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sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Passou no Teste de Cooper


Alice Cooper no Rock in Rio. Foto de Gabriel Monteiro/Riotur

Foto de Gabriel Monteiro/Riotur

por Roberto Muggiati 

Estou falando de Alice Cooper, que fez 69 em 4 de fevereiro. Fã de rock aposentado desde a morte de John Lennon, liguei por acaso a TV e lá estava Tia Alice velha de guerra a mil, dando seu show de terror Z ao som de clássicos como Brutal Planet e No More Mr. Nice Guy.

Queria lembrar aqui o que escrevi num livrinho chamado Rock: Da utopia à incerteza (1968-1984), que a Brasiliense publicou em 1985, ano do primeiro Rock in Rio:

“Embora catalogado às vezes como heavy metal, Alice Cooper ajudou a desencadear o rock andrógino, conhecido como glitter rock nos EUA e glam rock na Grã-Bretanha; respectivamente brilho (glitter) e glamour (glam).

Em outras palavras, algo como um rock de plumas e paetês em que os músicos apareciam fortemente maquiados ou até travestidos. Em Alice Cooper, o apelo sexual era mais um recurso para agredir o público, pois Alice (nascido Vincent Damon Furnier, filho de pastor) era uma ‘cria’ de Frank Zappa, o pai espiritual dos freaks de todo o mundo e um discípulo direto do Teatro do Absurdo, aperfeiçoando um rock grand guignol com cadafalsos, guilhotinas e cadeiras-elétricas no palco, decapitando bonecas como um samurai maluco ou se enrolando numa jiboia de estimação.”

Em boa forma, exibindo os trejeitos de sempre e brandindo um bastão do poder, Alice Cooper, com 54 anos de carreira, mostrou que ainda tem alguns anos de estrada pela frente. Depois do espetáculo, comentou satisfeito no camarim: “Muitos desses meninos nunca viram um show de rock ‘n’ roll.”

Alice Cooper, o shock rock e a memória dos dinos...


por José Esmeraldo Gonçalves

Alice Cooper estava no auge e visitava no Brasil. Em 1974, só isso já seria um notícia. ´

Naquela época, astros no rock não davam as caras por aqui.

Fora do rock, até aparecia um Johnny Mathis, mas esse vinha com tanta frequência que era atração até na Churrascaria Tem-Tudo, em Madureira.

O Brasil estava sob a ditadura e a música pesada e as performances violentas de Alice Cooper, com guilhotinas, cobra no palco e sangue, eram quase uma caricatura da época.

Na sua primeira turnê na América do Sul, apresentou-se em São Paulo, no Anhembi, no dia 30 de março, e veio para dois shows no Rio: Canecão (5/4) e Maracanãzinho (6/4). Não sei quais as exigências que fez ao Rock in Rio, onde se apresentou ontem. Em 1974, seu contrato assinado com o empresário Marcos Lázaro incluía oito seguranças, dois carros, um ônibus, duas camionetes, caixas de Budwiser e Ginger Ale etc. Hotel, comida e roupa lavada para 25 pessoas, além de oito toneladas de equipamento.

Cobri a coletiva no Canecão para o extinto O Jornal. Foi quando conheci o Tarlis Batista, da Manchete, cuja primeira pergunta ao cantor foi um direto na veia ou no pulmão: "Você fuma muita maconha?". Os demais coleguinhas se entreolharam, a maioria fazia perguntas "leves" no começo para descontrair a fera. Alguém reclamou: "pô, ele vai embora". Um assessor preocupado falou qualquer coisa ao ouvido do roqueiro, que enrolou e emendou com um resumo do que iria mostrar no show. A coletiva seguiu em frente, sem turbulências.

No Maracanãzinho lotado, no dia seguinte, chamava a atenção o equipamento de som e o tamanho das caixas, algo desconhecido na época, no Brasil. Alice Cooper foi "eletrocutado", decapitou bonecas e surpreendeu ao gritar "pra frente Brasil". Embora o refrão estivesse na moda ainda no rescaldo da Copa de 70, era coisa identificada com a propaganda da ditadura.

Os jornalistas foram colocados na primeira fila da plateia. Ótimo lugar. Mal sabíamos que as enormes caixas de som laterais em altíssimo volume e ainda reverberando na cúpula do ginásio provocariam surdez momentânea ao final do show em quem estava tão perto daqueles geradores de decibéis. O que não invalidou a experiência. O Furnier, nome verdadeiro do roqueiro performático, mandou muito bem. Dizem os críticos que aquela turnê de Alice Cooper deixou influência no show business brasileiro. Não apenas pela grandiosidade do aparato como pela performance criativa. Os Secos & Molhados teriam assimilado algumas lições de dramaturgia radical do cantor, então com 25 anos.

Ontem, vendo o show pela TV, não pude deixar de revisitar essas memórias de dinos.