sábado, 18 de março de 2017
Memórias do império: a última sessão de cinema dos Bloch
Geraldo Mayrink, colaborador da Época, foi redator da revista Manchete. Ele esteve em Cannes em 1983 e testemunhou uma despedida: Justino Martins não sabia mas naquela noite de maio participava pela última vez
do festival que tanto frequentou.
do festival que tanto frequentou.
por Geraldo
Mayrink
O filme havia acabado e, numa noite de maio de 1983, o jornalista Justino Martins apareceu para jantar. Ele chegou ao restaurante Le Martis, em Cannes, impecável em seu smoking, por volta de 11 da noite, e sentou-se sozinho a uma mesa. Foi reconhecido pelos brasileiros presentes, quase todos jornalistas. Logo arrumou companhia, brasileira. E parecia triste.
O filme havia acabado e, numa noite de maio de 1983, o jornalista Justino Martins apareceu para jantar. Ele chegou ao restaurante Le Martis, em Cannes, impecável em seu smoking, por volta de 11 da noite, e sentou-se sozinho a uma mesa. Foi reconhecido pelos brasileiros presentes, quase todos jornalistas. Logo arrumou companhia, brasileira. E parecia triste.
Justino, alto e moreno, gaúcho e vibrante, era uma referência histórica. Passara a vida como diretor da revista Manchete e sabia fazê-la como ninguém, quando ela era um sucesso. Passara parte da vida em Paris e, quase todo mês de maio, no Festival de Cannes. Passara também a vida passando em revista, em casa, em Cannes ou aonde quer que fosse, as mulheres mais belas que punha na capa da revista Manchete.
Orgulhava-se disso, não escondia.
Mas Justino parecia triste naquela noite. O filme que vira, Furyo, de Nagisa Oshima, de modo algum o aborrecera. Aos 66 anos, aparentando menos, divagou sobre os fantasmas do festival – gente morta, amigos que não veria mais. Falou de hotéis, pousadas, coisas volatilizadas. Estava doente de um câncer agressivo e fatal, mas não sabia disso. Sua tristeza deveria ter outra causa, impossível de diagnosticar.
Aí lhe perguntaram sobre seu futuro e esse futuro se chamava Rede Manchete, prestes a ser inaugurada. Era para ser uma coisa do outro mundo, com equipamento fabuloso. Bebendo vinho e comendo lasanha, Justino ficou ainda mais triste. Disse: “Não vai dar certo. Equipamento não faz televisão. O que faz é cabeça. E eles não têm cabeça para isso”. Eles eram todos da família Bloch, que havia erguido um império nos moldes luxuosos da velha Hollywood, vendendo ilusões e fantasias na forma de papel colorido, impresso em revistas.
Como se estivesse na Metro-Goldwyn-Mayer, Justino fez da revista Manchete a maior do Brasil num período. Seus companheiros de mesa acharam que ele estava enciumado da televisão, que lhe roubaria o trono espetacular. Nesse momento aconteceu uma coisa de cinema. Foi quando anunciaram que estava chegando ao local o rei do futebol, Pelé, para quem arrumaram uma mesa enorme, apesar da aparição fora de hora. O restaurante, já quase fechando as portas, ressuscitou. Pelé chegou acompanhado de uma loura, mas não uma branquela qualquer. Era uma louraça com vestido curto, branco, mostrando pernas e coxas, jóias no pescoço e dedos. Exibia um sorriso capaz de paralisar a platéia e um nome estranho – Xuxa. Ninguém sabia quem era. A presença de Xuxa provocou uma fila no toalete das mulheres, cuja porta muitos cavalheiros rondavam. Pelé concedeu entrevistas burocráticas. A moça voltou à mesa, muda. Ela sorria, ele se comportava. Comeram e foram embora. Justino observou tudo
Caminhando pelas vielas de Cannes, de volta ao hotel que ele imaginava cheio de lembranças e de fantasmas, Justino disse que a futura Rede Manchete colocaria Xuxa diante das câmeras e faria referências caridosas a Pelé. Que faria referências encomiásticas a ele, Justino, e haveria outras pessoas mandando no pedaço. Não parecia ressentido. Mas achava que a nova rede de TV iria à falência e seria fechada, tragando a Manchete e todas as demais revistas do império Bloch, que seriam reduzidas a pó. Despediu-se. Seus companheiros de noite acharam aqueles comentários coisa de um grande profissional que apenas estava triste, numa noite de mau humor em Cannes.
