"A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele.”
Jornalismo, mídia social, TV, atualidades, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVII. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
quinta-feira, 17 de março de 2022
quarta-feira, 16 de março de 2022
Orlando Brito (1950-2022) por amigos
Orlando Brito - Reprodução Instagram |
O Brssil perdeu um dos seus grandes fotojornalistas. Orlando Brito registrou 50 anos da história política do Brasil a partir de Brasília. Nesse campo, suas lentes espelharam o melhor e, infelizmente, o pior do Brasil (durante 21 anos da sua trajetória, ele foi levado pela profissão a fotografar os generais da ditadura e seus cúmplices. São memórias essenciais para a compreensão desse pobre e injusto Brasil. Mas Orlando Brito eternizou também a esperança nacional personificada pela Constituinte, a luta de Ulysses Guimarães e de tantos que formaram a lniha de frente possível em tempos sombrios, fixou cenas do futebol brasileiro em Copas do Mundo, mostrou a saga dos indígenas da Amazônia e, nos anos 1990, quando trabalhou para a revista Caras, fez memoráveis retratos de figuras da política em fase democrática, eram os dias de Itamar Franco, FHC e Lula. O jornalista Ricardo Noblat escreveu no portal Metrópoles sobre Orlando Brito. Noblat traça um belo perfil do amigo sem deixar de analisar o atual panorama profissional, muitas vezes dramático, para jornalistas e fotojornalistas. Brito não foi poupado desse drama. Muito se escreveu sobre Orlando Brito nesses dias. Todos o homenagearam merecidamente. Destacamos aqui, além do texto de Noblat, um artigo de Fábio Altman, na Veja. Ambos retrataram com fidelidade e emoção os amigo que se foi.
Leia Ricardo Noblat AQUI
Leia Fábio Altman AQUI
Big Mac, до свидания (Adeus) - Cabeça comunista, estômago capitalista • Por Roberto Muggiati
Esta loja do McDonald’s em Moscou já foi a maior de toda a rede no mundo. Reprodução NextaTV |
O golpe mais brutal que os Estados Unidos aplicaram na economia russa em represália à invasão da Ucrânia foi a paralisação das 850 lanchonetes da cadeia McDonald’s espalhadas pelo país. Desesperados, os consumidores da pátria armada de Putin correram para comprar a peso de ouro os últimos hambúrgueres, batatas fritas e sorvetes. Houve quem abarrotasse sua geladeiras dos cobiçados sandubas e um caso extremo foi o martiriológio de pianista Luka Safronov, que se algemou à porta de uma franquia moscovita e acabou detido por policiais. Safronov proclamou que os hambúrgueres do McDonald’s “estão se tornando um símbolo de violação das liberdades”.
Um cidadão moscovita abarrotou sua geladeira de Big Macs comprados a peso de ouro. Reprodução Twitter |
O CEO do McDonald’s na Rússia, Chris Kempczinski9, disse que a empresa se une ao mundo para condenar a agressão e a violência contra a Ucrânia. Os funcionários russos continuarão recebendo seu salário integral enquanto durar a paralisação da rede. KFC e Pizza Hut também fecharam suas portas na Rússia.
Não é só a fast food que protesta. Itens de luxo também tiveram suas vendas à Rússia suspensas, como caviar, trufas, charutos e champanhe.
O tirano Vladimir Putin certamente não será privado das delícias do mundo em seu bunker. Mas vale perguntar: teria ele, a esta altura do campeonato, algum motivo para estourar e degustar uma Veuve Clicquot ou um Dom Perignon?
Frase do dia
"Se vier a 2ª Guerra Mundial aí, estamos prontos"
terça-feira, 15 de março de 2022
A paz não tem chance. Conheça o grande vencedor da Guerra da Ucrânia
Está aberta a temporada de venda de armas. Reprodução O Globo |
por José Esmeraldo Gonçalves
Frase do dia
"Políticos e fraldas devem ser trocados com frequência, e pelos mesmos motivos."
MARK TWAIN (1853-1910)
segunda-feira, 14 de março de 2022
Vamos voltar aos tempos do gasogênio? • Por Roberto Muggiati
Carro movido a gasogênio. Fot reproduzida ddo livro Der Käfer II, de Hans-Rüdiger Etzold |
Bem-vindas à guerra, gerações pós-1945! A Segunda Guerra Mundial começou em 1º de setembro de 1939; em 6 de outubro eu completei dois anos. Apesar da tenra idade, senti na pele – como milhões de brasileiros – os efeitos do conflito global. A começar por meu nome. Como não pôde me batizar de Benito, em homenagem a Mussolini (minha mãe vetou), meu pai me chamou de Roberto, outro nome favorito de Il Duce. As três sílabas correspondiam às primeiras sílabas das capitais do Eixo: ROma, BERlim, TÓquio. O Eixo era a Itália de Mussolini, a Alemanha de Adolfo Hitler e o Japão do Imperador Hirohito contra o resto do mundo, os Aliados.Um amigo de infância, descendente de alemães, começou a ser hostilizado pela vizinhança e sumiu para sempre da minha vida. Aos seis anos, em 1943, fugindo de uma epidemia de coqueluche, as crianças desceram de Curitiba para o nível do mar. Eu, minha irmã e um monte de primos ficamos hospedados com as respectivas famílias num hotel na Ilha do Mel, na Baía de Paranaguá. À noite, pesadas cortinas pretas eram cerradas para obedecer ao blecaute. Semprei julguei aquilo um mero ritual sem sentido, até atingir a idade da razão, quando aprendi um pouco mais sobre a guerra. As águas do Atlântico Sul viviam infestadas por submarinos alemães, os temidos U-Boots. Já em dezembro de 1939, o estuário do Rio da Prata foi o palco da primeira grande batalha entre as marinhas inglesa e alemã.
