemento essencial para reequilibrar a economia mundial. O documento aborda o caso da zona do euro (especialmente da Alemanha) que tem agora um alto superávit com o resto do mundo.

A recente proposta alemã para o G20 de um Plano Marshall para a África é bem-vinda, mas, por enquanto, ainda não tem a envergadura financeira necessária. A iniciativa chinesa de investimentos “Um Cinturão, Uma Rota” (One Belt, One Road) é muito mais ousada, a despeito da aguda queda do superávit do país nos últimos dois anos.

O relatório extrai lições de 1947, quando o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) e as Nações Unidas uniram forças para reequilibrar a economia do pós-guerra e o Plano Marshall foi lançado. Sete décadas depois, um esforço igualmente ambicioso é necessário para combater as injustiças da hiperglobalização e construir economias inclusivas e sustentáveis.

Em resposta ao slogan político do passado — “não há alternativa” — o relatório apresenta os contornos de um novo pacto global para construir economias mais inclusivas e solidárias. O pacto deveria, com velocidade e escala suficientes, combinar recuperação econômica, reformas regulatórias e políticas de redistribuição.

O sucesso do New Deal dos anos 1930 nos EUA muito se deveu à sua ênfase na redistribuição do poder, dando voz a grupos sociais mais fracos, incluindo consumidores, organizações de trabalhadores, agricultores e grupos mais pobres. Isso não é menos necessário hoje em dia.

Na atual economia global integrada, o sucesso de cada país exige que os governos atuem em conjunto. A UNCTAD pede que os governos aproveitem a oportunidade oferecida pelos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e construam um novo pacto global para o século 21.


Medidas-chave discutidas no relatório incluem:

• Pôr fim à austeridade por meio de investimento público, maior e melhor, com uma forte dimensão assistencial, incluindo vultosos programas que aprimorem a infraestrutura e gerem emprego. Ajudar a mitigação das mudanças climáticas, bem como a adaptação a elas; promover as oportunidades tecnológicas oferecidas pelo Acordo de Paris no quadro da Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC). Dar maior importância às atividades assistenciais.
• Aumentar a receita governamental: um maior recurso a impostos progressivos (inclusive sobre a propriedade e outras formas de renda) pode combater a desigualdade de renda. O relatório mostra que mesmo pequenas mudanças nas taxas marginais incidentes sobre as camadas mais ricas reduziriam de forma significativa os déficits. Reduzir isenções, brechas fiscais e o abuso empresarial dos subsídios aumentaria as receitas e a equidade.
• Estabelecer um novo registro financeiro global, identificando a propriedade de ativos financeiros, como primeiro passo para a taxação equitativa.
• Dar mais voz ao trabalho (os salários precisam subir em linha com a produtividade; a insegurança no emprego precisa ser corrigida por meio de ações legislativas e medidas ativas no mercado de trabalho).
• Domar o capital financeiro: regular de forma apropriada o setor financeiro, desde o private banking até os produtos financeiros “tóxicos”.
• Melhorar a capitalização dos bancos de desenvolvimento multilaterais e regionais: as lacunas institucionais no campo da reestruturação da dívida soberana precisam ser resolvidas no plano multilateral.
• Manter o controle sobre o “rentismo” empresarial. Medidas para combater práticas comerciais restritivas devem ser tomadas conjuntamente com uma aplicação mais rigorosa de normas nacionais de divulgação de informações. Um observatório da competição global poderia monitorar as tendências e padrões da concentração de mercado mundial e reunir informação sobre as diversas diretrizes regulatórias, o que seria um primeiro passo para a criação de normas e políticas globais coordenadas de melhores práticas e políticas internacionais.

Fonte: UNCTAD Press Office/Genebra


PARA LER O RELATÓRIO COMPLETO CLIQUE AQUI

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

A Melhor da Galáxia era uma fábrica de apelidos. . .

Por Roberto Muggiati
Fotos Acervo RM

A arte de brincar com as palavras sempre foi uma verdadeira obsessão nas redações de Bloch Editores, em particular na Manchete (que sobrevive, 65 anos depois de sua criação, nesse apetitoso blog Panis Cum Ovum). Não saciados em escrever suas matérias e jogar conversa fora nos corredores, redatores e repórteres se aplicavam em criar apelidos, numa atividade tão espontânea e natural como o próprio ato de respirar.