Justino Martins, alma da Manchete, carro-chefe dos Bloch, morreu três meses depois, sem tempo – e também sem o desgosto – de ver como estavam certas suas previsões mais sombrias, miradas num abismo onde não vislumbrava nada parecido com um happy end.
UPA: tratamento VIP e cinco estrelas. Quebrei a cara em Botafogo e recorri ao SUS. E não é que cuidaram bem de mim?
por Roberto Muggiati
Tropecei no meio-fio e mergulhei de cabeça no asfalto da rua. Imediatamente um rapaz e uma moça me ajudaram a levantar, queriam que eu encostasse na calçada. Agradeci e expliquei que morava perto e estava bem. Não estava tão bem assim.
O detalhe hediondo: eu tinha comprado um potinho de curau temperado com canela e o carregava como um bem precioso, mas de repente curau, sangue e canela se misturaram, ainda hesitei antes de jogar o pote fora. Em casa, avaliei o prejuízo: joelhos e palmas da mão ralados, o joelho esquerdo inchado e doendo e uma devastação geral no rosto na lateral do olho direito. A maçã do rosto escorchada, com perda de uma parte da pele. Um talho obsceno na pálpebra superior direita que obviamente requeria sutura. “Que saco,” pensei, “deixa pra lá.” Eram sete horas da tarde e eu nem havia almoçado, trabalhava para pagar as contas, tendo completado 63 anos de jornalismo nos idos de março, dia 15. Mas ainda persistem fiapos de bom senso nesta velha carcaça. Separei o livro que estou lendo, Os belos e malditos, de Fitzgerald, e – desobedecendo meu programa Transporte Zero – peguei um táxi até a UPA de Botafogo, esperando o pior dos horrores.
Entrei e me surpreendi: o ambiente parecia acolhedor, ar condicionado, tudo certinho. Muita gente esperando, aquilo me afligiu. Mas a mocinha da recepção logo sentiu que meu caso requeria “pronto atendimento”, como a sigla UPA promete. Achou que precisaria de sutura, tirou minha pressão (13/10) e me encaminhou adiante, dez minutos depois me convocam para a triagem na Classificação de Risco. Uma jovem robusta que, depois fiquei sabendo, sofreu um tombo parecido, senão pior que o meu, me levou para uma sala onde uma enfermeira simpática, a Jaci, fez os primeiros curativos. Ela comentou comigo que era imensa a quantidade de pessoas que davam entrada na UPA em consequência de ferimentos provocados por quedas devidas ao péssimo estados dos pisos e calçadas.
Veio então o cirurgião, Diego Nascimento, aplicou a anestesia e suturou quatro pontos. Um pessoal solidário, humano, rindo da própria desgraça – os salários atrasados – adorei a UPA de Botafogo. Mil vezes melhor e menos engessada do que o meu antigo Plano de Saúde Adventista Silvestre (religião embutida nunca dá certo). Na única emergência em que recorri ao Silvestre – e tive que subir até quase ao sovaco do Cristo Redentor – fui pessimamente tratado. Esperei das três da manhã até as onze, para ser medicado de uma luxação num dedo.
Lembro ainda de outro episódio, quinze anos atrás, com fortes lesões nas costelas, sem saber se tinham quebrado – meu filho me desovou na emergência do Miguel Couto, onde fui também muito bem tratado. E atendido em menos de hora e meia, com chapa de raios-X , laudo e medicação.
Voltando às reflexões costuradas com a enfermeira Jaci, enquanto o doutor suturava minhas pálpebras, concordamos que o acidente com a colega dela e meu tombo terrível tinham tudo a ver com o mau estado do piso das calçadas da cidade.
