Eu estava lá. Tinha 23 anos, quatro a menos que Michel Poiccard, um a mais que Patricia Franchini. Cheguei a Paris numa sexta-feira de outubro de 1960, as árvores queimando em tons amarelo, laranja, vermelho, ferrugem. Joguei as malas na Maison du Brésil e fui correndo a um concerto de jazz com Bud Powell.
No Acossado, Godard não faz um comentário político ou social sequer – coisa que faria obsessivamente nos filmes seguintes. Apenas uma piadinha cínica: quando quer levar Patricia para a cama, Michel alega que seria em nome da maior aproximação franco-americana, Naquele momento o Presidente Eisenhower visita Paris e Godard sacaneia o espectador com cenas do desfile captadas por entre as arvores: justo quando o carro presidencial embica na tela. uma árvore oculta a visão de Eisenhower e De Gaulle...
Na primavera de 61, outro presidente americano desfilava pelos Champs Élysées, os franceses se orgulhavam da ascendência de Jacqueline Bouvier Kennedy. Mas, um mês antes, JFK sujara sua biografia com a desastrada invasão da Baía dos Porcos em Cuba. Num café de calçada em Saint Germain, lembro a indignação do amigo Gregory Corso, o poeta beat.
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