Primeiro, preciso explicar a origem do apelido “a melhor da galáxia” para designar a Manchete.
Adolpho Bloch não suportava o sucesso de Justino Martins, embora Justino, um dos maiores
“revisteiros” do Brasil, tivesse tirado a Manchete do limbo em que ela viveu em seus primeiros oito anos e a transformado na maior revista do país. No final da década de 1960, Adolpho tirou o “Índio” – como chamava o Justino – da direção da revista, mas a manobra não deu certo. Justino voltou à direção da Manchete em alto estilo no início dos 1970. Em 1975, Adolpho defenestrou Justino de novo e colocou este que vos escreve na direção da revista. Para botar panos quentes na história, prometeu ao Justino uma tarefa maior – a direção de uma revista de decoração e jardinagem – e ofereceu-lhe uma megafeijoada de despedida no restaurante do terceiro andar, um evento para quatrocentos talheres. Entre os convidados de honra estava JK – o ex-Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira – que ganhara de Adolpho um escritório nobre no prédio da Manchete e ocasionalmente assinava resenhas de livros na revista. JK tomou a palavra e decolou: “És um homem feliz, Bloch. Tens a melhor revista do Brasil. Indisputavelmente da América Latina; tens a melhor revista do mundo – quiçá da galáxia!” O regabofe foi na terça-feira, um dia menos tenso: a Manchete fechava na segunda-feira e ia às bancas na quarta. Nas manhãs de quarta aguardávamos ansiosamente os exemplares da revista que vinham da gráfica em Parada de Lucas. No dia seguinte à feijoada, Alberto de Carvalho, nosso assistente de redação – título que não queria dizer nada e dizia tudo – adentrou a sala com aquela ginga de carioca do Estácio e perguntou: “Já chegou a melhor da galáxia?” A partir daí a Manchete ganhou um de seus codinomes mais nobres, cunhado por um ex-Presidente da República.

Alberto chamava a todos afetuosamente de Professor de Astúcia. Os apelidos eram incontáveis. Entre os contínuos, conhecidos como “siris”, havia o Sammy Davis Jr. – era até caolho como seu sósia – e o Tim Lopes, com seus cabelões à moda do famoso cantor Tim Maia. O rapaz saiu da Manchete, estudou jornalismo e, como Tim Lopes, se tornou o mártir da reportagem que todos conhecem.

Ainda outro contínuo foi apelidado de Pablito Cubano pelo chefe de reportagem João Luiz de Albuquerque. O João desconfiou que conhecia a cara do rapaz de algum lugar, fuçou umas revistas antigas e descobriu que ele era o menino que viajou clandestino no trem de aterrissagem de um avião do Galeão para Havana, por admiração a Fidel Castro, que tinha acabado de fazer sua revolução em Cuba.

A fotografia também tinha seus apelidos. Frederico Mendes – nosso Woody Allen de plantão – passou a ser O Encucadinho. Dois “retratistas” reconhecidamente bem dotados se tornaram Tromba e Tripé (apelido que se referia também a uma das ferramentas de trabalho). Jovenzinho, Ayrton Camargo Jr foi seduzido pela Márcia Ramalho e passou a ser chamado de Ayrton Ramalho; o mais incrível na sua trajetória e que tempos depois ele se juntou com uma mineira de Rio Casca que faria sucesso em Los Angeles como Rainha do Anal no cinema pornô com o nome de guerra de Elle Rio. E o laboratorista Claybom? Detestava margarina, mas era de origem francesa e se chamava Clement... O primeiro fotógrafo a fazer um selfie voando de asa delta, nos anos 70, tinha um sobrenome complicado: Paulo Scheuenstuhl virou Paulo Chuchu – aliás, era alto, atlético e agradava às moças. Voltando ao Tripé: ele viveu um episódio que acabaria em apelido, também. Foi designado para fotografar o ator e diretor teatral Ziembinski. A empregada o encaminhou para a biblioteca, imensa, onde Ziembinski estava pendurado no alto de uma escada à beira de um ataque de nervos. Viu o Tripé chegar e desabafou: “Meu filho, quando procuro um livro e não consigo encontrar, isso me dá uma vontade louca de dar o rabo...” O Tripé encontrou uma desculpa qualquer e se mandou. E essa versão masculina de TPM foi batizada por um intelectual da Manchete de Síndrome do Ziembinski. Outra grande figura era o Sérgio de Souza, o Serjão, um dos melhores fotógrafos de futebol. Certa vez recebeu duas ordens de serviço para o mesmo horário, 14 horas; uma em Niterói, outra na Barra. Indignado, Serjão correu para o chefe de reportagem com as ordens na mão: “Cara, olha só aqui, eu não sou onipotente, não!”