![]() |
"Eu me feri por causa de um buraco na calçada do Palácio da Cidade, a mansão de festas do prefeito carioca, na Rua São Clemente". |
A corrupção mata
“A corrupção mata. A corrupção é uma assassina sorrateira, invisível e de massa. É um serial killer que se disfarça de buraco de estradas, de falta de medicamentos, de crimes de rua e de pobreza” (Deltan Dallagnol, procurador da República)
A frase acima, proferida no discurso do procurador, em discurso à Câmara dos Deputados, revela bem o caráter da corrupção no Brasil. Sem dúvidas, ela é o nosso maior problema. Por conta da corrupção, direta ou indiretamente, a economia do país encolhe, pais de família perdem seus empregos, a criminalidade aumenta, e os cidadãos pagam a conta.
Se o senso comum for observado, veremos que a sensação de impunidade, e de que “tudo ficará como está” impregna as mentes dos brasileiros e, mesmo que surjam iniciativas populares com o objetivo de promover alguma mudança no cenário, muito pouco acontece, e a esperança acaba por se esvair.
Dallagnol (na foto) falou para poucos presentes, a maioria, membros da sociedade civil, e esta é a maior prova de que nossos representantes estão pouco comprometidos com atitudes que possam mudar os rumos da política no Brasil.
Mas, independentemente dos políticos, a sociedade precisa se comprometer mais. O brasileiro precisa encontrar e recuperar o gosto pela política, precisa debater, viver, participar. As estruturas partidárias precisam se revigorar e atrair novos membros, uma nova geração realmente comprometida com a mudança. Os políticos precisam se comprometer com a reforma política.
O país precisa encarar a política da mesma maneira que os gregos a encaravam na idade de ouro da civilização ocidental, com entrega e seriedade. A esperança reside nos espaços online, e na força de mobilização que o debate nas redes sociais incita. E reside no papel que o brasileiro desempenhará nas urnas, daqui em diante.
Do contrário, a corrupção continuará vitimando: pessoas, sistemas e estruturas.
sexta-feira, 17 de março de 2017
Fotomemória da redação - Justino Martins, 100 anos: lembranças de um revisteiro...
![]() |
Justino na noite carioca. |
![]() |
No Canecão, ao lado do jornalista Renato Sérgio. |
![]() |
Na redação da Manchete; No sentido horário, Célio Lyra, Muggiati, Justino e Alberto Carvalho. |
![]() |
Na redação da Manchete, comemorando aniversário. Da esquerda para a direita, Lairton Cabral, Antonio Rudge, Roberto Muggiati e Wilson Cunha. Ao fundo, Murilo Melo Filho. |
![]() |
Na Revista do Globo, em Porto Alegre, anos 1950. Fotos Reproduções, Arquivo Pessoal. |
![]() |
Foto Trip Advisor/Divulgação |
Justino Martins nasceu em Cruz Alta, no dia 13 de abril de 1917, há 100 exatos anos. Morreu em 1983, aos 66 anos. Com alguns breves intervalos, dirigiu a Manchete de 1959 até agosto de 1983. Embora a publicação já existisse havia sete anos, ele foi o responsável por modernizá-la e transformá-la no sucesso editorial que desbancou O Cruzeiro, a semanal que até então liderava o mercado de revistas brasileiro.
Na sequência de fotos acima, algumas imagens da sua trajetória.
A cidade natal o homenageou com a instalação da Casa de Cultura Justino Martins.
Marcadores:
100 anos,
bastidores. Manchete,
Casa de Cultura justino Martins,
Centenário de justino Martins,
Cruz Alta,
fotomemória da redação,
FOTOS,
justino martins
JUSTINO MARTINS: O CENTENÁRIO DE UM REVISTEIRO
O maior revisteiro do Brasil
Morto há pouco mais de três décadas, o gaúcho Justino Martins, que nasceu em Cruz Alta (RS) no dia 13 de abril de 1917, permanece na memória do jornalismo brasileiro como o criador do estilo da extinta revista Manchete
por Roberto Muggiati (especial para a Gazeta do Povo)
]Justino Martins morreu há 33 anos no mês de agosto. Foi uma morte simbólica, três meses depois que a TV Manchete foi ao ar. Ele já previa que a televisão iria matar as revistas da Bloch Editores. Diretor e criador do estilo da Manchete, Justino era emocionalmente apegado à revista e preferiu partir antes. Trabalhei 18 anos com ele, seis anos na mesa de edição, cotovelo contra cotovelo. Guardo a lembrança de um homem amante da vida, apaixonado por seu trabalho e com uma curiosidade ilimitada pelas pessoas. Cinéfilo extremado, ia todo ano ao Festival de Cannes, fazendo parte do júri.
