Vendedoras de muguet de 1° de maio. Paris, virada dos anos 1950/1960. Place Victor Basch. Foto de Izis, fotógrafo francês (1911-1980). Divulgação/ArtNet |
No 1º de maio, eu subia o Champs com a amada na mão e uma ideia na cabeça. Perto da Étoile ficava o palacete de Paulo Berredo Carneiro, embaixador do Brasil na Unesco. Sua mulher se recusava a deixar o Brasil, Paulo se dava bem na sua solteirice em Paris. Seu sobrinho, Octávio Carneiro Lins, meu melhor amigo, morava com ele. Eu tinha livre acesso à mansão do 19 rue Auguste Vacquerie, sempre com a porta literalmente aberta, nem chave tinha. Aquele salon era para mim o Du Côté de chez Carneirô. Adentrei o palacete com Jacqueline – a francesinha ficou impressionada – não havia ninguém por lá, logo nos pusemos à vontade, deitamos e rolamos nos sofás do salão neorrococó.
Conhecedor profundo da alma humana, Paulo sabia muito bem os usos galantes que sua entourage fazia de sua casa, até mesmo os estimulava. Por isso – elegante como só ele – costumava chegar sempre assobiando bem alto para alertar os eventuais transgressores. Foi o tempo justo para que Jacqueline e eu nos recompuséssemos e cumprimentássemos o embaixador, que apenas sorriu de leve. A minha “primeira vez”, em Curitiba, dez anos antes, fora marcada pelo cheiro acre dos maços de arruda que a polaca tosca tinha na sua mesinha de cabeceira. Agora, em Paris, Veni, vidi, vici: da minha primeira vez com uma francesa, ficou para sempre o suave aroma do muguet.