quinta-feira, 7 de abril de 2022

A mídia só pensa naquilo

por Flávio Sépia. 

O volume de tempo e espaço que a política profissional ocupa em jornais, revistas, sites, redes sociais, rádio e TV no Brasil e espantoso. Nos países desenvolvidos, eleições mobilizam os meios de comunicação, claro, mas não são tão absolutas nem tão massivas. O debate eleitoral já é intenso na mídia há quase um ano. A partir de agora vai virar coisa de doido. Isso não quer dizer que necessariamente melhora a escolha do eleitor. São discussões seletivas às quais candidatos fora do espectro político que manda no país têm pouco ou nenhum acesso. O fenômeno ocorre há muito tempo e a qualidade do voto só piora. Lembra de 2018, quando muitos  pilantras ganharam votos em todo o país e o povo iludido só descobriu depois?

A mídia neoliberal está engajada na busca da chamada terceira via (que os jornalistas em adesão ao marketing partidário estão chamando agora pela alcunha pomposa e falsa de Centro Democrático). Sonham com um candidato que rompa a dita polarização entre Lula e Bolsonaro, os atuais líderes das pesquisas. Um candidato assim evitaria que as oligarquias da grande mídia tenham que embarcar no jet ski de Bolsonaro como aconteceu em 2018. A melhor chance de um nome alternativo a Lula e Bolsonaro pode estar na estratégia de juntar no mesmo saco União Brasil, MDB, PSDB e Cidadania para sair com um candidato único. Dizem que isso será anunciado no dia 18 de maio. 

Como o Brasil é um país onde o que parece mudança pode ser apenas mais do mesmo, o candidato que pode sair do sacolão do "Centro Democrático" não tem nada de centro e tem pouco de democrático. João Dória, Simone Tebet, Eduardo Leite e Sérgio Moro, os mais cotados, foram eleitores de Bolsonaro ou bolsonaristas praticantes. 

Pesquisa recente da Quaest aliás indica que os bolsonaristas arrependidos não são tão arrependidos assume estão voltando para o curral do gado. 

Não é difícil imaginar que tipo de democracia pode sair desse centro elitista que só vê pobre em tempo de eleição ou em quadro de Portinari ou foto de Sebastião Salgado. Isso se em matéria de arte conheceram algo mais do que Romero Britto.

terça-feira, 5 de abril de 2022

Memórias da redação - O trio elétrico da Manchete • Por Roberto Muggiati

FUNDO INFINITO • Renato Sérgio, João Luiz de Albuquerque e Roberto Muggiati. No 2º Free Jazz Festival, em 1986, Manchete montou, no Hotel Nacional, um estúdio para fotografar em alto estilo os músicos participantes, destaques para Gerry Mulligan, Wynton Marsalis, Stanley Jordan e The Manhattan Transfer. O “Trio Elétrico” pegou carona...

Foto: Lena Muggiati


Dava prestígio trabalhar na maior revista ilustrada do país. Já salário era outra história. À falta de uma política salarial na empresa, cada jornalista tinha de lutar pelo seu num indigesto corpo-a-corpo com o dono da empresa, Adolpho Bloch. A maioria não tinha sequer acesso ao capo. Como Adolpho mandava também no conteúdo editorial das revistas, não havia na Bloch aquelas disputas de facções – as famigeradas “!panelinhas” – que ocorriam nas revistas da Abril ou nas redações de O Globo e do Jornal do Brasil. Eu não me dava conta então, foram precisos 35 anos até a falência em 2000, e a sequência do novo milênio, para chegar à percepção cristalina do quanto eu fui rico na Manchete. Rico em amizades. O ano e meio que passei na Veja em São Paulo me fez ver como a Manchete era um espaço democrático. Na redação no oitavo andar do prédio na Marginal do Tietê, eu ocupava um pequeno escritório fechado com vista para o rio lamacento, totalmente apartado da minha equipe de seis subeditores e doze repórteres, que se comprimiam nas “baias” – cubículos separados por divisórias de Eucatex de dois metros de altura. Já a redação da Manchete, também no oitavo andar, era aquele salão aberto com a fachada de vidro voltada para a entrada da baía de Guanabara, com o Pão de Açúcar de sentinela à direita, o azul do céu e do mar – como escreveu nosso repórter-letrista, “é sol, é sal, é sul.”  A redação ocupava 80% da metade fronteira do andar, entre os escritórios do Adolpho e do Jaquito em cada extremidade, separados de nós apenas por uma divisória de vidro. 

Todo mundo passava por aquele bordel. Os patrões vinham bisbilhotar nosso trabalho e dar palpites. Coleguinhas das revistas femininas vinham fofocar e jogar conversa fora. Uma delas, a simpática Laura Taves, sentou um dia na Ponte Aérea ao lado de um dos donos da Abril, meses depois se tornava a nova Sra. Roberto Civita. Como presente de casamento, ganhou a editora de temas feministas Rosa dos Tempos, com assessoria editorial de Rose Marie Muraro, que vivia na redação da Manchete em conchavos feministas com a Heloneida Studart. Justino Martins imperava na grande mesa de edição em L, sua sala de visitas. Recebia preferencialmente mulheres. As jovens amigas Lúcia Sweet e Fernand Bruni eram um colírio para os olhos. A baiana Raimunda Nonata do Sacramento, mais conhecida como Luana, nascida no Curuzu, em Salvador, primeira manequim negra brasileira, sucesso chez Paco Rabanne, Dior e Chanel, casou-se com o Conde de Noailles, uma das cepas mais nobres da aristocracia francesa. Regina Rosemburgo Lecléry visitou Justino na véspera do seu embarque para Paris no avião da Varig que se incendiou a poucos quilômetros do aeroporto de Orly em 1973. O cineasta Pierre Kast, o escritor Jean Genet e o “Clint Eastwood dos pobres”, Anthony Stephen, filho do Barão de Tefé,  também batiam o ponto na redação. Contei aqui outro dia do Nélson Rodrigues, que entrava saudando Adolpho como “o Cecil Bê De Maille (sic) do jornalismo!” Jô Soares, sem dizer palavra, pegava o Adolpho e saía valsando com ele pelo piso de tábuas corridas de madeira nobre. Um dia, Magalhães Jr. me apresentou a Agripino Grieco. Olhando para minha testa larga que já antecipava a calvície, o grande aforista disparou: “Que belo salão de baile para as ideias!” Vinha também, com uma assiduidade enervante, o Francisco Augusto Nascimento – que faturou milhões com o craque Grão de Bico nas pistas de turfe americanas – arrancar deste escriba um nome esperto para batizar um novo cavalo do seu haras em Itaipava. Depois de nomes literários como Jezebel, Iago, Rosencrantz e Suetônio, chutei um Cavalo de Crista. Não sei se o Chico percebeu a alusão à doença venérea; acabou chamando o potro de Capitão Jair, menção a um obscuro deputado iniciante. O pobre do animal jamais chegou entre os dez primeiros sequer.

