sábado, 29 de fevereiro de 2020

A vedete e o Presidente


Virginia Lane na Manchete em 1952: auge do sucesso

No cinzeiro que circulava nos salões dos anos 1950, a representação
da bolinada presidencial e...

...um sugestivo "Ah!" gravado em bronze, no alto da peça, com muito prazer...
Getúlio e Virgínia Lane. Reprodução
• O imaginário popular sempre deu a última palavra. Na época ele já consagrava o romance entre Virginia Lane e Getúlio Vargas até na forma de cinzeiros (bastante sugestivos, o da foto, em frente e verso, flagra o momento da bolinada presidencial...)


Delírio da Vedete do Brasil não foi comentar o caso, mas declarar – em entrevistas à TV nos últimos anos de vida – que ela estava na cama com o Presidente na noite “em que ele foi assassinado.” Esta, em matéria de Teoria do Complô, bate todas. (por Acácio Varejão, dando o "furo" exclusivo para o Panis)

Edição especial impressa com a cobertura do Carnaval carioca 2020 tem DNA da Revista Manchete...

Acima, da esq. para a dir., Dirley Fernandes, José Esmeraldo Gonçalves, Mauro Trindade, Jussara Razzé, Alex Ferro e David Júnior. Todos ex-Manchete. Foto de Gabriel Nascimento
Na capa, Paolla Oliveira fotografada por Alex Ferro. 

Na abertura, foto de Gabriel Nascimento/Riotur

Rodadas de chope no Estação Largo do Machado marcaram o encontro de parte da equipe que fez a Revista 96.5 Tupi.FM Carnaval Total. Depois de dez dias de trabalho, a edição especial com a completa cobertura das escolas de samba, blocos e camarotes chegou ontem às bancas do Rio de Janeiro.

Para muitos leitores, segundo comentários nas redes sociais, a revista ilustrada remete, de certa forma, ao estilo das históricas edições da Manchete. E não por acaso. O time visto na foto é formado por jornalistas e fotojornalista que trabalharam na Manchete e participaram de inúmeras edições de carnaval, além de Sidney Ferreira, editor da Arte da revista.  No Conselho Editorial, além de Josemar Gimenez, presidente da Tupi, e Márcia Pinho, chefe de jornalismo da emissora, está David Ghivelder, um dos idealizadores da publicação, profissional atuante na área de comunicação corporativa, e filho de Zevi Ghivelder, que foi diretor de Manchete e Fatos & Fotos.


Páginas com material histórico sobre os 85 anos da Rádio Tupi
A Revista 96.5 Tupi FM vem com reportagens e artigos sobre os 85 anos da Rádio Tupi. A comemoração foi, aliás, uma das motivações do lançamento da edição.

As bancas de jornais do Rio e Grande Rio foram agradavelmente surpreendidas com a chegada de uma revista de carnaval, impressa, como há alguns anos não acontecia. Foi muito positiva a repercussão junto aos jornaleiros ouvidos em vários pontos de venda.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Iza: a imperatriz da Sapucaí

Foto de Viviane Medina/Riotur/Divulgação

Foto de Viviane Medina/Riotur/Divulgação

Foto de Viviane Medina/Riotur/Divulgação

Foto de Viviane Medina/Riotur/Divulgação
por Ed Sá
No desfile da Série A, no sábado, 22, no sambódromo do Rio de Janeiro, a noite foi de Iza como rainha de bateria da Imperatriz Leopoldinense. A performance da cantora, dona de um corpo espetacular, era mais do que aguardada. Na pista, ela, que é de Olaria, vizinha de Ramos, onde nasceu a Imperatriz, superou todas as expectativas. Além de tudo isso, Iza deu sorte à escola. A Imperatriz foi campeã do grupo e volta à elite do samba, a Série Especial, no ano que vem.

Ambiente: as mãos sujas da Vale...

O Globo/Reprodução
E a Vale? Não falha. De tempos em tempos se envolve em um desastre ambiental. Dessa vez pode emporcalhar com minério de ferro o mar à altura do litoral do Maranhão. Matéria no Globo mostra que navio que transportava carga da empresa corre sério risco de afundar.
Uma unidade de conservação de um cinturão de recifes de corais, também se estende na  costa do Maranhão. Depois do gigantesco derramamento de óleo nas praias do nordeste, que autoridades brasileiras foram incapazes de apurar, um eventual naufrágio sem que a carga seja retirada vai configurar um grande desastre ambiental.

Coronavírus: Itália sob ataque...

Milão, cidade fechada pelo coronavírus. No título do La Repubblica, hoje: Reabrimos Milão. 
E fotos dos principais pontos da cidade deserta. 

A democracia virou cinzas?

Se há algo que Bolsonaro não faz é causar surpresas. Atitudes, declarações, relações suspeitas, agressividade, preconceito e despreparo são todos elementos que fazem parte da sua autoconstrução política há décadas.


É o seu exoesqueleto, está à vista. E não existe ponto fora da curva na trajetória da criatura.

Quando compartilha um vídeo contra uma instituição da República - convocando uma manifestação contra o Congresso - o capitão inativo mostra não só desprezo pela democracia: passa da palavra aos atos. E o apelo ao cerco não parece um gesto isolado. Ao contrário, foi precedido pela senha "foda-se" com que um dos seus mais diretos assessores militares pontuou uma acusação de "chantagem" por parte do Legislativo.

Vinda de um assistente de Bolsonaro (que em repetidos mandatos como deputado federal era um integrante do pantanoso baixo clero) a palavrinha foi devidamente incorporada pelos apoiadores do governo. Aparentemente, é tudo uma coisa só, um troço que caminha a passo de ganso.

A mídia admite, hoje, que a democracia está em risco no Brasil. E está. Não desde ontem, mas a partir da véspera da posse da ex-presidente para um segundo mandato, quando editorialistas, comentaristas e jornalistas de mercado da mídia oligárquica passaram a acossá-la diariamente até a queda, e continuaram a exibir o gosto pela ascensão da direita ao associar todos os males do país à "esquerda corrupta". Esquecendo, claro, que a maioria dos envolvidos em escândalos, sejam ex-governadores, deputados, senadores, dirigentes de empreiteiras e grandes empresários lhes eram caros amigos de uma vida.

