por Gonça
Vida Alheia", dirigido por Miguel Falabella, alcançou discretos 19 pontos de audiência. A Globo queria mais. O público esperava algo mais divertido e inteligente. Pretensamente roteirizado no "ritmo" dos seriados americanos - fórmula que geralmente mostra excelentes diálogos -, o programa do Falabella tem texto tedioso, sem imaginação e, surpreendentemente sem o humor e a fina ironia que o tema pede.
Parece levar seu foco - as revistas de celebridades - muito a sério, com um traço de ressentimento, como se fosse uma desimportante e ingênua "vingança dos famosos" contra as revistas de celebridade. Como se encenasse um debate acadêmico ou sociológico, sei lá o quê. Besteira. Revistas de celebridades não dão muito o que pensar. São um fato. Vendem fofocas, eventos, a intimidade das celebridades. São novidade? Não. Tenho aqui na minha estante exemplares encadernados de A Scena Muda, de 1921, que abordava os filmes e as vidas das primeiras estrelas de Hollywood. Entre outras coisas, a revista mostrava as mansões e os carrões do ídolos do cinema mudo e tinha uma seção intitulada "Os que vivem no écran" para contar o que acontecia na então "cidade dos sonhos". A Hola espanhola, que inspirou a Caras, é uma publicação semanal que está nas bancas desde os anos 40. Amiga, Contigo, que foi lançada há mais de quatro décadas, Revista do Rádio, Sétimo Céu, Intervalo... inúmeros títulos navegaram ou navegam nessas águas. Paparazzo? Velharia. Fenômeno que já existia nos anos 40.
Em 1960, Fellini apenas deu nome ao batalhão de fotógrafos que caçava estrelas na Via Veneto, em Roma, no seu célebre "La Dolce Vita" (na reprodução da foto de Eli Sorci, à esquerda, o fotógrafo Tazio Secchiaroli, um dos mais famosos paparazzi italianos, foge do ator Walter Chiari, na Via Veneto, em Roma). A Manchete lá pelos anos 60 publicou um flagrante da bela Mylene Demongeot, a loura atriz francesas, de biquini, solitária, em uma madrugada na praia de Copacabana. Na mesma época, mandou um fotógrafo a Buenos Aires apenas para flagrar a lua-de-mel de Tutu Quadros, filha de Jânio. O que pode haver de novo é uma poderosa "indústria de entretenimento", que agrupa eventos, celebridades, meios de comunicação em geral, publicidade, marketing, merchadising e campanhas. Com tudo isso, girando milhões de reais, o fenômeno se potencializou com o segmento do jornalismo de celebridades à frente. O seriado do Falabella tenta tirar uma casquinha oportunista dessa onda. No seu primeiro episódio, "Vida Alheia" estava centrada demais em picuinhas de redação, uma tramazinha para consumo interno. Quem conhece redações sabe como aquilo lá estava fora da realidade, mas mesmo essa fidelidade que a trama busca sem conseguir alcançar nem tem tanta importância, ficção é ficção. Gilberto Braga fez uma novela chamada "Celebridade", que tinha a intenção de mergulhar nesse mesmo universo, o das revistas de fofocas. O núcleo da redação não atraiu o interesse esperado e, ao longo da trama, quase desapareceu em função de outros contextos da novela bem mais interessantes. O público parece mais ligado - e isso é natural -, em celebridades e está se lixando para o que acontece na redação de uma revista de celebridades. O que os leitores compram nas bancas - e como compram, somados, os quatro ou cinco dos principais títulos dessas revistas já batem o milhão de exemplares semanais, sem contar a audiência de sites, programas de TV, suplementos e colunas dos grandes jornais - é a notícia não o backstage da mídia. Talvez Falabella esteja ansioso demais para acertar, já que sua recente incursão em novelas - "Negócio da China" - revelou-se um fracasso para os padrões da Globo no horário. Muita calma nessa hora. Vamos esperar o segundo episódio. E checar se, pelo ibope, o público deu uma segunda chance ao novo seriado. O primeiro capítulo de "Vida Alheia" foi tão chato quando aquelas legendas que sites, revistas e colunas costumam publicar: "fulano caminha pela calçada do Leblon", "fulano cuida da boa forma andando na orla"... E eu com isso?
5 comentários:
Perfeita a rua crítica, Gonça. O Falabella quís brincar com as revistas das quais ele precisou (ainda precisa) no início dee carreira, mas não encontrou ainda (certamente encontrará) o tom certo.Fazer humor não é tão simples e fácil quanto se pensa. Vida Alheia precisa de uma boa assessoria de quem realmente conhece as redações de revistas de celebridades onde o dia a dia é bem mais movimentado e engraçado do que o programna conseguiu ser na estréia.
Gonça, concordo plenamente com você, só quem trabalhou numa redação e viveu o dia a dia como editor, repórter, fotógrafo ou produtor sabe traduzir as emoções, adrenalina e o humor que ocorre em cada fechamento de uma edição. A-do-rei sua crítica e o comentário do Eli.
Como sempre o "Chefe de Arte", de uma redação, é esquecido, nas citações que envolvem os personagens de uma redaçào, O engraçado nessa história, é que sem o "chefe de arte, oo diagramador, vai ser dificil botar o bloco na rua. As fotos e os os textos não vão sozinhos para a gráfica para serem impressos em forma de revistas, jornais ou qualquer outro formato gráfico. É preciso que esses elementos sejam trabalhados e transformados em páginas gráficas e através desse modelo serem impressas e quem dá forma gráfica a essas informações é o tão esquecido e menosprezado pelos "coleguinhas" jornalistas, o "Chefe de Arte". Mas, os "coleguinhas"se esquecem até que ele existe, não só como profissional como pessoa humana.
Esses profissionais, muitos tinham grau superior como Wilson Passos, antigo Chefe de Arte da Revista Manchete, que era formado em Engenharia Aeronáutica. Nelson Gonçalves, assistente de Arte do Wilson Passos, era formado em Odontologia. O Chefe da Arte J.A.Barros era bacharel em Direito e curso incompleto em Belas Artes.
Esses profissionais eram capacitados até para exercerem qualquer cargo na redação. Mas, os "coleguinhas nào pensam assim: "Não ;e Maria Alice".
Amado, você sempre foi e será a pessoa mais importante de uma redação, sem você a revista não sai. Sem falar que eu considero você o melhor de todos os tempos. Me perdoe, estou ficando gagá, você tem toda a razão os Chefes de Artes são todos brilhantes. Escrevi sem pensar você tem razão. Mas apesar da bronca continuo sua fã! Bjs
Barros querido você me deixa tão nervosa que cheguei até a escrever Chefes de Artes, que mico! Bjs
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