Ganhou até o apelido de Cidadão Cannes...
Gaúcho de Cruz Alta, filho ilegítimo de um estancieiro uruguaio, Justino começou do zero. Aos doze anos foi balconista de sapataria, depois operário na construção de ferrovias. Seu conterrâneo Erico Verissimo lhe deu a primeira oportunidade: revisor da Revista do Globo, em Porto Alegre. Logo Justino passou a redator e aos 20 anos assumia a direção da revista. Erico e Justino casaram com as irmãs Mafalda e Lucinda. Com Lucinda e o filho Carlito, Justino partiu para uma longa temporada em Paris, onde trabalhou como correspondente de revistas e jornais. Publicou na Manchete o encontro exclusivo que promoveu – e fotografou – entre Brigitte Bardot e Picasso. Em 1959, Adolpho Bloch convidou Justino para dirigir a revista no Rio. Criada em 1952, a semanal ilustrada ficou famosa pela impressão impecável em cores, mas não conseguia achar uma fórmula editorial. Hélio Fernandes lhe deu um toque jornalístico, mas proibiu a entrada na redação dos irmãos Bloch: Arnaldo, Boris e Adolpho. Acabou demitido. Otto Lara Resende ficou um ano na direção e cunhou a expressão “os Irmãos Karamabloch.” Os Bloch nasceram na Ucrânia e seu temperamento russo era bem mais forte que o judeu. Certa vez, um dos irmãos comprou a bom preço uma batelada de máquinas de escrever. Os outros dois, desconfiados do negócio, se puseram a quebrar as Remingtons no chão da redação. Arnaldo e Boris morreram em 1957 e 1959 e Adolpho ficou livre para reinar supremo sobre a Manchete.
Confrontos
Começou aí o casamento tumultuado – mas bem-sucedido – de Adolpho Bloch com Justino Martins. E a revista, ao longo de seus 48 anos de vida, seria sempre o produto do confronto entre o empresário e o jornalista. As reportagens eram discutidas palmo a palmo e a escolha da capa era uma verdadeira briga de foice no escuro. Adolpho interferia na escolha das fotos e quando não gostava de um cromo ele o comia. (A bem da verdade: rasgava o celuloide com os incisivos e o triturava com os molares, mas não o engolia...) Quando a revista vendia tudo, Adolpho se gabava: “Esgotei a edição!” Quando não vendia, Adolpho dizia: “Viu só, Índio? Tu encalhou a revista!” Uma de suas grandes brigas era a construção de Brasília. Adolpho fez da Manchete um órgão oficial da presidência JK. Justino publicava as reportagens a contragosto, dizia que não passavam de “marreta” (matéria paga). Em 21 de abril de 1960, Adolpho compareceu em alto estilo à inauguração de Brasília, mandou fazer fraque e cartola, fretou um avião para trazer as fotos do acontecimento e acompanhou o fechamento da Edição Histórica. Reprimindo sua raiva, Justino se deteve diante das fotos de Adolpho, devidamente paramentado, pinçou um detalhe e fez o comentário corrosivo: “Mas, tchê, tu estragaste tudo: não se usa sapato de furinhos com fraque e cartola...”
Ironicamente, Justino casou (pela segunda vez), com a primeira Miss Brasília, Martha Garcia. (Teve com ela uma filha, Maria Valéria Martins, que não negou o DNA paterno: é jornalista e dirige a agência literária Shahid.) “Eu adoro mulher bonita!” proclamava Justino, que descobriu, entre outras musas, Duda Cavalcanti, Xuxa, Luiza Brunet, Rose di Primo. Corria a estória de que a capa passava pela sua cama: “Se é capa, não escapa...” Nunca tive provas concretas disso, mas Justino não desmentia a lenda, que só acrescentava ao seu charme. Certa vez uma periguete caiu na conversa de um repórter que lhe prometeu a capa da Manchete. A moça foi reclamar ao Justino, que disse: “Mas tu deste pro cara errado, tchê...”
