sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Lombroso está de volta...

O Brasil vive tempos de haters nas redes sociais e na mídia. Dizem por aí que é inevitável em épocas de rachas políticos e da internet como estilingue eletrônico de opiniões. Os Estados Unidos de Trump passam por um momento semelhante a esse Brasil de Temer. Briga de teclas no escuro.

Mas, às vezes, a galera pega pesado.

Há muito tempo não se ouvia falar em Cesare Lombroso. Artigo de Nelson Motta desencava hoje o autor do livro "O Homem Delinquente", obra que Mussolini lia, relia e levava até pro banheiro. Motta recorre à teoria do médico e criminalista italiano ao observar que um dos filhos do Lula "de cara, tem feições que fariam a alegria de Lombroso".

Para Lombroso, o sujeito já nascia com DNA, cara, barba, cabelo, bigode, impressões digitais e CPF de criminoso. Desde o berço, desde o teste do pezinho, esses sinais diferenciam os "delinquentes" das "pessoas normais", pregou o doutor italiano..

Reprodução de trecho do artigo "Sangue do meu Sangue"
de Nelson Motta (O Globo, 29/9/2017)
Lombroso listou, entre outras, algumas características dos vilões irremediáveis:  orelhas de abano, nariz adunco, queixo protuberante, maxilar largo, maçãs do rosto proeminentes, barba rala, cabelos revoltos, caninos bem desenvolvidos, cabelos e olhos escuros, olhar esquivo e vidrado, preferência por tatuagens, vaidade, paixões exacerbadas etc.

Para o italiano, mulheres com voz grossa, verrugas, peitos pequenos demais ou grandes demais também eram "chaves-de-cadeia".

Bem mais da metade da população brasileira se encaixa nesse perfil de olhos pretos e cabelos pretos e embaraçados. "Prende que é encrenca", diria o velho Lombra.

E, não por acaso, as teorias lombrosianas já foram muito festejadas e exaltadas pela elite brasileira. Inspirado nelas, o Código Penal de 1940, do Estado Novo, relacionava a extensão da pena ao crime e à caracterização e "personalidade" do criminoso. Isso aí é Lombroso na veia. Ainda hoje, é concedido ao juiz analisar a "personalidade do agente", o que é uma abertura para a possibilidade de influências preconceituosas, religiosas, de classe, de raça etc a eventualmente contaminar sentenças.

Então já viu, né? Se Lombroso fosse ao Maracanã e encontrasse um torcedor do Flamengo ou de qualquer clube de massa na antiga geral, de "olhos e cabelos pretos", "cabelos revoltos" e "olhar vidrado" gritando gol em um momento de "paixão exacerbada" despachava o elemento para as masmorras.

Nem precisava estar envolvido na Lava Jato. "Tem cabelo preto, orelha de abano, tatuagem? Aos costumes, 'criminale'".

Modelo e fotógrafo que foram presos no Egito por nudez em templo repetem a dose na Etiópia

Marisa Papen no Egito, pouco antes de ser presa. Foto Jesse Walker

E na Etiópia. Foto Jesse Walker
A modelo belga Marisa Papen foi detida recentemente quando posava nua no templo de Karnak, no Egito, para o fotógrafo australiano Jesse Walker. No Egito, ela e o fotógrafo passaram uma noite na prisão, foram liberados e convidados a deixar o país. Na Etiópia, onde muçulmanos são minoria, fizeram novo ensaio. no mesmo estilo, entre nativos da tribo Surma. Não tiveram problemas. A informação é do Daily News. E no seu site, a modelo relata a aventura na Etiópia e mostra mais imagens tribais.

Abril planeja mais demissões. Dessa vez, a empresa pretende pagar verbas indenizatórias "na parcela"

A Árvore balança?

O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo tem se reunido com funcionários da Abril para discutir um possível voo do passaralho, mais um, nas redações da editora paulista.

Desse vez, as dispensas podem embutir um grave questão: com o caixa baixo, os patrões pretenderiam parcelar em até dez vezes o pagamento das verbas rescisórias.

Caso se confirmem, as demissões em um editora que já foi uma das maiores empregadoras do setor são mais uma péssima notícia em um mercado profissional em acelerada mudança.

O jornalismo não vai acabar, ao contrário, a tendência é que se torne cada vez mais importante, diversificado e aberto nos meios digitais, mas um cenário se confirma a cada crise nas grandes corporações de comunicação: os novos modelos oferecem um número significativamente menor de postos de trabalho.

O "setor de inteligência" do Flamengo não combinou com os "russos"

por O.V.Pochê

É famosa a pergunta do Garrincha a Vicente Feola, técnico da seleção brasileira campeã na Suécia, em 1958.  Na véspera do jogo contra a então União Soviética, Feola traçou no quadro-negro uma instrução, quase uma bula, para cadenciada troca de passes que, na imaginação do treinador, acabaria fatalmente em um gol do Brasil. Garrincha apenas mandou uma pergunta-drible: "Mas o senhor já combinou com os russos"?

