quinta-feira, 5 de abril de 2018

Não saia de casa sem acessar o twitter...

Na véspera do julgamento do habeas corpus de Lula pelo STF, William Bonner leu no Jornal Nacional uma mensagem do Comandante do Exército, general Villas Bôas. Um recado político que foi visto como o golden goal da pressão sobre o STF.

E o JN foi vital para a repercussão da opinião do comandante, que tem pouco mais de 180 mil seguidores no twitter.

Na voz de Bonner, o recado ganhou up grade e alcançou milhões de brasileiros.

Não chega a ser uma brastemp de surpresa.

Durante a ditadura, o Jornal Nacional foi o veículo preferencial para o megafone da caserna. Já na edição número um, na noite de 1° de setembro de 1969, a "editoria militar" ocupou grande parte da edição. O "presidente" Costa e Silva havia sofrido uma trombose cerebral. Com seu afastamento, o "vice", Pedro Aleixo deveria assumir. No dia anterior à estreia do JN, aconteceu um fato inusitado: embora com todos os poderes (o AI-5 estava em vigor deste 1968), a ditadura promoveu um autogolpe e, em vez de Aleixo, os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica ocuparam o governo. A Junta Militar formada pela linha dura foi o tema principal daquele JN apresentado por Hilton Gomes e Cid Moreira. A reportagem dava, na verdade, o recado de que não havia conflito nos quarteis, Costa e Silva estava "lúcido e se alimentado bem", registrava a posse de Junta e não se referia ao "vice" que não assumiu.

O jornal O Globo também batia sua bolinha como porta-voz. Mas o JN, por ser primeiro telejornal transmitido em rede, "integrando o Brasil", tornou-se, desde então, o mensageiro do regime. Versões "cenográficas" de morte de presos políticos, depoimentos de guerrilheiros "arrependidos", desmentidos sobre a existência de tortura, o resultado ficcional do inquérito sobre o assassinato de Vladimir Herzog  na prisão e, já nos anos 1980, a "apuração" da bomba do Riocentro, foram recados transmitidos e frequentemente acompanhados do "boa noite" do JN.

Nada de muito novo, portanto.

Uma diferença é que, naquela época, os generais não mandavam recado através do twitter.

Nos anos de chumbo, houve durante certo tempo um código entre militantes, no Rio. Quando a barra pesava e vazavam rumores de prisões, um alerta era disparado entre os mais visados: "não saia de casa sem guarda-chuva".

Melhor reciclar a frase:  não saia de casa sem acessar o twitter.
  

3 comentários:

Marcela disse...

A Globo teve Amaral Neto o garoto propaganda da ditadura, quem lembra?

J.A.Barros disse...

Acho que está muito claro, que a política brasileira, no momento, está sendo monitorada e infiltrada de uma certa maneira, ou pela ABIN ou mesmo pelos generais do Exército. O presidente Temer não tem a personalidade adequada para resistir ao assédio militar no seu governo. Aos poucos, alguns generais vem se manifestando com opiniões e alguns com falas mais severas com criticas ao governo. Não estou vendo essas manifestação com bons olhos.




Mello disse...

Tenho a impressão de que não vai haver eleição