Retorno
Adolpho tentou tirar o Justino da direção da Manchete na virada dos anos 60/70, mas a manobra não deu certo. Chamou-o de volta. Justino fez charme, disse que tinha um convite para ser RP da grife de Madame Grès, estilista e perfumista de Paris. Era uma armação combinada com a Madame, sua velha namorada, que confirmou a história ao Adolpho pelo telefone. Assim, além de um belo salário, Justino voltou à direção com um bônus de mil dólares, que um funcionário da tesouraria todo fim de mês botava na sua mão em cash, diante de toda a redação.
Mas tirar o Índio da direção de Manchete era uma obsessão do Adolpho e ele voltou à carga em 1975. Dipensou o Justino da Manchete, disse que precisava dele para criar uma revista de decoração (que nunca saiu), e o homenageou com uma grande feijoada para centenas de pessoas no restaurante da Rua do Russell. Involuntariamente, servi de instrumento para esta jogada maquiavélica do Adolpho. Desde 1972 eu editava a revista em maio, quando Justino tirava férias e ia ao Festival de Cannes. Seguro de que eu poderia assumir o posto, Adolpho me empurrou para a direção da revista, onde fiquei até 1980, quando uma crise de saudosismo levou o Justino e volta à Manchete e eu fiquei como seu vice.
Na primeira terça-feira de agosto, já com a revista fechada, Justino me falou: “Segura a coisa aí, tchê, que vou fazer uns exames no Hospital dos Servidores.” Foi embora para não voltar. Visitei-o uma vez no Servidores e outra num triste sábado na Clínica Sorocaba. A um punhado de amigos, Justino confidenciou: “Estou me sentindo como um soldado diante de um pelotão de fuzilamento.” Morreu no dia seguinte, 28 de agosto. Passados 30 anos, sua fama só fez crescer. Como definiu o livro A Revista no Brasil (Editora Abril, 2000) : “Foi o editor que desenvolveu definitivamente a fórmula do que chamou de ‘beleza estética na informação.’” Uma beleza flagrantemente ausente nas revistas de hoje.
Conheça um pouco mais sobre o jornalista gaúcho Justino Martins a partir de algumas de suas frases clássicas:
• “Escrever é fácil, ou impossível.”
• “Tens de pegar o leitor pela primeira frase.”
• “Tu não és repórter? Te viras!”
• “Nasci no pampa e só não virei cavalo porque saí de lá e fui para a Europa.”
• “Gide tinha o jornalismo como uma meia arte. Eu o considero uma arte inteira.”
• “A mulher só é fiel à moda.”
• “A coisa mais fácil do mundo é conquistar uma mulher. E a mais difícil é se livrar dela.”
• “Acredito que o próprio Stálin, na hora da morte, não pensou na Rússia que ele dominou. Pensou na garota de 19 anos que ele teve na juventude numa noite qualquer.”
(*) Roberto Muggiati, jornalista que mais tempo durou na direção da Manchete, admite que Justino Martins foi a verdadeira alma da revista.
Revista Alterjor: os novos caminhos do jornalismo independente
Saiu o novo número da revista Alterjor – Jornalismo Popular e Alternativo, publicação semestral do Grupo de Pesquisa da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP. O foco é o jornalismo-cidadão e os coletivos de comunicação. A revista discute experiências independentes e práticas jornalísticas realizadas pelos movimentos sociais e populares, além de temas relacionados à mídia em geral.
VOCÊ PODE LER A ALTEJOR CLICANDO AQUI
A lenda de Jean-Paul Lagarride: The Making Of
por Roberto Muggiati
A Manchete não era uma revista séria – ainda bem! Não se discute que publicava grandes reportagens nacionais, tinha escritores de renome no seu elenco e acesso aos melhores serviços internacionais de texto e fotografia. Mas o diretor da revista, Justino Martins, também tinha a alma de ficcionista e inventou um repórter internacional fortemente vínculado ao Brasil e à Manchete: Jean-Paul Lagarride.
Quando a Veja surgiu para disputar a hegemonia do mercado entre as semanais, seu editor, Mino Carta, começou em suas conversas com o leitor a alfinetar Lagarride – a quem chamava de “o guapo escriba bretão”.
