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Reproduções Twitter |
por O.V.Pochê
Dia 30 de novembro de 2021. Qualquer semelhança com pessoas ou fatos não é mera coincidência. O golpe de Estado há meses planejado por Bolsonaro e seus apoiadores foi às ruas ontem. Dessa vez colou. Rebelião militar, tropas de milicianos reforçada por "traficantes de Jesus", piquetes violentos de caminhoneiros, batalhões dos "clubes de tiro e caça", "ovelhas" carregando cruzes tomaram as ruas. Há registros de agressões a opositores, mulheres espancadas por circular de shorts e saias curtas, caça a políticos, intelectuais, artistas, líderes dos movimentos sociais, jornalistas, professores. Em rede nacional, Bolsonaro se apresentou no parlatório do Palácio do Planalto usando uniforme camuflado e prestando continência ao desfile de adeptos que carregavam tochas e estandartes. Sob aplausus, o líder supremo anunciou seu ministério com o melhor do seu staff. A comunicação veio através do AI-18. O governo fez questão de retomar à sequência dos 17 atos da ditadura militar.
Economia - Fabrício Queiroz
Defesa - Roberto Jefferson
Transportes - Zé Trovão
Religião - Silas Malafaia
Justiça - Collor de Mello
Presidente do Banco Central - Aécio Neves
Presidente da Petrobras - Veio da Havan
Presidente da Caixa Econômica - Faraó do Bitcoin
Embaixador nos Estados Unidos - Renan Bolsonaro
Saúde - Ivanildo Motoboy
Casa Civil - General Pazuello
Casa Militar - Ronnie Lessa
Secretaria da Mulher - Dr. Jairinho
Secretaria de Esportes - Maurício (do vôlei) Souza
Meio Ambiente - Major Curió
Vice-presidente General Villas-Boas
Agricultura - Wal do Açaí
Relações Exteriores - Regina Duarte
Secom - Sikêra Júnior
Comunicações - Bispo Macedo
Advogado Geral da União - Frederik Wassef
Cultura - Sergio Reis
PF - PM Daniel Siveira
PR (Polícia Religiosa) - Marco Feliciano
Embaixador no Afeganistão - Hamilton Mourão
Embaixador no Iémen - Paulo Guedes
Presidente dos Correios - Michel Temer
Jean-Paul Belmondo e Laura Antonelli no Corcovado, em 1974. O ator quis ficar incógnito da cidade. Manchete o localizou. Foto Frederico Mendes/Manchete |
Em 1963, ele filmava "O Homem do Rio" e posou para Manchete na Praça Maupa. Foto de Antonio Nery/Manchete |
Belmondo brincalhão: em frente ao Museu Naval, o ator faz continência para um oficial. Foto de Antonio Nery/Manchete |
"Ele estava cansado". Foi o comunicado do advogado de Jean-Paul Belmondo quando os repórteres indagaram sobre a causa da morte do ator. Ele morreu hoje, em casa, em Paris, tranquilamente, segundo a família, aos 88 anos. Belmondo fez 80 filmes. Um deles, "O Homem do Rio", de Philippe de Broca, filmado no Brasil. Sua carreira inclui de filmes da nouvelle vague, como "O Acossado" e "Pierrot Le fou", de Goddard, a "A Sereia do Mississipi", de François Truffaut, "Borsalino, de Jacques Deray, "Os Miseráveis, de Claude Lelouch.
Cena do último filme de Belmondo, em 2008. Foto Divulgação |
Belmondo veio ao Rio em outras duas ocasiões, além dos dias que passou na cidade para as filmagens de "O Homem do Rio". Em uma das visitas, acompanhado da atriz Laura Antonelli, quis ficar incógnito, mas Manchete o achou. Ficou irritado ao ser fotografado, mas logo recuperou o humor.
Em foto publicada na Manchete em 1968, Theodorakis reencontra a família- a mulher Myrto e os filhos Margaret e George - após deixar a prisão imposta pela ditadura dos coronéis gregos. |
por José Esmeraldo Gonçalves
As milicias bolsonaristas pedem golpe e ditadura. O Brasil já sofreu muito desses dias de morte. Ontem, às vésperas do dia 7 de setembro que Bolsonaro anuncia como de "ultimato" às instituições democráticas, morreu, aos 96 anos, Mikis Theodorakis. O compositor também viveu uma ditadura cruel: a dos coronéis gregos, torturadores, assassinos e corruptos como aqueles que jogaram o Brasil em trevas de 21 anos.