A escassez de gasolina levou o Brasil à adoção do gasogênio, os carros eram equipados de uma espécie de fornalha externa que queimava matérias sólidas ou líquidas para a produção de gás que alimentasse os motores de combustão. Esse “gás de síntese” podia usar como matéria-prima madeira, carvão e combustíveis líquidos também. Lembro que meu tio Rubens Bittencourt, um sujeito elegante casado com tia Lygia, irmã de minha mãe, tinha uma baratinha Ford conversível equipada com gasogênio. Foram muitos passeios e piqueniques pelos arredores de Curitiba, de fazer inveja à patuleia pedestre.
Eu tinha sete anos e sete meses quando a guerra acabou na frente europeia. Na capa interna do meu precioso álbum de fotografias escrevi convicto na minha caligrafia titubeante:
8-5-1.945 a ultima guerra. Dia da Vitória
Santa ingenuidade! Três meses depois, o Japão era vencido ao custo do massacre de duas bombas atômicas, em Hiroxima e Nagasaki. E o mundo entrava direto na Guerra Fria, vivendo durante décadas o pesadelo do apocalipse nuclear. Coreia. Indochina. Bloqueio de Suez. Baía dos Porcos. Os mísseis de Cuba. Vietnã. Os genocídios tribais na África. Afeganistão. Guerra do Golfo. Guerra do Iraque. Terrorismo global. Torres Gêmeas. Devo ter esquecido algumas, muitas, os terrorismos locais, o IRA, o movimento basco, as FARC colombianas. E, mais recentemente, os delírios expansionistas de Putin, a anexação da Crimeia e agora a invasão da Ucrânia.
Retiro o que eu escrevi, Roberto Fernando Muggiati, na ignorância dos meus sete anos. A última guerra será sempre a penúltima...
A cavalgada das zebras continua...
O Vasco, o Gigante da Colina, foi a Petrolina e se apequenou. Foi eliminado da Copa do Brasil nos pênaltis pelo Juazeirense, com direito a vexame do Nenê.
Os dois catarinas também dançaram. O Figueirense foi eliminado pelo Cuiabá nos pênaltis e o Avaí tomou um 2x1 do Ceilândia numa noite encharcada na Ressacada. A esta altura o torcedor número um do Avaí, o supercampeão de tênis Guga – está perdendo a paciência com o seu timinho.
Cartolas do Ceilândia pagam promessa. Imagem reproduzida de vídeo do GE.
Em compensação, os dirigentes do Ceilândia (DF) que acompanharam seu time a Floripa, atravessaram o campo da Ressacada de joelhos em gesto de agradecimento. A imagem do canal GE do Portal G1, viralizou nas redes sociais No primeiro jogo, o Ceilândia eliminou o Londrina. Já o Pouso Alegre (MG), que eliminou o Paraná, deu trabalho ao Coritiba na segunda fase e só perdeu nos pênaltis. Aguardem os próximos capítulos.
sexta-feira, 11 de março de 2022
terça-feira, 8 de março de 2022
Carnaval total em abril? E sem máscaras?
por Ed Sá
A Prefeitura do Rio de Janeiro tornou opcional o uso de máscaras em ambientes fechados. Antes, havia liberado o acessório em situações ao ar livre. A decisão é criticada por cientistas. Embora o controle da pandemia esteja à vista, cidades do Grande Rio com enorme integração com a capital não exibem números expressivos de vacinação.
Vale o bom senso. Ocorrendo aglomeração, use sua máscara em qualquer ambiente.
De qualquer forma, a decisão pode abrir alas para um carnaval total. A prefeitura já havia liberado os desfiles das escolas de samba em abril, segundo o calendário abaixo:
20/04 (Quarta-feira) – Série Ouro – Liga RJ
21/04 (Quinta-feira) – Série Ouro – Liga RJ
22/04 (Sexta-feira) – Grupo Especial – Liesa
23/04 (Sábado) – Grupo Especial – Liesa
24/04 (Domingo) – Desfile das Crianças – Aesm-Rio
26/04 (Terça-feira) – Apuração
30/04 (Sábado) – Campeãs – Liesa
Com o fim da obrigação de uso de máscaras, caso as estatísticas da pandemia no Rio permaneçam em queda, é possível que os blocos de rua, até agora não oficialmente autorizados, recebam sinal verde para botar o carnaval nas ruas também em abril. A conferir.
Futebol: torcedores brasileiros violentos deveriam se oferecer para lutar na Ucrânia
por Niko Bolontrin
Nos últimos meses, como os fatos indicam, aumentou a violência entre torcedores do futebol. Agressões, mortes, ofensas racistas já são contabilizadas em vários confrontos. Abel Ferreira, o vitorioso treinador do Palmeiras, revelou em coletiva que duvida se poderá permanecer em um país onde o hábito de ver futebol pode ser brutal e até mortal. Por tudo isso, os jogadores deveriam evitar provocar torcedores adversários. Isso piora a situação e amplia o clima de guerra. Resulta em conflitos. Claro que há entre os torcedores grupos que não precisam de incentivo para brigar e matar: são os bandos ligados a faccões criminosas. Esses são um problema crônico de segurança pública. Em todo caso, ir à margem do campo para provocar torcedores, como fez um jogador do Flamengo no último domingo, em nada ajuda.