Justino resolveu revidar. Inventou de publicar uma entrevista exclusiva na Manchete com Jean-Paul Lagarride. Irineu Guimarães passou um fim de semana na casa do Justino na Joatinga entrevistando o próprio – afinal, segundo Justino, “Lagarride c’est moi!” Até aí tudo bem. Mas faltava a foto para materializar o personagem. Justino teve uma ideia. Convocou Gene Anthony, ex-fotógrafo da Life – um daqueles profissionais norte-americanos que Adolpho Bloch contratou na bacia das almas, aproveitando-se da crise na imprensa ilustrada dos EUA. Gene era um gênio. Por isso mesmo ficou atônito quando o editor da revista o convocou para fotografar closes do rosto dos redatores e repórteres.
Baixou então o espírito do Dr. Frankenstein no Justino e, com as fotos ampliadas em preto-e-branco, munido de uma hedionda tesoura, passou a recortar um olho do Irineu, outro do Sandroni, metade do nariz do Muggiati, outra metade do nariz do Magalhães Jr, meia boca do Ivan Alves, meia boca do Alberto de Carvalho e assim por diante. Com estas partes dispersas, montou um rosto monstruoso – enfim, a própria Criatura – que atribuiu ao “guapo escriba bretão”.
Isso foi por volta de 1974, proliferavam na Manchete os pseudônimos, particularmente nas pequenas notas da seção Leitura Dinâmica. Ruy Castro tinha o mais curto, Ed Sá; Ney Bianchi o mais sonoro, Niko Bolontrim; Ruy inventou um Acácio Varejão. Um dia, uma nova redatora, Marilda Varejão, o interpelou. Ruy perguntou: “Mas existe algum Acácio Varejão?” Marilda: “Existe, sim. Meu pai.”
As áreas mais sisudas e conservadoras da Bloch não queriam que as redações fossem felizes. Principalmente o pessoal da publicidade e da administração.
Então delataram ao Adolpho que aquela inflação de pseudônimos não condizia com a imagem da revista. Na época, Adolpho costumava despachar os orçamentos gráficos com um funcionário chamado Possidônio, uma figura estranha com manchas roxas no rosto. A redação estava cheia de X-9s e todo mundo sabia que “o Adolpho emprenhava pelo ouvido.” Colérico, convocou o Justino à sua sala e ordenou: “Não quero mais nenhum texto assinado por possidônios na Manchete!”
O tempo passou, mas Panis resgatou nosso herói. Jean-Paul Lagarride 4ever!
quinta-feira, 16 de março de 2017
Modelo que foi capa da Playboy é indiciada na Lava Jato. Ela foi amante de um cagueta premiado..
por O.V.Pochê
Escândalo midiático que não emplaca uma musa não merece esse nome. A Lava Jato ficou devendo nesse quesito. Nada muito sensacional entrou ou saiu das masmorras de Curitiba.
Mas, como a operação está longe de acabar e a força-tarefa tem gás para atuar até 2030, alguém deve aparecer no power point da Justiça.
Por enquanto, a musa possível é a seria ex-amante do cagueta premiado Alberto Yousseff, a modelo Taiana Camargo. Ela acaba de ser indiciada pela PF sob a acusação de "lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores".
Yousseff, como diz a Lava Jato, foi ativo operador de propinas no esquema da Petrobras. Foi um dos primeiros a usufruir da delação premiada e se deu bem: já está no seu apê de luxo em São Paulo e, segundo a mídia divulgou, foi concedido ao sujeito um acordo que o remunera com 1 milhão de reais correspondentes a cada 50 milhões de reais recuperados a partir da sua denúncia. Calcula-se que ele poderá embolsar até 20 milhões de pixulecos.
A nova esperança de que a operação ofereça ao país uma musa está na chamada Lista de Janot. Quando a chapa esquentar no meio político de Brasília e as delações se transformarem em investigações serão grandes as chances de algumas musas caírem na rede. A história já mostrou mais de uma vez que alguns deputados e senadores deprimidos com a solidão em Brasília costumam buscar belas emendas constitucionais nos melhores endereços do ramo.
Que venham as musas. Vão ajudar a quebrar a monotonia do noticiário.
Escândalo midiático que não emplaca uma musa não merece esse nome. A Lava Jato ficou devendo nesse quesito. Nada muito sensacional entrou ou saiu das masmorras de Curitiba.
Mas, como a operação está longe de acabar e a força-tarefa tem gás para atuar até 2030, alguém deve aparecer no power point da Justiça.
