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quarta-feira, 3 de maio de 2017

Imprensa: quando o bom jornalismo também falta ao trabalho

(do bqvMANCHETE) 

Ainda sobre a mídia e as manifestações contra as reformas e o governo Temer. Paula Cesarino Costa, ombudsman da Folha, analisou o comportamento da mídia na cobertura da Greve Geral de 28 de abril. E conclui que o bom jornalismo também não foi ao trabalho.

De fato, os três principais jornais, seus sites e as principais redes de TV apenas amplificaram as teses do governo que ignoravam a realidade de que cerca de 130 cidades foram afetadas e milhares de pessoas foram às ruas em protestos, aliás, violentamente reprimidos pelas polícias.

Por afinidades políticas e financeiras, os jornalões desqualificaram os atos e defenderam as reformas patrocinadas por setores patronais.

Cesarino analisa apenas a imprensa dominante, a dos "coronéis" da mídia. Essa fracassou, não fez jornalismo, adotou a política de comunicação oficial com a qual mantém boas relações e de quem recebe gordas verbas.

Faltou dizer apenas que a mídia alternativa, desde as dezenas de sites e blogs jornalístico às várias páginas de instituições e de movimentos sociais, que hoje atingem, somados, um público estimado em mais de 20 milhões de pessoas, levou aos leitores informações mais precisas sobre o que estava acontecendo em centenas de cidades e os motivos da greve.

Leia a seguir o texto da ombudsman da Folha.

por Paula Cesarino Costa (para a Folha de São Paulo)

A imprensa e a greve geral

Assim como a de milhões de brasileiros, minha rotina diária foi alterada pela greve geral da sexta-feira, 28. Lojas de que precisei estavam fechadas; no supermercado, o gerente disse que apenas um terço dos funcionários comparecera; a experiência nos aeroportos de amigos e familiares que viajaram foi sofrida, apesar de a Folha ter dito que os aeroportos funcionaram normalmente. Pode não ter sido um caos, mas normal não foi.

De modo geral, esse foi o problema da cobertura da greve geral convocada contra as reformas da Previdência e das leis trabalhistas. Focou a alteração da rotina das cidades, de modo previsível, sem inventividade nem relatos ricos.

Em suma, os jornais se concentraram no impacto sobre as árvores e deixaram de abordar a situação da floresta. A velha imagem é eficiente por condensar a mensagem de modo tão claro.

Um parágrafo do editorial da Folha trazia o resumo do que pretendo dizer quando cobro abordagem mais ampla: "Em nenhum país do mundo, propostas de redução de direitos relativos à aposentadoria contarão com apoio popular. Governantes, em geral, só as apresentam quando as finanças públicas já estão em trajetória insustentável. Este é, sem dúvida, o caso do Brasil".

Essa é a visão da floresta que deveria ser discutida nos jornais. É preciso acrescentar que a discussão sobre a reforma trabalhista é também uma discussão sobre perda de direitos, contraposta à possibilidade de dinamização e crescimento do mercado do trabalho –promessa de comprovação difícil. Esses são os dois lados da moeda.

Pode-se até afirmar que essa discussão está presente no jornal. Não com a clareza do dilema exposto pelo editorial da Folha: está em jogo a perda de direitos em nome do ajuste fiscal. Jornais estrangeiros assim enquadraram a manifestação. A imprensa brasileira abriu mão da discussão sobre a floresta.

A greve geral convocada por centrais sindicais e movimentos de esquerda mostrou que a mídia precisa se qualificar para esse tipo de cobertura, complexa e de altíssimo interesse do público leitor.

Quase em uníssono, os três principais jornais destacaram nas manchetes de suas edições impressas o efeito no transporte e a violência com que terminaram manifestações em São Paulo e no Rio.

Será que o vandalismo em pontos isolados do Rio e de São Paulo era notícia a destacar em enunciado de manchete, se a própria Folha escreveu que a calmaria reinou durante quase todo o dia? Por que valorizar as cenas de confronto, em vez de imagens que pudessem, por exemplo, mostrar o que diziam as faixas levadas às manifestações.

A greve paralisou, segundo o noticiário da Folha, parcialmente as atividades nas principais capitais do país e em ao menos 130 municípios, em todos os Estados e no Distrito Federal. Os organizadores classificam como a maior greve da história do país: cerca de 40 milhões paralisaram suas atividades.

Não há reportagem ou quadro na edição que diga qual era exatamente o objetivo da greve ou, se fosse o caso, a análise de seu impacto nos objetivos do movimento.

Há dois pontos básicos a que o jornal, na minha avaliação deveria ter respondido:

Qual foi o tamanho da paralisação? Era preciso encontrar parâmetros que permitissem ao leitor entender o que foi o movimento de agora em comparação com convocações anteriores.

Quais as possíveis consequências da greve? Terá algum efeito em seu objetivo principal de parar a tramitação das reformas trabalhista e da Previdência, obrigando Executivo e Legislativo a negociar com a sociedade e os sindicatos?

Eram desafios difíceis, mas a imprensa não conseguiu nem chegar perto de enfrentá-los.