O Muralha é execrado nas redes sociais desde ontem. É campeão em memes. Com raríssimas exceções, o ex-jogador Caio Ribeiro é uma dessas, o goleiro foi detonado por comentaristas haters na TV e nos jornais em contraste com o meia Diego que, embora tenha perdido um pênalti, escapou do linchamento.

Hoje, o Globo revela que Muralha pulou todas as vezes no canto direito do seu gol por ordens da diretoria.

Flagrante da diretoria do Flamengo antes do jogo contra o Cruzeiro.
Nerds estudaram cobranças de pênaltis e, baseados em exaustivos estudos,
mandaram que o goleiro Muralha pulasse todas as vezes
no seu canto direito do gol

O jornal informa que o "setor de inteligência" do Flamengo baixou o decreto após nerds e tecnocratas do clube analisarem em computadores as estatísticas de cobrança de pênaltis dos jogadores do Cruzeiro. Como se sabe, o Flamengo tem sua diretoria hoje formada por oriundos do mercado financeiro e aliados. Dizem que a turma não entende porra nenhuma de futebol mas botou as finanças em dia. Título que é bom, esse ano só o Carioca e, há saudosos quatro anos, uma Copa do Brasil.

Mas eu dizia que Muralha pagou o pato. E foi leal, não caguetou: deu entrevistas desde a derrota e não entregou os nerds que traçaram o plano "brilhante' no computador mas esqueceram de combinar  com os "russos" do Cruzeiro.

Na véspera do jogo, o mesmo Globo publicou um infográfico de cobranças de pênaltis que também trazia o mapa da mina para derrotar o time mineiro. Hoje, Cruzeiro com a mão na taça, o infográfico também virou piada.

Dizem que a diretoria do Flamengo e o "setor nerd de inteligência" voltaram aos computadores: o objetivo agora é a Sul-Americana e uma das vagas do Brasileirão para a Libertadores.

Sob pressão da torcida, o departamento Flanerd estuda modelos matemáticos, simulações, Google, faz pesquisas no site de encontros Tinder, investigações na deep web e pede ajuda do Wikileaks para estudar todos os movimentos de cada um dos cerca de 180 jogadores adversários que o Flamengo enfrentará até a última rodada do Brasileirão, além dos jogos da Sul-Americana.

A NASA vai emprestar alguns supercomputadores.

ATUALIZAÇÃO 

OLHA SÓ O QUE A DIRETORIA DO FLAMENGO COMEMORA. PRA ELES ISSO É MELHOR DO QUE UM TÍTULO? VIBRAM MAIS COM LIKES E EMOJIS DO QUE COM BOLA NA REDE.



EM RESPOSTA AO DIRETOR, ALGUMAS INVERTIDAS DOS TORCEDORES







quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Calendário Pirelli 2018: Alice no País das Maravilhas em versão black


Whoopi Goldberg posa de duquesa para o Calendário Pirelli 2018. Foto reproduzida do site 2018 Pirelli Calendar

Lupita Nyong, vencedora do Oscar, é fotografada para o Calendário Pirelli.
Foto reproduzida do site 2018 Pirelli Calendar

por Clara S. Britto
Você percebe que o ano está chegando ao fim quando começam a circular informações sobre o Calendário Pirelli. A peça é um evento fotográfico. E a nova versão, a de 2018, está apontando na curva. Foi fotografada por Tim Walker, e editada por Edward Enniful, da Vogue britânica. Reúne modelos, atores, atrizes músicos e humoristas. Todos negros. O tema Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Entre as estrelas participantes estão: Naomi Campbell, RuPaul, Lupita Nyong e Whoopi Goldberg.  
VEJA O VÍDEO DOS BASTIDORES DAS SESSÕES DE FOTOS, CLIQUE AQUI

A internet rindo muito...











Ensino religioso confessional em escola pública: maioria do STF manda a Constituição para o armário dos ex-votos

Foto Rosinei Coutinho/SCO/STF

O Estado é laico, segundo a Constituição, mas o crucifixo visto nessa foto não deixa dúvidas de que o STF não é de todos os brasileiros.

Na última quarta-feira, em decisão polêmica, o Supremo comprovou isso ao passar uma borracha nesse artigo da  Carta que, aos poucos, se esvai e determinou que escolas públicas podem ter ensino religioso confessional. A Constituição assegura a liberdade religiosa, mas ao evitar a conjunção igreja-Estado confere ao tema um caráter privado, como deve ser o livre exercício da fé.

Com impressionante ingenuidade ou desconhecimento da realidade, no mínimo, o STF diz que estão vetadas quaisquer formas de proselitismo.

Coube à ministra Carmen Lúcia, que foi exaltada na grande mídia e celebrada por colunistas-tietes por supostamente levar ao tribunal um sopro de Século 21, dar o voto de minerva que jogou o Brasil mais um pouquinho no fosso do atraso e na ameaça do autoritarismo religioso.

Diz o STF que a matrícula é facultativa e ninguém é obrigado a fazer o curso de religião. Alguns ministros argumentaram que ao dispensar aulas de religião o aluno pode sofre bullying e constrangimento. Sem falar que ateus ou praticantes de religiões afro-brasileiras já sofrem preconceitos e até agressões nas salas de aula. A nova lei em nada vai melhorar tal quadro.