Em 1975 assumi a direção editorial da Manchete no lugar do Justino. João Luiz de Albuquerque era meu chefe de reportagem, assistido pela dupla dinâmica João Resende e Suzana Tebet. Os Bloch inventaram uma reunião de pauta semanal com o pleno ampliado: a participação obrigatória dos editores de todas as revistas da casa. Cada qual tentando vender o seu peixe à custa da Manchete. O editor de Manchete Rural propunha matéria sobre uma nova vacina contra a febre aftosa, e por aí vai. João Luiz secretariava. Diplomaticamente, eu nunca rejeitava explicitamente uma sugestão: “Vamos ficar de olho.” João Luiz anotava. Eram tantas as sugestões que ficavam de olho que ele bolou um carimbo, aquele olho-lâmpada dramático que ocupa o ponto focal da tela de Picasso “Guernica”. Acabei adotando esse carimbo como meu ex-libris. “Fique de olho”, o lema perfeito para um jornalista. 

Em nossos telefonemas, João Luiz e eu adotamos espontaneamente um cacoete. Um se apresentava com o nome esdrúxulo de um músico de jazz. O outro respondia à altura, fonética e jazzisticamente.

– Olá Ike Quebec!

¬ – Tudo bem, Illinois Jacquet?  

[Bedroom tenors > saxofonistas de alcova] 

– E aí, John Robichaux? 

– Tudo em riba, Alphonse Picou.

[Músicos Creoles de Nova Orleãs.]

– Alô, Pony Poindexter!

– Beleza, Conte Candoli!

[Músicos da banda de Stan Kenton.]        

–  Como vai você, Phil Urso?

–  Levando, levando, meu caro Vido Musso.

[Saxofonistas tenores.]

Já com Renato Sérgio, nosso brilhante redator de assuntos culturais, a troca telefônica era minimalista. Mantínhamos uma espécie de shibboleth, uma senha binária, calcada no grito de guerra da Banda de Ipanema.

– Yolhesman!

– Crisbeles!

Ou, na contramão:

– Crisbeles!

– Yolhesman!

O lema da Banda de Ipanema não significava absolutamente nada, foi tirado por um de seus fundadores da pregação de um maluco que vendia bíblias na Central do Brasil. Na verdade, ficou sendo, naqueles tempos sombrios da ditadura militar (a Banda foi fundada em 1964 e saiu pela primeira vez no Carnaval de 1965), uma versão tropical do grito do anjo do Apocalipse.

Enjoado de tudo isso que anda por aí, Renato Sérgio nos deixou há dez anos – o velho e bom paulistano que, segundo José Esmeraldo Gonçalves tinha “um certo e saboroso jeito carioca de ver a vida”.

Depois de uma longa e tenebrosa pandemia, que ainda perdura – nós dois de máscara na livraria Argumento no lançamento do livro de Márcio Pinheiro sobre o Pasquim – reencontrei o João Luiz, protegido por suas guarda-costas de estima, as filhas Gabriela e Cristina. Trocamos mil e uma figurinhas dos tempos da Bloch e ele me contou histórias incríveis dos passeios com Adolpho Bloch no seu bugre. “E eu quero andar na sua baratinha,” disse Adolpho ao ver o buggy do João Luiz diante do prédio do Russell. Mas isso quem pode contar com a devida galhardia é só o próprio João Luiz. Vamos lá, ao teclado, Ferdinand Joseph La Menthe!...

Antes que o Brasil vire um país fundamentalista como Irã ou Arábia Saudita e outros - Justiça condena autoritarismo religioso em condomínio do Recife.

Uma moradora de um condomínio em Recife instalou por contra própria uma imagem de Nossa Senhora de Fátima e uma bíblia no hall do edifício. Outra moradora reclamou ao síndico que tal atitude ia contra a convenção do prédio, que impede a colocação de objetos pessoais em áreas comuns. A autora do "altar" improvisado se recusou a retirar os objetos e ainda fixou um cartaz no local informando que só os recolheria diante de ordem judicial. É comportamento típico do autoritarismo religioso que assola o Brasil. 

Imaginem que outros condôminos que não praticantes das religiões dominantes também teriam direito, se a convenção permitisse, de ocupar o hall com símbolos religiosos afros, espíritas, budistas, islâmicos, judaicos etc. A moradora que reclamou à Justiça ganhou indenização por dano moral a ser paga pelo condomínio e pela condômina proprietária dos objetos religiosos. Decisão acertada da lei. Abusos como esse são cometidos no Brasil e devem ser contidos. Agora mesmo foi revelado que pastores cobravam propina para distribuir verbas públicas do Minisrtério da Educação. E se um fiel fanatizado quisesse colocar no hal um pôster dos tais pastores?   

