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quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Ainda Jânio: “Não qui-lo, mas vi-lo” • Por Roberto Muggiati

 

Numa noite erma de sábado em Curitiba, quatro meses antes do pleito de 3 de outubro de 1960, três ou quatro jovens redatores da Gazeta do Povo fomos abduzidos e levados ao casarão senhorial dos Camargo na Praça Osório. Lá nos apresentaram a um senhor de bigode e de óculos de aros pesados pretos, gravata e terno idem, aparentando mais do que os seus 43 anos. Era Jânio da Silva Quadros, acompanhado da mulher, dona Eloá, e da filha, Dirce Maria – Tutu para os íntimos – que em breve sairiam do anonimato para os papeis de Primeira Dama e Primeira Filha.

O “Homem da Vassoura” não me causou a menor impressão e não guardei a mais vaga lembrança do que falamos – embora os anfitriões nos pedissem encarecidamente silêncio absoluto sobre o encontro. O único detalhe que me marcou foram os vestígios de caspa sobre as ombreiras do terno escuro de Jânio. Aquilo entrou para o folclore político, diziam até que Jânio tinha fornecedores exclusivos de seborreia...

Colecionei presidentes desde a infância, Getúlio apertou minha mão quando eu tinha cinco anos, na inauguração da Grande Exposição de Curitiba de 1942, organizada por meu tio Achilles Muggiati; depois encarei o general Dutra de uniforme de gala (ambos) na inauguração do Colégio Estadual do Paraná em 1950; JK e Jango entrevistei em Curitiba como repórter – passei ao largo dos generais da ditadura – Sarney, Collor, FHC, Lula e por aí vai. Já o atual, como se dizia na Manchete, nemporunca!

Quando Jânio fez forfait em 1961, li a manchete no New York Herald Tribune em Paris, na banca do American Express, perto da Opéra, agendando meu Grand Tour da Itália nos meses de setembro e outubro. A bolsa de estudos de dois anos em Paris emendou com um contrato de três anos para trabalhar em Londres no Serviço Brasileiro da BBC, o que me poupou até meados de 1965 da ditadura militar, mas eu não imaginava que teria de amargar – como cidadão e jornalista – mais vinte anos de repressão e censura. Tudo, em última análise, por causa da leviandade do Sr. Jânio da Silva Quadros.