A intenção proselitista é um grande risco já que não se pode esperar muita didática dos "professores". Não é preciso formação acadêmica específica: padres, pastores, rabinos, babalorixás, espiritualistas etc, podem assumir o papel de "mestres" desde que façam concursos.

Votaram pelo ensino confessional cinco ministros: Edson Facchin, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Ricardo Lewandovski e Alexandre de Moraes.

Foram contrários à transformação da sala de aula em púlpito, outros cinco: Luiz Roberto Barroso, Rosa Weber, Marco Aurélio, Luis Fux e Celso de Mello.

Carmen Lúcia desempatou e optou pelo obscurantismo.

E o Brasil deu mais um importante passo político rumo a um futuro Estado teocrático.

Aos poucos, somando-se às leis municipais e estaduais das "bancadas" fundamentalistas, aos benefícios fiscais já em vigor e ao uso de verbas públicas sob o manto de "organizações sociais", a democracia se ajoelha.

Hugh Hefner, o criador da Playboy, morre aos 91 anos e vai ser enterrado ao lado da primeira coelhinha: Marilyn Monroe

Luto no site oficial da Playboy Enterprises

por Ed Sá

Hugh Hefner, o criador da Playboy, morreu aos 91 anos, na madrugada desta quinta-feira, na Califórnia.

Hefner e a Playboy se confundiam como marca e símbolo.

A primeira edição da revista foi publicada em 1953, quando o seu criador mal completara 27 anos.

Revistas de mulheres nuas já existiam desde o começo do século passado. Mas Hefner queria oferecer algo mais e, principalmente, tirar as revistas eróticas dos seus esconderijos sob colchões e levá-las para a mesinha das salas. O primeiro editorial da Playboy prometia sofisticação, cultura, inteligência e sensualidade: "Nós gostamos de misturar cocktails e hors d'oeuvre, colocar uma música no toca-discos e convidar uma mulher para uma conversa silenciosa sobre Picasso, Nietzsche, jazz, sexo".
Foto reproduzida do site Playboy Enterprises

Há quem diga que ele surgiu como a última trincheira do machismo, nos anos 50, antes da chegada dos anos 60, a década que lançou o feminismo e queimou sutiãs. Hefner foi perseguido por J. Edgar Hoover, o crossdresser puritano que personificava o FBI, e execrado pelas feministas. Atravessou esses furacões e, sete anos depois de lançada, a Playboy vendia 1 milhão de exemplares.

Nos anos 70, alcançou sete milhões. A revista masculina mais bem sucedida do mundo se expandiu depois em filmes, grifes, clubes e resorts.

Hefner venceu o moralismo e o feminismo, tirou a revolução sexual do círculo intelectual e a levou para as bancas de revista, mas não resistiu à Internet.

Em 2015, a Playboy americana vendia menos de 800 mil exemplares, deixou de publicar nus (orientação que foi revista recentemente), mantém portal digital, mas a antiga relevância perdeu-se para sempre.

A Playboy Enterprise, dirigida atualmente por Cooper Hefner, filho do fundador, permanece, a edição impressa deve sobreviver mais alguns anos, mas a mística da marca... essa foi embora com Hugh Hefner.

No Brasil, a Playboy foi editada pela Abril por 37 anos. Em 2015, a editora encerrou a publicação. A PBB Entertainment assumiu o título da versão nacional mas não teve fôlego para manter a edição mensal, que logo passou a bimestral.

O New York Times noticia que o criador da Playboy será enterrado no Westwood Memorial Park, em Los Angeles, a poucos metros do túmulo de Marilyn Monroe, que foi capa da edição número um da revista.

Sílvio Santos em ritmo de festa: "Quero morrer nos peitos de Helen Ganzarolli"

por O.V.Pochê

A três anos de completar os 90, Sílvio Santos está com um espécie de habeas corpus para falar o que lhe vem à cabeça pintada. Quem pode criticar a liberdade de expressão desembestada?

A última dele: em enquete do blogueiro Matheus Massafera, o dono do SBT afirmou que já sabe onde quer morrer: nos peitos de Helen Ganzarolli.

A modelo é a musa do apresentador. Se existe o rótulo "lugares para conhecer antes de morrer, SS quer conhecer o colo da Ganzarolli ao morrer.

Sílvio Santos já provocou polêmica com o tema morte. Em julho de 2003, quando ainda não se falava em fake news, ele foi capa da Contigo ao declarar sem rir que estava à beira da morte e que vendera o SBT para José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, e para a Televisa, do México.

O "patrão" garantiu que sofria de um gravíssimo problema de coração e tinha apenas seis anos de vida.

Já se passaram 14. A matéria foi a "bomba" da semana.

Era uma pegadinha.

Virou um "case" jornalístico.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Vai viajar? Tio Trump quer saber o que você pensa e faz nas redes sociais antes de autorizar sua entrada nos Estados Unidos...

"Me adicione!". Reprodução
Agora é oficial. A partir do dia 18 de outubro, o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (DHS) utilizará buscas na internet e programas-espiões que varrem até históricos de pesquisa para vasculhar redes sociais de imigrantes ou viajantes em rotas para o país. Mesmo estrangeiros que possuam green card ou sejam naturalizados poderão passar pelo pente fino em embaixadas, consulados ou nos serviços de imigração em aeroportos.