A mesma mídia que atualmente é vítima de assédio moral e até de boicote por parte do inquilino que ajudou a botar no Planalto. Para esta, a ficha cai em câmara lentíssima, mas ainda está longe de chegar ao chão. O motivo ainda é o apoio à política econômica imposta pelo neoliberalismo radical, com a marca do desprezo - típica da ultra direita - pelos impactos sociais da selvageria. Parecem consideram, assim, que vale o preço de fragilizar ou, para usar uma palavra que gostam, de contingenciar, a democracia brasileira.

Motim de militares, milícias, protestos da "juventude bolsonarista" justificam uma expressão criada pela jornalista Vera Magalhães: "bolsochavismo". Vera, aliás, é alvo de violentos ataques machistas e sofre ameaças por parte de milicias digitais ligadas ao governo. Logo ela que já foi admirada e compartilhada por emitir opiniões que agradavam aos bolsominions e apoiou o massacre machista que Manuela D'Ávila sofreu ao ser entrevistada no Roda Viva por inquisidores que não a deixaram falar. Para jornalista, a ficha está caindo de forma dramática.

Em suma: as nuvens de cinzas já estavam aí há tempos. Mas agora escureceram de vez o horizonte.

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Deu no Globo: Massa Falida da Bloch Editores não paga o que ainda deve aos ex-funcionários da antiga editora

Reprodução/O Globo/ 08/2/2020

Hoje, na coluna do Ancelmo Gois, uma nota registra um drama de muitos ex-funcionários da Bloch ainda diante da falência da empresa ocorrida em agosto de 2000, há quase 20 anos.
A maioria dos credores trabalhistas recebeu o chamado "valor principal" das indenizações. Contudo a Massa Falida lhes deve parcelas da correção monetária, cujos pagamentos foram inexplicavelmente suspensos há mais de quatro anos. Muitos ex-funcionários fizeram acordos na Justiça há cerca de 15 anos e aceitaram uma redução das indenizações confiando que assim a quitação total se efetuaria em prazo razoável. Não foi o que aconteceu.

A Comissão dos Ex-Empregados da Bloch Editores se mobiliza  para que o compromisso seja respeitado e tem feito seguidos apelos à Massa Falida da Bloch Editores. Recentemente, foi criada uma camiseta sugestiva e bem-humorada que traduz a situação dos credores trabalhistas da extinta editora.   

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Kirk Douglas (1916-2020): Spartacus no carnaval carioca...

No Baile do Municipal, fantasiado...
...de Spartacus.

No dia seguinte ao baile, Kirk Douglas curou a ressaca na piscina dos
Monteiro de Carvalho.


Na capa da Manchete, com a mulher, Anne Buydens. Fotos: Reproduções
por Ed Sá

Kirk Douglas foi figurinha fácil no carnaval carioca de 1963. Ao lado da mulher, Anne Buydens, com quem se casara nove anos antes, foi ao Baile do Municipal, conheceu as boates da moda em Copacabana e caiu na piscina da mansão dos Monteiro de Carvalho em Santa Teresa.

"Spartacus", um dos seus grandes sucessos, fazia carreira internacional e o ator era acompanhado pela mídia onde quer que fosse. No Rio, Manchete cobriu todos os seus passos. E não deixou de registrar nem mesmo os momentos mais reservados na piscina dos anfitriões aberta com exclusividade para a revista.

Do Rio, Kirk Douglas seguiu para Brasília. Encantou-se com a arquitetura da capital e comentou que a vida de JK, o homem que ousou construir no meio do nada a cidade que o impressionou, daria um filme.

Kirk Douglas morreu ontem, aos 103 anos, em Los Angeles. Deixa a mulher, Anne Buydens, com quem posou para a capa da Manchete naquela semana, os filhos Michael, o ator, Joel e Peter, produtores.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Voo para Wuhan: cadê os caronas do governo que adoram voo oficial?

por O.V.Pochê. 
Algo estranho está acontecendo. O Brasil está enviando dois jatos da Presidência em viagem internacional para Wuhan, na China e o pessoal -  altos funcionários do governo, ministros, mulheres e filhos, políticos e empresários aliados - não está pegando carona nessa boca-livre. Muito inusitado. Normalmente esses voos saem lotados de alegres turistas oficiais. Perdi alguma coisa?

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Capas da Caras vão parar na Justiça. É para provar que Gugu e Rose eram um casal... Down, down, down in the high celebritie

Da Coluna Mauricio Stycer, no UOL. Link abaixo.

A disputa pública pela herança do Gugu se transformou em um barraco. O patrimônio do apresentador, morto em novembro em consequência de um acidente caseiro, alcançaria, segundo estimativas que circulam na mídia, 1 bilhão de reais.
Um dos itens em questão no conflito é a natureza da relação do falecido com Rose Miriam di Matteo, mãe dos seus três filhos. Segundo Maria Liberato, mãe do apresentador, o filho "nunca teve nada com ela".
A Coluna Mauricio Stycer, no UOL, revela que o advogado de Rose, Nelson Wilians, pode apelar para a coleção da revista Caras para contestar a família do Gugu. Desde 1994, Gugu, Rose e os filhos estiveram juntos na capa da Caras mais de dez vezes.

Leia a matéria original na Coluna Maurício Stycer, no UOL. Clique AQUI

Claudia Raia nua em Portugal - "Quem pode livre ser, gentil Senhora", diria Camões...



por Ed Sá
 

Em cartaz com o espetáculo "Conserto para Dois", em Lisboa, Claudia Raia tem feito presença na mídia local. 

O destaque é para a capa da edição de fevereiro da  GQ portuguesa. Aos 53 anos, a atriz mostra a boa forma aos patrícios. Ao piano, o marido Jarbas Homem de Mello, também presente na capa e na peça. 

A GQ se impressionou com as pernas da brasileira, extensão mais exuberante dos seus 1,78m. 

Não por acaso, pernas que brilharam muitas vezes em capas da Manchete.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Futebol sob ataque da tropa do apito...

por Niko Bolontrin

O futebol está mudando rapidamente. Não demora muito vamos saber se para melhor ou para pior. Por enquanto, os sinais não são animadores. Neste fim de semana, alguns desses sintomas foram expostos.

Na França, pelo PSG, Neymar tomou um cartão amarelo após tentar um "lambreta" contra dois adversários que o cercavam à margem do campo. Com a habilidade que o caracteriza, o brasileiro alçou a bola sobre os marcadores, a solução possível. A jogada não se completou porque a bola resvalou no corpo do zagueiro Souquet, do Montpellier. O árbitro Jérôme Brisard foi irritadinho com o lance que não implicou em violência, nem agressão ou atitude antiesportiva. Foi tão somente um recurso criativo entre os muitos que Neymar utiliza quando nada o atrapalha de jogar futebol. Jovens jogadores brasileiros que partiram para a Europa já confessaram dificuldades na adaptação porque alguns treinadores desestimulam dribles em nome da troca de passes, posse de bola e da participação na "marcação alta". Não por acaso, alguns jogos lembram uma espécie de "handebol" jogado com os pés.