Vidas importam - Dossiê contabiliza 314 jornalistas brasileiros mortos pela Covid-19 em dois anos


O Departamento de Saúde e Segurança da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) produziu um relatório especial sobre as vítimas da pandemia entre a categoria. Foram 314 casos fatais no Brasil, numa média de 1 morte a cada dois dias. O país é o rercordista mundial de falecimentos de profissionais da comunicação, seguido pela Índia, Peru e México. A FENAJ registra que, após a campanha de vacinação o número de óbitos caiu em janeiro e fevereiro de 2020 para 11 casos fatais. No mesmo período de 2021 foram 42 casos.  Muita paz para os colegas que se foram.

Você pode ler o relatório completo AQUI

FENAJ pede abertura de processo ético contra Eduardo Bolsonaro por debochar de Míriam Leitão e fazer apologia à tortura

"A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), entidade máxima de representação da categoria no país, vem a público repudiar a apologia à tortura, um crime que é também uma manifestação inequívoca de desumanidade.

E, para que não haja relativização em favor dos criminosos, a FENAJ defende a imediata abertura de processo ético contra o deputado Eduardo Bolsonaro, que neste domingo, 3 de abril, quis debochar da jornalista Míriam Leitão, colunista do jornal O Globo e comentarista da Globo News, citando um episódio de tortura a que ela fora submetida, quando presa durante a ditadura militar.

Não foi a primeira vez que Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, tratou a tortura como uma prática banal e defensável. Também não foi a primeira vez que a jornalista Míriam Leitão foi desrespeitada pela família Bolsonaro, em sua história de militante e presa política. Portanto, passa da hora de os demais poderes constituídos da República brasileira, agirem para garantir o Estado de Direito, com a punição cabível para autoridades que insistem em agir fora dos preceitos legais e democráticos. Algumas dessas autoridades, como Bolsonaro pai e filho, também demonstram absoluta falta de empatia e compaixão, sentimentos normalmente partilhados entre os seres humanos.

Na oportunidade, a FENAJ defende ainda a punição para os torturadores, militares e civis, que cometeram seus crimes durante a ditadura militar e que continuam impunes, com base numa interpretação equivocada da Lei da Anistia. Lembramos que a tortura é crime equiparado aos crimes hediondos e é imprescritível.

Punição para os torturadores e para os que fazem apologia à tortura!

Nossa solidariedade à jornalista Míriam Leitão, às vítimas da ditadura militar e aos familiares das vítimas que não resistiram às torturas e sucumbiram nos porões dos cárceres."

Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ

Frase polêmica da cantora Anitta em revista americana incendeia as redes sociais

 

Anitta na capa e a...

... frase polêmica em destaque

por Ed Sá
A cantora Anitta está no alvo do bombardeio nas redes sociais. Em entrevista para a Nylon Magazine, que será distribuída durante o festival Coachella e da qual ela é capa, ela declarou que "no Brsil todo mundo quer se divertir e transar". Nada contra, mas muita gente não gostou. A frase - dizem - reforça o estereótipo que, no exterior, classifica o Brasil como paraíso da fudelança.  Anitta reagiu mas com um chavão muito usado por gente do governo Bolsonaro flagrada em declarações racistas, nazistas, machistas e preconceituosas em geral. Segundo a cantora, "a frase foi tirada do contexto".

Alô garotada. Faça seu título de eleitor e desafie a ultra direita que não quer que você vote


A capa da Carta Capital mostra o protesto dos jovens durante os shows do Lollapalooza. O governo Bolsonaro tentou censurar as manifestações, acionou seus currais e foi derrotado pela rebeldia democrática. A cena assustou os neofascistas, fez tremer a direita radical. Daí, a horda intensificou a campanha surda que é contra o título de eleitor para os brasileiros de 16 anos. Em canais bolsonaristas como a Jovem Pan jornalistas comprometidos com a ultra direita criticaram as redes sociais que estimulam os jovens a tirarem o título de eleitor. O voto jovem é cidadania. 

QUEM COMPLETAR 16 ANOS ATÉ A DATA DA PRÓXIMA ELEIÇÃO DEVE OBTER O TÍTULO ELEITORAL ATÉ O DIA 4 DE MAIO

Neymar na prateleira?

A mídia esportiva da Europa especula que Neymar pode deixar o PSG na próxima janela de transferência. Se confirmada, essa seria uma boa notícia para a seleção brasileira. Haveria um interesse da Juventus e do Manchester United.  Até no Barcelona tem diretor que gostaria de ver Neymar de volta. O PSG, por sua vez, desandou. Velórios são mais animados do que o vestiário do time que chegou no ponto de se refazer, recomeçar praticamente do zero. Messi também pode sair em julho. A chance de Neymar fazer as pazes com a bola não está mais no Parc des Princes. A seleção brasileira agradece se o atacante partir para novos ares motivacionais neste segundo semestre.

Exaltação à perversidade

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL) debochou da tortura sofrida por Miriam Leitão durante a ditadura. Em uma das sessões, a jornalista, grávida, foi deixada em uma cela escura onde os torturadores mantinham uma cobra. Assim como o pai - líder da facção familiar que há anos  ironiza episódios como esse e homenageia assassinos - Eduardo Bolsonaro vê comédia onde houve crueldade. Ele escreveu nas redes sociais, uma espécie de covil das baixarias do clã, que tinha pena da cobra. Na postagem, reproduziu uma das colunas onde Miriam Leitão definia como erro da chamada terceira via "tratar Lula e Bolsonaro como iguais", e alertava que Bolsonaro "é inimigo confesso da democracia". Ao lado da reprodução, o filho do presidente escreveu  a frase "ainda com pena da" e acrescentou um emoji de uma cobra. 

O debochado recebeu críticas de políticos, jornalistas, escritores e nas redes  sociais que reagiram chocadas com o nível do ataque à jornalista. Mais uma agressão que de fato confirma o que Miriam Leitão escreveu: a facção no poder é inimiga da democracia.


Deputados de oposição anunciam que recorrerão ao Conselho de Ética da Câmara contra ao ataque vil de Eduardo Bolsonaro.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Frase do Dia: o livre pensar do Millor Fernandes

 “Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.”

MILLOR FERNANDES

"O Marajá": novela proibida reaparece misteriosamente no You Tube.