Além de Facebook, Instagram, Linkedin e Twitter, aplicativos de conversas e vídeo também serão checados. A medida afeta a liberdade de expressão e está sendo criticada. 

Leia um dos tópicos da medida imposta pelo governo do Tio Trump: "Expandir as categorias de registros para incluir o seguinte: país de nacionalidade; país de residência; o número de conta online do USCIS; identificadores de mídia social, pseudônimos, informações identificáveis associadas e resultados de pesquisa (...) Atualizar as categorias de fontes de registro para incluir informações publicamente disponíveis obtidas da internet, registros públicos, instituições públicas, entrevistados, provedores de dados comerciais e informações obtidas e divulgadas de acordo com acordos de compartilhamento de informações".


Lembra disso? Deu nisso...


(do Portal Imprensa)

A 4.ª Turma do Superior Tribunal de Justiça decidiu, por unanimidade, negar o recurso da TV Record em que a emissora questionava sua condenação sobre o pagamento de indenização a um desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, sua mulher e seus filhos em razão da divulgação de uma reportagem considerada ofensiva.
Crédito:Divulgação Record TV

A emissora foi condenada em primeira e segunda instâncias por divulgar, reiteradas vezes, uma situação envolvendo o desembargador e uma agente da Guarda Municipal. As informações são do Conjur.

Para o ministro relator, Raul Araújo, a legitimidade para pleitear a reparação por danos morais seria somente do próprio ofendido. Porém, segundo o ministro, a doutrina e a jurisprudência do STJ têm admitido, em certas situações, que pessoas muito próximas afetivamente à pessoa insultada, que se sintam atingidas pelo evento danoso, possam pedir o chamado dano moral reflexo ou em ricochete.

LEIA A MATÉRIA NO PORTAL IMPRENSA, CLIQUE AQUI

Brasil tem encontro marcado com a Noite dos Cristais?

O pior legado desses dias é a intolerância institucionalizada e cada vez mais evidente nas ruas.

Com o avanço da direita e das facções religiosas fundamentalistas, do preconceito, do racismo, do individualismo acima de tudo, do "Estado mínimo" ou nenhum Estado, da apropriação dos serviços de saúde e educação e das demais estruturas públicas, desenha-se o faroeste caboclo.

Manda e usufrui da sociedade quem tem força. Milícias da direita radical e neonazista já partem das palavras para a ação e já inspiram leis no Congresso.

Políticos fazem avançar projetos que jogam o Brasil em um fosso de atraso social, traficantes ligados a evangélicos quebram locais de culto a entidades de religiões afro-brasileiras; protótipos de terroristas que enxergam o diabo até na mãe lançam bombas em centro espiritual; mães-de-santo são agredidas a pedradas; qualquer indício de diversidade é julgado, condenado e lançado na fogueira moral; frequentadores de uma exposição de arte são filmados e ameaçados; um general que certamente tem cúmplices prega o golpe em ataque à Constituição é agora elogiado por superiores e fica imune a punição; escolas são invadidas e professores ameaçados por não pregar o ideário fascista; índios e grupos de sem-terra são massacrados por policiais, ruralistas e garimpeiros; por último (veja a ilustração), um advogado negro se depara com um cartaz nada sutil colado em frente ao seu escritório há poucos dias.

Jornalismo é um dos temas preferidos desta página. Em 1920, um pequeno jornal de Munique, o  Münchener Post, publicou a seguinte nota:

“Uma espécie de partido, que ainda anda de fraldas e aparenta ter saúde bem fraca, vem aparecendo às vezes em público sob o nome de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Na terça-feira à noite, um senhor chamado Hitler falou sobre o programa desse partido".

O texto ainda informava que o antissemitismo era um dos pilares do novo partido que havia sido fundado um ano antes, com 200 filiados. Ninguém pode acusar Hitler de esconder o jogo: ele já propagava então as ideias que pôs em prática pouco mais de dez anos depois dessa simples e discreta notícia publicada em um jornal que rodava menos de 10 mil exemplares e que a grande mídia da Alemanha não percebeu.

Para saber mais sobre o Münchener Post há um bom livro nas boas casas do ramo, fruto de uma minuciosa pesquisa da jornalista brasileira Silvia Bittencourt: “A Cozinha Venenosa – Um Jornal Contra Hitler”. "Cozinha venenosa" era o apelido que Hitler dava ao pequeno jornal. Dez anos depois, o partido de Hitler tornou-se uma força política, alcançou 4 milhões de adeptos.

Em 1933, Hitler passou a chanceler do Reich. O Münchener Post não resistiu e, pouco depois, foi invadido e destroçado. Bem antes disso, ao difundir o "grande medo"  - a ascensão do comunismo - os nazistas já haviam se tornado influentes em alguns veículos da grande mídia, além de manter seu próprio jornal, o Der Stürmer, que estampava títulos sobre crimes sexuais e financeiros cometidos por judeus e comunistas, denunciava a arte"degenerada", pregava a depuração racial, o controle dos valores da família e das escolas. Com a ascensão de Hitler, muitos jornais foram encampados e a Alemanha passou a ter uma única voz.