Em São Paulo, o árbitro Luiz Flávio de Oliveira expulsou Janderson, do Corinthians, após o jogador se juntar à torcida para comemorar um gol sobre o Santos. A própria Fifa já relevou essa regra durante a última Copa do Mundo.

Comentário certeiro do jornalista André Rizek:



domingo, 2 de fevereiro de 2020

Sexismo no jornalismo: o detalhe que gerou polêmica...

Reprodução Twitter


A imagem da jornalista argentina Belén Mendiguren entrevistando um ciclista para a ESPN, durante uma competição na Argentina, gerou uma polêmica na web. O ex-ciclista belga Sven Spoormakers, que atualmente é comentarista esportivo, publicou a foto no Twitter com a legenda "Faz frio na Argentina?". Uma alusão aos "faróis altos" da repórter.
O comentário recebeu críticas, Spoomakers foi acusado de sexismo, e se desculpou: “O que deveria ser um comentário engraçado acabou sendo ofensivo para muitas pessoas. Sinto muito”. A seguidoras, o ex-ciclista afirmou que "não é o brontossauro" que as críticas acusam.

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Nas primeiras páginas dos jornais: quem mostra e quem esconde o fato...

Folha destaca os riscos da alta informalidade que...

... O Globo disfarça e finge que não é com ele. E o...

Tempo chama atenção para a ameaça ao que resta de sistema previdenciário. 

por Flávio Sépia

Tanto a reforma trabalhista quanto o confisco da Previdência armam bombas de destruição em massa de conquistas sociais e até da sobrevivência coletiva em condições minimamente humanas e justas.

O fato é que o neoliberalismo chegou ao Brasil bem antes do governo atual e, como aconteceu em vários países, não mostrou resultados, apenas exigiu sacrifícios da população, especialmente a faixa mais carente, seja em cassação de direitos ou em fortes aumentos de taxas por parte dos serviços públicos amplamente concedidos em todo o país.

Com Bolsonaro e Paulo Guedes, a doutrina impulsionada pela escola monetarista de Milton Friedman e os Chicago Boys que foram assediados e seduzidos por ele, tornou-se um seita no Brasil e promete ser levada às últimas consequências.

O Brasil se aproxima de ter 50% da sua força de trabalho formada por "informais". São quase 40 milhões de trabalhadores sem vínculo empregatício. Forçada, em sua maioria a abrir mão de direitos fundamentais - inclusive aposentadoria  - a parcela crescente dos "informais" não contribui para a Previdência. Mesmo assim, alguns dos principais veículos que estão com Guedes e não abrem batem palmas para uma queda milimétrica do desemprego e os colunistas de mercado apoiadores incondicionais do neoliberalismo festejam os números como uma "retomada" do crescimento

A Folha, no título principal, é mais ética e destaca o absurdo índice de informalidade. O Globo prefere comemorar a "queda" do desemprego. O jornal O Tempo aponta as consequências para o sistema publico da Previdência.

Com cinismo explícito, autoridades atribuem a informalidade a um "avanço do empreendedorismo" que, aliás, não conseguem provar ou, no máximo, vibram com a face mais visível: a dos novos boias frias dos aplicativos de entrega de comida.

O que esse governo de ultra direita está empreendendo é a bomba relógio devastadora dos mecanismos mínimos de proteção social. Sem falar que promete agora dá início à chamada era do voucher. Voucher para as escolas, voucher para a saúde, voucher para a casa própria. Uma espécie de mercado do pedágio, algo mais ou menos semelhante à prática financeira das milícias...

A selva já pode ser vista no horizonte.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

"Casou !" - Regina Duarte sobe ao altar da Secretaria da Cultura...

Regina Duarte em "Rainha da Sucata"
Divulgação/Reprodução
por O. V. Pochê 

Todo mundo usa metáforas. Lula usava e abusava dos termos do futebol para explicar decisões de governo ou fatos políticos.

Figuras de linguagem facilitam a comunicação de massa. Mas ao optar por um tipo de metáfora o sujeito revela muito de si. Bolsonaro tem uma fixação em "relacionamentos amorosos" como "lugar de fala" populista. Nomeações e até crises políticas são tratadas como se discussões conjugais: "estamos nos conhecendo", "estamos namorando", "foi um briguinha de namorado" etc.

Talvez por achar que o palavreado casamenteiro agrada ao chefe, a moda se espalha. Regina Duarte logo aderiu. "Noivou" com Bolsonaro rumo ao altar da Secretaria da Cultura. A atriz e militante da direita sinaliza que vai continuar praticando o jogo da metáfora conjugal. Agora informa que está na fase dos "proclamas" formais que antecedem a troca de alianças do "casamento". Dá a entender que os futuros comunicados da Secretaria podem seguir a mesma linha de comunicação. Não haverá "posse", mas cerimônia de "casamento" (em tempo; há uma clara inversão no roteiro. Folhetins normalmente acabam em casamentos; nessa novela da Cultura, a trama se inicia com as bodas e logo virá, portanto, a "lua de mel"). No cargo, em vez de demitir assessores Regina certamente vai "pedir um tempo" ou dizer que "precisa de espaço", que o outro a está "sufocando".
Na novela 'Carinhoso".
Reprodução

Quando tiver um problema burocrático deverá ir ao Planalto para uma "terapia de casal" que suavize divergências. Diante do corte de verbas poderá alegar que o "marido" provedor não está cumprindo com os seus deveres. Vai ver os artistas serão tratados como "filhos" do novo casal republicano. Receberão uma mesada aqui e acolá para produzir "arte nacional" e levarão uns puxões de orelha caso demonstrem que estão sofrendo más influências de amiguinhos esquerdistas. Se Regina permanecer "casada" até 2022  comemorará as bodas de algodão que marcarão os dois anos da relação. Se sair antes, anunciará o "divórcio" e dirá que a "amizade" continuará. Se "divorciada", Regina não vai pedir pensão alimentícia porque já recebe benefício deixado pelo pai militar. E outro "noivo" ou "noiva" será cortejado para assumir a pasta da Cultura no reality show de Brasília.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

100 anos da Lei Seca. A original, não a das blitzes contra bebuns no trânsito

A Lei Seca foi aprovada em 1919 e começou a vigorar em 1920.