Se as torcidas querem guerra bem que poderiam se voluntariar para lutar na Ucrânia. Garanto que a maioria que vai aos estádio ver o jogo ajudaria a pagar a passagem para Kiev. De ida.
segunda-feira, 7 de março de 2022
Santo Henry, o menino mártir • Por Roberto Muggiati
Henry queria ser um menino feliz como os outros.Arquivo Pessoal |
O menino morreu de hemorragia interna quatro horas depois de sofrer uma laceração no fígado causada por objeto contundente. Nos documentos da perícia legal foram atestadas 23 lesões, que não foram causadas em um único momento ou num curto período. Ou seja, a criança seria um “saco de pancadas” do padrasto acusado pelo crime. A perícia revelou ainda detalhes de algumas lesões no rosto do menino: “As lesões na região nasal e infra-orbital esquerda são compatíveis com escoriações causadas por unha.” Seria uma mãe capaz disso? No caso desta criança, ficou evidente que até o impensável é possível. Na breve passagem pelo mundo, Henry Borel foi submetido às piores agressões e abusos – físicos, emocionais e morais – sujeitado ao silêncio dos inocentes, por sua total vulnerabilidade.
Em sua canção “God”, John Lennon diz: “God is a concept/ By which we measure our pain.”
“Deus é um conceito pelo qual medimos nossa dor.”
Por esse parâmetro, o sofrimento é a marca maior da santidade. O suplício de Henry Borel – por pouco que tenha durado, durou toda a sua vida – está à altura daqueles dos grandes mártires da história. Por uma coincidência impressionante, o dia de nascimento de Henry, 3 de maio, tem como santo padroeiro São Tiago Menor, um dos doze discípulos de Cristo, e um dos primeiros cristão martirizados em defesa de sua fé. No ano de 42 em Cesareia Palestina, Tiago foi perseguido por ordem do rei Herodes Agripa I, que mandou prendê-lo, decapitá-lo e jogar seus restos para os cães.
Sou daqueles que advogam a beatificação de Henry Borel. O próprio Papa Francisco acompanha a história do menino carioca desde o seu início. Em 24 de abril de 2021 – pouco mais de um mês depois da morte de Henry – seu pai, Leniel Borel de Almeida, recebeu uma carta em que o Papa Francisco lhe presta solidariedade pelo que classifica como “massacre” causado pela “loucura humana”.
Os pastorinhos que viram Nossa Senhora em Fátima: a prima Lucia e os irmãos Francisco e Jacinta. D.P |
Odetinha morreu aos oito anos já com uma aura de santidade. A.P |
Guido Schäffer, o Surfista Santo de Ipanema. A.P. |
No dia 1º de maio de 2009, Guido saiu para surfar no seu trecho preferido da praia, no Recreio dos Bandeirantes. Uma prancha desgarrada atingiu sua nuca, ele desmaiou e morreu afogado, vinte dias antes de completar 35 anos. Faltavam alguns meses para ele concluir os estudos de teologia no Seminário Arquidiocesano de São José.
Seu túmulo no cemitério São João Batista tornou-se lugar de devoção, principalmente na data do seu aniversário. Diante do culto do "Surfista Santo", a Arquidiocese do Rio de Janeiro transferiu seus restos mortais para a Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema e abriu um processo de beatificação junto à Santa Sé em 2014. Guido tornou-se um "Servo de Deus", primeiro título num processo de canonização. O próximo título, que deve vir em breve é o de “Venerável”, quando se conclui que a pessoa viveu as virtudes cristãs de forma heroica, ou sofreu realmente o martírio; o terceiro título é o de Beato, quando se comprova a existência de um milagre obtido pela sua intercessão e o último e mais importante é o de Santo, quando um segundo milagre é reconhecido. Alguns milagres já foram atribuídos a Guido Schäffer nos últimos anos.
Odetinha – por mais breve que fosse seu tempo de vida – e Guido, que desfrutou seus anos da juventude, tiveram oportunidade de praticar o bem. Já Henry Borel, nos 1723 dias que viveu, não teve sequer a oportunidade de se definir como pessoa; e a maior parte dos seus dias e noites foi ocupada pelo sofrimento causado pelas brutalidades praticadas em sua própria casa, pelas pessoas próximas que mais deveriam protegê-lo.
Grafiteiros da Zona Norte do Rio homenagearam Henry com asas de anjo num mural. Foto Facebook |
Fotomemória: foi um Rio que ficou em nossas vidas
por Ed Sá
Os arquivos desaparecidos da Manchete guardam fotos históricas de todas as áreas. Da política à cultura, das conquistas no esporte às tragédias, o acervo registrava uma Amazônia quase intocada e também flagrava o começo da destruição que hoje é crítica. Na área cultural, especialmente da música popular, a revista publicou fotos memoráveis a partir de um tipo de pauta que juntava os destaques do momento em um encontro no estúdio da Bloch. Os repórteres conseguiam levar à Manchete, em grupo, por exemplo, os ídolos da música. Fizeram isso com o pessoal da Bossa Nova, com a Jovem Guarda, com a turma da chamada música de protesto dos anos 1960 e com os tropicalistas. Em 1966 chegava aos cinemas o filme Todas as Mulheres do Mundo, de Domingos de Oliveira. Manchete repetiu a fórmula e levou as "mulheres do mundo" e parte da equipe do filme ao estúdio da Rua Frei Caneca. Paulo Scheunstuhl fotografou, a reportagem foi de Maurício Gomes Leite.
