Retrato do artista quando “foca”, 1958. Foto: Acervo R.M |
Por Roberto Muggiati
Nestes meus 63 anos de reportagem, encontrei muita gente interessante. Algumas vezes, só vim a conhecer de fato o entrevistado muito tempo depois. É o caso de Sir Stanley Unwin (1884-1968), com quem conversei em 1958 na Cultura Inglesa de Curitiba. Fundador da editora Allen & Unwin, era pacifista e foi um dos primeiros a publicar Bertrand Russell e Mahatma Gandhi.
Mas sua contribuição maior para a cultura da nossa época foi ter iniciado a onda da literatura fantástica ao lançar O Hobbit, de J. R. R. Tolkien.
O mais curioso em tudo isso foi como ele decidiu lançar o livro sem o ter lido. Tolkien sempre relutara em publicar estes escritos fantásticos.
Em 1936, estimulado por amigos, submeteu The Hobbit a Unwin. O editor então pagou um xelim ao filho de dez anos, Rayner, para fazer um relatório sobre o manuscrito.
O relatório foi favorável, o livro se tornou um sucesso e Unwin pediu uma sequência a Tolkien, surgindo daí O Senhor dos Anéis. Rayner, que também seguiria a carreira do pai, disse tempos depois: “Não foi uma peça brilhante de crítica literária, mas naqueles dias felizes não era preciso uma segunda opinião: se eu recomendasse um livro, ele era publicado na hora.”
Hoje, oitenta anos depois, os milhões de fãs de Harry Potter não sabem o que devem para Unwin, pai e filho. . .