Diz a lenda que Roque teria nascido com um sinal no peito em forma de cruz avermelhada que o predestinava à santidade. Herdeiro de importante família de Montpellier, seria o herdeiro de considerável fortuna. Órfão de pai e mãe muito jovem, foi criado por um tio. Teria estudado medicina na sua cidade natal, não concluindo os estudos. Desde muito cedo optou uma vida ascética, praticando a caridade. Ao chegar à maioridade, distribuiu todos os seus bens aos pobres. Deixando uma pequena parte confiada ao tio, partiu em peregrinação a Roma. Ao chegar às proximidades de Viterbo, encontrou-a assediada pela grande epidemia da Peste Negra. Ofereceu-se prontamente como voluntário na ajuda aos doentes, fazendo as primeiras curas milagrosas, usando apenas um bisturi e o sinal da cruz. Onde surgia um foco de peste, lá estava Roque ajudando e curando, revelando-se cada vez mais um místico e taumaturgo. Depois de visitar Roma, onde rezava diariamente sobre o túmulo de São Pedro e onde também curou vítimas da peste, voltou para Montpellier. No meio da viagem, foi ele próprio tomado pela doença. Para não contagiar ninguém, isolou-se na floresta, onde teria morrido de fome se um cão não lhe trouxesse diariamente um pão e se da terra não tivesse nascido uma fonte de água com a qual matava a sede. O cão pertenceria a um homem rico que, percebendo miraculosamente a presença de Roque, o ajudou.
Curado milagrosamente, ao voltar a Montpellier foi acusado de espionagem e encarcerado por cinco anos, até morrer, abandonado e esquecido por todos. Só então foi reconhecido, pela cruz que tinha marcada no peito.
São Roque é geralmente representado em trajes de peregrino, por vezes com a vieira típica dos peregrinos de Santiago de Compostela, e com um longo bordão do qual pende uma cabaça. Um das pernas é geralmente desnudada, mostrando no joelho uma ferida (o bubão da peste). Por vezes é acompanhado por um cão, que aparece ao seu lado trazendo-lhe na boca um pão. Os peregrinos do Caminho de São Tiago de Compostela chamam a atenção para a carta “O Louco”, do Tarô de Marselha, que lembra muito São Roque, com seu ar de viajante, o bordão e um cachorro que lhe sobe pela perna.
No Brasil, a cidade de São Roque (“Terra do Vinho”), na região de Sorocaba, festeja o padroeiro do primeiro domingo de agosto até o dia 16. de agosto. Fundada na segunda metade do século XVII pelo bandeirante Pedro Vaz de Barros, a aldeia surgiu de uma enorme fazenda e uma capela que ele e dedicou a São Roque. Essa área foi comprada em 1936 pelo escritor Mário de Andrade, que queria erguer ali um retiro para artistas e intelectuais. Por vontade expressa de Mário, morto em 1945, o local foi doado à municipalidade e é hoje um centro cultural.
As Festas de Agosto em São Roque abrem com a entrada dos carros de lenha e vão até o dia 16 de agosto com uma monumental procissão dedicada ao Santo. Os shows incluem todo tipo de música, até pagode: é bom lembrar que, nas religiões afro-brasileiras, São Roque (com São Lázaro) é sincretizado como o orixá Omolu/Obaluaiê.Este ano, a Paróquia de São Roque “cancelou os shows, a entrada dos carros de lenhas, as alvoradas e procissões da Festa devido aos números da pandemia que ainda persiste na cidade. As celebrações litúrgicas e missas, porém, vão acontecer com a presença de fiéis conforme os protocolos de saúde recomendados pela e pelo Ministério da Saúde do Brasil.”
Faz sentido. O Santo que protege contra as pandemias está sempre atento e forte, como vem fazendo ao longo dos últimos oito séculos.