O Brasil já teve a sua "Ucrânia". Em 1965 tropas da ditadura invadiram um país soberano
Tropas brasileiras desembarcam em São Domingos. Foto Esko Murto/Manchete |
Os militares chamaram a tropa - cerca de 4 mil soldados, a maioria recrutas - de "Pracinhas". Uma injustiça com a Força Expedicionária que lutou na Itália, na Segunda Guerra Mundial. Naquela ocasião, combatia-se o fascismo de Mussolini e o nazismo de Hitler. Em São Domingos, o sinal foi trocado: a invasão atendia a um pedido ou ordem dos Estados Unidos para apoiar um golpe político de direita. Em 1961, um atentado matou o ditador Rafael Trujillo, que comandava o país desde 1930. Com a convocação de eleições livres em 1962 - as primeiras desde 1914 - foi eleito Juan Bosch, um político de oposição. Sete meses depois, acusado de adotar políticas esquerdistas, Bosch foi deposto e a Constituição cancelada. Um triunvirato assumiu o poder. E em abril de 1965, um grupo de jovens oficiais se rebelou, botou algumas tropas nas ruas e distribuiu armas à população exigindo a volta do eleito Bosch. Os Estados Unidos, que apoiaram a longa ditadura de Trujillo, organizaram uma operação para conter os rebeldes. e implantar um "governo amigo". Lyndon Johnson temia uma "nova Cuba" e os brasileiros foram "convidados" a participar da operação Power Pack, juntando-se a tropas dos Estados Unidos, Paraguai, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e El Salvador. No fim, a insurreição foi derrotada e eleições controladas colocaram no poder o caudilho Joaquin Balaguer, político amestrado pelo Estados Unidos. Ele manobrou para ser sucessivamente reeleito impondo novo regime autoritário à República Dominicana.
Na operação, o Brasil submisso contabilizou quatro mortos e dezenas de feridos. A ditadura acumulou mais uma vergonha na sua folha corrida de desprezo pela democracia. E a imprensa brasileira, Manchete inclusive, como se vê, assumiu o vexame de tratar uma intervenção que reimplantou um regime autoritário como de épico heroismo.
Não diga “bánquer”, o certo é “búnquer”!
Bunker na Normandia. Foto Pixabay |
Os grandes impérios da comunicação, como a Globo, não investem o mínimo nessa área particular. Gastam montanhas de dinheiro em futilidades. No caso, bastaria contratarem uma pessoa culta e/ou poliglota para orientar seus apresentadores quanto à pronúncia correta das palavras estrangeiras. Cujo uso, aliás, deveria ser limitado ao essencial, quando não houvesse equivalente em português.
E há também a preguiça dos próprios comunicadores, quando tais questões podem ser esclarecidas com uma rápida navegação da internet. Vejam aí:
Um búnquer (do alemão bunker, possivelmente de origem ânglica-escocesa; pronúncia em alemão: [búnkәr]) é uma estrutura ou reduto fortificado, parcialmente ou totalmente construído embaixo da terra (subterrâneo), feito para resistir a projéteis de guerra.
Se quiserem aprofundar, vejam aí:
A palavra entrou para o vocabulário internacional quando Hitler e sua cúpula se suicidaram no Bunker* de Berlim quando a cidade foi tomada pelas tropas russas na 2ª Guerra.
* Todo substantivo alemão leva maiúscula.
domingo, 6 de março de 2022
Do Estadão: o muro da vergonha
Um piano contra a guerra
Em vez de gatilhos, teclas. Kviv, Ucrânia, 2022. |
Deu no LeHuff Post. Uma jovem não identificada toca a música What a Wonderful World na estação ferroviária de Lviv, no oeste de Ucrânia. Para a platéia improvisada e em fuga, a música é a trilha sonora que - se isso é possível - ameniza o drama de uma guerra absurda. Remete à uma tragédia, em outras circunstâncias, quando a orquestra do Titanic permaneceu tocando enquanto as águas geladas do Atlântico Norte invadiam o navio. (José Esmeraldo Gonçalves)
Veja no You Tube o vídeo e ouça o piano que desafia a estupidez dos senhores da guerra. AQUI
Também no You Tube, ouça Imagine, que recebe os refugiados na fronteira com a Polônia AQUI
A HORA (A ERA) DOS HOMENS OCOS
O discurso-“empolgação” do deputado Arthur do Val sobre as mulheres ucranianas foi desastroso até na data: Dia Internacional da Mulher. do Val junta-se à imensa legião dos “homens ocos” que, infelizmente, enchem cada vez mais todas as áreas e camadas do nosso mundo. São sociopatas incapazes de captar o sentimento e a dor do próximo. “Os homens ocos” é o poema de T.S. Eliot que termina com a famosa estrofe: “This is the way the world ends/Not with a bang but a whimper.” Literalmente: “Assim acaba o mundo/Não com uma explosão, mas um choramingo.” O poema de Eliot faz cem anos em 2025. O mundo gira, mas o homem não sai do lugar... (Roberto Muggiati)
A Copa do Brasil é para principiantes... • Por Roberto Muggiati
O "frago" de Daniel. Reprodução Imagem Sportv |
O Vasco, acuado e sob forte pressão da Ferroviária de Araraquara, SP, conseguiu escapar da degola com um gol de cabeça de Raniel, uma de apenas quatro finalizações no jogo inteiro, em mais uma assistência milagrosa de São Nenê. O São Paulo se safou num empate de 0x0 com a Campinense.
Timinho simpático em alta – na verdade é um timaço – a Portuguesa da Ilha do Governador, RJ, eliminou o veteraníssimo CRB de Alagoas por 1x0. Já o experiente Volta Redonda, da Cidade do Aço, foi ao Maranhão para ser eliminado pelo Tuntum por 4x2. Outro maranhense de garra, o Moto Clube, eliminou a Chapecoense por 3x2.