 

Na Folha de São Paulo, o místério da minissérie O Marajá.

por José Esmeraldo Gonçalves

A edição de ontem da Folha de São Paulo revela mais um mistério em torno da extinta Rede Manchete. Em 1993 a emissora gravou a minissérie O Marajá, com estreia prevista para 26 de julho daquele ano. A trama recriava os anos tumultuados do governo Collor de Mello. E, claro, o personagem principal, chamado "Elle", caricaturava o próprio político, que hoje é um apêndice do bolsonarismo. 

Escrita por José Louzeiro, Regina Braga, Eloy Santos e Alexandre Lidya, O Marajá foi censurado. O ex-presidente, cujo impeachment havia sido aprovado em setembro de 1992, entrou com uma ação na justiça impedindo a transmissão da minissérie. 

A partir daí, entra em cena o mistério da vida real. Adolpho Bloch acatou a decisão e pessoalmente mandou trancar todas as fitas em um cofre. Enquanto Collor permaneceu livre e solto, "Elle" passou anos aprisionado no tal cofre instalado em algum lugar do Edifício Manchete, na Rua do Russell. Em novembro de 1995, Adolpho Bloch faleceu. Cessava sua responsabilidade pessoal sobre o cofre blindado. A Rede Manchete, por sua vez, começava agonizar envolvida em dívidas e em operações sucessivas e mal sucedidas de tentativas de venda da rede. Ora era adquirida por empresários e até um  "bispo" evangélico, ora retornava aos Bloch por calote dos compradores. A crise desgastava a empresa, mas O Marajá, pelo que se sabia, repousava no escurinho do cofre, já quase esquecido, praticamente. Mas não por todo mundo. Alguém lembrou de  resgatar "Elle", que sumiu sem deixar pistas até reparecer agora no You Tube,  

A venda da Rede Manchete, afinal concretizada em 1999 e, no ano seguinte, a falência da Bloch Editores, colocaram um ponto final no que foi um importante conglomerado de comunicação.

Anos depois, algumas novelas da Rede Manchete reapareceram no SBT. Surgiram notícias de que parte do acervo estava com a TV Cultura, em São Paulo e haveria a intenção de levar ao ar alguns programas. Aparentemente, o temor de questões jurídicas ligadas a direitos autorais provocou o cancelamento do projeto.

 Recentemente, em leilão realizado pela Massa Falida de TV Manchete, sediada em São Paulo, um comprador não identificado, que teria sido representado por um procurador, adquiriu milhares de gravações de telejornais, programas especiais de jornalismo, shows, documentários, novelas, entrevistas, grandes eventos etc que pertenceram à Rede Manchete. Não se conhece o estado de conservação desse material. É certo, apenas, que é de grande valor para a memória da TV brasileira. 

Aliás, a Bloch não deu sorte com o seu legado jornalístico. Também mistério, como se sabe, é o destino do arquivo fotográfico que reunia décadas de produção fotográfica das revistas Manchete - que no dia 26 de abril comemoraria 70 anos, se viva fosse -, Fatos & Fotos, Fatos, Amiga, Desfile, Domingo Ilustrado, Mulher de Hoje, Ele Ela, Sétimo Céu, Joia, além de publicações dirigidas de economia, agricultura, medicina, informática e edições especiais sob os mais variados temas. O acervo foi leiloado, adquirido por um advogado, e sumiu como O Marajá. 

A minissérie, pelo menos, reaparece agora. O acervo das TV materializou-se no leilão em São Paulo. Já o arquivo fotográfico, com milhões de cromos, negativos e cópias, continua desaparecido. 

O que não desapareceu totalmente ainda foi a dívida da Massa Falida da Bloch Editores com seus ex-funcionários. A maioria recebeu os valores principais das indenizaçoes, mas não vê a cor da correção monetária devida (foram pagas apenas três parcelas). Há cinco anos esses pagamentos também viraram mistério. Além disso, há funcionários habilitados que ainda não receberam nem mesmo os tais valores prncipais das indenizações. 

Os ex-funcionários da TV Manchete - que não faliu, foi vendida - enfrentam uma luta também difícil. A venda da Rede Manchete foi uma operação que os lançou em um jogo de empura que se revelou uma armadilha. A TV Ômega, que adquiriu as concessões, conseguiu na justiça escapar da responsabilidade sobre as indenizações trabalhistas (chegou a pagar alguns processos de ex-funcionários da Bloch, mas foi ressarcida pela Massa Falida da Bloch Editores); uma segunda empresa envolvida na compra, denominada TV Manchete Ltda, foi adquirida por outro empresário que tomou um sumiço equivalente ao Marajá. A muito custo, ex-funcionários obtiveram a formação da Massa Falida de TV Manchete, essa que realizou o citado leilão de fitas de gravação e de um terreno com edificação em Campinas (SP), cujos resultados financeiros, não tão expressivos, seriam destinados a pagamentos aos credores trabalhistas.

O que preocupa os ex- funcionários da Bloch Editores é que massas falidas em geral costumam praticar autofagia aguda: quanto mais demoram mais consomem os bens garantidores das indenizações. Despesas judiciais, custos de administradores, advogados, seguros, manutenção, derrotas em processos etc pulverizam o patrimônio. Imagine isso ao longo do tempo: a Massa Falida da Bloch Editores apagará velinhas de 22 anos em agosto próximo.

Como se vê, não é apenas o mistério de O Marajá que assombra o desfecho da Bloch Editores e da Rede Manchete. 


sábado, 2 de abril de 2022

Frase do Dia: Freud duvida...

 "Nunca tenha certeza de nada. A sabedoria começa com a dúvida.”

Sigmund Freud

sexta-feira, 1 de abril de 2022

O golpe já está aí

 


Copa: a bolinha do sorteio foi amiga do Brasil?