Depois da Revolução dos Cravos em Portugal, Adolpho acolheu na empresa vários lusitanos desgarrados, entre eles um fotógrafo de origem aristocrática, Antônio D‘Atoughia, que ficaria conhecido como o Conde; e Lúcio Macedo, apelidado de Salazar por ter sido o fotógrafo oficial do ditador deposto. Um destes era um senhor gordote e pedante que cuidava da portaria e, por sua semelhança física com o ratinho famoso, ganhou o apelido de Topo Giggio. Tempos depois, a Bloch contratou um plano de saúde barato para os funcionários do baixo escalão, praticamente inaugurado com a morte do Topo Giggio.

Alguns redatores já vinham com apelido: desconheço a origem do Jacaré do Irineu Guimarães; já o Pato Rouco do Ivan Alves era mais fácil de detectar.

Eremita, Cony e Tia Zeffa. 

Quando Adolpho Bloch presidiu a Fundação dos Teatros do Rio de Janeiro, promoveu a apresentação de uma série de óperas famosas, coroada pela Traviata dirigida por Franco Zeffirelli, que gostava de frequentar a redação. Já nos primeiros dias, ganhou a alcunha afetuosa de Tia Zeffa. Eu mesmo, como editor da revista e mergulhado em problemas de venda, gestão e jornalismo, passei a ser o Muggi das Crises (a cidade de Mogi das Cruzes, não lembro por que, estava em evidência na época). Nos tempos da longa barba, o Alberto me chamava também de Eremita. Já o Justino era o Lafra – de “lafranhudo”, xingamento do arco da velha com que foi brindado, sob golpes de guarda-chuva, pela crítica de ópera Maria Teresa Dal Moro, por não ter publicado um texto dela.

Alberto tinha uma sensibilidade especial para a música das palavras. Quando o Durval Ferreira, repórter de São Paulo, trouxe uma matéria sobre a Revolução Constitucionalista de 1932, pontificou o nome do coronel Palimércio de Rezende, um dos primeiros oficiais negros do exército brasileiro. Meu filho estava para nascer, ainda não tinha um nome escolhido, e o Alberto perguntou: “Quando é que chega o Palimércio?” A partir daí, todo bebê da redação passou a ser Palimércio ou Palimércia.

Outro apelido, altamente sofisticado, que saiu para fazer sucesso fora da Manchete, foi o do senador Marco Maciel: Mapa do Chile.

O Adolpho vivia às turras com um funcionário dos orçamentos gráficos chamado Possidônio. Da noite para o dia, ele virou Pseudônimo. Na época, as notas mais descontraídas e curtas da seção Leitura Dinâmica eram assinadas por pseudônimos, para evitar repetição de assinatura do mesmo redator. Lembro de alguns desses codinomes, que na verdade eram verdadeiros autoapelidos: Niko Bolontrim (Ney Bianchi), José Bálsamo (Cony), Jean-Paul Lagarride (Justino Martins), Acácio Varejão e, o mais curto de todos, Ed Sá (Ruy Castro). [O Ruy foi justamente interpelado por uma redatora nova, Marilda Varejão, sobre a escolha daquele codinome. “E existe algum Acácio Varejão?”, retrucou ele na defensiva. E Marilda, indignada: “Existe, sim! É o nome do meu pai.”] Um dia, um delator premiado (a Bloch foi pioneira também nessa instituição do momento) emprenhou o Adolpho pelo ouvido, alegando que pseudônimo não era jornalismo. O capo investiu então com toda fúria na redação: “Quero que parem imediatamente com esses possidônios!...”

Festa de meus 40 anos com Moët-Chandon: Layrton Cabral (Lalá), Antonio Rudge,
o Eremita, Justino, Wilson Cunha, ao fundo Murilinho. 

Adolpho dizia para o Alberto: “Você é inteligente, porra! Se tivesse diploma seria diretor da Manchete...” De meados dos anos 60 até o amargo fim da revista, em agosto de 2000, Alberto foi sempre a sombra (benfazeja) do diretor da Manchete, fosse quem fosse. (Eu fui o que mais tempo se sustentou no pau de sebo, para lá de vinte anos.). Ele sugeria títulos de matérias instantâneos e
vencedores. Para uma reportagem científica sobre bebês que eram botados para nadar assim que saíam do ventre materno: QUEM NÃO NADA, NÃO MAMA. No auge da fama do Rei da Canção e do Rei do Futebol, reunimos os dois numa capa. Desta vez, o título do Alberto não foi publicado, por ser politicamente incorretíssimo: O REI E O PERNA-DE-PAU.

