sábado, 15 de novembro de 2014

Deu no Globo: chega ao cinema o romance "Quase Memória" que Cony considerava "infilmável"




O atores Charles Fricks e João Miguel vivem, respectivamente, no filme de Ruy Guerra, o Cony jovem e o pai do Cony, Ernesto Cony Filho. Eduardo Martins-Divulgação
Tony Ramos (na foto em cena da novela 'Guerra dos Sexos', vive Cony, idoso. Foto Divulgação TV Globo
(O Globo) RIO — À frente de uma equipe de muitos técnicos e assistentes, uma figura de cabelos brancos move-se com desenvoltura entre pesadas escrivaninhas de madeira, decoradas com antigas máquinas de escrever, mata-borrões, canetas-tinteiro e exemplares da revista “Fon-fon”. O cenário é a biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ, no Centro do Rio, cenografada como uma redação de jornal dos anos 1930, e o personagem que coordena a movimentação no ambiente é o cineasta Ruy Guerra, que checa as últimas marcações para mais uma cena de “Quase memória”, seu primeiro longa-metragem desde “O veneno da madrugada” (2005).
Aos 83 anos, e com uma disposição juvenil para o trabalho, ele não exibe qualquer sinal de ressentimento ou amargura por estar há quase uma década sem pisar em um set de filmagem.
— Há cerca de dez anos, decidi que só morrerei aos 116; alguns anos depois, corrigi para 117. A partir do momento em que você decide isso, e sem colocar Deus na jogada, porque sou ateu, descobre que tem tempo para fazer as coisas com tranquilidade. Minha meta é fazer 20 filmes; com este, faltam mais uns quatro. Estou feliz, com saúde ótima, fazendo o que quero, e sempre buscando experiências novas. Então, a questão é não perder tempo remoendo coisas — avisa o realizador moçambicano, radicado no Brasil há mais de cinco décadas, durante os intervalos das filmagens, visitada pela reportagem do GLOBO, no fim de semana.
O entusiasmo de Guerra é grande como sua persistência: ele tenta tirar essa história do papel desde 1995, quando o livro “Quase memória”, do jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, foi lançado e rapidamente se tornou um best-seller, com cerca de 400 mil cópias vendidas.
De lá para cá, o projeto passou pelas mãos de diferentes produtores (Bruno Stropianna, Mariza Leão) e ganhou várias versões com o passar dos anos, numa tentativa de driblar imposições do mercado.
A que começa a se concretizar agora, com Tony Ramos, Charles Fricks e João Miguel encabeçando o elenco, é produzida, ao custo de R$ 3,7 milhões, por Janaina Diniz Guerra, filha do cineasta com a atriz Leila Diniz (1945-1972).
Considerado “infilmável” pelo próprio Cony, “Quase memória” é um compêndio de histórias vividas pelo pai do autor, o também jornalista Ernesto Cony Filho, um sonhador que, aos olhos do filho, conseguia transformar missões prosaicas, como fazer um balão de festa junina, em uma aventura épica.
Um misterioso pacote recebido por Cony em um quarto de hotel deslancha o fluxo de lembranças no escritor, que alimenta a narrativa do livro. O roteiro do filme, elaborado por Guerra, em colaboração com Bruno Laet e Diogo Oliveira, afasta-se do tom naturalista das adaptações anteriores, e investe mais na comicidade do texto que o inspirou.
— Os primeiros tratamentos de roteiro eram mais próximos do livro, que tem muitos personagens e locações, e atravessa décadas de História do Rio de Janeiro. Fui fazendo versões mais modestas, para caber em orçamentos menos complexos e, claro, mudei o conceito do filme, que agora está mais estilizado — explica o diretor de “Os fuzis” (1964), e outros filmes emblemáticos do Cinema Novo. — O humor já está lá, em alguns dos melhores trechos de “Quase memória”, que aqui, pelo formato do filme, ganhou um tom mais farsesco. É um filme sério que dialoga com a comédia rasgada, o que está sendo instigante para mim, porque implica em experiências de linguagem. (...)

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7 comentários:

Marcela disse...

O livro é maravilhoso. Às vezes me decepciono com romances assim levados ao cinema. Mas o diretor Ruy Guerra tem muitos créditos de confiança e de talento.

J.A.Barros disse...

O problema é se o ator conseguirar criar a imagem do Carlos Heitor Cony. Vai ser difícil. Quem trabalhou com le durante anos, alguns talvez, não conseguiram entende-lo?

Mendes disse...

Será que a Dona Memória lembrou da Bolsa Ditadura?

J.A.Barros disse...

O que quer dizer essa Bolsa Ditadura?

Corrêa disse...

Reparação moral e financeira muito justa. Vergonha é ver brasileiros que ainda hoje apoia uma ditadura assassina, corrupta e pdem ditadura nas ruas e na rede social. Enquanto isso, Argentina e Chile dão lição de moral a esses elementos ao punir os crimes até hoje. Temos a Comissão da Verdade, ainda bem, mas é muito pouco pois deixamos os criminosos livres

Ludmila disse...

A indenização é justa mas devia ser cobrada de quem participou do governo militar e e da Marcha da Família.

J.A.Barros disse...

Essa reparação moral e justa foi condenada pelo Millor Fernandes. que não a achava nada justa e muito menos moral.
Na argentina, logo depois os militares foram presos, julgados e condenados. Até o Videla, que foi general presidente, acabou morrendo na cadeia.
Hoje é muito tarde julgar e condenar os ditadores militares, até porque muitos até já morreram. Justiça se faz no momento do crime e nunca 30 40 anos depois.
Crimes prescrevem e são esquecidos com o decorrer do tempo. Será que a geração atual sabe quem foi o general Castelo Branco ou mesmo Garrastazu Mendes?