Numa noite erma de sábado em Curitiba, quatro meses antes do pleito de 3 de outubro de 1960, três ou quatro jovens redatores da Gazeta do Povo fomos abduzidos e levados ao casarão senhorial dos Camargo na Praça Osório. Lá nos apresentaram a um senhor de bigode e de óculos de aros pesados pretos, gravata e terno idem, aparentando mais do que os seus 43 anos. Era Jânio da Silva Quadros, acompanhado da mulher, dona Eloá, e da filha, Dirce Maria – Tutu para os íntimos – que em breve sairiam do anonimato para os papeis de Primeira Dama e Primeira Filha.
O “Homem da
Vassoura” não me causou a menor impressão e não guardei a mais vaga lembrança
do que falamos – embora os anfitriões nos pedissem encarecidamente silêncio
absoluto sobre o encontro. O único detalhe que me marcou foram os vestígios de
caspa sobre as ombreiras do terno escuro de Jânio. Aquilo entrou para o
folclore político, diziam até que Jânio tinha fornecedores exclusivos de
seborreia...
Colecionei
presidentes desde a infância, Getúlio apertou minha mão quando eu tinha cinco
anos, na inauguração da Grande Exposição de Curitiba de 1942, organizada por
meu tio Achilles Muggiati; depois encarei o general Dutra de uniforme de gala
(ambos) na inauguração do Colégio Estadual do Paraná em 1950; JK e Jango
entrevistei em Curitiba como repórter – passei ao largo dos generais da
ditadura – Sarney, Collor, FHC, Lula e por aí vai. Já o atual, como se dizia na
Manchete, nemporunca!
Quando Jânio
fez forfait em 1961, li a manchete no
New York Herald Tribune em Paris, na
banca do American Express, perto da Opéra, agendando meu Grand Tour da Itália
nos meses de setembro e outubro. A bolsa de estudos de dois anos em Paris
emendou com um contrato de três anos para trabalhar em Londres no Serviço
Brasileiro da BBC, o que me poupou até meados de 1965 da ditadura militar, mas
eu não imaginava que teria de amargar – como cidadão e jornalista – mais vinte
anos de repressão e censura. Tudo, em última análise, por causa da leviandade
do Sr. Jânio da Silva Quadros.