Autor de uma vasta obra, Theodorakis ganhou fama em 1964, ano em que foi lançado "Zorba, o Grego", para o qual ele criou a trilha sonora. A "Zorba's Dance, o sirtaki, tornou-se uma fenômemo mundial. É clássica a cena onde Anthony Quinn e Alan Bates dançam em uma praia do vilarejo de Stavros, na ilha de Creta.
Além da música, a liberdade era paixão e motivação de Theodorakis. Ele lutou durante a Segunda Guerra ao lado da resistência contra os nazistas e foi preso e torturado na guerra civil que abalou a Grécia após o conflito mumdial.. Em 1967, quando os coroneis gregos deram um golpe e instalaram a ditadura, Theodorakis foi preso. Era tanto o ódio que os militares tinham da sua militância, que o Tribunal Militar de Aternas condenou um cidadão a três anos de prisão só porque foi surprendido ao ouvir em uma vitrola uma gravação de "Zorba, o grego". Theodorakis só não foi assassinado como muitos dos seus conterrâneos, porque uma campanha mundial pressionou o regime. Mais recentemente, ele foi às ruas protestar contra o cerco neoliberal à Grécia, que impôs um austeridade econômica que dizimou empregos e levou famílias à pobreza em benefício do "mercado" e dos especuladores e traficantes de dinheiro da banca internacional.
Manifestar-se contra a opressão econômica, a nova forma de ameaça à liberdade, foi sua última luta.
Theodorakis estava interado em um hospital de Atenas. A causa da morte não foi informada.
O Movimento Geração 60 Sempre na Luta levou à ABI, OAB e CNBB, entidades historicamente compormetisdas com a liberdade, os direitos humanos e a democracia uma Carta Aberto assinada por mais de 2.500 pessoas. O gesto marca a posição dos jovens dos das décadas de 1960 que enfrentaram a ditadura militar, muitas vezes ao custo de vidas, prisões, torturas e exílio. O manifesto é divulgado no momento em que a democracia está ameaçada por Bolsonaro e seus milicianos e o país sofre pelo seu negacionismo e o catastrófica política de enfentramento da pandemia que matou brasileiros e - como a CPI do Sebnado já apurou, enriqueceu "parças" do governo federal -, o desemprego, a pobreza crescente, o desastre que é a condução da política econômica e a pregação aberta de um golpe de estado.
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Mary Shelley por Richard Rothweel, 1840 |
Numa noite erma de sábado em Curitiba, quatro meses antes do pleito de 3 de outubro de 1960, três ou quatro jovens redatores da Gazeta do Povo fomos abduzidos e levados ao casarão senhorial dos Camargo na Praça Osório. Lá nos apresentaram a um senhor de bigode e de óculos de aros pesados pretos, gravata e terno idem, aparentando mais do que os seus 43 anos. Era Jânio da Silva Quadros, acompanhado da mulher, dona Eloá, e da filha, Dirce Maria – Tutu para os íntimos – que em breve sairiam do anonimato para os papeis de Primeira Dama e Primeira Filha.
O “Homem da
Vassoura” não me causou a menor impressão e não guardei a mais vaga lembrança
do que falamos – embora os anfitriões nos pedissem encarecidamente silêncio
absoluto sobre o encontro. O único detalhe que me marcou foram os vestígios de
caspa sobre as ombreiras do terno escuro de Jânio. Aquilo entrou para o
folclore político, diziam até que Jânio tinha fornecedores exclusivos de
seborreia...
Colecionei
presidentes desde a infância, Getúlio apertou minha mão quando eu tinha cinco
anos, na inauguração da Grande Exposição de Curitiba de 1942, organizada por
meu tio Achilles Muggiati; depois encarei o general Dutra de uniforme de gala
(ambos) na inauguração do Colégio Estadual do Paraná em 1950; JK e Jango
entrevistei em Curitiba como repórter – passei ao largo dos generais da
ditadura – Sarney, Collor, FHC, Lula e por aí vai. Já o atual, como se dizia na
Manchete, nemporunca!
Quando Jânio
fez forfait em 1961, li a manchete no
New York Herald Tribune em Paris, na
banca do American Express, perto da Opéra, agendando meu Grand Tour da Itália
nos meses de setembro e outubro. A bolsa de estudos de dois anos em Paris
emendou com um contrato de três anos para trabalhar em Londres no Serviço
Brasileiro da BBC, o que me poupou até meados de 1965 da ditadura militar, mas
eu não imaginava que teria de amargar – como cidadão e jornalista – mais vinte
anos de repressão e censura. Tudo, em última análise, por causa da leviandade
do Sr. Jânio da Silva Quadros.
