quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

O ataque a Glenn Greenwald e o discurso nazista de Alvim estão na mesma selfie do momento político

Inicialmente, a mídia conservadora noticiou o ataque ao jornalista Glenn Greenwald apenas como um fato e evitou se posicionar. Ao contrário do New York Times que imediatamente deu em editorial a dimensão da ofensiva ao jornalismo.

Hoje, sob o título "Indiciamento de jornalista é afronta", O Globo se posiciona. Fala em "rechaçar o ataque ao jornalista, protegido pelo direito de informar e do sigilo da fonte. Mesmo que ela já seja conhecida é afrontoso tentar acumpliciar Glenn Greenwald , com o hackers, com base em interpretações forçadas de frases soltas em diálogos travados entre Glenn e Walter Delgatti Neto, obtidos pela Polícia Federal. Que, por sinal, nada viu nas investigações que identificasse a "participação material" do jornalista nos crimes de interceptação e roubo dos diálogos". 

O que Glenn Greenwald praticou foi puro jornalismo. Apenas revelou aos brasileiros certas metodologias suspeitas, para dizer o mínimo, dos procuradores da Lava Jato e do então juiz Sergio Moro. Se o material teve origem em ação de hackers, não é problema do jornalista. Assim como a mídia não pode ser criticada por ter publicado os sucessivos vazamentos da Lava Jato, que legalmente estavam sob sigilo determinado pela Justiça.

Caiu enfim a ficha do Globo em relação aos riscos ao direito de informar e ao sigilo da fonte, pilares da liberdade de expressão. E isso é positivo diante de opiniões que circularam nos últimos dias, por parte de figuras identificadas com a direita ou com o governo, que justificam o ataque a Gleen Greenwald.

A mesma edição do Globo traz um artigo do jornalista de mercado Carlos Alberto Sardenberg que normaliza a investida oficial contra o jornalista do Intercept Brasil.

Um alento é ler na mesma página um artigo de Joel Birman, psicanalista e professor da UFRJ sobre  discurso nazista do ex-secretário de Cultura Roberto Alvim. Birman demostra que a cenografia e conteúdo do pronunciamento daquele que, na véspera, foi elogiado por Bolsonaro, não são um ponto fora da curva do atual governo.

O discurso nazista de Alvim e o ataque a Glenn Greenwald estão na mesma selfie do atual panorama político brasileiro.

Um comentário:

Ebert disse...

Boa sacada. É muita inocência achar que são coisas separadas ou acidentes de percurso. esse alvim está apoiado, elogiado e entrosado com a ultra direita no poder.