O Münchener Post, se ainda existisse, poderia ter dado a manchete que suas linotipos não chegaram a compor:  "Bem que nós avisamos".

A Noite dos Cristais tropical vai ser quando mesmo?

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Memórias da redação: a reportagem que virou "iguaria"...


Em 2004, o repórter Fernando Pinto, que trabalhou na Manchete durante anos, publicou "Memórias de um Repórter" pela Comunidade Editora/Thesaurus.

No livro, ele descreve uma reportagem que fez com o fotógrafo Gervásio Baptista, na Indonésia. Justino Martins, o diretor, gostou do material e deu à dupla 16 páginas da revista.

Fernando escreveu um longo texto sobre as belezas da Indonésia, seu povo e a miséria do país sob o comando do sanguinário ditador Sukarno. que dois anos depois promoveu um verdadeiro genocídio entre opositores (calcula-se que mandou matar 300 mil pessoas).

Gervásio e Fernando passaram 20 dias percorrendo a Indonésia.

O autor dedica ao episódio um capítulo do livro onde publica uma versão do texto editado e que saiu na Manchete, em dezembro de 1963.

Mas, em uma nota reveladora, no mesmo capítulo, ele conta o que de fato aconteceu com a sua reportagem e com parte das fotos de Gervásio Baptista que foram vetadas e literalmente digeridas pelo próprio dono da empresa, Adolpho Bloch. Leia, abaixo:






Tiraram o prêmio da delação... e tem menor infrator político solto na rua..




CARINHAS FELIZES...
ALCKMIN

SERRA

KASSAB

ATUALIZAÇÃO EM 27/9
GAROTINHO também solto ontem pelo TSE


Mostra "Retratos Inversos" reúne fotos de Ricardo Beliel, ex-Manchete, e poesias de Luciana Nabuco...


Foto de Ricardo Beliel/Divulgação

Fotografia + Poesia. Uma rima que tem tudo a ver. É o que mostra "Retratos Inversos" em cartaz do Centro Cultural da Justiça Federal.

A exposição combina inspirações: as imagens feitas por Ricardo Beliel, fotógrafo que trabalhou na Manchete, e o texto poético de Luciana Nabuco em projeção audiovisual.

A curadoria é de Nadja Pelegrino e Marcos Bonisson. Edição de vídeo e sonoplastia de Alessandra Vitoria. "Retratos Inversos" pode ser vista até 12 de novembro, de terça a domingo - 12h às 19h na Galeria do térreo do Centro Cultural da Justiça Federal, na Av. Rio Branco, 241 – Centro, Rio de Janeiro – RJ.

Do portal STF: Suspensa decisão de juiz de Teresina (PI) que mandou retirar notícias de site

(do canal Notícias STF)

"O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu decisão do juiz de Direito do 3º Cartório Civil de Teresina (PI) que determinou a retirada de notícias do Portal 180 Graus referentes aos autores de uma ação indenizatória. A decisão foi tomada na análise do pedido de liminar na Reclamação (RCL) 28262, ajuizada no STF por jornalistas e pela empresa responsável pelo site. Os autores alegam que a decisão questionada fere a liberdade de imprensa e a decisão do Supremo na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 130.
A decisão do magistrado de primeiro grau determinou a retirada de notícias do portal relacionadas aos autores da ação, além de determinar que a página se abstivesse de divulgar novas notícias "que atingissem a honra dos autores”. Para os reclamantes, a decisão teria violado a autoridade da decisão do STF no julgamento da ADPF 130, na qual o Supremo declarou como não recepcionada, pela Constituição Federal de 1988, a Lei 5.250/1967 (Lei de Imprensa) e reconheceu que a liberdade de imprensa é incompatível com qualquer espécie de censura prévia e irrestrita.
Ato censório
Para o ministro Fachin, a decisão questionada teve como objetivo evitar a propagação de conteúdo supostamente ofensivo da matéria jornalística, sem contudo discorrer, ainda que de forma sucinta, sobre o conteúdo. “Por meio de decisão judicial, removeu-se temporariamente textos jornalísticos que se reputou potencialmente causador de constrangimento indevido aos autores da ação”. Para o relator, a medida caracteriza “nítido ato censório”, sem a devida fundamentação.
Não se trata, ao menos à época dos fatos noticiados, de divulgação de informações que se reputem manifestamente falsas ou infundadas, frisou o relator, além de haver nítido interesse da coletividade à informação veiculada. O ministro explicou, contudo, que seu posicionamento não caracteriza qualquer juízo sobre a procedência ou não do que pretendido pelos autores na ação indenizatória.
O tom descritivo utilizado pelas peças jornalísticas em questão e a remissão às informações e documentos oficiais obtidos por meio do órgão encarregado da investigação do caso – Tribunal de Contas do Piauí –, indicam, ao menos em uma análise inicial, “a aparente consonância da matéria com a realidade fática e jurídica a que estariam submetidos os autores da ação indenizatória”.
Ao determinar a suspensão da decisão do juiz de primeiro grau, o ministro lembrou que a jurisprudência do Supremo tem admitido, nos casos de reclamação fundada no julgamento da ADPF 130, que se suspenda a eficácia ou até mesmo sejam definitivamente cassadas decisões judiciais que determinem a não veiculação de determinados temas em matérias jornalísticas."

