Tim Lopes: o repórter em ação. Foto: Divulgaçaõ |
por Alberto
Carvalho (*)
Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento entrou na redação da Manchete para ser apresentado como o novo contínuo
da empresa. Cabelo estilo black power, ligeiramente fora do peso, depois de
cumprimentar um a um todos os redatores da revista, quando chegou a minha
vez, exclamei: - "Gente, é o filho do Tim Maia!!!". O pessoal riu
e à partir daí ele ficou conhecido como o Tim. Tim era um menino educado,
prestativo e muito inteligente. Certo dia, quando ele chegou para distribuir a
correspondência, ficou parado, no canto da redação, olhando o movimento
frenético do fechamento do número da revista. Ficou ali bastante tempo. Com
receio de vê-lo ali sem fazer nada, me aproximei dizendo para ele
sair, pois poderia ser chamado à atenção. Ele me olhou e disse: -
"Um dia ainda vou ser um grande jornalista..."
Tim se formou, adotou o
apelido, acrescentando o Lopes para assinar as matérias nos jornais e na
televisão, onde trabalhou com grande empenho.
Tim adorava o carnaval. Vivia pedindo convites
para os bailes que a Manchete fazia cobertura. Numa ocasião, o
fotógrafo Gil Pinheiro, que era diretor do Iate Clube de Paquetá, me convidou
para ir ao tradicional Baile do Havaí que o clube promovia aos sábados
que antecedia ao carnaval. Tim estava perto e perguntou se poderia ir.
Gil disse que não, alegando que ele era menor de idade. Quando eu estava nas
barcas aguardando o embarque na lanche que me levaria à ilha, eis que aparece o
Tim, fantasiado com uma túnica, super colorida, lembrando um orixá de
cultos do candomblé! Eu disse que era arriscado ele ir pois se fosse
barrado a primeira lancha ao regressar só sairia as 7 horas da manhã do
dia seguinte. Ele respondeu "deixa comigo", pois entraria de
uma forma ou de outra. Eu paguei pra ver e fomos juntos para o baile. Na
lancha ele me confidenciou que já estava acostumado a penetrar em bailes
e que, inclusive, estava careca de frequentar
os bailes do Canecão, sem convites.
Chegamos na portaria do clube. Eu entrei. Ele, claro, foi barrado. Lá dentro, procurei o Gil a fim de interceder à favor do Tim. Gil argumentou que o clube era muito exigente nesse aspecto e que não poderia fazer nada. Fiquei preocupado pensando no Tim, perambulando pela Ilha de Paquetá, fantasiado de orixá.
Lá, pelas duas horas da madrugada, o baile estava fervendo e quem eu vejo no meio do salão? O nosso Tim, abraçado a uma havaiana dançando o hula hula, na maior animação!. Um detalhe: o traje obrigatório era o havaiano ou à rigor. Até hoje é um mistério como o Tim conseguiu penetrar num clube social com tamanho rigor que era o Iate Clube da Ilha de Paquetá.
Tim Lopes, que Deus o tenha! Saudades! (Alberto
Carvalho)Gil Pinheiro, que
era diretor do Iate Clube de Paquetá, me convidou para ir ao
tradicional Baile do Havaí que o via aos Chegamos na portaria do clube. Eu entrei. Ele, claro, foi barrado. Lá dentro, procurei o Gil a fim de interceder à favor do Tim. Gil argumentou que o clube era muito exigente nesse aspecto e que não poderia fazer nada. Fiquei preocupado pensando no Tim, perambulando pela Ilha de Paquetá, fantasiado de orixá.
Lá, pelas duas horas da madrugada, o baile estava fervendo e quem eu vejo no meio do salão? O nosso Tim, abraçado a uma havaiana dançando o hula hula, na maior animação!. Um detalhe: o traje obrigatório era o havaiano ou à rigor. Até hoje é um mistério como o Tim conseguiu penetrar num clube social com tamanho rigor que era o Iate Clube da Ilha de Paquetá.
UM DOCUMENTÁRIO CONTA A VIDA DE JORNALISTA TIM LOPES ASSASSINADO POR TRAFICANTES EM 2002. TIM COMEÇOU SUA CARREIRA DE JORNALISTA NAS REVISTAS MANCHETE E FATOS & FOTOS
Tim Lopes. Foto: Reprodução |
O documentário junta imagens da carreira dele e depoimentos de colegas e amigos. O autor é Bruno Quintella, filho do jornalista e roteirista. A direção é de Guilherme Azevedo, cinegrafista que trabalhou com Tim Lopes.
* N.R - Alberto Carvalho foi Secretário de Redação da Revista Manchete durante 34 anos e testemunhou os primeiros passos da carreira de Tim Lopes
VEJA O TRAILER DO DOCUMENTÁRIO SOBRE TIM LOPES. CLIQUE AQUI
Uma das cenas do documentário mostra Tim Lopes vivendo a experiência de vendedor de balas na rua para uma matéria da TV Globo. Foto: Reprodução |
5 comentários:
Grande matéria. Parabens Alberto.
Belo texto! Parabéns Alberto
Bem lembrado Alberto. Para as pessoas que só vêem a TV Globo, parece que o Tim Lopes foi cria da Emissora do Dr. Roberto. Também lembro dele na Fatos&Fotos, distribuindo sorriso, a competência e a alegria que contagiava a todos. Ótima matéria, excelente texto, bela contribuição!
O Tim há muito merecia esse documentário, Nélio. Por tudo que ele fez e pelo que ainda faria se não fossem esses assassinos que hoje, alguns estão presos, mas que muito em breve estarão nas ruas, interrompessem a sua brilhante carreira. Na ocasião ele me dizia que a vontade dele era trabalhar na revista Fatos e Fotos porque era o tipo da revista que ele mais se identificava: dinâmica e investigativa.
Conheci o Tim Lopes na época em que ele fez alguns frilas para a Fatos & Fotos, talvez aí por volta de 1976/77. Ela já estava, se não me engano, em O Dia. Mas, como diz o Alberto, gostava da FF. Além de um grande profissional, era o gaúcho mais carioca que conheci. Bom papo, bom humor, um jeito tranquilão. Deixou muitos amigos na Bloch onde era sempre festejado nas redações. O texto do Alberto traz boas lembranças.
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