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quarta-feira, 29 de maio de 2019

A tragédia na mesa ao lado: o dia mais triste do jornalismo carioca

A primeira página da Última Hora em 29 de junho de 1984.

Narinha e Erasmo Carlos: a última matéria do repórter Ulisses Madruga,
da Rede Manchete, A foto é de Masaomi Mochizuki 

por José Esmeraldo Gonçalves

Aquela quinta-feira, 28 de junho de 1984 abalou as redações do Rio de Janeiro. Ao se chocar com um morro, em Barra de São João, um avião Bandeirantes a caminho de Campos (RJ) matou dois tripulantes, dois funcionários da Petrobras e 14 jornalistas. 

A convite da Petrobras, as equipes cobririam em uma plataforma continental a marca de 500 mil barris diários extraídos pela empresa. A notícia do acidente causou um choque em jornais, revistas e emissoras de TV. Era a tragédia na mesa ao lado, tantos os colegas que se foram. E, para cada veículo, ainda apresentou-se uma obrigatória e dramática tarefa: cobrir e editar o acidente que vitimou amigos dos repórteres, fotógrafos e cinegrafistas escalados para registrar o resgate dos corpos. 

No acidente, a Rede Manchete perdeu três profissionais: o repórter Ulisses Madruga, o cinegrafista Luis Carlos Viana e o operador de VT Jorge Silva Martins.

O jovem Ulisses era o mais próximo das redações das revistas da Bloch. Iniciou sua carreira na Fatos & Fotos, em 1980. Um ano depois foi transferido para a Manchete. Quando a editora começou a montar a rede de televisão, ele demonstrou interesse em conseguir um espaço no novo veículo. Engajou-se na primeira equipe de jornalistas da Rede Manchete em 1983, mas volta e meia oferecia matérias para as revistas, geralmente desdobramentos de pautas televisivas. 

Na véspera da viagem fatídica para Campos, Ulisses soube que substituiria uma colega impossibilitada de viajar. À tarde, subiu ao oitavo andar e  perguntou às chefias de reportagem da Manchete e da Fatos & Fotos se tinham interesse na pauta. Para ambas as revistas era o tipo de assunto, uma solenidade, que renderia apenas um registro, As revistas não mandariam equipes. Antes de se despedir, ele combinou  enviar um texto. Na manhã seguinte, ao lado do cinegrafista Viana e do operador Jorge embarcou para Campos. 

O Bandeirantes também levava uma jornalista muito ligada à Fatos & Fotos: a querida repórter Maria da Ajuda Medeiros dos Santos, então na TVE. Também estavam no voo, Ivan dos Santos, Jorge Coelho e Dario Fernandes (TVE); Luis Eduardo Lobo, Dário Silva, Levi Silva e Jorge Leandro (Rede Globo); Regina Sant'ana, Geraldo Veloso e Luis Carlos de Souza (TV Bandeirantes). 

Entre as equipes escaladas para cobrir o resgate e identificação dos corpos, o repórter Samuel Wainer Filho e o cinegrafista Luiz Felipe Ruiz de Almeida, da Rede Globo trabalharam o dia inteiro no cenário do acidente. Ao voltar para o Rio, com forte chuva na estrada, a camionete em que viajavam capotou em uma curva. Samuca e Almeida tornaram-se personagens da tragédia. Ninguém acreditou, parecia um pesadelo. 

No mês que vem, 35 anos depois, esses dias de comoção reviverão em uma geração de profissionais, muitos já fora das redações mas não longe das lembranças de um dos mais tristes momentos do jornalismo carioca.