Da revista Piauí: Rogério 157 agora é Rogério 45...

Segundo meme da Revista Piauí, o traficante da Rocinha concluiu que a saída pode ser apenas um troca de número: deixar de lado o 157 e aderir ao 45 dos tucanos e aproveitar a expertise do PSDB.
Nesta terça-feira, o STF analisará o terceiro pedido de prisão contra Aécio Neves. A defesa do senador confia que vencerá mais essa batalha.
Atualização, 19h30. - A Primeira Turma do STF negou pedido de prisão contra Aécio Neves. Mas determinou a perda do cargo, além de proibir que o político investigado deixe o país. A decisão já está valendo. O caso, contudo, deverá ir ao plenário do STF.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Reforma Trabalhista é ninho de passaralhos e ficaralhos...

por Ed Sá

Crise econômica, mudança de modelos na comunicação e o fechamento de veículos impressos eliminaram muitos postos de trabalho (principalmente de carteira assinada) para jornalistas em todo o país.

São pessimistas as expectativas quando da implementação da reforma trabalhista no próximo mês de novembro. Pelo menos uma editora já demonstrou interesse em utilizar profissionais em regime de horários parciais. A reforma também facilitará demissões e engessará a possibilidade de recursos à Justiça do Trabalho. Daí os rumores em algumas redações de que poderá haver passaralhos no fim do ano.

Dezembro é, aliás, mês da preferência dos RHs para passar o rodo em empregos. Em pelo menos uma dessas ocasiões, houve uma brecha para o humor em meio ao drama.  Foi em dezembro de 1973, quando o Jornal do Brasil sofreu um terremoto de rescisões. Alberto Dines foi demitido do comando do JB e a onda sísmica que se seguiu arrastou dezenas de empregos em todas as editorias.

Naquele dia, os redatores Joaquim Campello e Nilson Viana, do JB, criaram o vocábulo passaralho e o definiram em um caprichado verbete.

"Passaralho s.m. (brasil). Designação popular e geral da ave caralhiforme, falóide, família dos enrabídeos (Fornicator caciquorum MFNB & WF). Bico penirrostro, de avultadas proporções, que lhe confere características específicas, próprio para o exercício de sua atividade principal e maior: exemplar. À sua ação antecedem momentos prenhes de expectativa, pois não se sabe onde se manifestará com a voracidade que, embora intermitente, lhe é peculiar: implacável.

Apesar de eminentemente cacicófago, donde o nome científico, na história da espécie essa exemplação não vem ocorrendo apenas em nível de cacicado.  Zoólogos e passaralhófitos amadores têm recomendado cautela e desconfiança em todos os níveis; a ação passaralhal é de amplo espectro. Há exemplares extremamente onívoros e de atuação onímoda. Trata-se este do mais antigo e puro espécime dos Fornicatores, sendo outros, como p. ex., o picaralho, o birroalho, o catzralho etc., espécimes de famílias espúrias submetidas a cruzamentos desvirtuados do exemplar. Distribuição geográfica praticamente mundial.

No Brasil é também conhecido por muitos sinônimos, vários deles chulos. Até hoje discutem os filólogos e etimologistas a origem do vocabulário. Uma corrente defende derivar de pássaro + caralho, por aglutinação; outra diz vir de pássaro + alho. Os primeiros baseiam-se em discutida forma de insólita ave; os outros, no ardume sentido pelos que experimentaram e/ou receberam a ação dele em sua plenitude.

A verdade é que quantos o tenham sentido cegam, perdem o siso e ficam incapazes de descrever o fenômeno. As reproduções que deles existem são baseadas em retratos-falados e, por isso, destituídas de validade científica."

Hoje, passaralho é verbete no Houaiss, como qualquer outra palavra do idioma de Camões..


Quando a Bloch deu pinta de que administrar uma rede de TV era peso demais para os seus pilares, demissões coletivas se intensificaram nas revistas.

Lá pelo fim da década de 1980, os corredores da empresa faziam previsão de um corte de 20% em todas as revistas. A ceifadora ainda não estava ligada, mas a alta tensão, sim. Não havia muito a fazer contra a guilhotina, a não ser esperar.

Como conta o livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata), Alberto Carvalho, eterno gozador, aprontou uma das dele para descontrair o ambiente:


E o ficaralho, você conhece?

Contando a partir de 2013, cerca de 4 mil jornalistas foram demitidos em redações de todo o Brasil. Com as equipes reduzidas, sobrou sobrecarga de trabalho para quem foi poupado pelo passaralho da vez. Na época, o jornalista Bruno Torturra criou uma sugestiva derivação da ave caralhiforme que dizima empregos: o ficaralho. Esse exótico pássaro é predador de jornalistas que escapam do rodo e passam a acumular funções após as demissões em massa.