A foto de Victor J. Blue, do Instagram do fotojornalista, mostra a agonia de um jovem afegão ferido em atentado no aeroporto de Cabul. Foi publicada ontem nos principais jornais do mundo |
A mesma foto, invertida, remete ao quadro de... |
Jacques-Louis David que retrata o revolucionário Marat assassinado na banheira. |
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E, finalmente, a recriação da obra de David por Vik Muniz que exibe o catador de lixo Sebastião. |
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A posse: 31 de janeiro de 1961. |
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A renúncia: 25 de agosto de 1961 |
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No "bilhetinho" ao Congresso as "forças terríveis" como justificativa para cair fora |
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Até o figurino era ridículo. O povão apelidou de pijânio a vestimenta que Jânio copiou de Nehru |
O grande diferencial em toda essa história foi Cuba, que em 1º de janeiro de 1959 se tornou um país comunista radical a apenas 200 km dos Estados Unidos. Fidel virou o bicho-papão da classe média conservadora e dos militares e empresários de direita brasileiros e ensejou também a interferência crescente dos Estados Unidos (através dos canais oficiais e da CIA) em nossa política interna.
A renúncia de Jânio no Dia do Soldado, há 60 anos, fez com que vivêssemos 21 anos em que todo dia era Dia do Soldado – de preferência, do General.
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Reprodução Folha de São Paulo -21-8-2021. Clique na imagem para ampliar. |
O negócio era uma espécie de feirão de mensagens do governo.
“Quero beber, cantar asneiras” – quem melhor antecipou o espírito da pandemia foi Manuel Bandeira. Guimarães Rosa, talvez só um pouquinho: “Viver é muito perigoso”. Sério demais pro meu gosto.
A pandemia fez do comum dos mortais aquilo que nem milhares de páginas de Sartre e Heidegger conseguiram. Viver o hoje. Abraçar o caos. Ela o obrigou a adotar o bordão de Chiquita-bacana-lá-da-Martinica, que, existencialista com toda a razão, “só faz o que manda o seu coração”.
Há quem não goste, há quem impaciente. Pô, quando é que vai acabar esse desgracido baile de máscaras?
O “novo normal” já passou sem sequer chegar. Ficamos pro que der e vier, sem eira nem beira, seguindo nosso caminho aos trancos e barrancos. Antenados no alerta dos baianos: “É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”.
O ansiado fim da pandemia colocou a vida no palco do Teatro do Absurdo: somos todos vagabundos anônimos à beira da estrada esperando um Godot que nunca vai chegar.
Da minha parte, não tenho queixas. Desde que a Manchete faliu há vinte e um anos eu já vivia confinado, antes disso até merecera do Alberto o apelido de Eremita. Continuei escrevendo matérias sobre deus-e-todo-o-mundo (já leram A influência cultural do chapéu coco?), traduzindo livros (entre os últimos as "bacantes" Patricia Highsmith e Amy Winehouse. Apesar da Covid-19, não renunciei minha à saidinha diária. Escrevi até um “haicai safado”:
Pandemia?
Mamma Mia!
saio todo dia...
Além dos haicais, continuei cultivando outro dos meus cacoetes, rabiscar caras & bocas em discos de isopor de minipizzas.
À guisa de despedida, com um viés levemente narcísico (sim, venho me reconciliando também com a canastrice dos clichês), ofereço a tapa minha carantonha oitentona, ostentando com orgulho os rascunhos de autorretrato que chamo de meus emuggis...