Os pernambucanos se deram mal: o Sport foi eliminado pela quarta vez seguida na primeira fase, agora pelo Altos, do Piauí, por 1x0. O Náutico perdeu para o Tocantinópolis por 1x0. A capixaba Nova Venécia despachou o Ferroviário do Ceará por 2x1. Outro time do Espírito Santo, o Real Noroeste, eliminou por 2x1 o Operário de Ponta Grossa, PR. O Londrina perdeu para o Ceilândia do DF por 2x0 e o Paraná deu adeus à Copa na derrota para o Pouso Alegre (MG) por 2x0. Outros paranaenses menos notórios despacharam equipes veteranas: o Cascavel picou a Macaca, ganhou da Ponte Preta por 1x0. Já ouviram falar no Azuriz, um clube-empresa de Marmeleiro? Eliminou o Botafogo de São Paulo por 1x0. Finalizando a festa, a Tuna Luso Brasileira de Belém do Pará mandou passear o paulista Grêmio Novorizontino, por 1x0.
O "caneco" do Brasil. Foto Divulgação CBF |
Menos engessada e elitista do que o Brasileirão, a Copa do Brasil é um fator de integração no esporte nacional e promete suspense e surpresas sem fim nos seus embates, além de injetar muito dinheiro nos clubes e garantir ao campeão uma vaga na Libertadores. Quando rola, mesmo nos gramados mais remotos, um jogo da Copa do Brasil, a democracia de certa forma entra em campo.
sábado, 5 de março de 2022
Torcedor: a tua SAF vai jogar hoje?
por Niko Bolontrin
Tomando um shot de vodca russa - "seu" Manoel do boteco ainda não aderiu ao boicote - soube que os times de futebol estão se transformando em empresas. Deve ser uma solução para a penúria da imensa maioria dos nossos clubes de futebol. Vá lá que seja. Pelo que entendi muita coisa vai mudar.
Explico: andei meio ausente, isolado em um sitio, por conta da pandemia, e me desatualizei dos fatos. Confesso que não senti falta. Só se fala em SAF. Botafogo SAF, Cruzeiro SAF, Vasco SAF... Quer dizer Sociedade Anônima do Futebol. Na prática, permite que um time seja vendido a investidores.
Quem critica a nova lei afirma que essas empresas se tornarão ativas plataformas para formação e venda de jovens talentos. De fato, vender jogadores é a atividade mais rentável do futebol. No Brasil, onde patrocínios, direitos de TV, venda de ingressos e de camisas não sustentam nem 90 % dos clubes eternamente endividados, vender jogadores tem ajudado a pagar folhas salariais.
O torcedor é que terá que se acostumar com mudança na cultura do futebol. Tudo vai virar business. Se as SAF não forem bem administradas poderão falir, como qualquer empresa. Diálogos assim serão possíveis.
- "Como é que tá teu time?"
- " Ih, irmão, faliu. Tá devendo na praça e um fornecedor entrou com pedido de falência. As torcidas organizadas estão discutindo a portabilidade, vão tudo pra outro time".
Outra mudança virá no próprio nome dos times. Claro, os contratos não permitem que um Vasco, por exemplo, deixe de ser Vasco. Já os names rights poderão ser incorporados às marcas. Vasco Havan, Cruzeiro Brahma, Botafogo Supermercados Guanabara, futuramente, quem sabe, Flamengo Lojas Marisa, Corinthians Caninha 51, Fluminense Copa d'Or, Grêmio Churrascaria Laçador.
Os torcedores SAF- ou "clientes" - também entrarão na nova era.
- "Vai no jogo da tua SAF hoje?"
sexta-feira, 4 de março de 2022
Chelsea está à venda. Quem quer comprar? Aos interessados em visitar o clube: as chaves estão com o porteiro...
por Niko Bolontrin
O Flamengo sonha em abrir uma franquia na Europa. Antes ensaiou instalar uma filial na Flórida, um Fla-USA, mas aparentemente o projeto virou hamburguer queimado. A ofensiva, agora, é em Portugal. O rubro-negro carioca tenta adquirir o Tondela, um time lusitano de segunda divisão. Quer "internacionalizar' a marca, dizem.
Um diretor do clube da Gávea revelou recentemente que pensa em comprar clubes em vários países. Podia começar pelo Chelsea. Pressionado pela repercussão da invasão da Ucrânia por Putin, o bilionário russo Roman Abramovich, dono do time inglês, resolveu vendê-lo a quem aparecer com grana na mão. Deve pedir até 3 bilhões de libras, algo que ultrapassa R$ 20 bilhões. Mas pode dar um desconto, desde que o comprador já venha com um contêiner de dinheiro e entregue a grana em algum banco a salvo das sanções americanas e europeias.
O Flamengo tem entre seus patrocinadores o rico bolsonarista conhecido como Véio da Havan, quem sabe ele se coça e banca essa transação? Também tem boas relações com Bolsonaro e pode descolar um empréstimo do BNDES, não custa tentar. Em último caso pode vender o estádio da Gávea quase nunca utilizado, a sede da Lagoa, Gabi Gol, Bruno Henrique, Felipe Luís, Arrascaeta... Pode também fazer um crowdfunding com a sua torcida tão apaixonada que poderá cair nessa.
Maiores informações no site do Chelsea.
Pede-se referências, nome limpo no Serasa, pagamento à vista. Moedas do Terceiro Mundo, como Real, nem pensar. PIX também não. Não serão aceitas trocas por terrenos, áreas do pré-sal, instrumentos da charanga rubro negra, títulos do Tesouro Direto ou cheques pré-datados.
Se a compra for fechada, a chave do clube está com o porteiro, em horário comercial, no endereço Stamford Bridge - Fulham Road- SW6 1HS London-Inglaterra.
HH e MJ sabiam das coisas: o ar está irrespirável! • Por Roberto Muggiati
Hughes asséptico |
Michael Jackson paranoico |
Nos dois casos, as máscaras estavam certas. Anunciavam que a atmosfera ia se tornar irrespirável. Hoje, muitos de nós já estamos nos conformando com a ideia de que teremos de usar máscaras para o resto de nossas vidas. O ar ficou fétido, pútrido, não só por obra e graça dos maus tratos que cometemos contra a Natureza (e ela está dando o troco, na medida em que merecemos).