Por enquanto, a musa possível é a seria ex-amante do cagueta premiado Alberto Yousseff, a modelo Taiana Camargo. Ela acaba de ser indiciada pela PF sob a acusação de "lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores".
Yousseff, como diz a Lava Jato, foi ativo operador de propinas no esquema da Petrobras. Foi um dos primeiros a usufruir da delação premiada e se deu bem: já está no seu apê de luxo em São Paulo e, segundo a mídia divulgou, foi concedido ao sujeito um acordo que o remunera com 1 milhão de reais correspondentes a cada 50 milhões de reais recuperados a partir da sua denúncia. Calcula-se que ele poderá embolsar até 20 milhões de pixulecos.
A nova esperança de que a operação ofereça ao país uma musa está na chamada Lista de Janot. Quando a chapa esquentar no meio político de Brasília e as delações se transformarem em investigações serão grandes as chances de algumas musas caírem na rede. A história já mostrou mais de uma vez que alguns deputados e senadores deprimidos com a solidão em Brasília costumam buscar belas emendas constitucionais nos melhores endereços do ramo.
Que venham as musas. Vão ajudar a quebrar a monotonia do noticiário.
A MÍDIA E A MÉDIA: QUANDO A NOTÍCIA PROVOCA SOFRÊNCIA NOS EDITORES DOS PRINCIPAIS JORNAIS
por Flávio Sépia
Os principais jornais brasileiros, em sintonia com a especulação financeira, apoiam as reformas com que o "presidente" Temer quer empalar os brasileiros.
Os principais jornais brasileiros, em sintonia com a especulação financeira, apoiam as reformas com que o "presidente" Temer quer empalar os brasileiros.
Isso é óbvio, isso não é novidade. Afinal, manobraram para colocar o ilegítimo lá precisamente para fazer esse e outros trabalhos sujos em matéria de supressão de direitos.
Ao exaltar essa tarefa em comentário sobre as manifestações de ontem, um colunista chama Temer, hoje, de estadista, com todas as letras, sem vergonha.
Há fatos que incomodam a quem deve noticiá-los. Vários dos jornais abaixo - e isso é histórico - omitiram até onde puderam a campanha pelas Diretas Já, nos anos 1980. Na época não havia internet, ficava mais fácil. Atualmente, com a força das redes sociais é impossível ignorar acontecimentos desse tipo por mais que gostassem de não vê-los. Resta a alguns veículos da mídia dominante usar de recursos para minimizar os protestos. Desde a decisão editorial de quase escondê-los na primeira página ao já manjado macete de destacar a "violência" ou os "transtornos" à população na tentativa de estigmatizar um ato democrático.
Em São Paulo, a propósito, um repórter de TV quebrou a cara ao tentar arrancar de um usuário do metrô que ia para o trabalho um comentário negativo sobre a paralisação. Foi surpreendido ao ouvir do trabalhador a declaração de que apoiava totalmente os manifestantes e lamentava não poder participar naquele momento.
Veja, abaixo, primeiras páginas de jornais brasileiros - registre-se que alguns escaparam do vexame -, e confira parte da repercussão internacional dos protestos.
![]() |
A Folha abriu a foto da Av. Paulista, foi neutra no título e enfatizou no texto de abertura os transtornos e o vandalismo. |
![]() |
Para o Extra, os protestos mereceram a notinha que os condena: "Manifestações terminam em confusão". |
![]() |
O Dia reconheceu a importância da notícia. |
![]() |
O Liberal não brigou com a notícia. |
![]() |
A Tarde foi moderada, não agrediu o fato. |
![]() |
O Correio Braziliense fez uma primeira página do tipo "sem querer querendo", quase escondeu. |
![]() |
A Folha de Londrina, da terra da Lava Jato, mostrou os protestos e o "vandalismo". E, para amenizar, deu a palavra a Temer no texto de abertura. |
![]() |
O Diário do Nordeste abusou da parcialidade: a foto é um 'selo' e a nota é milimétrica.. |
![]() |
O Povo foi mais fiel à relevância da notícia. |
Marcadores:
adesismo,
cobertura das manifestações,
eleições gerais já,
governismo,
JORNAIS,
manipulação editorial,
reformas,
sofrência,
supressão de direitos
Não é reforma, é desmonte da Seguridade Social...
