terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Fotomemória - Em Copacabana, o carnaval que não acabou em tumulto

Blocos na Avenida Atlântica, 1954; "Os "Pinguins do IAPTEC" foram os campeões
do"banho de mar de Copacabana".. Foto de Salomão Scliar./Reprodução 

Os "Independentes do Leblon" venceram na categoria escolas de samba. Foto de Salomão Scliar/Reprodução

Na Copacabana dos anos 50 o carnaval não acabou em tumulto. Foto Salomão Scliar/Reprodução 

Um fenômeno recente do carnaval carioca - os megatrios comerciais, na verdade shows nada disfarçados - estão em discussão.

Por servirem de palcos para cantores conhecidos e celebridades da TV costumam atrair grandes multidões. Nos últimos anos, já haviam registrado tumultos. Dessa vez, a vítima foi Copacabana, que virou uma autêntica praça de guerra em pleno domingo de sol e com a praia lotada de banhistas que nada tinham a ver com a história.

Em vão, uma semana antes do caos, os moradores recorreram às autoridades na tentativa de mostrar os riscos que um show naquelas condições traria para o bairro e para o público.

Claro que são inevitáveis as mudanças que atualizam o carnaval de rua ao longo do tempo. O fenômeno popular em que os blocos cariocas se transformaram fez a festa democrática renascer em muitos bairros. O sucesso naturalmente atrai produtores de shows e cantores que pegam carona na visibilidade que o Rio proporciona. Para estes, o carnaval de rua é um empreendimento comercial que pede grandiosidade. O show que bagunçou Copacabana, do "bloco" da Favorita, já havia sido proibido de se apresentar no bairro no ano passado. Foi deslocado para o Centro, como outros grandes trios, mas se recusou a sair de Copacabana e não foi pra rua em 2019. Este ano, encontrou uma brecha para ocupar a praia e deu no que deu.
O carnaval da Avenida Atlântica, como esse que a Manchete mostrou em 1954, é apenas memória de uma época. Os foliões de hoje provavelmente tirariam um cochilo enquanto o bloco passasse. Mas diante do que aconteceu no último domingo aquela calmaria daria alguma saudade.

Se o poder público resistir a pressões e ao lobby dos influentes megatrios (basta colocá-los em locais adequados para grandes shows, como o Parque Olímpico e o Maracanã) o carnaval de rua do Rio de Janeiro terá chance de permanecer como uma festa para os cariocas e turistas, sem passar a terrível imagem de caos, como a do último domingo, que, aliás, está repercutindo muito mal na mídia internacional.

O texto da Manchete que acompanhava as fotos acima também era bem mais ameno do que as matérias que relatam o pânico de domingo. "Copacabana já está vivendo o Carnaval de rua há uma semana. E a folia começou na praia exatamente. Saiu do escurinho das boites e do abafado do clubes para o samba livre do asfalto e das areais. Foi o bando de mar a fantasia. Os banhistas não muito carnavalescos se assustaram com a invasão da praia grã-fina por uma multidão de foliões, escolas de samba dançando ao ritmo da cuíca e do tamborim. Copacabana é contraste até no carnaval. Enquanto no Cassino Atlântico, ali no Posto 6, aconteceu um baile onde predominaram as lutas corpo a corpo, os pileques de lança-perfume e a mais desenfreada bacanal, na praia a alegria é pura e realmente carnavalesca".

2 comentários:

J.A.Barros disse...

Os carnavais de antigamente eram muito enriquecidos com os desfiles de blocos dos bairros e subúrbios. Nesses desfiles, blocos rivais quando se encontravam saiam para a briga, o que se tornou tradicional. Mas, os tempos mudaram e as Escolas de Samba passaram a emocionar e atrair mais espectadores e o Carnaval se tornou , um grande negócio. Agora com a a volta dos blocos de ruas e muito melhor organizados as antigas rixas parece que voltaram também. Mas tudo é assim mesmo. E ainda por cima temos um Prefeito que não entende de Carnaval

Prof. Honor disse...

Excelente documento da história do carnaval carioca