Em 1933, o democrata Franklin D. Roosevelt derrubou a proibição e os sobrinhos do Tio Sam encheram a cara
sem medo de serem felizes. Argumento para revogar a  lei: criar mais empregos.

por  Flávio Sépia

Lei Seca nos EUA entrou em vigor em 1920. Até ser revogada em 1933 pelo democrata Franklin D. Roosevelt, a Prohibition Era, como era conhecida, vetou a fabricação, venda e transporte de bebidas alcoólicas. Empresários achavam que a bebida prejudicava a produtividade dos operários, fazendeiros diziam que os negros eram propensos ao vício e religiosos pregavam que a bíblia condenava drinques, embora Jesus tenha produzido vinho durantes as bodas de Caná.

De inspiração religiosa, racista ou capitalista, a medida pretendia moralizar o país, mas teve efeitos contrários: aumentou os índices de embriaguez, corrupção e criminalidade. Fabricar uísque em destilarias clandestinas ou contrabandear bebidas do Canadá, Europa e Cuba tornou-se lucrativo ramo de negócios com o aparecimento de poderosas organizações criminosas, como a do CEO Al Capone.

Curiosamente, em vários estados americanos a Lei Seca não acabou e persistem restrições parciais a bebidas alcoólicas. Algumas localidade ainda proíbem totalmente biritas de qualquer tipo.

Só décadas depois do fim da Lei Seca documentos oficiais revelaram um aspecto cruel e macabro da proibição. Ocorreram muitas mortes por ingestão de bebida durante o período. Tais casos eram atribuídos à má qualidade de bebidas eventualmente produzidas em alambiques precários, o que de fato ocorria. Os Estados Unidos continuaram fabricando álcool industrial indispensável a vários produtos. Logo o crime organizado passou a usar clandestinamente parte dessa produção legal. Para combater o desvio, as autoridades mandaram contaminar o álcool industrial com venenos para impossibilitar que fosse utilizado para a fabricação de uísque barato. As consequências foram trágicas: milhares de consumidores, a maioria pobres, foram mortos ou ficaram cegos ou com lesões permanentes no fígado.

Apenas para encerrar o comentário: é simbólico que 100 anos depois da Lei Seca o ministro Paulo Guedes acene com a criação no Brasil do "imposto do pecado" sobre bebidas e cigarros. Uma espécie de "lei seca fiscal" desses tempos neoliberais e neopentecostais que se inspiram de preferência no pior passado.

Provavelmente, a "lei seca fiscal" do Guedes, se vier, vai criar mais um mercado clandestino no Brasil. Os Al Capones nós já temos.

Cony foi cassado por Wilson Witzel. Governador muda nome de escola que homenageava o jornalista e escritor

O governador Wilson Witzel cassou Carlos Heitor Cony, Rachel de Queiroz, Zilda Arns e Luiz Melodia.

Explica-se os citados eram nomes de escolas estaduais. Com uma canetada, Witzel rebatizou-as com nomes de policiais e bombeiros militares. Todas essas escolas serão transformadas em "escolas cívico-militares", espécie de "mini-quartéis" educacionais que se espalham pelo país atualmente.

A informação está no jornal Extra, que registra como fonte o Diário Oficial de segunda-feira (27).

Provavelmente os escritores, o compositor e a médica sanitarista anteriormente homenageados (com exceção, talvez, de Rachel de Queiroz, que era ligada ao ditador Castelo Branco) agradeceriam a Witzel por não associar seus nomes ao projeto militarista.

O jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, ex-Manchete, Fatos & Fotos e EleEla, foi preso em duas ocasiões, durante a ditadura, sob os governos de Castelo Branco e Costa e Silva

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Partiu, Idade Média! - Conheça as novas previsões para a República dos Toscos

Ministros em reunião com o presidente no...

Palácio do Planalto, no condado de Brasília, na semana passada. 

Allan Richard Way II fez em dezembro último suas previsões para 2020. Uma tarefa que parecia completa e encerrada. Parecia. O vidente admite que previu os fatos - como a chegada de um novo vírus, a morte de um famoso apresentador de TV) e a onda fundamentalista -, mas não a velocidade do avanço do obscurantismo no Brasil. Em iniciativa inédita, ele envia novos presságios desdobrados dos acontecimentos que antecipou. Way II identifica no cenário social uma chocante volta aos valores do Medievo, que atende pelo nome da Idade Média.

por Allan Richard Way II

Nos países onde a ultra direita religiosa se impõe cresce a apologia a um retorno aos valores do passado. O Brasil vive um momento assim. Os sinais da terrível regressão mental, moral, intelectual que o país sofre são públicos. Em linhas gerais estavam previstos. Mas a implantação desses dogmas se acelera e os seus adeptos em posição de governo vão a cada dia buscar novos estandartes do tempo em que o Castelo e o Convento, unidos, dominavam os povos. O primeiro simbolizando o poder político e econômico e o segundo personificando a opressão religiosa. Parece o mapa do atual caminho do Brasil. É por isso que surgem as campanhas de abstinência sexual para os  jovens, a paulatina demolição do Estado laico, o controle da cultura, censura e até atentados dirigidos a quem desafia a "nova ordem" mística, as teorias do tipo terra plana e criacionismo etc.
Sinto informar que os próximos anos serão plenos nessa direção.
Leia algumas medidas:

* Além de recomendar a abstinência sexual, o governo pregará a volta do método Ogino-Knaus, o do calendário e tabelinha para driblar a fertilidade. As autoridades acham que a camisinha nada mais é do que um incentivo para o povaréu abusar do sexo. 

* Os mais radicais apoiadores da volta dos valores da Idade Média advogarão choques elétricos e da lobotomia para curar gays, jornalistas, artistas de esquerda, cracudos, pais de santo, ateus, críticos de Donald Trump, integrantes do MST, estudantes que reclamam das falhas do Enem e qualquer pessoa que proteste contra a destruição da Amazônia.

* Como parte da agenda da Arte Nacional, as autoridades lançarão edital para produção dos seguintes filmes: O Triunfo da Vontade 2, Olympia 2, A Vitória da Fé, 2.

* A frase Ordem e Progresso na bandeira será substituída por "Deus Vult".

* A Terra é chata? Sim, com um governo destes sempre será muito chata.