Não parece muito amiga. Podia ser melhor. O sorteio para o Catar acabou sem formar um "grupo da morte". Embora a chave do Brasil apresente adversários que podem complicar. Suíça costuma endurecer, Sérvia tem técnica e Camarões pode ser carne de pescoço. Com certeza não é um passeio. Ou seja: Brasil não pode achar que está de bola cheia e vai passar fácil. Outro complicador é o fato de a seleção brasileira não ter jogado e nem vai jogar ao longo do ano com forças europeias. O desempenho do time do Tite e uma incógnita no caso desses adversários. Resumindo: o melhor que o Brasil pode fazer é calçar as sandálias da humildade. Não somos favoritos, temos jogado apenas na América do Sul e isso atualmente não prova nada. O próprio Tite, entrevistado após o sorteio, já parece mais tenso. Ficou ligeiramente irritado com as perguntas mais objetivas e menos oba-oba do grande ex-lateral Júnior. Tite confessou que não tem "parâmetro" para avaliar os primeiros adversários. É bom que se ligue nisso. Até porque os jogadores serão liberados para se incorporar à seleção muito em cima da estreia na Copa. Como diz o Galvão, haja coração.

Frase do Dia: Marcuse falou há quase 60 anos (e o filósofo nem sonhava com o poder controlador dos algorítmos

 "A tecnologia também garante a grande racionalização da não-liberdade do homem e demonstra a impossibilidade 'técnica' de a criatura ser autônoma, de determinar sua própria vida"

Herbert Marcuse (do livro Ideologia da Sociedaede Industrial lançado em 1964) 

Tite quer levar 26 jogadores para o Catar. Vão ter que usar crachá pra ele saber quem é tanta gente


Se a FIFA atender Tite o banco de reservas da seleção brasileira vai ficar parecendo um BRT lotado Reprodução Twitter.

quinta-feira, 31 de março de 2022

Brasil na Copa: "a hora é Hexa" ? Jura?

O Estádio de Lusail, a cidade especialmente construida próximo a Doha, receberá o jogo final da Copa do Catar. O Brasil vai chegar lá? Foto Divulgação/FIFA

por Niko Bolontrin

Amanhã a seleção brasileira saberá dos primeiros adversários na Copa do Mundo 2022. Alemanha e Holanda poderão estar no caminho. Se a bolinha do sorteio não favorecer, o time de Tite cairá no "grupo da morte".  Melhor, não. 

O certo é que o Brasil, que voltou a liderar o ranking da FIFA, chegará ao Catar no escuro. Longe de saber se o seu futebol que foi exageradamente exaltado durante a mediocridade da Eliminatórias será suficiente para enfrentar as principais seleções europeias. Vai descobrir em campo, assim como se surpreendeu com a Bélgica na Copa de 2018. A Bélgica, aliás, é a segunda colocada no mesmo ranking.

Nos últimos anos a Europa se fechou para amistosos contra seleções de outros continentes. Tem bastado aos países da comunidade um calendáro pra valer e de alto nível técnico: a dureza das Eliminatórias regionais sem "galinha morta", a poderosa Copa da UEFA e a Liga das Nações: 

Parece-me que Tite terá cinco amistosos preparatórios até embarcar para Doha. No roteiro, jogos contra seleçoes da Ásia, África, da Concacaf. Resta um amistoso válido contra a Argentina. Da Concacaf só vale como treino se o adversário for o México.  

Em 2022 a seleção brasileira comemora 20 anos do Penta, a épica jornada de 2002. Se não trouxer o caneco vai igualar em 2026 o maior intervalo entre seus títulos de campeã (de 1970 a 1994 = 24 anos).

Volta o slogan: "a hora é Hexa". 

31 de março: o dia dos degenerados

por José Esmeraldo Gonçalves

Por não ter punidos torturadores e assassinos da ditadura, como fizeram Argentina e Chile, o Brasil jamais fechará as cicatrizes de um dos períodos mais trágicos da sua história, mas não deve esquecê-lo nunca.

Há poucos dias, Christiane Pelajo, âncora da Globo News, ao comentar a morte do ilustrador Elifas Andreato disse, de passagem, que Vladimir Herzog sofreu "maus tratos" na ditadura. O vídeo com a fala circula nas redes sociais. Saiba a jornalista que Herzog, também jornalista, foi torturado e assassinado nas dependências da máquina dos horrores que era o DOI CODI em São Paulo. Transformar um crime político brutal em "maus tratos" é agredir a história, é desprezar o drama de uma família, é desonesto. É tentar apagar a verdade. 

Assim como desonesta e mentirosa é a nota divulgada ontem pelo Ministério da Defesa saudando a ditadura assassina e corrupta, tantas foram as mortes e os escândalos que a censura impedia de se tornarem públicos e dos quais o aparelhamento da justiça vetava a apuração isenta. A nota grotesca dos generais fala também em êxito econômico da ditadura. Outra mentira. A fachada "desenvolvimentista" dos militares tornou empreiteiros milionários e seus benefícios não chegaram à população. Em 21 anos de autoritarismo a distribuição de renda caiu a níveis críticos, bem piores do que os índices do fim da década de 1950 e começo dos anos 1960. A partir de 1980, ao sair pela porta dos fundos do Planalto, em 1985, o último ditador de plantão deixou uma dívida externa monumental, uma explosão inflacionária e uma crise econômica e social galopantes. Sob o tapete do palácio ficaram os famosos escândalos de  corrupção engavetados sob os rótulos Lutfallla, Delfin, GE, Capemi, Coroa Brastel...   

Cinquenta anos depois, os militares voltaram ao poder no embalo de outro golpe, o que tirou do governo sem qualquer motivo legal uma presidente democraticamente eleita. A conspiração resultou na eleição de Jair Bolsonaro que se cercou de generais e distribuiu cargos e "boquinhas" a  milhares de outros militares. Não por acaso, tornaram-se frequentes as ameaças à democracia, com acenos de novo golpe, agressões ao Supremo Trubunal Federal, a ocupação de instituições vitais, o desprezo às ações contra a pandemia, a omissão e o incentivo à destruição da Amazônia, entre outros desmontes do Estado em nome de interesses privados. 