Diz a lenda que Roque teria nascido com um sinal no peito em forma de cruz avermelhada que o predestinava à santidade. Herdeiro de importante família de Montpellier, seria o herdeiro de considerável fortuna. Órfão de pai e mãe muito jovem, foi criado por um tio. Teria estudado medicina na sua cidade natal, não concluindo os estudos. Desde muito cedo optou uma vida ascética, praticando a caridade. Ao chegar à maioridade, distribuiu todos os seus bens aos pobres. Deixando uma pequena parte confiada ao tio, partiu em peregrinação a Roma. Ao chegar às proximidades de Viterbo, encontrou-a assediada pela grande epidemia da Peste Negra. Ofereceu-se prontamente como voluntário na ajuda aos doentes, fazendo as primeiras curas milagrosas, usando apenas um bisturi e o sinal da cruz. Onde surgia um foco de peste, lá estava Roque ajudando e curando, revelando-se cada vez mais um místico e taumaturgo. Depois de visitar Roma, onde rezava diariamente sobre o túmulo de São Pedro e onde também curou vítimas da peste, voltou para Montpellier. No meio da viagem, foi ele próprio tomado pela doença. Para não contagiar ninguém, isolou-se na floresta, onde teria morrido de fome se um cão não lhe trouxesse diariamente um pão e se da terra não tivesse nascido uma fonte de água com a qual matava a sede. O cão pertenceria a um homem rico que, percebendo miraculosamente a presença de Roque, o ajudou.
Curado milagrosamente, ao voltar a Montpellier foi acusado de espionagem e encarcerado por cinco anos, até morrer, abandonado e esquecido por todos. Só então foi reconhecido, pela cruz que tinha marcada no peito.
No Brasil, a cidade de São Roque (“Terra do Vinho”), na região de Sorocaba, festeja o padroeiro do primeiro domingo de agosto até o dia 16. de agosto. Fundada na segunda metade do século XVII pelo bandeirante Pedro Vaz de Barros, a aldeia surgiu de uma enorme fazenda e uma capela que ele e dedicou a São Roque. Essa área foi comprada em 1936 pelo escritor Mário de Andrade, que queria erguer ali um retiro para artistas e intelectuais. Por vontade expressa de Mário, morto em 1945, o local foi doado à municipalidade e é hoje um centro cultural.
As Festas de Agosto em São Roque abrem com a entrada dos carros de lenha e vão até o dia 16 de agosto com uma monumental procissão dedicada ao Santo. Os shows incluem todo tipo de música, até pagode: é bom lembrar que, nas religiões afro-brasileiras, São Roque (com São Lázaro) é sincretizado como o orixá Omolu/Obaluaiê.Este ano, a Paróquia de São Roque “cancelou os shows, a entrada dos carros de lenhas, as alvoradas e procissões da Festa devido aos números da pandemia que ainda persiste na cidade. As celebrações litúrgicas e missas, porém, vão acontecer com a presença de fiéis conforme os protocolos de saúde recomendados pela e pelo Ministério da Saúde do Brasil.”
Faz sentido. O Santo que protege contra as pandemias está sempre atento e forte, como vem fazendo ao longo dos últimos oito séculos.
Roberto Muggiati entrega Polanski, em 1988, foto do cineasta quando fez sua primeira visita à Manchete, em 1974. Ao fundo o jornalista Arnaldo Bloch e Anna Bentes Bloch. Foto: Acervo Pessoal |
Nasceu em Paris em 1933, filho único de poloneses, o pai judeu, a mãe católica de ascendência russa. Num gesto desastrado do pai, a família voltou em 1936 para a Polônia, um dos principais alvos do antissemitismo de Hitler. A mãe morreria em Auschwitz; o pai, internado num campo de extermínio austríaco, seria um dos raros judeus poloneses a escapar do Holocausto. E o menino Roman sobreviveria em fuga na zona rural quase na mendicância, escondendo-se em fazendas de famílias católicas. (O pianista, filme sobre um judeu de Varsóvia que consegue o milagre de sobreviver aos seis anos de guerra, é fortemente autobiográfico.)
Quando a guerra terminou Roman tinha doze anos e acabaria reencontrando o pai: da opressão nazista, passaram a viver os terrores do estalinismo.
O talentoso Polanski abriu as portas do mercado internacional com Faca nágua em 1962. Em agosto de 1967 começou a rodar O bebê de Rosemary, em que uma jovem inocente é escolhida por um grupo satânico para parir o filho do demônio. Ela mora em Nova York no sinistro edifício Dakota, onde John Lennon seria assassinado treze anos depois. A atriz principal, Mia Farrow, ameaçou abandonar as filmagens quando recebeu no set, diante de toda a equipe, das mãos de um oficial de justiça, um inesperado pedido de divórcio de Frank Sinatra, trinta anos mais velho, com quem foi casada dois anos.
