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sexta-feira, 17 de março de 2017

A lenda de Jean-Paul Lagarride: The Making Of

por Roberto Muggiati

A Manchete não era uma revista séria – ainda bem! Não se discute que publicava grandes reportagens nacionais, tinha escritores de renome no seu elenco e acesso aos melhores serviços internacionais de texto e fotografia. Mas o diretor da revista, Justino Martins, também tinha a alma de ficcionista e inventou um repórter internacional fortemente vínculado ao Brasil e à Manchete: Jean-Paul Lagarride.

Quando a Veja surgiu para disputar a hegemonia do mercado entre as semanais, seu editor, Mino Carta, começou em suas conversas com o leitor a alfinetar Lagarride – a quem chamava de “o guapo escriba bretão”.

Justino resolveu revidar. Inventou de publicar uma entrevista exclusiva na Manchete com Jean-Paul Lagarride. Irineu Guimarães passou um fim de semana na casa do Justino na Joatinga entrevistando o próprio – afinal, segundo Justino, “Lagarride c’est moi!” Até aí tudo bem. Mas faltava a foto para materializar o personagem. Justino teve uma ideia. Convocou Gene Anthony, ex-fotógrafo da Life – um daqueles profissionais norte-americanos que Adolpho Bloch contratou na bacia das almas, aproveitando-se da crise na imprensa ilustrada dos EUA. Gene era um gênio. Por isso mesmo ficou atônito quando o editor da revista o convocou para fotografar closes do rosto dos redatores e repórteres.

Baixou então o espírito do Dr. Frankenstein no Justino e, com as fotos ampliadas em preto-e-branco, munido de uma hedionda tesoura, passou a recortar um olho do Irineu, outro do Sandroni, metade do nariz do Muggiati, outra metade do nariz do Magalhães Jr, meia boca do Ivan Alves, meia boca do Alberto de Carvalho e assim por diante. Com estas partes dispersas, montou um rosto monstruoso – enfim, a própria Criatura – que atribuiu ao “guapo escriba bretão”.

Isso foi por volta de 1974, proliferavam na Manchete os pseudônimos, particularmente nas pequenas notas da seção Leitura Dinâmica. Ruy Castro tinha o mais curto, Ed Sá; Ney Bianchi o mais sonoro, Niko Bolontrim; Ruy inventou um Acácio Varejão. Um dia, uma nova redatora, Marilda Varejão, o interpelou. Ruy perguntou: “Mas existe algum Acácio Varejão?” Marilda: “Existe, sim. Meu pai.”
As áreas mais sisudas e conservadoras da Bloch não queriam que as redações fossem felizes. Principalmente o pessoal da publicidade e da administração.

Então delataram ao Adolpho que aquela inflação de pseudônimos não condizia com a imagem da revista. Na época, Adolpho costumava despachar os orçamentos gráficos com um funcionário chamado Possidônio, uma figura estranha com manchas roxas no rosto. A redação estava cheia de X-9s e todo mundo sabia que “o Adolpho emprenhava pelo ouvido.” Colérico, convocou o Justino à sua sala e ordenou: “Não quero mais nenhum texto assinado por possidônios na Manchete!”

O tempo passou, mas Panis resgatou nosso herói. Jean-Paul Lagarride 4ever!

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Carta aberta a Dilma Rousseff - Por Mino Carta (e veja o vídeo que aponta o plebiscito como saída para a crise)

por Mino Carta (para a Carta Capital)

Escreve um velho jornalista, antes otimista na ação do que cético no pensamento

Prezada presidenta,
Nesta hora gravíssima, e tão dolorosa para um velho praticante do jornalismo, honesto porque verdadeiro, permito-me escrever-lhe, movido por aquele que enxergo como o interesse do Brasil. Deixa-me à vontade ter CartaCapital apoiado sua candidatura em 2010 e 2014, embora não a tenha poupado de críticas, amiúde contundentes, durante seu primeiro mandato e mais ainda no breve cumprimento do segundo, ignominiosamente interrompido pela manobra golpista urdida à sombra da casa-grande.

Inspira-me a possibilidade da reversão do primeiro resultado da votação do impeachment pelo Senado. Haverá quem diga ser chance remota, entretanto existe a ponto de levar a admiti-la o American Quarterly, importante publicação norte-americana próxima ao Departamento de Estado. E bem imaginamos o quanto desagradaria a Washington um retorno petista.

Chego ao busillis, como dizia um meu professor de latim: caso o destino a favoreça, a senhora ganhará a oportunidade de colocar o País na rota certa. Não disse recolocar, e explico. Perdoe a ousadia da proposta e a imponência das palavras: trata-se de aprimorar a ideia de refundar o Brasil, ao reconhecer a debacle geral, a derrota de todos nesta monstruosa refrega que nos pune sem exceção e nos reserva o caos final.

Não me refiro ao já desfraldado desastre do governo interino do seu pomposo vice, soberano apenas no uso da mesóclise. Governo desastrado até aos  olhos de Congresso disposto a rasgar a Constituição de 1988, a sacramentar o enterro dos modestos avanços sociais conseguidos nos últimos 13 anos e de embarcar na aventura golpista comandada por um bando de corruptos. Está aí, talvez, a razão pela qual um ou outro senador poderia rever seu voto, sem deixar de combinar a responsabilidade moral com a conveniência política.

Sejamos claros. O Brasil foi escalado pela natureza para ser um paraíso terrestre, como disse Amerigo Vespucci ao adentrar a Baía de Guanabara faz 515 anos. Dissera um ano antes Caminha: aqui tudo “em se plantando dá”. Não vamos nos fazer de desentendidos: o patrimônio, felizmente ainda em boa parte intocado, foi esbanjado por quem mandou, voltado exclusivamente para a satisfação das suas vontades.

LEIA O TEXTO COMPLETO NA CARTA CAPITAL, CLIQUE AQUI



Mino Carta é o último dos grandes revisteiros ainda em ação.Criou e dirigiu publicações como Quatro Rodas, Jornal da Tarde, Veja e Istoé. Atualmente na Carta Capital, ele, neste vídeo, apresenta a edição da revista, cuja capa defende  um plebiscito como saída para a atual crise, e fala sobre o impasse político. 
Veja o vídeo-  Clique AQUI