* Depois de culpar os pobres pela degradação ambiental do planeta, equipe do governo dirá que negros provocam racismo, pessoas com deficiência fazem o país gastar com a construção de rampas, Lei Maria da Penha só existe porque mulheres são folgadas, desempregados são uns chatos que insistem em prejudicar as boas estatísticas de emprego e a distribuição de renda só é ruim aqui porque tem miseráveis demais é, o que é pior, eles não rendem nem um musical.

* A chegada do novo vírus, o corona chinês, será a volta da peste negra retrofitada? Por enquanto, o imponderável não responde.

* Governo envia ao Congresso projeto de lei para tornar apologia ao crime portar livros de Paulo Freire.

* O governo brasileiro vai pedir a extradição da ativista sueca Greta Thunberg, como menor infratora, para cumprir medida protetiva em estabelecimento de ressocialização,

* Inspirado nos neopentecostais que criaram batalhões religiosos nos quartéis da PM, o governo vai oficializar as Novas Cruzadas para combater preferencialmente os hereges, José de Abreu, Chico Buarque, Jean Wylis, Patrícia Campos Mello, Porta dos Fundos, os repórteres que fazem perguntas "incômodas" no plantão do Alvorada, Glenn Greenwald, a diretoria da UNE e as torcidas antifascistas nos estádios.

* A "rachadinha" será finalmente legalizada. E os funcionários fantasmas passam a ser reconhecidos como "forças de reserva" dos gabinetes.

* Depois de praticamente acabar com a Previdência, o governo criará a  aposentadoria por capitalização. Funcionará assim: o trabalhador contribuirá durante 35 anos e depois disso ganhará o direito de participar de um sorteio. Se ganhar, passará a receber um salário mínimo e uma cesta básica por mês. Se não tiver sorte, paciência, é do jogo, ele receberá um bom auxílio funeral.

* O governo porá em prática um plano para acabar com as milícias. Vai privatizá-las. Serão transformados em burgomestres e participarão de leilões para assumir concessões nas aldeias.

* Parodiando a Maria Antonieta do “Eles não têm pão? Por que não comem brioches?” diria nossa dondoca rica: “A água está podre? Por que não tomam Évian?”

sábado, 25 de janeiro de 2020

Fotomemória da redação: Manchete dançou lambada. Foi há 30 anos...



Em 1990, a lambada se espalhava pelo mundo. A dança era capa de revistas internacionais, como a Observateur. A repórter Marina Nery e o fotógrafo Ricardo Beliel foram ao Pará desvendar para a Manchete as raízes da lambada.

Naquele momento, há 30 anos, o ritmo ditava a imagem do Brasil que, no exterior, ainda não era confundido com neonazismo ou neofascismo, desprezo pelo meio ambiente, neuras fundamentalistas, milicias, os Queirozes da vida etc.

O clima de que o Brasil pós-Constituinte tomaria jeito durou pouco. Eleito presidente, Collor de Mello logo confiscou poupanças e adotou uma política de neoliberalismo trêfego e implantou seguidos planos econômicos fracassados. Em pouco tempo, a inflação disparou e a fantasia collorida sucumbiu em meio a um mega escândalo de corrupção.

A lambada "chorando se foi", como cantava o grupo Kaoma que, ao lado de Beto Barbosa (o cantor do "dançando lambada, dançando lambada"...) dominava as paradas musicais.

Mas a dança parece ter sido uma breve "janela" de alegria como Manchete bem registrou naquele difícil começo da década de 1990.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

O ataque a Glenn Greenwald e o discurso nazista de Alvim estão na mesma selfie do momento político

Inicialmente, a mídia conservadora noticiou o ataque ao jornalista Glenn Greenwald apenas como um fato e evitou se posicionar. Ao contrário do New York Times que imediatamente deu em editorial a dimensão da ofensiva ao jornalismo.

Hoje, sob o título "Indiciamento de jornalista é afronta", O Globo se posiciona. Fala em "rechaçar o ataque ao jornalista, protegido pelo direito de informar e do sigilo da fonte. Mesmo que ela já seja conhecida é afrontoso tentar acumpliciar Glenn Greenwald , com o hackers, com base em interpretações forçadas de frases soltas em diálogos travados entre Glenn e Walter Delgatti Neto, obtidos pela Polícia Federal. Que, por sinal, nada viu nas investigações que identificasse a "participação material" do jornalista nos crimes de interceptação e roubo dos diálogos". 

O que Glenn Greenwald praticou foi puro jornalismo. Apenas revelou aos brasileiros certas metodologias suspeitas, para dizer o mínimo, dos procuradores da Lava Jato e do então juiz Sergio Moro. Se o material teve origem em ação de hackers, não é problema do jornalista. Assim como a mídia não pode ser criticada por ter publicado os sucessivos vazamentos da Lava Jato, que legalmente estavam sob sigilo determinado pela Justiça.

Caiu enfim a ficha do Globo em relação aos riscos ao direito de informar e ao sigilo da fonte, pilares da liberdade de expressão. E isso é positivo diante de opiniões que circularam nos últimos dias, por parte de figuras identificadas com a direita ou com o governo, que justificam o ataque a Gleen Greenwald.

A mesma edição do Globo traz um artigo do jornalista de mercado Carlos Alberto Sardenberg que normaliza a investida oficial contra o jornalista do Intercept Brasil.

Um alento é ler na mesma página um artigo de Joel Birman, psicanalista e professor da UFRJ sobre  discurso nazista do ex-secretário de Cultura Roberto Alvim. Birman demostra que a cenografia e conteúdo do pronunciamento daquele que, na véspera, foi elogiado por Bolsonaro, não são um ponto fora da curva do atual governo.