Resta torcer para que neste dezembro, passaralhos e ficaralhos não ataquem as redações pós-reforma trabalhista.

Jornalista Luis Nassif é condenado por infringir "dano moral" a Eduardo Cunha...

A 14ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro reviu sentença da primeira instância e condenou o jornalista Luís Nassif por dano moral infringido ao ex-deputado Eduardo Consentino da Cunha.

O vitorioso Cunha alegou ter "sofrido dano moral em virtude de matéria jornalística veiculada na página da Internet administrada pelo réu".

A Justiça julgou que "a matéria em comento macula a dignidade do autor ao associar o seu nome a criminosos e a esquema de sonegação de impostos". Nassif foi condenado a pagar a Cunha indenização de vinte mil reais mais custas. Você pode ler a sentença completa AQUI.

domingo, 24 de setembro de 2017

A minha Fatos & Fotos: outubro 1969 - setembro 1970



Rua do Russell, 804, 7° andar, 23 de fevereiro de 1970, uma segunda-feira. Eu, por trás da
mesa em L, o Evaldo Vasconcelos atrás, dando suporte telefônico. Ao centro, os três redatores, Paulo Perdigão,
Argemiro Ferreira e Sérgio Augusto. Na foto abaixo, aparecem Ézio Speranza e uma assistente (o Oswaldo
Carneiro está oculto), à direita, o Cândido, o segundo diagramador. E a tela de Brennand -  até os cinzeiros da
Bloch eram assinados pelo artista pernambucano. Foto de Antonio Trindade/Acervo R.M. 

Redação da Fatos & Fotos, 1970. Foto de Antonio Trindade/Acervo R.M

Por Roberto Muggiati

Depois de dois anos marcantes como repórter especial da Manchete, fui convidado no início de 1968 pelo Mino Carta para fazer parte da equipe que prepararia em São Paulo o lançamento da Veja, um ambicioso projeto do Victor Civita de criar uma versão brasileira da Time.

Abri o jogo aos Bloch e disse que, se cobrissem a oferta da Abril, eu continuaria com eles. Foram evasivos e vieram com promessas vãs. Instalaram-me numa mesa grande com um contínuo num grande vazio no terceiro andar da Frei Caneca. Aquilo seria a redação da futura Pais & Filhos, a ser lançada no fim do ano, da qual eu seria o diretor. “Sim, tudo bem, mas e o salário?” O Oscar me respondeu que o salário de diretor seria pago depois que a revista fosse às bancas e se tornasse um sucesso de vendas. Era uma perspectiva muito remota para o meu gosto e, do ponto de vista jornalístico, uma pobre escolha comparada à Veja – ainda mais eu, que filho já fora, mas nunca pensara em ser pai... Depois de um breve bate-boca pedi demissão. O diplomático Paulo Pellicano diretor do Departamento do Pessoal, ainda perguntou ao Oscar se eu me demitira ou fora demitido.

Saí da Bloch com um livro a ser lançado pela editora, Mao e China, cujos cinco mil exemplares ficaram empilhados na gráfica de Parada de Lucas à espera da distribuição para as livrarias. Meses depois, já na Veja, sou procurado em São Paulo pelo Alcídio Mafra, que cuidava dos livros da Bloch, e informado de que o Adolpho não iria mais lançar o livro, em represália à minha ida para a Abril.

Para não ter prejuízo com todo aquele papel já impresso, Adolpho acabou passando Mao e a China para outra editora. Vendo-me como traidor da pátria, dei por encerrados meus dias na Bloch. Mas o exílio em São Paulo não estava me fazendo bem. Passava o dia afundado no trabalho insano na Marginal do Tietê, a Veja não ia nada bem (dos 800 mil exemplares do lançamento em setembro de 1968, a circulação nacional tinha caído para 30 mil em janeiro de 1969) e minha mulher passava o dia inteiro isolada num casarão do Pacaembu com pensamentos suicidas. Foi no auge dessa crise que recebo um telefonema insólito e ouço a voz maviosa do nosso Salomão Schvartzman, o vice-rei da Bloch em São Paulo. Perguntava se eu não gostaria de conversar com o titio no Rio, tinha já uma passagem reservada na Ponte Aérea para mim.

Meu reencontro com o Adolpho se deu numa segunda-feira complicada em que a Manchete fechava a edição com a libertação – na tarde de domingo diante de um Maracanã lotado – do embaixador americano sequestrado. Mas a conversa foi breve e conclusiva: Adolpho me convidava para ser chefe de redação da Fatos & Fotos, cargo vago com a saída do José Augusto Ribeiro, meu companheiro das primeiras lides jornalísticas no jornal do Colégio Estadual do Paraná de Curitiba, em 1952.

Só depois de voltar ao Rio descobri o logro em que caíra. Na redação de Fatos & Fotos peguei os últimos dias do diretor de redação Cláudio de Mello e Souza – queridinho da Lucy Bloch, que foi se empossar do importante cargo de chefe do escritório da Bloch Editores em Portugal e Algarves, em Lisboa. Assim, com um salário de chefe de redação, tiver de fazer em Fatos & Fotos o trabalho de chefe de redação e de diretor da revista.