À exceção dos colunistas André Singer e Demétrio Magnoli, não houve tentativa de interpretação do que aconteceu. Cientistas políticos, sociólogos e analistas não estão nas páginas da Folha ajudando a entender o que aconteceu e o que pode vir a acontecer.

Deputados e senadores não se manifestaram de forma a sinalizar se o protesto pode vir a ter algum efeito objetivo nos projetos em discussão. Apenas o governo federal fala, expressando a óbvia e obrigatória avaliação de que adesão foi pequena, fracassou.

Ainda há muito a aprender e a ser desenvolvido em cobertura de casos dessa magnitude.

Na sexta-feira, o bom jornalismo aderiu à greve geral. Não compareceu para trabalhar.

quinta-feira, 16 de março de 2017

A MÍDIA E A MÉDIA: QUANDO A NOTÍCIA PROVOCA SOFRÊNCIA NOS EDITORES DOS PRINCIPAIS JORNAIS

por Flávio Sépia
Os principais jornais brasileiros, em sintonia com a especulação financeira, apoiam as reformas com que o "presidente" Temer quer empalar os brasileiros. 
Isso é óbvio, isso não é novidade. Afinal, manobraram para colocar o ilegítimo lá precisamente para fazer esse e outros trabalhos sujos em matéria de supressão de direitos. 
Ao exaltar essa tarefa em comentário sobre as manifestações de ontem, um colunista chama Temer, hoje, de estadista, com todas as letras, sem vergonha. 
Há fatos que incomodam a quem deve noticiá-los. Vários dos jornais abaixo - e isso é histórico - omitiram até onde puderam a campanha pelas Diretas Já, nos anos 1980. Na época não havia internet, ficava mais fácil. Atualmente, com a força das redes sociais é impossível ignorar acontecimentos desse tipo por mais que gostassem de não vê-los. Resta a alguns veículos da mídia dominante usar de recursos para minimizar os protestos. Desde a decisão editorial de quase escondê-los na primeira página ao já manjado macete de destacar a "violência" ou os "transtornos" à população na tentativa de estigmatizar um ato democrático. 
Em São Paulo, a propósito, um repórter de TV quebrou a cara ao tentar arrancar de um usuário do metrô que ia para o trabalho um comentário negativo sobre a paralisação. Foi surpreendido ao ouvir do trabalhador a declaração de que apoiava totalmente os manifestantes e lamentava não poder participar naquele momento. 
Veja, abaixo, primeiras páginas de jornais brasileiros - registre-se que alguns escaparam do vexame -, e confira parte da repercussão internacional dos protestos.

A Folha abriu a foto da Av. Paulista, foi neutra no título
e enfatizou no texto de abertura os transtornos e o vandalismo. 


O Globo deu a foto na Presidente Vargas na metade inferior da página. O título é
neutro mas o subtítulo destaca a pós-verdade de Temer. Segundo o "presidente" a reforma vai evitar o "colapso" da Previdência, o que é uma fantasia neo-liberal desmoralizada por vários especialistas que identificam desvios de verbas do setor e sonegação de empresas como os verdadeiros fatores do alegando "rombo". 

O Estadão assumiu o cinismo jornalistico. Para o jornalão,
a foto da escada parada foi o "must" e o título prefere destacar que
o protesto "travou" São Paulo. O que ficou travada foi a honestidade
intelectual que se diluiu na prioridade à não-notícia, a que está em "gestação", 

no título do alto da  página com a urgente "revelação' de que o governo 
"estuda" aumento de combustível... 

Para o Extra, os protestos mereceram a notinha que
os condena: "Manifestações terminam em confusão".
O Dia reconheceu a importância da notícia.

O Liberal não brigou com a notícia. 

O Agora deu praticamente o mesmo peso às manifestações e aos "prejuízos"
e tentou suitar a notícia: diz que supostamente Temer fará "adaptações" nas reformas,
o que, vá lá, é bem difícil a essa altura já que o "presidente" tem
que entregar a tarefa aos conspiradores que o levaram ao Planalto.  

A Tarde foi moderada, não agrediu o fato. 

O Correio Braziliense fez uma primeira página do tipo "sem querer
querendo", quase escondeu.


A Folha de Londrina, da terra da Lava Jato, mostrou os protestos
e o "vandalismo". E, para amenizar, deu a palavra a Temer no texto de abertura.

O Hoje em Dia fez a correlação entre a "pressão nas ruas"
e a lista de Janot que atinge exatamente os arautos da criminosa
supressão dos direitos trabalhistas e previdenciários. Deduz-se
que, em matéria de reformas, certos políticos só deviam
fazer as das próprias celas.    

O Diário do Nordeste abusou da parcialidade: a foto
é um 'selo' e a nota é milimétrica.. 
O Povo foi mais fiel à relevância da notícia. 

O Zero Hora deu uma chamadinha de leve e correu pro chimarrão.


A IMPRENSA INTERNACIONAL REPERCUTIU
AS MANIFESTAÇÕES DE ONTEM E NÃO DEIXOU DE REGISTRAR QUE OS PROTESTOS
NÃO SÃO APENAS CONTRA AS REFORMAS
MAS CONTRA O "REFORMADOR"
E  O POVO NAS RUAS TAMBÉM
PEDE ELEIÇÕES GERAIS, JÁ.