O discurso nazista de Alvim e o ataque a Glenn Greenwald estão na mesma selfie do atual panorama político brasileiro.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

ABI protesta contra perseguição a jornalista

LEIA A MATÉRIA COMPLETA AQUI

Denúncia contra Greenwald é ataque à liberdade de imprensa


(The Intecept Brasil/Reprodução)

1. Os diálogos utilizados pelo MPF na denúncia são rigorosamente os mesmos que já haviam sido analisados pela Polícia Federal durante a operação Spoofing, e acerca dos quais a PF não imputou qualquer conduta criminosa a Glenn;

2. A PF concluiu: “Não é possível identificar a participação moral e material do jornalista Glenn Greenwald nos crimes investigados”;

3. A PF destaca, inclusive, a “postura cuidadosa e distante em relação à execução das invasões” por parte do jornalista co-fundador do Intercept;

4. Glenn Greenwald não foi sequer investigado pela PF, pois não existiam contra ele os mínimos indícios de cometimento de crimes. Ainda assim, foi denunciado pelo Ministério Público Federal;

5. Causa perplexidade que o Ministério Público Federal se preste a um papel claramente político, indo na contramão da ausência de indícios informada no inquérito da Polícia Federal;

6. Nós, do Intercept, vemos uma tentativa de criminalizar não somente o nosso trabalho, mas o de todo o jornalismo brasileiro. Não existe democracia sem jornalismo crítico e livre. A sociedade brasileira não pode aceitar abusos de poder como esse;

7. O procurador Wellington Divino Marques de Oliveira, que agora tenta criminalizar nosso jornalismo, é o mesmo que denunciou e tentou afastar do cargo o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, por calúnia em uma fala pública sobre o ministro de Bolsonaro Sergio Moro. A denúncia foi rejeitada pela Justiça por ser, nas palavras do juiz da 15ª Vara Federal do Distrito Federal, “descabida”;

8. Sergio Moro é o principal implicado no escândalo da Vaza Jato, a série de reportagens publicada pelo Intercept e por veículos parceiros que mostra ilegalidades cometidas por Moro e pela Lava Jato;

9. O MPF também é implicado no escândalo da Vaza Jato, com vários de seus membros atingidos pelas irregularidades reveladas nas mensagens que estamos publicando;

10. A denúncia desrespeita ainda a autoridade de uma medida cautelar do Supremo Tribunal Federal, concedida na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 601. Ela foi concedida para evitar ataques à liberdade de imprensa e ao trabalho jornalístico do Intercept e demais veículos parceiros na cobertura da Vaza Jato.

"Primo Rico" vai a Davos e culpa o "Primo Pobre" pela crise climática

Paulo Guedes é uma espécie de "primo rico", o personagem criado por Max Nunes e vivido por Paulo Gracindo no "Balança mas não Cai". Para o ministro, o "primo pobre" - que no humorístico era interpretado por Brandão Filho - é o culpado de tudo. Do rombo da Previdência ao uso perdulário do seguro-desemprego, da custosa necessidade de hospitais e escolas a casa própria e emprego.

Em Davos, Guedes resolveu denunciar o "primo pobre" como o grande responsável pelos problemas ambientais.

O ministro deve ter identificado o "vilão" do planeta quando foi trainee neoliberal em Chicago ou até no período que serviu à ditadura de Pinochet. Ele acha que o "primo pobre" detona o meio ambiente em busca de comida. Evita responsabilizar grandes corporações, mineradoras, a indústria do petróleo etc, e ignora que os processos de desmatamento são operações caras, grileiros, invasores, o agronegócio, garimpeiros, sejam de empresas ou de milícias, utilizam máquinas pesadas. É uma questão de escala, para usar o jargão tecnocrata.

Ô "primo rico", vai dar uma volta nas periferias ou nos grotões do Brasil. O pobre é vítima e não o agente da degradação ambiental.

"Você é uuuuótimo, primo!".

domingo, 19 de janeiro de 2020

O botóx jornalístico da revista Época


Desde setembro do ano passado, quando demitiu editores no rastro da matéria "O coaching on-line de Heloísa Bolsonaro", o que desagradou o clã, a revista Época passou por uma sessão de botóx jornalístico. 

Deixou de lado matérias investigativas de impacto político e passou a privilegiar nas capas reportagens de comportamento, medicina, empoderamento, empreendedorismo etc, um tipo de pauta que chega aos  limites da literatura do tipo auto ajuda.

Época vive tempos fofos. Parece o programa da Fátima Bernardes.

Magnata quer levar nave de passageiros para Marte. Faça sua lista de brasileiros que você gostaria de mandar para lá

por O. V. Pochê

Elon Musk, o dono da Space X, empresa espacial privada, revelou em seu Twitter que transportará até um milhão de pessoas a Marte até 2050. Em 10 anos, muita gente já poderá fazer check in para essa viagem, diz ele. O magnata não informa se construirá estruturas para as pessoas sobreviverem em Marte e, muito menos, se a passagem é de ida e volta.
Em todo caso, faça sua lista com os nomes de quem você gostaria de mandar para Marte. Claro, comece pelos terráqueos que atualmente habitam a Praça dos Três Poderes, lá mesmo, em Brasília.