Manifestação da Argentina desmascara Putin |
Putin, Trump, Kim Jong-un e os fantoches nanicos que tentam imitá-los, para citar só alguns.
Sobrou para Winston Churchill. Um político interesseiro e um jornalista entusiasmado comparam o "leão" britânico a Bolsonaro e Zelinsky
Nem com todo o vinho e conhaque que consumia por dia o conservador Churchill... |
imaginaria ser comparado a tipos daextrema direita como Bolsonaro e... |
...Zelinsky, o presidente da Ucrânia eleito na onda da antipolítica |
Ciro Nogueira, o chefe do Centrão, atualmente na Casa Civil, é o dono da chave do cofre público. Em função disso, feliz e realizado, exalta Bolsonaro tantas vezes possa. Hoje, ele não deixou por mesnos e comparou o seu ídolo a Winston Churchill. "Ninguém enfrentou uma guerra como Churchill e ninguém enfrentou uma pandemia como Bolsonaro", derreteu-se. Em sintonia, o jornalista Pedro Dória, do Globo, em artigo, hoje, viu semelhanças entre Churchill e Volodymir Zelinsky, o presidente da Ucrânia. (José Esmeraldo Gonçalves)
quarta-feira, 2 de março de 2022
Mais um “Danúbio Azul” cinéfilo • Por Roberto Muggiati
Cena do filme Stefan Zweig:Adeus Europa. Foto Divulgação |
Na matéria recente do Panis “Clouzot descobriu o Danúbio Azul 15 anos antes de Kubrick”, comentei sobre como o diretor francês Henri-Georges Clouzot antecipara – no seu “Salário do Medo” (1953) – o uso dramático da valsa “Danúbio Azul” no cinema, que assumiu um tom épico em “2001: uma odisseia no espaço” (1968). Falei até que, d.C. (depois de Kubrick), nunca mais ouviríamos a velha valsa de Strauss sem a associar à graciosa dança visual do acoplamento de uma nave espacial com uma estação orbital.
Agora encontrei um “Danúbio Azul” humorístico, beirando o histriônico, no filme austríaco-germânico-francês de 2016, dirigido por Maria Schrader, “Stefan Zweig: Adeus, Europa”, sobre os últimos dias do escritor no Brasil. Um prefeito do interior da Bahia oferece um “presente musical” a Zweig. Vejam aí, dos 46:00 aos 48:00:
terça-feira, 1 de março de 2022
Da Ucrânia, com amor • Por Roberto Muggiati
Adolpho Bloch em Kiev. Foto Manchete |
Sobrinho-neto de Adolpho Bloch, mas já nascido no Brasil, Jonas Bloch brilhou no teatro, cinema e na TV e passou o talento para sua filha, a premiada atriz Deborah Bloch.
Clarice Lispector. Foto Manchete |
Samuel Malamud, nascido em Mogilev-Podolsk, chegou ao Rio em 1923, no auge da perseguição aos judeus com os pogroms da Rússia e Ucrânia. Formado em direito, tornou-se um dos mais conceituados juristas brasileiros e também importante líder da comunidade judaica.
Adolpho Milman, mais conhecido como Russo, nascido na província de Entre Ríos, , foi um futebolista argentino de origem judaico-ucraniana naturalizado brasileiro. É um dos cinco futebolistas que não nasceram no Brasil a ter sido convocado para a Seleção Brasileira. Russo foi um dos grandes artilheiros da história do Fluminense, tendo feito 154 gols em 249 jogos, entre 1933 e 1944, e um dos destaques do famoso "Fla-Flu da Lagoa", na final do Campeonato Carioca de 1941. Russo conquistou quatro campeonatos cariocas, um Torneio Aberto e um Torneio Municipal pelo Tricolor.
Noel Nutels nasceu em Nanaiyev, Ucrânia, e chegou ao Recife ainda menino. Lá se formou pela faculdade de medicina. Mudou-se para Botucatu em 1941 e depois ficaria para o resto da vida no Rio de Janeiro. Tornou-se um dos mais conhecidos indigenistas do país, batalhando pela causa dos povos nativos ao lado dos irmãos Villas-Boas e ajudando com eles a implantar o Parque Indígena do Xingu. Médico da primeira expedição Roncador-Xingu em 1943, acabaria trabalhando para o resto da vida pela saúde dos índios. Dizia: “Eu não clinico, não tenho consultório. Fazia Malária e agora faço Tuberculose. Minha mania: o índio”. Tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente, em Frei Caneca, volta e meia aparecia por lá, pois era casado com a prima, Elisa Trachtenberg, secretária de redação da Manchete.
Agitadora da cena cultural carioca, a psicanalista Irina Popow também veio da Ucrânia. É mãe de Andrucha Waddington, diretor, produtor e roteirista de cinema e publicidade, casado com a atriz e escritora Fernanda Torres.
São Paulo recebeu em 1920 Leon Feffer, nascido em Kolki, que aqui fundou o Grupo Suzano de papel e celulose, que seria expandido por seu filho, Max. Trompetista de jazz na juventude, Max Pfeffer foi Secretário de Cultura do estado e desenvolveu os importantes projetos do Festival de Jazz São Paulo-Montreux e do Festival de Inverno em Campos do Jordão.
Gregori Ilych Warchavchik , nascido em Odessa, foi um dos principais nomes da primeira geração de arquitetos modernistas do Brasil. Chegou a São Paulo em 1923. Naturalizado brasileiro, entre 1927 e 1928, projetou e construiu para si aquela que foi considerada a primeira residência moderna do país.