(do site da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)
"A Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ – vem a público repudiar veementemente a Proposta de Emenda Constitucional (PEC 287), apresentada pelo governo ilegítimo de Michel Temer. A PEC altera regras referentes aos benefícios da Previdência e da Assistência Social para prejudicar o(a) trabalhador(a) brasileiro(a).
A reforma proposta promove, na verdade, o desmonte da Seguridade Social, especialmente dos regimes de Previdências Públicas (Regime Geral da Previdência Social e Regimes Próprios de Previdência Social), que passarão a não garantir condições de aposentadoria para a maioria da classe trabalhadora.
Apoiada em um postulado neoliberal e antipopular, a PEC 287 estabelece a idade mínima para aposentadoria em 65 anos, para homens e mulheres, prejudicando especialmente as mulheres e categorias como professores e trabalhadores rurais.
A PEC também estabelece o período mínimo de 25 anos de contribuição e modifica a forma de cálculo de todas as aposentadorias, promovendo uma real redução dos valores a serem pagos. Para ter direito à aposentadoria integral, os(as) trabalhadores(as) terão de contribuir durante 49 anos.
Para os(as) jornalistas, o aumento no tempo de contribuição será desastroso. A precariedade das relações de trabalho empurra profissionais para a informalidade do “pejotismo”. O baixo número de vagas no mercado e alta rotatividade no emprego trazem períodos de descontinuidade no recolhimento, o que prejudicará a aposentadoria, ainda que proporcional.
As mulheres jornalistas – que são maioria na categoria – serão ainda mais prejudicadas. Ao igualar a idade de homens e mulheres para obter o benefício, o governo brasileiro ignora as condições reais que diferenciam os sexos na sociedade contemporânea.
Se implantadas, as novas regras previdenciárias obrigarão grande parte dos trabalhadores e trabalhadoras a buscar alternativas na iniciativa privada, reforçando a ideia de um Estado Mínimo e privilegiando o poder do capital.
Esse é o grande objetivo da reforma em curso, pois, com o congelamento dos investimentos sociais por 20 anos e a diminuição da conta da previdência, o governo ilegítimo garante o superávit necessário para remunerar o rentismo financeiro do capital especulativo, aumentando a concentração de renda e privilegiando o capital que fomentou o golpe político no Brasil.
Diante dessa grande ameaça, a FENAJ se une ao movimento social e ao conjunto da classe trabalhadora para resistir e impedir o avanço desse ataque violento aos direitos previdenciários e sociais conquistados pelo povo brasileiro.
Não queremos um país de miseráveis! Queremos vida digna para o(a) trabalhador(a) em atividade e para o(a) aposentado(a). Por isso, a Federação Nacional dos Jornalistas apoia a paralisação e mobilização nacional contra a reforma da previdência, na quarta-feira, 15, e conclama seus Sindicatos Filiados e a categoria à participação nas diversas atividades que serão realizadas para mostrar a contrariedade do povo brasileiro."
Nenhum direito a menos!
Brasília, 13 de março de 2017.
Diretoria da FENAJ.
Brasil diz não às reformas que o governo ilegítimo quer impor ao país...
Mais de 1 milhão de pessoas fora às ruas ontem em todo o Brasil. O Dia Nacional de Paralisação foi um marco na luta contra a supressão de direitos previdenciários e trabalhistas, a meta odiosa do governo golpista do "presidente" Temer.
![]() |
Brasília. Foto Mídia Ninja |
![]() |
Sáo Paulo. Foto de Ricardo Stuckert/Instituto Lula |
![]() |
Foto de Paulo Pinto. Agência PT |
![]() |
Foto de Paulo Pinto/Agência PT |
![]() |
Rio. Foto AG.Brasil |
![]() |
São Paulo. Foto AG.Brasil |
![]() |
Rio.Foto AG.Brasil |
![]() |
São Paulo.Foto AG.Brasil |
![]() |
São Paulo. Foto Ag.Brasil |
![]() |
Brasília. Foto Lula Marques |
![]() |
Recife. Foto Frente Brasil Popular |
![]() |
Brasília. Foto AG Brasil |
Assinar:
Postagens (Atom)