sábado, 18 de janeiro de 2020

O Papa Francisco e eu • Por Roberto Muggiati

Muggiati na Rua Real Grandeza.  
Nunca fui de correr atrás de Papas (ou de celebridades em geral). Minha relação com a Igreja Católica não sobreviveu ao penoso rito da Primeira Comunhão, na paroquia de Santa Teresinha do Menino Jesus, no bairro do Batel, em Curitiba. Aquele bullying todo em torno da confissão – você tinha obrigatoriamente de ter pecados a expiar, ou então estaria mentindo. Os mais espertos inventavam pecados para sair logo daquela roubada. Outros, em pânico, chegavam até a comprar – com bolas de gude ou balas Zequinha – “pecados” a serem sussurrados ao obscuro inquisidor por detrás da treliça. Havia ainda a campanha de terror que cercava a ingestão da hóstia sagrada – o santo-cura histérico o intimidava a não ferir ou morder o corpo de Cristo. Troquei a arejada e solar igreja de Santa Teresinha – obra de mestres-de-obra imigrantes italianos que posavam de arquitetos – pela escura e misteriosa Catedral de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, elevada a Basílica Menor em 1993, ano do seu centenário. Como ainda não conhecera de perto as grandes catedrais medievais da Europa, eu me contentava com aquela cópia em estilo neogótico – ou gótico romano – inspirada na Catedral da Sé de Barcelona. E mais, meu pai, que tocava violino, costumava me levar até o majestoso órgão – era amigo do organista e de membros do coral – a meio caminho, subindo por uma escadaria íngreme e estreita, do campanário, onde eu me sentia o próprio Corcunda de Nôtre Dame (não tinha lido o romance de Victor Hugo, mas me impressionara com o filme em que Charles Laughton interpretava Quasimodo.) Havia ainda na Catedral de Curitiba a vigília do Cristo Morto na Semana Santa, na madrugada de sexta-feira, da qual meu pai participava com a capa solene da confraria – as imagens religiosas da igreja todas cobertas de pano roxo, só o Cristo crucificado do pequeno altar à direita do portão de entrada, com suas chagas sangrentas brutalmente expostas, um dos mais horripilantes que já vi em toda minha vida.
Havia um toque leigo, também: a missa das nove aos domingos na Catedral era conveniente, pois a poucos passos dali, às dez, começava o programa de rádio infanto-juvenil no Clube Curitibano. O apresentador, José Augusto Ribeiro – prenunciando já o fabuloso orador que viria a ser – comandava o show que tinha, entre suas atrações, as fabulosas irmãs catarinenses Van Steen, uma delas a Edla, que ganhou o mundo como atriz e escritora.
Bisneto de anarquista – Ernesto Muggiati veio para o Brasil com mulher, dois filhos e duas filhas para participar da lendária Colônia Cecília em Palmeira, no Paraná – comunista principiante (adentrei 1950 com doze anos de idade no auge da Guerra Fria), não posso omitir que me vi então, paradoxalmente, às voltas com uma tremenda crise mística ao ler, no começo da adolescência, já em inglês, The Seven Storey Mountain/A montanha dos sete patamares, de um dos grandes líderes espirituais da nossa época, Thomas Merton (1915-68), um monge trapista, ordem que cultivava o voto do silêncio.
Mas chega de nariz-de-cera, como se praticava no jornalismo dantanho.
Jesuíta, tanguero emérito, torcedor doente do San Lorenzo de Almagro, Jorge Mario Bergoglio (coincidência, Zagalo também é Jorge Mário) foi um dos raros Papas que não ascendeu ao trono de São Pedro pela morte do antecessor: Bento XVI renunciou e, como Papa Emérito, caminha firme para os 93 anos (não percam o filme Dois Papas, do brasileiro Fernando Meireles, que reconstitui o encontro entre Ratzinger e Bergoglio em Castel Gandolfo em 2013). Pouco depois, Ratzinger renunciava e Bergoglio assumia o papado sob o nome de Francisco, quebrando uma série de recordes pontificais: é o primeiro papa nascido na América, o primeiro latino-americano, o primeiro pontífice do hemisfério sul, o primeiro papa a utilizar o nome de Francisco, o primeiro pontífice não europeu em mais de 1200 anos (o último havia sido Gregório III, morto em 741) e também o primeiro papa jesuíta da história.
Enfim, de volta à nossa história. Eleito Papa em 13 de março de 2013, nosso bom Francisco inicia sua primeira viagem internacional em 22 de julho, justamente para a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro. Francisco escolheu se deslocar do Aeroporto do Galeão para o Palácio da Guanabara, onde se daria seu primeiro encontro com as autoridades, num carro comum da Fiat, apenas o motorista e ele, no banco traseiro do lado direito com as janelas abertas, Apesar do pânico da segurança e da quantidade de pessoas que se aproximaram dele, num engarrafamento no meio do caminho, Francisco, na viagem toda, não abriu mão dessa rotina, janelas abertas para os apertos de mão do povo.
Como disse, não sou de correr atrás de Papas. Na quinta-feira, 25 de julho, terceiro dia da visita, o Sumo Pontífice veio receber as chaves do Rio de Janeiro no Palácio da Cidade, à rua São Clemente, a menos de uma quadra da vila onde moro, na Real Grandeza. Um instinto natural de curiosidade – e o cacoete de jornalista – me levaram até a frente do Palácio naquela manhã fria e cinzenta, mas o Papa só apareceria ao longe – sei lá quando – na sacada do Palácio, bem afastado da rua. Desisti. Voltei ao meu trabalho de tradução. Liguei automaticamente a televisão, vi o Papa dar uma bênção especial a nossa estrela do basquete, Oscar Schmidt, que lutava contra um câncer. Como disse, tudo aquilo acontecia a um quarteirão da minha casa. Quando vi que o Papa partiria para a etapa seguinte de sua programação, uma visita à favela de Manguinhos, deduzi logo que, por questões de segurança, ele jamais tomaria o Túnel Rebouças pela São Clemente, mas seria obrigado a pegar a Real Grandeza.
Bichon bebê ao chegar em casa
supimpa, circa 2001
Eu acabara de perder a viralata querida Phoebe. A poodle branquinha Bichon estava quase terminal com câncer no útero. E a caçula Mel, uma poodlezinha caramelo, também aguardava sua vez. Veterinários atribuem esses cânceres ao fato de as cachorras não terem tido filhos, ou não terem sido castradas. Mas havia controvérsias: muita gente falava nos componentes cancerígenos das rações industrializadas – algo que as autoridades sanitárias nunca investigaram seriamente. Num impulso, pensei: o Papa Francisco, que tomou o nome do santo padroeiro dos animais, vai salvar a Bichon (o nome veio de uma amiga da minha mulher que, ao ver a poodlezinha branca, perguntou: “Mas ela não é um bichon frisée?”) A Bichon se protegia do frio com um agasalho de tricô terrivelmente brega, nas cores marrom, verde-musgo, amarelo e fúcsia. Corri com ela para a frente da vila e cheguei à calçada da Real Grandeza no momento exato em que Sua Santidade se aproximava, sozinho no banco traseiro de sua Fiat banal, com a janela do lado direito aberta, justamente aquela que dava para mim, Ergui a poodle no seu adereço kitsch bem alto acima da minha cabeça. A rua estava deserta. O gesto bizarro chamou a atenção de Francisco, a uns quatro metros do dono e da cachorra, ele fixou o olhar sobre nós, abriu aquele seu sorriso sereno e simpático e acenou, como que abençoando a cachorrinha doente.
Vaidoso da minha intervenção pontifical, passei a imaginar que a cura da Bichon seria arrolada como um dos primeiros milagres do Papa Francisco no seu futuro processo de canonização. Ledo engano. Exatos sete meses depois – em 25 de fevereiro de 2014 – a Bichon morria e era enterrada no meu “pet cemetery” particular, debaixo da casuarina no canteiro do fundo da vila,
Desculpe, hermano Francisco, fico te devendo esta, mas tenho certeza de que você é tão legal que essas coisas de beatificação e canonização não te fazem a menor falta, Afinal, você já vive e trabalha em estado natural de santidade.

