quarta-feira, 11 de abril de 2018

"Lei da mordaça" nas redes sociais particulares dos jornalistas é pra valer ou é seletiva?

No ano passado, o New York Times criou diretrizes para a atuação dos seus jornalistas nas redes sociais. Um dos trechos do documento é enfático: "Em postagens nas redes sociais, nossos jornalistas não devem expressar opiniões partidárias, promover visões políticas, apoiar candidatos, fazer comentários ofensivos ou dizer algo que mine a reputação jornalística do Times".

Em outro tópico, o jornal questiona: "Você talvez pense que sua página no Facebook, Twitter, Instagram ou Snapchat são zonas privadas, separadas do seu papel no Times, mas tudo o que nós postamos ou curtimos é público e provavelmente será associado ao Times".

Também no ano passado, em comunicado interno, a Folha de São Paulo, orientou seus jornalistas a não expressarem opiniões políticas nas redes sociais. "Parcela do público pode pôr em dúvida a isenção daquele que, na internet, manifesta opiniões sobre assuntos direta ou indiretamente associados a sua área de cobertura, especialmente as opiniões de cunho político-partidário e em áreas de cobertura de tópicos controversos”, diz a Folha em manual de conduta.

A Rede Globo, vê-se nos twitts de vários dos seus âncoras, não é tão explícita quanto a isso. Talvez porque os comentários dos empregados expressem geralmente opiniões perfeitamente ancoradas na atuação política do veículo. Até foi possível observar recentemente um fenômeno curioso a comprovar isso. No ano passado, quando o grupo Globo pediu em editorial agudo a cabeça de Michel Temer, as redes sociais dos âncoras imediatamente passaram a dançar conforme aquela música. Aos poucos, a Globo esfriou a cabeça, tomou o remédio que havia esquecido, refez alianças, Temer segurou duas denúncias no Congresso e voltou a ser poupado. Os âncoras, alguns mais rápidos do que outros, acertaram o passo na mesma coreografia.

A polêmica volta agora à pauta com o vazamento no Whatapp de um áudio pró-Lula atribuído a Chico Pinheiro. Ali Kamel, diretor-geral de Jornalismo, soltou a nota abaixo divulgada em primeira mão pelo site Notícias da TV. O alerta não cita Chico Pinheiro, mas foi dado logo após o vazamento do áudio.


Vários âncoras fazem política em suas contas privadas. Resta saber se a determinação é seletiva e  expressar opinião política é permitido, desde que escorada na viga mestra das posições políticas do patrão, ou se, ainda mais em ano eleitoral, vale para todos e todas. Aparentemente, não

OUÇA O ÁUDIO VAZADO, CLIQUE AQUI

Leia a nota da Globo 

"Em e-mail no ano passado, eu alertei para o uso de redes sociais. Na ocasião, lembrei que jornalistas, de forma não proposital, publicavam fotos em que marcas apareciam. Eu alertei então para aquilo que todos nós sabemos: jornalistas não fazem publicidade e que todo cuidado é pouco para evitar que nossos espectadores equivocadamente pensem que se descumpre esse preceito.

Hoje, volto a falar sobre o uso de redes sociais. O maior patrimônio do jornalista é a isenção. Na vida privada, como cidadão, pode-se acreditar em qualquer tese, pode-se ter preferências partidárias, pode-se aderir a qualquer ideologia. Mas tudo isso deve ser posto de lado no trabalho jornalístico. É como agimos.

Daí porque não se pode expressar essas preferências publicamente nas redes sociais, mesmo aquelas voltadas para grupos de supostos amigos. Pois, uma vez que se tornem públicas pela ação de um desses amigos, é impossível que os espectadores acreditem que tais preferências não contaminam o próprio trabalho jornalístico, que deve ser correto e isento.

Como entrevistar candidatos, se preferências são reveladas, às vezes de forma apaixonada? O mais grave é que, quando os vazamentos acontecem, as vítimas, com toda a minha solidariedade, dizem que foram mal interpretadas. Não importa, o dano está feito.

A Globo é apartidária, independente, isenta e correta. Cada vez que isso acontece, o dano não é apenas de quem se comportou de forma inapropriada nas redes sociais. O dano atinge a Globo. E minha missão é zelar para que isso não aconteça. Portanto, peço a todos que respeitem o que está em nossos Princípios Editoriais (e nos dos jornais sérios de todo o mundo):

'A participação de jornalistas do Grupo Globo em plataformas da internet como blogs pessoais, redes sociais e sites colaborativos deve levar em conta três pressupostos:

[…] 3– os jornalistas são em grande medida responsáveis pela imagem dos veículos para os quais trabalham e devem levar isso em conta em suas atividades públicas, evitando tudo aquilo que possa comprometer a percepção de que exercem a profissão com isenção e correção.'

É com isso em mente que envio esse e-mail.

Ali"

2 comentários:

J.A.Barros disse...

Calma Leilane Neubarth, Não é bem assim que tenha terminado esse quiproquó do caso do senhor Lula da Silva. Ainda vai chover muito nessa horta

J.A.Barros disse...

Na minha opinião, o jornalista deve procurar ser isento de qualquer paixão política. Na verdade, não deve ter cor partidária. A sua profissão exige essa postura para inclusive, nas suas reportagens políticas, manter essa isenção partidária, para bem se reportar aos fatos e comunicar aos seus leitores os acontecimentos e eventos da maneira completa e isenta de paixões partidárias.