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sexta-feira, 22 de setembro de 2017
Alice Cooper, o shock rock e a memória dos dinos...
por José Esmeraldo Gonçalves
Alice Cooper estava no auge e visitava no Brasil. Em 1974, só isso já seria um notícia. ´
Naquela época, astros no rock não davam as caras por aqui.
Fora do rock, até aparecia um Johnny Mathis, mas esse vinha com tanta frequência que era atração até na Churrascaria Tem-Tudo, em Madureira.
O Brasil estava sob a ditadura e a música pesada e as performances violentas de Alice Cooper, com guilhotinas, cobra no palco e sangue, eram quase uma caricatura da época.
Na sua primeira turnê na América do Sul, apresentou-se em São Paulo, no Anhembi, no dia 30 de março, e veio para dois shows no Rio: Canecão (5/4) e Maracanãzinho (6/4). Não sei quais as exigências que fez ao Rock in Rio, onde se apresentou ontem. Em 1974, seu contrato assinado com o empresário Marcos Lázaro incluía oito seguranças, dois carros, um ônibus, duas camionetes, caixas de Budwiser e Ginger Ale etc. Hotel, comida e roupa lavada para 25 pessoas, além de oito toneladas de equipamento.
Cobri a coletiva no Canecão para o extinto O Jornal. Foi quando conheci o Tarlis Batista, da Manchete, cuja primeira pergunta ao cantor foi um direto na veia ou no pulmão: "Você fuma muita maconha?". Os demais coleguinhas se entreolharam, a maioria fazia perguntas "leves" no começo para descontrair a fera. Alguém reclamou: "pô, ele vai embora". Um assessor preocupado falou qualquer coisa ao ouvido do roqueiro, que enrolou e emendou com um resumo do que iria mostrar no show. A coletiva seguiu em frente, sem turbulências.
No Maracanãzinho lotado, no dia seguinte, chamava a atenção o equipamento de som e o tamanho das caixas, algo desconhecido na época, no Brasil. Alice Cooper foi "eletrocutado", decapitou bonecas e surpreendeu ao gritar "pra frente Brasil". Embora o refrão estivesse na moda ainda no rescaldo da Copa de 70, era coisa identificada com a propaganda da ditadura.
Os jornalistas foram colocados na primeira fila da plateia. Ótimo lugar. Mal sabíamos que as enormes caixas de som laterais em altíssimo volume e ainda reverberando na cúpula do ginásio provocariam surdez momentânea ao final do show em quem estava tão perto daqueles geradores de decibéis. O que não invalidou a experiência. O Furnier, nome verdadeiro do roqueiro performático, mandou muito bem. Dizem os críticos que aquela turnê de Alice Cooper deixou influência no show business brasileiro. Não apenas pela grandiosidade do aparato como pela performance criativa. Os Secos & Molhados teriam assimilado algumas lições de dramaturgia radical do cantor, então com 25 anos.
Ontem, vendo o show pela TV, não pude deixar de revisitar essas memórias de dinos.
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