Tropas brasileiras desembarcam em São Domingos. Foto Esko Murto/Manchete |
Os militares chamaram a tropa - cerca de 4 mil soldados, a maioria recrutas - de "Pracinhas". Uma injustiça com a Força Expedicionária que lutou na Itália, na Segunda Guerra Mundial. Naquela ocasião, combatia-se o fascismo de Mussolini e o nazismo de Hitler. Em São Domingos, o sinal foi trocado: a invasão atendia a um pedido ou ordem dos Estados Unidos para apoiar um golpe político de direita. Em 1961, um atentado matou o ditador Rafael Trujillo, que comandava o país desde 1930. Com a convocação de eleições livres em 1962 - as primeiras desde 1914 - foi eleito Juan Bosch, um político de oposição. Sete meses depois, acusado de adotar políticas esquerdistas, Bosch foi deposto e a Constituição cancelada. Um triunvirato assumiu o poder. E em abril de 1965, um grupo de jovens oficiais se rebelou, botou algumas tropas nas ruas e distribuiu armas à população exigindo a volta do eleito Bosch. Os Estados Unidos, que apoiaram a longa ditadura de Trujillo, organizaram uma operação para conter os rebeldes. e implantar um "governo amigo". Lyndon Johnson temia uma "nova Cuba" e os brasileiros foram "convidados" a participar da operação Power Pack, juntando-se a tropas dos Estados Unidos, Paraguai, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e El Salvador. No fim, a insurreição foi derrotada e eleições controladas colocaram no poder o caudilho Joaquin Balaguer, político amestrado pelo Estados Unidos. Ele manobrou para ser sucessivamente reeleito impondo novo regime autoritário à República Dominicana.
Na operação, o Brasil submisso contabilizou quatro mortos e dezenas de feridos. A ditadura acumulou mais uma vergonha na sua folha corrida de desprezo pela democracia. E a imprensa brasileira, Manchete inclusive, como se vê, assumiu o vexame de tratar uma intervenção que reimplantou um regime autoritário como de épico heroismo.
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