Bolsonaro postula a reeleição e anuncia como seu vice precisamente o general linha-dura (esse termo também está de volta) que divulgou a nota-exaltação da ditadura.  Não há nada a comemorar no dia dos degenerados.

Frase do Dia: George Orwell e as eleições


Um povo que elege políticos corruptos, impostores, ladrões e traidores não é uma vítima, mas um cúmplice.”

                               

George Orwell, o escritor que inventou a entidade do Big Brother, em sua distopia “1984”, publicada em  1948.

 

 

quarta-feira, 30 de março de 2022

Cadeia legislativa

 


Frase do Dia (de um poeta e dramaturgo vítima de difamação)

 " A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre" 

Oscar Wilde  (1854-1900)

A agonia do Pantanal

 

Reprodução Twitter

Reprodução Twitter

por Ed Sá

As redes sociais se dividem em elogios ao remake de Pantanal - novela que fez sucesso histórico na Rede Manchete há pouco mais de 30 anos - e  a alertas quanto à realidade do universo rural que mudou para pior. A exuberância da natureza não é mais a mesma. 

Há quem veja no cenário romântico da ficção da Globo marcas da destruição progressiva de um bioma de valor incalculável para o planeta.  Talvez por isso, há excesso de closes. 

A pergunta é: o desenrolar da novela vai ignorar isso? A composição dos personagens passará ao largo da triste realidade? A arte prestará um serviço ao denunciar a hecatombe ecológica. 

De resto, uma constatação: se algum canal de streaming quiser fazer novo remake de Pantanal daqui a dez anos terá de usar recursos digitais e técnicas computacionais. O Pantanal como o conhecemos só existirá em pixels.

terça-feira, 29 de março de 2022

Na capa da IstoÉ: a corrupção vai na fé

 


Na capa da Carta Capital: a pátria enlameada

 


Alain Delon decide morrer • Por Roberto Muggiati

Alain Delon em cena de "O Sol por
Testemunha

Durante a pandemia tenho visto muito filme de Alain Delon. Uma beleza de ator, em todos os sentidos. Estrela da série de DVDs Filme Noir Francês, ele brilha em “Borsalino”, sobre a Máfia de Marselha – que antecipou em dois anos “O poderoso chefão” – , num noir político atualíssimo, “A morte de um corrupto”, e em Os sicilianos”, com Jean Gabin e Lino Ventura. Revi também sua interpretação magistral em “O sol por testemunha”, fazendo o melhor Tom Ripley de toda a saga do herói amoral de Patricia Highsmith. E não há como esquecer a figura solitária do assassino de aluguel em “O samurai”, no clássico dirigido por Jean-Pierre Melville. E, ainda há poucos dias, topei no YouTube com um thriller sobre a Guerra da Argélia, com Lea Massari, e um título que define Delon, “O insubmisso”.

Fui surpreendido agora pelo anúncio que Delon, 86 anos, acaba de fazer pública sua decisão de morrer por suicídio assistido na Suíça, país onde mora e do qual tem a nacionalidade. Disse ele: “Minha vida tem sido linda, mas também muito difícil. E, a partir de certa idade, temos o direito de ir embora tranquilamente”. Há poucos dias, o filho de Alain, Anthony Delon, disse à imprensa que acompanharia o procedimento quando o pai marcasse uma data. 

Alain Delon já tinha manifestado sua “ânsia de morrer” em 2017, depois da morte de sua ex-mulher Mireille Darc: “Hoje, prefiro ter 81 anos a 40. Não terei muitos anos mais para viver sem ela, não há muito tempo para sofrer. Sem ela, também posso partir”. 

Outra história de eutanásia: a cantora Françoise Hardy, 78 anos, ícone da jovem guarda francesa, disse recentemente que se sente "perto do fim da vida" e é a favor do suicídio assistido. Diagnosticada com câncer linfático em meados dos anos 2000, descobriu um tumor no ouvido em 2018. Ela já havia sido colocada em coma induzido em 2015. Em entrevista por e-mail, pois tem muita dificuldade em falar e ouvir, Françoise disse que os anos de radiação e quimioterapia causaram uma dor imensa. "Cabe aos médicos abreviar o sofrimento desnecessário de uma doença incurável a partir do momento em que ela se torna insuportável”.

Não conheci Delon em pessoa, mas tive a sorte de compartilhar alguns momentos na mesma sala com Françoise Hardy, uma graça, em 1970, no Hotel Glória. Ejetado da chefia de Fatos&Fotos – graças-a-deus! – eu me vi sem rumo certo como repórter especial da Manchete. No Glória, tomei um chá de cadeira à espera de ser recebido por Paul Simon, que era o presidente do Festival Internacional da Canção daquele ano. Havia uma seção na revista chamada Fulano no Paredão – pequena contribuição da revolução de Fidel para o jornalismo brasileiro e ainda hoje vigente no BBB – pessoas famosas do mesmo ramo do entrevistado faziam perguntas para ele. Ignoro até hoje o que prendeu a famosíssima Françoise Hardy por dez ou quinze minutos naquela saleta apertada. Na época, me permiti até dar asas a uma fantasia insana: seria pelo prazer da minha companhia?

Frase do Dia: sobre apalpar a vida

 “Se a vida lhe der as costas, passe a mão na bunda dela.”

(Do livro “Flor de obsessão: as 1000 melhores frases de Nelson Rodrigues - Companhia das Letras)

Quem você mandaria a Hollywood para fazer piada com a mulher de Will Smith?

por O.V.Pochê

Está aberta a campanha para enviar a Beverly Hills brasileiros selecionados para ficar em frente à casa de Will Smith fazendo graça com a alopecia da Sra. Jada Smith e cantando que Chris Rock é um bom companheiro. Talvez seja necessário fretar um Airbus 380. Veja os candidatos ao tour do Will.