Crivelices no carnaval...

por Niko Bolontrin

Sobrou para o Simpatia e para a Banda de Ipanema, que nada tinham a ver com a bagunça.
Depois do caos de Copacabana no embalo da Favorita, a prefeitura anunciou que iria mexer na ordem do carnaval de rua, para evitar que dois blocos grandes desfilassem em um mesmo dia. A solução anunciada - em dia de dois blocos maiores ambos saem no mesmo horário - acabou preservando os imensos e poderosos trios comerciais e punindo os blocos tradicionais.
O prefeito Crivella quer obrigar, por exemplo o Simpatia Quase Amor e a Banda de Ipanema a desfilarem a partir das sete da manhã, mesmo horário em que mega trios elétricos ocupam o Centro da cidade, no já apelidado "Circuito Crivella", em homenagem ao similar baiano.
Tradicionalmente e há décadas, os dois blocos de Ipanema saíam às três da tarde e agora serão obrigados a se adequar aos horários dos mega trios comerciais que, ano a ano, ganham relevância no carnaval carioca.
O Simpatia costumava se concentrar em meio a uma festiva multidão na Praça General Osório duas horas de entrar na Vieira Souto. Significa que, para começar a desfilar às sete, muito foliões vão ter que acordar lá pelas quatro da madrugada e já trocar o café da manhã pelo "esquenta" da cerveja que via começar ás cinco.
O Globo diz hoje, embora a matéria não mostre qualquer evidência disso, que a mudança foi um pedido dos "moradores de Ipanema".
É mesmo? Então os não-foliões do bairro vão preferir acordar bem cedo já com o samba nas ruas? Eu, hein?

O mecanismo nazistoide

Nos últimos anos, setores da direita no Brasil têm demonstrado uma certa nostalgia do nazismo. A teoria do "domínio do fato", por exemplo, instrumento autoritário amplamente utilizado em tempos recentes, tem origem nos gabinetes hitleristas. A volta dos integralistas que emulavam o fascismo é outro sinal. O discurso de Roberto Alvim, secretário da Cultura, não surpreende. Até o cenário e a trilha sonora wagneriana do pronunciamento denotam a inspiração que a frase emprestada por Joseph Goebbels explicitou. O secretário deve ter perdido horas montando o seu pequeno palanque, como se criasse sua Odeonsplatz privê. A foto, a cruz, a bandeira, a expressão triunfante. Não foi por falta de aviso, ele mesmo anunciou ao chegar ao cargo que montaria uma "máquina de guerra".
Alvim não está sozinho, cumpria ordens e seguia orientação difundida em vários setores do atual governo. Sua demissão não muda a essência das políticas da divisão Panzer que asfixia a cultura. O secretário, aliás, depois de inicialmente prestigiado após a frase nazista - na verdade, Goebbels assinaria o discurso todo, se voltasse como um zumbi dos anos 30 - só foi demitido em função das reações do Congresso, das redes sociais e das entidades judaicas. No exterior, a fala de Alvim se soma às demais demonstrações da dobradinha neofascismo+neoliberalismo, do desprezo às questões sociais ambientais, à perseguição aos índios e invasão das suas reservas, à supressão de direitos, a censura, o estímulo à intolerância e ao fundamentalismo. Alvim foi despachado, mas as nomeações que deixou à sua imagem e semelhança permanecem como uma ameaça à cultura, à democracia e à liberdade. Ele era apenas uma peça substituível, o mecanismo não foi afetado. O governo brasileiro até se orgulha de fazer parte de um novo eixo de países com ideias muito semelhantes àquelas que o pequeno palanque da Secretaria da Cultura divulgou para o mundo.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Fotomemória - Em Copacabana, o carnaval que não acabou em tumulto

Blocos na Avenida Atlântica, 1954; "Os "Pinguins do IAPTEC" foram os campeões
do"banho de mar de Copacabana".. Foto de Salomão Scliar./Reprodução 

Os "Independentes do Leblon" venceram na categoria escolas de samba. Foto de Salomão Scliar/Reprodução

Na Copacabana dos anos 50 o carnaval não acabou em tumulto. Foto Salomão Scliar/Reprodução 

Um fenômeno recente do carnaval carioca - os megatrios comerciais, na verdade shows nada disfarçados - estão em discussão.

Por servirem de palcos para cantores conhecidos e celebridades da TV costumam atrair grandes multidões. Nos últimos anos, já haviam registrado tumultos. Dessa vez, a vítima foi Copacabana, que virou uma autêntica praça de guerra em pleno domingo de sol e com a praia lotada de banhistas que nada tinham a ver com a história.

Em vão, uma semana antes do caos, os moradores recorreram às autoridades na tentativa de mostrar os riscos que um show naquelas condições traria para o bairro e para o público.

Claro que são inevitáveis as mudanças que atualizam o carnaval de rua ao longo do tempo. O fenômeno popular em que os blocos cariocas se transformaram fez a festa democrática renascer em muitos bairros. O sucesso naturalmente atrai produtores de shows e cantores que pegam carona na visibilidade que o Rio proporciona. Para estes, o carnaval de rua é um empreendimento comercial que pede grandiosidade. O show que bagunçou Copacabana, do "bloco" da Favorita, já havia sido proibido de se apresentar no bairro no ano passado. Foi deslocado para o Centro, como outros grandes trios, mas se recusou a sair de Copacabana e não foi pra rua em 2019. Este ano, encontrou uma brecha para ocupar a praia e deu no que deu.
O carnaval da Avenida Atlântica, como esse que a Manchete mostrou em 1954, é apenas memória de uma época. Os foliões de hoje provavelmente tirariam um cochilo enquanto o bloco passasse. Mas diante do que aconteceu no último domingo aquela calmaria daria alguma saudade.

Se o poder público resistir a pressões e ao lobby dos influentes megatrios (basta colocá-los em locais adequados para grandes shows, como o Parque Olímpico e o Maracanã) o carnaval de rua do Rio de Janeiro terá chance de permanecer como uma festa para os cariocas e turistas, sem passar a terrível imagem de caos, como a do último domingo, que, aliás, está repercutindo muito mal na mídia internacional.

O texto da Manchete que acompanhava as fotos acima também era bem mais ameno do que as matérias que relatam o pânico de domingo. "Copacabana já está vivendo o Carnaval de rua há uma semana. E a folia começou na praia exatamente. Saiu do escurinho das boites e do abafado do clubes para o samba livre do asfalto e das areais. Foi o bando de mar a fantasia. Os banhistas não muito carnavalescos se assustaram com a invasão da praia grã-fina por uma multidão de foliões, escolas de samba dançando ao ritmo da cuíca e do tamborim. Copacabana é contraste até no carnaval. Enquanto no Cassino Atlântico, ali no Posto 6, aconteceu um baile onde predominaram as lutas corpo a corpo, os pileques de lança-perfume e a mais desenfreada bacanal, na praia a alegria é pura e realmente carnavalesca".