No Santa Genoveva, com direito a escultura de Krajcberg, 1997.
A arte do Alberto não se restringia a apelidar só pessoas. Em 1996, fui destituído da direção da Manchete e ganhei um novo cargo com o nome pomposo de Editor de Projetos Jornalísticos. O afastamento também foi geográfico: me exilaram para uma sala imensa, um andar inteiro, a cobertura da terceira fatia do prédio do Russell, à qual se tinha acesso através de uma escada em caracol (que, felizmente, impedia a visita da chatos idosos ou lesados...). Mauro Costa, também destituído da chefia de reportagem da TV, foi ocupar um espaço daquele latifúndio. Pois o Alberto apelidou o local imediatamente de Santa Genoveva – alusão ao asilo de idosos que praticava maus tratos contra os pacientes, fato que chocou o Brasil e só foi descoberto por acaso no rastro de uma daquelas grandes enchentes cariocas.

eresópolis, 8-10-1977, sábado, aniversário do Adolpho: Machadinho,
Wilson Cunha, Heloneida Studart, o Eremita, Flávio de Aquino,
Ceres Feijó, Célio Lyra.

O próprio Adolpho Bloch dava a sua contribuição aos apelidos, às vezes de forma indireta ou
involuntária. Uma dia chegou da gráfica em Parada de Lucas e plantou um jovenzinho franzino na sala de redação: “Ele é um gênio. Vai trabalhar com vocês. Como escreve!” E, exagerando nos elogios: “É um verdadeiro Machado de Assis!” Antônio Roberto é conhecido até hoje como “Machadinho” e colegas da época ainda não esqueceram sua estreia literária. Fã ardoroso de Carlinhos de Oliveira, ele escreveu uma crônica sobre um operário que vinha todo dia cedo para trabalhar na cidade. Logo no início do texto, mencionou a “hedionda marmita”. Até hoje não perdoaram a Machadinho o hediondo adjetivo. Em pouco tempo, ele passou a competir com o maître Severino Ananias Dias fazendo discursos nas grandes ocasiões da casa – discursos que o Cony, com sua ironia de sempre, dizia que eram comissionados “em nome da redação da Manchete”. Foi num destes, um aniversário do Adolpho, que o Severino cunhou um adjetivo inolvidável, referindo-se à “figura inevolúvel de Adolpho Bloqui”. . .

Ruy Castro (Ed Sá) e Narceu de Almeida (Capelinha) em 19-12-72.
Pedro Bloch, que na verdade apelidou a própria revista – sugeriu a Adolpho que a chamasse de
Manchete, lembrava uma manchete de jornal e também imitava a sonoridade de Paris-Match, a maior revista da época. Teatrólogo e fonoaudiólogo, Pedro cuidou de um fotógrafo com problemas de fala que Adolpho mandou para se tratar com ele – e, de saída, o apelidou de João Farofa.

Quando o redator Narceu de Almeida resolveu largar tudo e partir para a vida alternativa na Região dos Lagos, sob a égide dos colegas Cabral e Maciel, ambos Luís Carlos, Jaquito sabia que não ia dar certo e comentava conosco: “O Narceu foi jogar pingue-pongue contra o vento...” Depois de um tempo, Narceu voltou e Jaquito o colocou em regime de free-lancer: o pagamento por matéria redigida, em vez do trabalho assalariado, tornava o redator mais produtivo e mais ágil. Orgulhoso da sua artimanha, Jaquito dizia: “Agora sim, o Narceu está correndo atrás!” E o apelidou de Capelinha, em alusão à marca dos taxímetros da época.

Havia uma recomendação aos novatos que fazia sucesso na redação da Manchete e devia ser escandida, com ênfase nos trocadilhos, em ligeiro sotaque iídiche:  "Se você desobedecer a ordem que Adolpho deu, e aquela que Jaquito havia dado, o Oscar ralha.”