* Bolsonaro "da Val do Açaí"

* Milton Ribeiro "Quilo de Ouro"

* Os pastores corruptos

* Damares "Goiabeira"

* Paulo Guedes  "Palestrante"

* Regina Duarte "Cinemateca"

* Arthur "Bolsonaro" Lira

* Rodrigo "Bolsonaro" Pacheco

* O mímico de libras da Presidência 

* A ruiva "photoshopada" do comercial do Safra 

*  "Ciroliro" Gomes

 * Arthur "Mamãe Falei" do Val

* Autores de podcasts sobre como fazer podcasts

* O ônibus lotado de candidatos da terceira via

* A SAF do Cruzeiro

* A JP "Heil" News

* Raul "Lollapalooza do TSE" Araújo"

As caras de quem reagiu ao tapa de Will Smith em Chris Rock

Oscar 2022: prêmio de melhor tapa. Reprodução TNT.

O tapa na cara que ofuscou na mídia a guerra da Ucrânia. Reprodução

segunda-feira, 28 de março de 2022

Frase do dia: Anitta, oferecendo-se para pagar a multa do TSE aos artistas do Lollapalooza dispostos a desafiar censura autoritária e inconstitucional a manifestações políticas (*)


Anitta no clipe Envolver/Divulgação


“50 mil? Poxa… menos que uma bolsa”. 

(*) Liminar do ministro Raul Araújo, do TSE, proibiu atos políticos no festival em apoio a Lula e manifestações do tipo "Fora Bolsonaro". A decisão foi ignorada no pálco e na plateia"



domingo, 27 de março de 2022

"Muito prazer, Silva, Thiago Silva"; "Jesus, Gabriel Jesus"; "Coutinho, Philippe Coutinho"...

Ruy Castro na Folha de São Paulo, hoje: futebol com nome e sobrenome

por José Esmeraldo Gonçalves

Ruy Castro sacou o que estava na cara e ninguém via. Jogadores de futebol agora se identificam pelo nome e sobrenome. Até para diferenciar: são tantos os Diegos, Matheus, os Gabriel. Mas não só por isso. É preferência agora. Neymar, que não tem homônimos conhecidos, adotou a marca dobrada Neymar JR. 

E quanto aos jogadores de nome e sobrenome na seleção brasileira? Em 1958 e 1962, o time bicampeão entrou em campo com apenas dois craques com nombre e apelido como dizem os hispânicos: Nilton Santos e Djalma Santos. No tri, em 1970, só Carlos Alberto esteve na final. Na final da Copa de 1994, apenas o duplo Márcio Santos entrou em campo. Em 2002, jogaram a decisiva os duplos Roque Júnior, Roberto Carlos, Juninho Paulista e Gilberto Silva. 

Nas últimas quatro copas. a geração de nome e sobrenome não deu muita sorte. Desde 2006, foram convocados muitos duplos do tipo "Bond, James Bond": Silva, Thiago Silva; Jesus, Gabriel Jesus; Alves, Daniel Alves; Coutinho, Philippe Coutinho; Firmino, Roberto Firmino, Luiz, David Luiz etc. 

O problema é que apreceram diante da seleção brasileiras uns sujeitos que atendiam pelos nomes simples de Zidane, Henry, Sneijder, Müller, Klose, Kroos, Khedira, Schürrle e a exceção, De Bruyne. Craques, respectivamente, da França (2006), Holanda (2010), Alemanha (2014) e Bélgica (2018), eles fizeram os gols que eliminaram o Brasil nas últimas quatro Copas do Mundo. 

Cuidado no Catar: a seleção francesa vem aí com Benzema, Mbappé, Griezmann, Pogbá, Kanté... 


sábado, 26 de março de 2022

Aposta furada

 

Veja a nota acima publicada hoje na coluna de Ascânio Seleme no Globo. Não faz muito tempo Rodrigo Pacheco, que Bolsonaro escalou para presidir o Senado, tornou-se queridinho de comentaristas políticos de plantão em Brasília. Ele tanto acreditou nos elogios que se apresentou como presidenciável. Não deu. O povo foi mais sábio e lhe cravou nas pesquisas em torno de 1% das intenções de votos. Com margem de erro para o nada. Desde que elegeu Collor de Mello, a mídia neoliberal busca o "Collor de Mello" perdido. Um coleguinha mais empolgado sonhou que o mineiro que também seria o JK reencarnado. Não rolou, o homem era um peixe vivo fora da bacia. Fica na história por frases como essa aí destacada. Na roubalheira pastoral  montada por Bolsonaro, flagrada no Ministério da Educação e audível em gravações, o maleável Pacheco viu apenas "frase infeliz".  Então, tá.

Frase do Dia: poeminha do contra

 "Todos esses que aí estão

Atravancando meu caminho,

Eles passarão...

Eu passarinho!"

Mário Quintana 

( 1906-1994)



quinta-feira, 24 de março de 2022

O Rosa e o Reaça • Por Roberto Muggiati

Nélson Rodrigues na Manchete. Reprodução Foto de Paulo Scheuensthul

Um desfilava seu perfume pelos salões refrigerados da diplomacia. O outro derramava seu suor pelas redações fedorentas dos jornais. Ambos exímios artesãos das palavras, construíram com sua elaborada bricolagem verbal suas mitologias pessoais: o Sertão e o Subúrbio. Estou falando dos dois grandes escritores que marcaram o século 20 brasileiro: o cerebral João Guimarães Rosa (1908-67) e o visceral 

Nélson Falcão Rodrigues (1912-1980) – o yin e o yang de nossa literatura.