No dia 9 de agosto de 1969, em Los Angeles, o bando de Charles Manson chacinou a mulher de Polanski, Sharon Tate – grávida de oito meses e meio – mais uma amiga e dois amigos que passavam a noite de sábado em sua casa, e também o jovem caseiro. As paredes da casa foram pixadas de palavrões escritos com o sangue das vítimas. Foi um trágico equívoco: os Polanski tinham alugado a casa do filho de Doris Day, Terry Melcher, produtor musical que se recusou a gravar Manson, cantor e guitarrista medíocre com ambições a superstar Como vingança, Manson mandou os fanáticos da sua “Família” matarem todo mundo na casa, acreditando que Melcher ainda morava nela. Polanski deveria estar lá naquela noite, mas à última hora foi retido em Nova York para assinar um documento na segunda-feira.
Encontrei Polanski pela primeira vez pouco antes, no Rio, em março de 1969, no 2º Festival Internacional de Cinema, onde ele concorria com O bebê de Rosemary. Numa brincadeira de mau gosto (Roman é um eterno moleque, adoro esse lado dele...), tentou jogar Jane Birkin na piscina do Copacabana Palace, a moça passou raspando por mim como um foguete e quase me arrastou consigo para as águas. (Jane estrelava Wonderwall, filme com a trilha sonora de George Harrison).
Em 1974, voltei a encontrar Polanski, desta vez com Jack Nicholson, na visita que fizeram à Manchete promovendo o filme Chinatown. A grande encrenca da sua vida o esperava em 1977 na casa de Jack Nicholson em Los Angeles. Escalado pela revista Vogue para fotografar uma ninfeta de treze anos numa piscina, Polanski não perdeu a viagem e transou com a menina, levemente dopada por um Boa Tarde, Cinderela. Acusado de abuso sexual, ficou preso 74 dias e foi solto após pagar fiança. Ao saber em 1978 que seria preso definitivamente, Polanski alugou um jatinho e escapou pelo México. Há 43 anos, a justiça norte-americana o caça implacavelmente, embora a “ninfeta”, hoje uma rechonchuda senhora de 58 anos, tenha perdoado Polanski. Em 2009, foi preso na Suíça – onde tem uma casa em Gstaad – e quase extraditado para os EUA.
Nosso terceiro encontro foi em 88, quando ele visitou novamente a Manchete, com a atriz que se tornaria sua mulher até hoje e mãe de seus dois filhos, Emmanuelle Seigner. Adolpho Bloch o convidou para um chá das cinco en petit comité no restaurante do Russell, os dois se conheciam desde os anos 60, quando a sucursal da Manchete em Paris ficava no prédio de Polanski na Avenue Montaigne. Polanski se atrasou porque ficou mais de meia hora na calçada numa intensa DR com a mulher. Chegou falando em russo: “Pô, Adolpho, chá? Você me convida para um chá? Eu queria mesmo é uma boa vodca polonesa!” Em segundos surgiu uma garrafa glacialmente gelada de Wiborowa, a marca favorita de um cracoviano célebre, Karol Wojtyla, o Papa João Paulo II. E o ucraniano e o polonês parisiense se enredaram num longo papo em russo, deixando o resto do pessoal por fora.
Aproveitei a ocasião para entregar a Polanski uma cópia da foto dele com Jack Nicholson feita na visita de 1974. Pena que a Manchete tenha fechado as portas em agosto de 2000. Não fosse isso – estou seguro – teríamos recebido outras visitas do nosso querido amigo Roman.
PS • Especulando se o fato de Polanski ter filmado O bebê de Rosemary no edifício Dakota teria algo a ver com o assassinato de John Lennon, lembrei que, na verdade, foi Lennon quem, involuntariamente, teve um importante papel no assassinato de Sharon Tate em agosto de 1969.
Ouça o Helter Skelter AQUI
https://www.youtube.com/watch?
