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terça-feira, 3 de maio de 2022

O primeiro muguet de maio • Por Roberto Muggiati

Vendedoras de muguet de 1° de maio. Paris, virada dos anos 1950/1960. Place Victor Basch. Foto de Izis, fotógrafo francês (1911-1980). Divulgação/ArtNet


São coisas que a gente só aprende em Paris. No dia 1º de maio é costume usar na lapela um buquezinho de muguet (lírio-do-vale). Em 1961, o feriado caiu numa segunda-feira, no começo da tarde eu caminhava pelos Champs Élysées abarrotados com minha primeira namorada francesa, Jacqueline, uma gracinha, Vários quiosques e ambulantes vendiam a florzinha, Jacqueline comprou uma e espetou na minha lapela. Conheci a moça uma semana antes, no lançamento do romance American Express do poeta beat americano Gregory Corso. O editor Maurice Girodias, da Olympia Press – o homem que publicou Lolita do Nabokov – levou os remanescentes do fim de festa em dois táxis para cearem no La Coupole, em Montparnasse. Jaqueline e eu saímos de lá de mãos dadas. Foi uma noite de lançamento de romance duplo...

No 1º de maio, eu subia o Champs com a amada na mão e uma ideia na cabeça. Perto da Étoile ficava o palacete de Paulo Berredo Carneiro, embaixador do Brasil na Unesco. Sua mulher se recusava a deixar o Brasil, Paulo se dava bem na sua solteirice em Paris. Seu sobrinho, Octávio Carneiro Lins, meu melhor amigo, morava com ele. Eu tinha livre acesso à mansão do 19 rue Auguste Vacquerie, sempre com a porta literalmente aberta, nem chave tinha. Aquele salon era para mim o Du Côté de chez Carneirô. Adentrei o palacete com Jacqueline – a francesinha ficou impressionada – não havia ninguém por lá, logo nos pusemos à vontade, deitamos e rolamos nos sofás do salão neorrococó. 

Conhecedor profundo da alma humana, Paulo sabia muito bem os usos galantes que sua entourage fazia de sua casa, até mesmo os estimulava.  Por isso – elegante como só ele – costumava chegar sempre assobiando bem alto para alertar os eventuais transgressores. Foi o tempo justo para que Jacqueline e eu nos recompuséssemos e cumprimentássemos o embaixador, que apenas sorriu de leve. A minha “primeira vez”, em Curitiba, dez anos antes, fora marcada pelo cheiro acre dos maços de arruda que a polaca tosca tinha na sua mesinha de cabeceira. Agora, em Paris, Veni, vidi, vici: da minha primeira vez com uma francesa, ficou para sempre o suave aroma do muguet.