Entre os autores de chistes mais antigos da Manchete, o repórter Ronaldo Bôscoli, que Nelson Motta chamou de “a língua mais rápida de Ipanema, um gênio da maledicência”, notabilizou-se pelos apelidos corrosivos que dava aos seus desafetos. Alguns exemplos: Sérgio Mendes (“compota de monstro”), Antônio Maria (“eminência parda da MPB”), Maysa (La Gorda), Elis Regina (“Vesguinha”). O apelido do próprio Bôscoli era Veneno. É bom lembrar também o fabuloso Nelson Rodrigues, que escrevia na Manchete Esportiva e criava apelidos os mais exóticos. Chamou Cláudio Mello e Souza, editor de Fatos&Fotos, de O Remador de Ben-Hur. Um dia eu vejo o Nelson adentrando a redação e saudando Adolpho Bloch como “Como vai este Cecil B. DeMille das revistas!” (pronunciando o DeMille como DeMaille). Sérgio Porto, colunista da Manchete, que apelidou a si mesmo de Stanislau Ponte Preta, fez do redator Raymundo Magalhães Jr um alvo predileto. O escritor e acadêmico fazia questão de assinar seus escritos como R. Magalhães Jr. Sempre que Sérgio entrava na redação e via o Magalhães batucando com dois dedos na Remington, gritava: “Erre, Magalhães Jr!” Ou gozava da sua baixa estatura: “Toda vez que o Magalhães pega uma caixa de fósforo as pessoas pensam que ele vai
viajar...”

Raul Giudiccelli, outra das línguas mais ferinas da Bloch, fez toda uma catilinária em cima do Ledo Ivo, poeta e redator. Só lembro esta: “O professor deu zero para o Ledo Ivo e ele foi se queixar que a nota não era justa. O mestre explicou-se com o Ledo: – Desculpe, meu filho, mas não tinha nota mais baixa do que o zero...” Ainda em relação ao Ledo Ivo, o Cony retificou o clichê “ledo engano” para “ledo e ivo engano”, usado até hoje por Cony e outros escribas.

A Santa Ceia em cor: Alberto, Ivan, Cunha, Flávio, ao fundo Sammy Davis Jr,
Eremita, Heloneida, Magalhães, Passos, Argemiro, Pedrão, Ney, Cony, Irineu.

Voltando ao Alberto: lendo agora o livro de contos inéditos de Scott Fitzgerald, I’d Die For You,
publicado 77 anos após a morte do autor, encontrei uma personagem – típica serelepe dos anos 30 – chamada Trouble, que só se poderia traduzir, é claro, por Encrenca. Pois sempre que aparecia na redação uma daquelas que a gíria do malandro chamava de “chave de cadeia”, o Alberto se referia a ela como Encrenca.

Almoço para Lula no Russell na véspera da votação do 2º turno, sábado 16-12-89.
Teria sido na Manchete que Brizola pela primeira vez chamou Lula de "sapo barbudo". 

Não faltaram encrencas na história da Manchete. Uma que mais fez jus ao apelido foi a produtora de moda de sobrenome Guerra que deu um tiro no recém-chegado diretor de arte Serge Elmalan. O
coitado do Serge acabara de chegar da França com mulher e cachorro e se instalara num
apartamento no Lido. Sofreu o imediato assédio e atração fatal da Guerra e levou um balaço.
A bala ficou alojada num ponto melindroso da região do ombro e teimava em não sair. Adolpho não hesitou: mandou o Serge para Houston aos cuidados do Dr. Michael DeBakey, o cirurgião que revolucionou a medicina na Segunda Guerra, levando o atendimento para a própria zona de combate (procedimento satirizado pelo filme M*A*S*H). Nem um craque como o Dr. DeBakey conseguiu retirar a bala guerreira que acompanhará o Serge em suas andanças pelo mundo até o fim dos seus dias. Um parêntese para dar uma ideia de quem era Serge Elmalan. Convidou-me uma noite para uma reuniãozinha en petit comité no seu apartamento. Quando adentrei a sala, lá estavam a romancista Françoise Sagan (Bonjour Tristesse), a Begum Aga Khan (viúva de um dos homens mais ricos do século), o cineasta Jacques Deray (dirigiu Alain Delon em La Piscine) e Gilberto Tumscitz e sua mãe (Serge adivinhou já no jovem repórter o futuro autor de telenovelas de sucesso, Gilberto Braga).

Outra Encrenca que fez nome na Manchete foi Marisa Raja Gabaglia (1942-2003). Fomos colegas na reportagem de Frei Caneca em 1966. Inteligente, neurótica, sedutora, fez sucesso como cronista, seu livro Milho Para a Galinha Mariquinha virou best seller. Foi repórter da TV Globo por dezoito anos, fez novela com Tônia Carrero. Marisa teve uma paixão fulminante pelo cirurgião plástico Hosmany Ramos, ex-assistente de Ivo Pitanguy, que de repente partiu para uma surpreendente carreira criminosa e, depois de várias fugas, está preso até hoje. Marisa foi pioneira do Amor bandido, título do livro que publicou em 1982 sobre sua relação com Hosmany.

Vou parando por aqui, porque “a melhor da galáxia” é como aqueles vampiros velhos que – mesmo com bala de prata e estaca no peito – se recusam a morrer.