Por que trago Nelson à cena nesta altura do campeonato? Porque, com a reedição dos seus romances pela HarperCollins, ele se tornou um de nossos ficcionistas mais publicados. Depois, porque encontrei no camelô da esquina por dez reais uma edição nova em folha de A cabra vadia/Novas confissões, 470 páginas de um Nelson-por-ele-mesmo. Vou dar só uma amostra, que é a primeira das 85 confissões, intitulada “O ex-covarde”, onde ele desfia o rosário de tragédias da família Rodrigues:

“Sofri muito na carne e na alma. Primeiro foi em 1929, no dia seguinte ao Natal. Às duas horas da tarde, ou menos um pouco, vi meu irmão Roberto ser assassinado. Era um pintor de gênio, espécie de Rimbaud plástico, e de uma qualidade humana sem igual. Morreu errado ou, por outra, morreu porque era ‘filho de Mário Rodrigues’. E, no velório, sempre que alguém vinha abraçar meu pai, meu pai soluçava: – ‘Essa bala era para mim.’ Um mês depois meu pai morria de pura paixão. Mais alguns anos e meu irmão Joffre morre. Éramos unidos como dois gêmeos. Durante 15 dias, no Sanatório de Corrêas, ouvi a sua dispneia. E  minha irmã Dorinha. Sua agonia foi leve como a euforia de um anjo. E, depois, foi meu irmão Mário Filho. Eu dizia sempre: – ‘Ninguém no Brasil escreve como meu irmão Mário.’ Teve um enfarte fulminante. Bem sei que, hoje, o morto começa a ser esquecido no velório. Por desgraça minha, não sou assim. E, por fim, houve o desabamento de Laranjeiras. Morreu meu irmão Paulinho e, com ele, sua esposa Maria Natália, seus dois filhos, Ana Maria e Paulo Roberto, e sua sogra, D. Marina. Todos morreram, todos, até o último vestígio. Falei do meu pai, dos meus irmãos e vou falar também de mim. Aos 51 anos, tive uma filhinha que, por vontade materna, chama-se Daniela. Nasceu linda. Dois meses depois, a avó teve uma intuição. Chamou o Dr. Sílvio Abreu Fialho. Este veio, fez todos os exames. Depois, desceu comigo. Conversamos na calçada do meu edifício. Ele foi muito delicado, teve muito tato, mas disse tudo. Minha filha era cega.”

Nelson não menciona outro drama imenso. Ele, que gostava, de se proclamar o Reacionário e cutucar as esquerdas, teve o filho Nelsinho, militante opositor da ditadura militar, preso e torturado e, só então, depois de obter a soltura do rapaz junto aos generais de plantão, reviu suas posições e passou a defender a “anistia ampla, geral e irrestrita”. 

Guimarães Rosa. Reprodução
Guimarães Rosa anda meio esquecido nestes dias de modorra intelectual em nosso país tropical. Merecia – e muito – voltar à atenção dos leitores o homem que escreveu “Viver é muito perigoso: sempre acaba em morte”. O curioso é que a morte de Rosa teve um forte toque rodriguiano. Eleito para a Academia Brasileira de Letras em agosto de 1963, protelou por mais de quatro anos a posse, receando não resistir à emoção da cerimônia. Finalmente, foi recebido por seus pares na quinta-feira, 16 de novembro de 1967. Em seu discurso chegou a afirmar premonitoriamente: “A gente morre é para provar que viveu”. Ao entardecer de domingo, 19 de novembro, morreu de infarto agudo em seu apartamento de Copacabana. Rosa era um dos indicados para o Prêmio Nobel de Literatura daquele ano, que coube a um latino-americano de menor brilho, o guatemalteco Miguel Ángel Asturias.

Nélson Rodrigues também morreu num domingo, três dias antes do Natal de 1980, de complicações cardiorrespiratórias, e foi enterrado também no cemitério de São João Batista – onde sepultaram Guimarães Rosa no mausoléu da Academia. Detalhe: no fim da tarde daquele domingo, o falecido Nélson fazia treze pontos na Loteria Esportiva, num "bolão" com seu irmão Augusto e colegas de O Globo.

Tive o privilégio de conhecer Nélson Rodrigues em carne e osso. Quando adentrava a redação da Manchete, bradava no seu vozeirão abaritonado:

“Salve, Adolpho Bloch, o Cêcil B. de Maille (sic) do jornalismo!” 

Era generoso nos apelidos. Um de nossos colegas, o bronzeado e atlético Cláudio Mello e Souza, foi contemplado com dois: O Remador do Ben Hur e O Havaiano de Ipanema. Numa de suas últimas matérias para a revista Manchete, sobre sua peça A serpente, em 1978, um Nélson já adoentado submeteu-se pacientemente a posar para uma foto com uma ridícula cobra de pano enrolada no pescoço.

Estadão copia e cola matérias do site Grande Prêmio. Foram 47 "chupadas" sem chiclete durante dois meses e meio

 


A MATÉRIA ESTÁ NO PORTAL DOS JORNALISTAS, QUE VOCÊ
 PODE ACESSAR NESTE LINK
 https://www.portaldosjornalistas.com.br/grande-premio-acusa-estadao-de-plagio-de-47-textos/

A Frase do Dia conta como Jesus expulsou os vendilhões do Ministério da Educação, digo, do templo

 

Na obra clássica de  Doménikos Theotokópoulos, El Greco, Jesus enquadra os corruptos do templo


(Mateus 21:12)

"Tendo Jesus entrado no pátio do templo, expulsou todos os que ali estavam comprando e vendendo; também tombou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos comerciantes de pombas. 13 E repreendeu-os: “Está escrito: ‘A minha casa será chamada casa de oração’; vós, ao contrário, estais fazendo dela um ‘covil de salteadores’”.


Orando por um jabaculê

 

Do Globo de hoje

Ministério da Educação é o maior garimpo do Brasil

 


quarta-feira, 23 de março de 2022

Neste outono carioca você pode flanar com Monet à beira d'água





Que tal uma pequena caminhada diante das cores e traços de Claude Monet? Não é preciso ir a Giverny. Basta pegar o VLT e desembarcar no escurinho de uma instalação hi tech na Av.Venezuela , 194. O espaço é amplo, você pode optar por ficar sentado ou flanar pelas projeções sincronizadas que dão sutis movimentos às obras de Monet. Vale muito a experiência. A temporada de Monet à Beira d'Água vai até 12 de junho. (Fotos Panis cum Ovum)