Mostrando postagens com marcador odete lara. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador odete lara. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Madrugada com Odete Lara em Paris

á
Vinicius e Odete. Foto; Acervo Pessoal/Reprodução 
Por ROBERTO MUGGIATI
No dia 1º de julho de 1964, quarta-feira, um trio de amigos deixou Londres com a sacra missão de visitar Vinicius de Moraes em Paris: Fernando Sabino, adido cultural do Brasil em Londres; o jornalista Narceu de Almeida, ao volante do seu Morris Mini-Minor; e eu, radialista da BBC. Narceu e eu éramos meros coadjuvantes: o grande amigo de Vinicius era o Sabino. Num dia esplendoroso de verão, deixamos para trás a verdejante paisagem inglesa, atravessamos de ferry o Canal da Mancha e, por entre infindáveis campos de girassóis, chegamos a Paris. Não lembro como – sem celular – descobrimos o local exato onde encontrar o poetinha.
Embora já passasse das nove da noite, raios dourados de sol ainda banhavam a copa dos castanheiros. E lá estava outro trio, no La Feijoada, em seu primeiro endereço parisiense, num cais da Île de Saint Louis. Um trio bem mais carismático: Odete Lara, Baden Powell e Vinícius. Começou aí uma sucessão de quatro noites de loucas conversas regadas a uísque. Em outra ocasião, fomos beber num bar do qual Vinicius era praticamente sócio, Le Calvados. Mas a grande noite foi mesmo na sexta-feira, no apartamento do Poetinha. Um apartamento térreo num daqueles prédios típicos do seizième, nas cercanias do Champs-Elysées, quase sem decoração, embora Vinicius representasse o consulado do Brasil em Paris. Uma vez iniciados os trabalhos etílicos, sua mulher, Nelita – trinta anos mais moça, Vinicius estava com 51 – se recolheu para dormir. Ao longo da noite, toda vez que um marmanjo precisava ir ao banheiro, ele se via obrigado a passar literalmente por cima de Nelita, apagada na cama de casal que tomava todo o quarto. Muita conversa rolou – principalmente entre Vinicius e Sabino – passaram mais de duas horas discutindo Jayme Ovalle. Bebeu-se muito, também, confesso que quase nada lembro. Uma só imagem gravei fotograficamente: lá pelas cinco da manhã, com o sol já querendo se mostrar, pela janela do rez-de-chaussée aberta para a rua, entram duas fadas, Odete Lara e Mylène Demongeot. (Vinícius sempre se cercou de belas mulheres. Com Odete, aliás, gravou seu primeiro álbum como cantor, com músicas suas e de Baden. Foi o primeiro LP do selo Elenco – ouço agora a faixa Deve Ser Amor, do qual o pianista Bill Evans faria depois três versões.) Lembro ainda de Odete em 1960 com nossa musa curitibana Edla Lucy Van Steen no filme de Walter Hugo Khouri Na Garganta do Diabo, filmado espetacularmente nas Cataratas do Iguaçu.
 Naquela madrugada, Odete limitou-se a ostentar sua beleza plácida, enquanto a espevitada Mylène esbanjou meia hora de charme e sex-appeal antes de se despedir: “Bem, meus amigos, preciso andar. Na França, se a gente chega em casa depois das seis da manhã, isso significa que ela dormiu fora...” Lembro do ar extasiado com que o Poetinha sorveu a bela sonoridade da frase enunciada pelos lábios carnudos de Mylène:  “Ben, les amis, je dois partir. En France, si on arrive chez soi après six heures, ça veut dire qu’on a découché.”
OUÇA "DEVE SER AMOR". CLIQUE AQUI


OUÇA "SAMBA EM PRELÚDIO", CLIQUE AQUI

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Odete Lara, a musa diz adeus

Odete Lara e Norma Bengell em "Noite Vazia",  Divulgação
No filme, o relacionamento das personagens chocou os moralistas da época.

Odete em "Bonitinha mas Ordinária". Foto divulgação

Na capa da Manchete, em 1958 e...

...em 1961

Na Passeata dos Cem Mil, em 1968, contra a ditaduras. Na sequência partir da esquerda; Eva Todor, Tonia Carrero, Eva Wilma, Leila Diniz, Odete Lara e Norma Bengell. Foto Reprodução Pinterest

Em Cannes, no começo dos anos 60. Reprodução Pinterest
A musa do Cinema Novo despede-se da vida. Morreu no Rio, na manhã desta quarta-feira, aos 85 anos, Odete Lara. A atriz sofreu um infarto. Paulista, de origem italiana, ela começou a carreira como garota-propaganda da TV Tupi. Mas foi no cinema que construiu sua trajetória, desde as produções da época da chanchada ("O Gato de Madame", "Absolutamente Certo" e "Mulheres e Milhões") até "Bonitinha, mas Ordinária", "Copacabana Me Engana", "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro", "Os Herdeiros", "Quando o Carnaval Chegar", "Vai Trabalhar Vagabundo" e tantos outros. O seu último filme foi "Barra 68 - Sem Perder a Ternura", de 2001. Cantora, Odete gravou com Vinicius de Moraes e Baden Powell, em 1963, músicas como "Samba em prelúdio", "É hoje só", e "Deve ser amor". O seu filme-emblema é de 1964: o ousado "Noite Vazia", de Walter Hugo Khoury, onde contracenou com Norma Bengell e atuou em cenas que, na época, abalaram o Brasil moralista. Odete era "Cristina" e Norma vivia "Mara", ambas prostitutas, que são contratadas por dois milionários e protagonizam uma sequência de lesbianismo que, em pleno 1964, fez tremer as madames da marcha-com-deus-pela-democracia àquela altura politicamente excitadas.