Nascido em Zolotonosha, Gregório Gregorievitch Bondar foi um agrônomo, entomologista e pesquisador que chegou à Bahia em 1921. Contratado pelo estado como entomologista e patologista de plantas no Departamento de Agricultura morou na Bahia até o final da vida. Em 1932, foi transferido para o Instituto de Cacau da Bahia. Em 1938, foi contratado como consultor técnico pelo Instituto Central de Fomento Econômico da Bahia. Bondar descreveu várias novas espécies de palmeiras. Seu livro "Palmeiras do Brasil" foi publicado postumamente, em 1964, pelo Instituto de Botânica de São Paulo. Descreveu 318 espécies de insetos, incluindo muitas pragas das plantas que estudou. A coleção de Bondar foi adquirida pela fundação David Rockefeller e doada para o Museu Americano de História Natural.
Aleixo Belov, nascido Alexey Dimitrievitch Belov em Merefa, na Ucrânia, em 1943, durante a ocupação alemã é um empresário, engenheiro e navegador radicado em Salvador, Bahia. Aleixo recebeu da Marinha do Brasil o diploma reconhecendo-o como o primeiro navegador a dar uma volta ao mundo em solitário com veleiro de bandeira brasileira, o Três Marias. A viagem é relatada minuciosamente em seu primeiro livro A Volta Ao Mundo Em Solitário, lançado em 1981 pela Editora Nórdica.
Embora nascidos já no país, vários filhos e netos de imigrantes ucranianos marcaram profundamente a vida do Brasil. Radicado em São Paulo, José Ephim Mindlin, cujos pais nasceram em Odessa, além de repórter, advogado, empresário e escritor, membro da Academia Brasileira de Letras, foi sem dúvida o mais famoso bibliófilo brasileiro.
Jacob Gorender e Nicolau Sevcenko, filhos de ucranianos, radicados em São Paulo, figuram entre os mais importantes cientistas políticos do Brasil.
Um dos mais importantes cineastas radicados em São Paulo, Hector Babenco, de ascendência judaico-ucraniana, nasceu na Argentina e naturalizou-se brasileiro. O filme “O beijo da mulher-aranha” lhe valeu a indicação para o Oscar de melhor direção em 1986.
Bakun, autoretrato |
A vida cultural de Curitiba foi marcada por dois filhos de imigrantes da Ucrânia: o pintor Miguel Bakun e a poeta Helena Kolody. Nascido em Mallet, Bakun trabalhou como alfaiate antes de entrar para a marinha. Na Escola de Grumetes no Rio conheceu, como colega de farda, o pintor Pancetti, que o estimulou a desenhar. Um acidente num navio provocou seu desligamento por incapacidade física. Sem eira nem beira em Curitiba, Bakun trabalhou como fotógrafo lambe-lambe, pintor de cartazes e letreiros e decorador de interiores. Autodidata e instintivo, era obcecado por Van Gogh, cuja influência o crítico Sérgio Milliet confirmou a, dizendo que em Bakun inexiste a devida noção da tela, substituída por um excesso de “empastamento”. Bakun pintou paisagens dos arredores de Curitiba, com suas áraucárias e “capões” típicos e as casas de madeira dos imigrantes europeus. Assolado por problemas pessoais e pela ascensão do abstracionismo, Miguel Bakun se suicidou no seu ateliê de Curitiba em 1963, aos 53 anos.
Helena Kolody. Foto UEM. Divulgação |
Helena Kolody foi um contraponto suave ao torturado Bakun. Nasceu em Cruz Machado, no sul do Paraná, a 40km da Mallet de Bakun. Estudou piano e pintura, aos 16 anos publicou seu primeiro verso. Aos 20 iniciou sua carreira de professora do ensino médio. Entre 1949 e 2002 publicou 25 livros, a maioria de poesia. Morreu em 2004 aos 91 anos. Gostava de praticar o haicai, a forma poética minimalista de origem japonesa. Aliás, foi a primeira mulher a publicar haicais no Brasil, em 1941. Alguns exemplos:
• “Corrida no parque/o menino inválido/aplaude os atletas.”
• “O brilho da lâmpada/no interior da morada/empalidece as estrelas.”
• “A morte desgoverna a vida/hoje sou mais velha/que meu pai.”
Denise Stocklos em cena. Foto Manchete |
Em Curitiba – que conta hoje 70 mil descendentes de ucranianos – nasceu Alexi Stival, que se tornaria conhecido como Cuca, o técnico que acaba de encerrar uma carreira vitoriosa como campeão do Brasileirão e da Copa do Brasil pelo Atlético mineiro.
Manifestação. Reprodução imagem RPC |
O drinque da saison: Coquetel Molotov • Por Roberto Muggiati
Molotov |
Na Segunda Guerra, o exército polonês utilizou um dispositivo de ignição por impacto (éter etílico), tornando desnecessária a pré-ignição da arma. Este consistia na adição de ácido sulfúrico à mistura, que iria reagir, após a quebra da garrafa, com uma mistura de clorato de potássio e açúcar, cristalizada sobre um pano enrolado em torno da garrafa.
Em confrontos urbanos e guerrilha urbana são ainda utilizados outros tipos de misturas e dispositivos. O princípio de funcionamento básico da arma reside na dispersão química de líquido inflamável após o impacto num alvo ou no chão. A ignição não é imediata, dando tempo para que uma pequena parte do líquido evapore (éter etílico) o que provocará uma espécie de explosão de fraca potência, que pode ajudar à dispersão do restante líquido sobre uma área maior. O agente adicionado (sabão, detergente ou óleo) aumenta a aderência do combustível ao alvo.
A inovação ucraniana consiste em colocar no interior da garrafa pedacinhos de isopor em meio a óleo e gasolina, para aumentar o potencial incendiário do petardo.