Fatos & Fotos foi criada no ano da fundação de Brasília por sugestão de Alberto Dines com uma proposta muito bem definida, inspirada na semanal francesa Noir & Blanc: uma revista dinâmica de fotos com textos pequenos. Acontece que o aquecimento do mercado publicitário na segunda metade dos anos 60 – em função da expansão das indústrias automobilística, de eletrodomésticos, de moda, cigarros e bebidas – foi um verdadeiro maná para as revistas ilustradas (bem mais do que para os jornais e para a televisão, que não tinham cor). Criaram-se cadernos em cor na Fatos & Fotos, só para os anúncios, mas acabaram sendo usados também para matérias jornalísticas e a F&F se tornou uma concorrente direta da Manchete. Em 1968, uma equipe de redatores jovens eclipsava os “dinos” da Manchete. Nomes como Lucas Mendes, Nilo Martins, Paulo Henrique Amorim, Ronald de Carvalho, Hedyl Valle Jr, Luiz Lobo – para sorte da Bloch saíram todos na grande diáspora para as revistas da Abril.

Quando passei a dirigir a Fatos&Fotos no final de 1969, a equipe era mínima e o talento local, com destaque para Sérgio Augusto, Paulo Perdigão e Argemiro Ferreira. Vieram depois o Cícero Sandroni, o Juarez Barroso – bom romancista que morreu cedo – o Ely Azeredo, que não resistiu ao ar condicionado e saiu uma semana depois. A gestão da revista era totalmente esquizofrênica: seu padrinho, Alberto Dines, era a essa altura o todo-poderoso editor do Jornal do Brasil. Mas passava toda manhã em F&F para acertar a pauta com a redação. O que o Dines fazia de manhã era desfeito à tarde pelo Oscar e Jaquito, que vinham queimar sua adrenalina na F&F, já que Adolpho os proibia de ciscarem na Manchete, que era terreiro exclusivo dele.

Foi assim que protagonizei a ruptura final de Dines com os Bloch (havia a agravante de que ele era casado com a sobrinha do Adolpho, a Rosaly.) Dines na manhã da quarta-feira, dia de fechamento da revista, que ia às bancas às sextas, definiu a capa: seria João Saldanha, que tinha acabado de se demitir como técnico da seleção brasileira, em reação à tentativa do presidente ditador Emilio Garrastazu Médici, colorado roxo, de escalar por força o Dario Peito de Aço (Dadá Maravilha) no “escrete canarinho”. Mas, naquele dia foram anunciados os vencedores do Festival de Cinema de Punta del Este e o Brasil ganhou o prêmio maior com Macunaíma. Os Bloch, apoiados na filosofia sólida de que “homem na capa não vende” e na exaltação de “mais uma vitória para nossas cores”,  optaram por botar na capa uma bela foto de Dina Sfat e Paulo José, do filme premiado.

Eu tinha de manter Dines sempre informado das andanças na F&F e passei um telex para ele no JB dizendo da escolha de capa dos Bloch. Em resposta, ele mandou um telex nestes termos: “Muggiati, comunique aos Bloch que, se eles não se mostram dispostos a levar em conta o meu tirocínio jornalístico, então estou dando uma de João Saldanha e tirando o time de campo.” E nunca mais Alberto Dines pisou nas dependências de Bloch Editores ou da família Bloch.

Durei menos de um ano na chefia de mais alta rotatividade da empresa. Mas foi um tempo vibrante. Ainda em 1969, fechei as capas com a morte de Carlos Marighela em São Paulo e do Gol Mil do Pelé no Maracanã. Na Copa do México, coube a F&F o malote do primeiro jogo do Brasil. Pincei daquela montanha de fotos o clique imortal do Orlando Abrunhosa, Pelé comemorando seu primeiro gol na Copa com um soco no ar, escudado por Jairzinho e Tostão, batíamos a foto de Os Três Mosqueteiros.

À medida que o Brasil ia seguindo em frente, vendemos muita revista – Manchete e F&F – encartando bandeirinhas e outros suvenires da pátria em chuteiras. Escondido do Adolpho – Hélio Bloch era meu apoio logístico na Fatos&Fotos – imprimimos cadernos inteiros de uma edição especial do tricampeonato. Depois da exuberante final Brasil 4 x 1 Itália, saí correndo de casa do Leme – atravessando multidões que comemoravam a vitória nas ruas, trombei até com o Clovis Bornay – e fui à redação do Russel para fechar as últimas páginas. Fatos&Fotos foi a primeira revista comemorativa do Tri, nas bancas de manhã cedo na terça-feira.

Isso não impediu que eu fosse detonado da chefia da revista – para imenso alívio meu – em setembro, sucedido por Raul Giudicelli, com a proposta de fazer uma revista “menos séria, mais descontraída”.
Costumo encontrar aquele jovem diagramador de nome (e temperamento) Cândido nas ruas de Botafogo. Hoje mesmo, domingo, cruzei com ele na Real Grandeza e perguntei: “E aí, Cândido, saudades da Fatos & Fotos?” E ele respondeu com firmeza: “Muitas saudades, Muggiati, muitas...”