sábado, 15 de janeiro de 2011

Tragédia serrana: é hora de resolver o presente pensando no futuro

por Eli Halfoun
O governador Sergio Cabral declarou que “não é hora de procurar os culpados" da tragédia que ainda faz muitas vítimas na região serrana. Não é mesmo: o momento é de união e solidariedade para tentar minimizar o sofrimento de milhares de famílias desabrigadas e massacradas física e emocionalmente. Mesmo depois que as coisas estiverem melhores nada adiantará procurar culpados primeiro porque sabemos quem são os culpados assim como sabemos que eles não serão punidos. Se for apenas o caso de apontar culpados não há dúvida que será inevitável formar uma grande fila de responsáveis irresponsáveis com os nomes daqueles que nunca fizeram absolutamente nada paras evitar que tragédias desse tipo viessem a ocorrer. Pelo contrário: se aproveitaram da situação para de alguma forma levar vantagem. Agora o importante é que pelo menos dessa vez os discursos se transformem em ações que evitem a repetição de fatos que entram em cena anualmente como se fossem um “replay”. Tudo bem que dessa vez a chuva foi muito maior do que se pudesse prever ou imaginar, mas isso não justifica que tragédias como essa venham a se repetir, mesmo porque cidades atingidas agora não podem continuar facilitando, por absoluta falta de obras de prevenção, que qualquer nova chuva derrube casas, mate mais gente e tudo continue no mesmo como, aliás, sempre continuou. Não adianta procurar agora quem permitiu tantas barbaridades em construções sabidamente levantadas em áreas de risco. Não adianta dizer que a população volta para esses locais burlando a fiscalização. Não é bem assim: ninguém burla a fiscalização simplesmente porque ela não existe. Nunca existiu.
Além do mais a população só habita esses locais por absoluta falta de outras possibilidades de moradia. Fica claro que o importante é preparar e fazer realmente funcionar um programa de habitação que dê à população carente pelo menos a dignidade de morar sem medo de morrer diante de qualquer chuvisco. Essa é mais uma tragédia provocada pela natureza que é provocada pelo homem todo o tempo.
É diante de tragédias como essa que ficam ainda mais visíveis os problemas que as classes menos favorecidas enfrentam. É como se a ferida das tragédias deixasse exposto um grande câncer que fica escondido por um curativo em períodos de sol e, portanto, menos dolorosos como os de agora. Duvido que qualquer um de nós não se sinta culpado e não chore diante das imagens que a televisão, que tem realizado um bom trabalho, nos esfrega na cara. Tem razão o governador Sergio Cabral: agora não adianta procurar e apontar culpados. O importante é cobrar das autoridades que finalmente alguma coisa seja feita para evitar que tudo se repita impunemente para quem não tomou qualquer tipo de providência. Se nada agora, depois será muito tarde, como tem sido nos últimos anos. Discursos não devolvem vidas. Obras públicas e ações sociais também não devolvem vidas, mas impedem quer outras mortes aconteçam. É isso o que devemos cobrar e fiscalizar. (Eli Halfoun)

Um comentário:

Luiza disse...

Acredito que as duas atitudes são necessárias: a de emergência, cuidar dos sobreviventes, e a de cobrar das autoridades e identificar os responsáveis. Administradores não são apenas para usufruir de mordomias, assumem os riscos da falta de ação e da incompetência. E permitem os abusos de pobres - não são apenas os pobres que ocupam, desmatam, encostas - e ricos.