Atualização em 19-8-2021 -
Cabala nazista
De Edimburgo, meu filho me ensina que 88, nos países de língua germânica durante a 2ª Guerra significava “Heil, Hitler!” Sendo H a oitava letra do alfabeto, 88=HH. Polanski, assim, involuntariamente, homenageia com sua nova idade o Führer. Eu também, com meu nome. Nascido em 1937, meu pai queria que eu me chamasse Benito. Minha mãe não quis, de jeito nenhum. Então ele optou por Roberto. Um nome simples só na aparência: Mussolini o indicava para os apoiadores do nazifascismo porque suas três sílabas correspondiam às primeiras sílabas das capitais do Eixo: ROma + BERlim + TOquio. Meu pai – como todo mundo nos estados do Sul e até o próprio Presidente Getúlio Vargas – era simpatizante do Eixo. A propaganda foi uma arma terrível a mais que os Aliados tiveram de enfrentar. Nas manifestações diante do Palácio do Catete, no final dos anos 1930, os apoiadores do Duce e do Führer hospedavam-se no Florida Hotel. As letras do seu nome formavam o anagrama de Adolfo Hitler. Mesmo com essa sopa de letras infernal, o Eixo Kaput!, em boa gíriacarioca, sifu! (Roberto Muggiati)
Imagem/Simulação Nasa
por O. V. Pochê
A Nasa informou ontem aos navegantes da Terra: o asteroide Bennu poderá colidir com o nosso planeta no dia 24 de setembro de 2.135. Caso aconteça, a vida nesse nosso CEP espacial será extinta. Nem os cientistas estão chocados com a notícia. É desimportante. Lamento dizer que daqui a 134 anos haverá pouco ou nada a extinguir na Terra. Palavra da ciência.
Siga esse pequeno exercício futurista ambiental.
O Brasil que hoje basicamente produz commodities predatórias (mineração, exploração madeireira, agronegócio, petróleo, aço, etc), de enormes impactos ambientais, já sofre os efeitos da devastação e degradação (está aí a crise do clima com impacto na geração de energia) estará entre os países onde a tragédia ambiental se agravará bem antes, provavelmente o segundo no ranking após a África.
- Os surtos epidêmicos que começaram com a aceleração do desmatamento serão frequentes e levarão até lá milhões de vida a cada ano.
- A desertificação da Amazônia, do Nordeste e do Centro Oeste terá transformado parte do Brasil em um deserto. Processos já em andamento no Cerrado, na Bahia, Pernambuco e Ceará. Sem camelos, que estarão extintos. Sem cachaça, que a cana de açúcar só poderá ser encontrada em museus biológicos.
- Por motivos óbvios, a energia solar será predominante. Mas antes disso, com usinas hidrelétricas inviabilizadas por falta d'água, os governos investirão em usinas nucleares.
- A capital Brasília terá sido abandonada há muitos anos por excesso de ar seco e risco de desidratação. Com o Brasil governado por milícias desde os anos 40 do século anterior, a capital mudou-se para um condomínio da Barra da Tijuca.
- Os políticos morarão em torres de 2km de altura construídas com verba de 2 trilhões em emendas parlamentares. O objetivo é evitar contato com o povaréu revoltado. Só se reunirão por meio de holografia. Eleições acontecerão de 15 em 15 anos. As urnas serão biotecnológicas. colherão o DNA do eleitor, mas a exigência secular do voto imprenso continua vigente.
- O Brasil continuará governado pela Dinastia Zero. O presidente da vez é o Capitão 036.
- A fome devasta a população apesar do programa do governo Auxílio Brasil, que distribui latas de Leite Moça e bolacha Maria em compra intermediada pela Covachin Br, a maior empresa brasileira, uma gigante centenária, fornecedora exclusiva do governo e famosa por ganhar todas as concorrências lançadas desde o distante 2020.
- Viveremos em uma teocracia neopentecostal. A guarda fundamentalista percorrerá as ruas punindo que não participa das três edições da "fogueira santa" diárias, quem não porta sua mochila com "óleo de Judá", "farofa de Nazaré" e o "cheaseburguer sagrado de Elias". .
- O novo Estatuto do Armamento permitirá a cada pessoa portar 15 fuzis de raio laser, 20 granadas de ulrtrassom, um aeromóvel de combate e andar com guarda pessoal formada por generais da reserva do histórico batalhão que leva o nome do heró nacional Augusto Heleno. .
- O asteroide atingirá o Brasil no dia previsto pela Nasa e exatamente na data em que desde décadas se comemora o Dia da Motociata Patriótica Voadora, a maior comemoração anual da Milícia Federativa do Brasil.
- A boa notícia é que em 2.135 o Brasil não será mais considerado República de Bananas. A designação não faz mais sentido. A banana está extinta desde o ano 2085.
- Bom fim de semana.
O lançamento de "Minha vida na Rede Manchete e algumas histórias da TV e do Rádio" acontecerá nesta sexta-feira, 13/08, a partir das 19h30, no restaurante Garota da Gávea, Praça Santos Dumont, Rio de Janeiro (RJ). Como pesquisador, Santoro também mantém viva a memória da Rede Manchete no site https://manchete.org/historia/ e em postagens do You Tube.