A modelo, influencer e ex-atriz pornô libanesa Mia Khalifa causou polêmica no Twitter ao compartilhar uma ilustração com receita para a produção de um coquetel Molotov. A celebridade de 29 anos – que tem usado suas contas no Twitter e no Instagram para denunciar e criticar o ataque russo à Ucrânia – compartilhou a imagem com as instruções para fabricação da bomba caseira após o Ministério da Defesa da Ucrânia sugerir nas redes sociais que a população local fabrique e utilize coqueteis Molotov para combater o exército russo.
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022
domingo, 27 de fevereiro de 2022
MEMÓRIAS DA REPORTAGEM: Meu primeiro Carnaval na Manchete • Por Roberto Muggiati
O cantor Blacaute no Baile das Bonecas, 1966, no Automóvel Club. Foto Manchete |
Comecei na Manchete como repórter especial em novembro de 1965. A categoria “especial” era porque falava inglês, francês, italiano e arranhava um portunhol, sem mencionar que tinha estudado alemão e japonês (!). Na verdade, eu não devia estar no Rio naquele momento. Nem nunca mais. Seria hoje um aposentado do Brexit, comendo um sanduíche num banco de jardim londrino enquanto lia o Sunday Times. Acontece que, como se dizia na época, “juntei os trapos” com uma brasileira que conheci em Paris. Faltavam três meses para encerrar meu contrato de três anos com o Serviço Brasileiro da BBC e eu havia assinado uma prorrogação de dois anos. Aí a Lina começou a mandar na minha vida – e eu deixei – “Nada disso, você vai voltar pro Brasil e fazer o Itamaraty”, acho que ela sonhava em ser Embaixatriz.
Fiz feio com a BBC, voltando atrás na prorrogação do contrato, voltei para o Brasil, fui reprovado no Itamaraty – fazer a carrière como lacaio da ditadura militar? – e voltei a cair nos braços do jornalismo, que me recebeu de braços abertos para o resto da vida. A esta altura eu já tinha onze anos de carreira: oito anos na redação da Gazeta do Povo de Curitiba, dois anos no Centre de Formation des Journalistes de Paris e três anos na British Broadcasting Corporation de Londres. Mas isso não me impedia de sentir meio “foca” naquele cenário soturno de Frei Caneca.
E então veio o Carnaval e me vi despojado do “especial” para cair na vala comum da cobertura da folia. Se bem que a Manchete investisse em sofisticação, os repórteres cobriam os bailes de smoking, alugados das melhores lojas. Lembro de ter ido ao apartamento que os primos Lucas Mendes e Ricardo Gontijo, colegas de reportagem, dividiam na Henrique Dumont, em Ipanema. Todos devidamente enfarpelados de smoking e black tie, calibramos com algumas doses de Scotch puro. Mas eu tinha um problema que eles não tinham, minha mulher era uma feminista. Feminista radical num país machista, numa cidade machista, numa revista machista. Aonde eu ia, tinha de ir junto. Inclusive à cobertura de Carnaval da Manchete.Lina era uma contradição ambulante. De ascendência aristocrática por parte de mãe – os Castro Neves da Bahia – foi casada com um dos maiores doleiros do Rio, o judeu Daniel Tolipan, formaram o Casal 20 da esquerda festiva nos anos pré-golpe, recebia à larga com cristais, prataria e porcelana, tinha até um mordomo, o Emílio – um agregado da família Epitácio Pessoa – que eu acabaria herdando quando melhorei de vida. E tinha o feminismo, da linha Simone de Beauvoir.
Meu primeiro compromisso do Carnaval era cobrir, no sábado, o Baile das Bonecas, no Automóvel Clube, no Passeio Público, uma farra colorida capitaneada por Blecaute, com seu infalível uniforme de General da Banda. A cultura gay estava em alta, nos anos 1950 havia o Baile dos Enxutos, agora, além das Bonecas, havia o desfile de travestis no Paulistinha, viriam então o Baile das Panteras, o Gala Gay do Scala, Uma Noite em Bagdá no Monte Líbano e outros subsidiários. O Baile das Bonecas foi minha prova de fogo, deixo para o final.Os outros compromissos foram feijão com arroz, incluindo um baile infantil vespertino no Teatro Municipal. No desfile das escolas de samba, coube-me cobrir a Vila Isabel, tive um encontro prévio na redação com Martinho da Vila, figura simpaticíssima, acompanho até hoje seus merecidos sucessos. A Vila, que voltava ao primeiro grupo depois de oito anos nos grupos inferiores, até que seu saiu bem, com um quarto lugar, desfilando “Três Épocas do Brasil”. Mas a Portela arrasou com “Memórias de um Sargento de Milícias” (samba-enredo de Paulinho da Viola), que foi campeã, um ponto à frente da Mangueira, que homenageou Villa-Lobos, morto em 1959. Em terceiro, o Império Serrano exaltou a Bahia.
Voltando ao dilema do Baile das Bonecas. Se eu ia de smoking, Lina se pôs a matutar: “Com que roupa eu vou?” De repente, teve uma ideia brilhante. Nos seus tempos de dondoca, vestia-se exclusivamente com criações de um jovem amigo, promessa da alta costura brasileira. “Vamos à casa do Gui-Gui”. Guilherme Guimarães morava num apartamento antigo em Copacabana com os avós. Pediu que Lina ficasse só de calça e sutiã. Puxou de um armário uns dois metros de tecido, uma estamparia floral multicolorida que despontava nos swinging sixties. Com movimentos rápidos e ágeis, começou a embrulhar Lina como acho que faziam nas múmias no tempo dos faraós. Pronto. Resolvido. E lá fui eu de smoking para o baile do Automóvel Clube acompanhado de uma... boneca.